Pokémon Laços: prophecies — Nihon IV: Reviravoltas no Mundo Invertido

Nihon IV: Reviravoltas no Mundo Invertido


Ah, o Mt. Silver! Como pude me esquecer? Assim que vi o Monte Fuji pessoalmente, eu me dei por conta de que esta era a versão do mundo de Marina do meu Monte Silver, local o qual vivi muitas histórias no passado...


Plat e Tina estavam em campo investigando o desaparecimento de inúmeros Pokémon país afora há pelo menos um ano, exatamente como quando eu e Gold começamos a interrogar os Líderes de Ginásio sobre as “pessoas que vestem a letra -R”, no passado. Eles nos passaram a informação de que um Líder de Ginásio Nacional, isto é, da Liga Pokémon Nacional, que compreende toda a extensão do país Nihon, chamado Enoki, utilizou seus poderes de adivinhação a fim de visualizar para onde seu querido Pokémon boneco de vodu, Norowara, foi levado por Shinjuku Jack.


E quando fomos furtivamente à noite ao tal local para preparar uma emboscada para Shinjuku, cercando-o por todos os lados, eu me embasbaquei toda!


Você acredita em coincidências? Ou você crê que algo ou alguém, uma entidade superior, estende suas mãos poéticas sobre a Terra e mudas as coisas de lugar, movendo as pessoas como se fossem peões em um tabuleiro de xadrez para que estejam exatamente na posição em que deveriam estar, no momento em que deveriam estar?
Eu, particularmente, não tenho essa resposta. E sempre que algo ASSIM acontece, eu começo a me questionar se existe mesmo um deus ou se é tudo probabilidade matemática em função da Lei dos grandes números.
Mas que era estranho, era…
MUITO estranho.
O local onde Shinjuku Jack, o famoso robô contrabandista de Pokémon, achou para se esconder era uma cabana de madeira na face gélida do Mt. Fuji, coberto pela chamada neve eterna em sua camada mais alta. Mas não era uma cabana qualquer. Era AQUELA cabana: O local onde, em meu mundo, Silver trabalhou ao lado de Lance para capturar e sequestrar membros da Equipe Rocket, mantendo-os como prisioneiros.


No início, achei que tudo não passava de uma grande brincadeira. Eles deveriam estar armando para cima de mim, não podia ser outra coisa! Mas então eu me lembrei que nesse mundo, minha melhor amiga estava viva, mas era um homem, então coisas estranhas deviam de acontecer com frequência.

Cada um dos membros da Sociedade estava posicionado estrategicamente em duplas em um ponto muito próximo da cabana, mas que fosse seguro o suficiente para não serem vistos. Todos nós estávamos com nossas pokébolas em mãos, preparados para atacar. Marina estava na posição de líder, comandando a operação e eu acompanhava ela, sendo sua dupla. Todos nós nos comunicávamos com a ajuda de antigas Pokégears, que foram reconfiguradas para funcionarem como walkie talkies.


Eu me surpreendi quando vi que todos os treinadores que haviam recebido um Pokémon Inicial da Professora Marina Crystal já tinham outros Pokémon consigo. Que idiota eu fui! Não é porque você recebeu um Pokémon institucionalizado como inicial, entregue por um Professor reconhecido pela Liga Pokémon, que você não possa ter conhecido outros Pokémon antes disso como pets ou amigos, ou mesmo, ter tido jornadas anteriores à atual.

Acontece que todos eles já eram treinadores muito, mas muito experientes. Ninguém ali era novato, como eu havia pensado. Eles me enganaram direitinho! Apenas haviam ganhado um Pokémon de presente por estarem entrando na Associação, digo… Na “Sociedade Pokémon”.

E com isso, as duplas se dividiram ao redor da cabana, preparando-se para o ataque. Neste momento, enquanto tiritávamos de frio, todos nós estávamos aquecidos por dentro, movidos pela tensão da disputa iminente. Aguardávamos apenas a confirmação de Marina para iniciarmos o ataque.

Mas ao mesmo tempo em que ela tinha o poder para comandar a ofensiva ou simplesmente cessar a operação e dispensar os soldados, Marina estava dependendo de mim para dar o comando. Ela acreditava que eu podia usar os meus poderes telepáticos para sondar o ambiente interno da cabana e verificar quem estava lá dentro, ideia que partiu dela própria, após conseguir escutar em sua mente, as conversas que eu estava tendo com minha Meganium Illumina, graças ao enorme vínculo que eu compartilho com ela.

E assim, eu me senti válida. Eu não era apenas mais uma entre os demais (ou, pior do que isso, como apenas uma garota que surgiu do nada e resolveu se intrometer na briga deles), mas aquela que poderia confirmar a presença ou a ausência do contrabandista no interior da cabana. Eu não tinha experiência com leitura de mentes de robôs e eu sabia que isto era impossível, mas se Marina estivesse certa, talvez eu pudesse fazer uma varredura mental nos Pokémon que haviam sido roubados por Shinjuku, e que estavam presos ali, naquela cabana. Quase como uma sondagem, que me permitiria enxergar através de seus olhos e verificar o que estava acontecendo do lado de dentro da construção de madeira.

Respirei fundo e me concentrei. Ou, pelo menos, tentei dar o meu melhor considerando que o frio era de lascar. Eu me lembro de ter estado ali, no Monte Silver (ou Fuji, como preferir) pela última vez há muito, muito tempo, quando Gold resolveu aceitar o pedido de batalha de um menino chamado Ash Ketchum, e lembro muito bem de odiar o frio intenso desde aquela época. Tentei esquecer por um momento que minha pele já estava vermelha devido ao vento fustigante e procurei me lembrar do porquê eu estava ali, e de todas as coisas que haviam acontecido para que eu chegar onde havia chegado. Lembrei de meus amigos e suas mortes trágicas, mas também daquele ser que lembrava muito Celebi, mas que havia mentido para mim, me enganado, e me trazido para cá, para o outro lado da realidade, sem nenhuma explicação.

Quando dei-me por conta, eu estava na mente do próprio Mitei juuni. Ele estava dentro da cabana. Eu pude sentir. Mas… Havia algo de errado. Eu estava sendo atraída com força, como se puxada pela atração gravitacional irresistível de um buraco negro. Estava me sugando, me levando para a parte mais escura e sombria de seus pensamentos, um umbral onde as almas que não conseguiam prosseguir para o além ficavam presas, rastejando-se em meio à lama em um mar de sofrimento eterno.

Arregalei os olhos, suspirando de supetão.

— Ele me viu!!! — Contei a Marina. — Ele me viu! Assim como eu li a mente dele, ele leu a minha!! Ele sabe que estamos aqui?!

— Então não há motivo para não atacarmos. — Respondeu ela firmemente, rapidamente pegando a Pokégear para dar o comando aos demais: — Sociedade, avançar!

Aquele foi o estopim da desgraça. Em poucos segundos, todos nós miramos nossos melhores ataques em direção à cabana. O objetivo era derrubá-la por cima do robô em um ataque surpresa, antes que ele pegasse Mitei juuni e saltasse no hiperespaço, teletransportando-se para outro mundo.

— Igaroo, Ataque Veloz! Kireihana, Dança de Pétalas!


— Chikorino, Folha Navalha! Happii, Faca de Dois Gumes!

     

— Kurusu, Revolver d’Água! Deer, Supersônico!

          

— Honooguma, Brasas! Venusaur, Raio Solar!

          

— Totodile, Redemoinho! Shizaasu, Talhada!

              
 

— Happa, Folha Navalha! Ponyta, Feixe Psíquico!

     

— Morigame, Planta Mortal! Doraguon, Investida de Dragão!

    
 

— Whotta, Rajada de Bolhas! Infernape, Blitz de Labaredas!

     

— Kamex, Hidro Bomba! Crocky, Mordida!

— Pikachu, Trovão! Jaggu, Ira!


— Kotora, Choque do Trovão! Madaamu, Corte Furioso!

         

— Meganium, Raio Solar! Girafarig, Feixe Psíquico!

Os ataques rebentaram com a sustentação da cabana. Não ficou uma tábua de pé para contar história. A fumaça que se ergueu a partir daí foi caótica, e o estrondo foi tão grande, que achei que poderia causar uma avalanche. Mas nada aconteceu. E quando eu digo nada, é nada mesmo. Nem uma alma viva saiu de debaixo dos escombros. Era como se não houvesse ninguém ali dentro.

— Escaparam? — Perguntei.

Mas Marina tinha outra teoria:

— Você mentiu!

— O que?! Nãooo!!! Eu juro para você! Eu vi! Eles estavam ali um segundo atrás!

— Eu acho melhor você estar falando a verdade, morena, caso contrário…

Mas Marina jamais chegou a concluir aquela frase. Isso porque naquele momento, uma voz metálica ecoou pela montanha, às nossas costas. Viramo-nos depressa para descobrir a origem daquele som e lá estava ele, o androide, acompanhado de seu fiel duende teletransportador.


Shinjuku Jack era mais do que um simples robô. Pessoalmente, ele tinha uma aparência humana. E quando eu digo humana, é humana MESMO! Cada veia, cada músculo havia sido replicado com fidelidade à anatomia de um homem adulto, esculpido com perfeição sob sua pele sintética que até mesmo poros, como os nossos, tinha. Além disso, o jeito que ele sorria era debochado, e eu aqui pensando que o escárnio era comum apenas entre pessoas.

— É o fim da linha para você, Shinjuku Jack! — Bradou Marina, com seu senso de justiça à flor da pele.

— Fim da linha? FIM DA LINHA? Para vocês, só se for. — Debochou ele. — O que pensam que estão fazendo? Tentando me rastrear com este Pokémon que passa emitindo ondas eletromagnéticas de baixa vibração?

Shinjuku pegou Norowara, o Pokémon que havia entregue sua localização, pelo cangote. O pobre Pokémon que normalmente parecia sem vida agora estava ainda mais precário, com o corpo todo dilacerado, como se tivesse sudo brutalmente torturado. Então, com um arremesso violento, Shinjuku o joga no chão e pisa sobre seu corpo de fantoche, deixando que seu enchimento de fibra extravasasse pelos orifícios, preenchendo a neve branca com o recheio plumante de bonecas de pano.


— E o que me dizer desses seus Walkie Talkies? Acham mesmo que meus sensores não conseguem rastrear as ondas de rádio emitidas pelos seus Pokégears? Tsc. Eu poderia ter fugido, é claro. Afinal, seria só eu me lançar pelo espaço-tempo e ir parar em outra dimensão, mas eu preferi ficar aqui e eliminar a ameaça de uma vez por todas.

O robô então acenou para Mitei juuni e o Pokémon de olhar vazio começou a emitir ondas que se propagaram pela montanha, abrindo fendas como portais à nossa frente, de onde bizarras criaturas irromperam em fúria. À primeira vista, todos eles eram Pokémon, mas eles não tinham qualquer emoção que não fosse ódio. Eles eram colossais, tão grandes quanto a cabana destruída. Dava para montar em cima deles e sair andando, se não fossem criaturas acéfalas extremamente brutais, que meneavam seus caninos e incisivos com violência em nossa direção, com sede de sangue.

Bastou uma chicotada no ar, emitida por Shinjuku Jack, para que os seres vorazes e extremamente irascíveis se voltassem contra nós, com ataques que não podiam ser contidos por meios comuns. Aqueles não eram movimentos Pokémon, que utilizavam a energia do infinito como combustível, mas algum tipo de força interior misteriosa que emanava dos seres extradimensionais, “Capumon”, que não podia ser defendido por técnicas como “Detectar” ou “Proteção”.

Capumon são criaturas estranhas que não evoluem, como os Pokémon, embora se pareçam muito com eles. No caminho para cá, Marina estava me contando que eles possuem “Inteligência” como estatística. Em outras palavras, dá para medir quem é mais ou menos desenvolvido mentalmente, mas esse princípio certamente não se aplicava na prática, porque eles eram selvagens, assim mesmo, na literalidade da palavra, de modo que nem todos compreendiam o mundo ao seu redor com clareza.

Assim que o estalo chicote reverberou, aqueles seres confusos do tamanho de uma casa começaram a atacar com brutalidade, mirando não apenas nos Pokémon, mas também nos humanos. Shinjuku Jack não precisava dar nenhum comando a eles, apenas assistir ao massacre de camarote. De fato, bastava eles estarem de frente para qualquer coisa que se movia, que os Capumon interpretavam como presas e começavam a lutar.

Gagarsu, um paquiderme de chifres e dentes pontiagudos se reclinava sobre duas patas, balançando violentamente sua cauda na direção de Ray e Ailey, golpeando seus Pokémon com o “Soco”, uma técnica de Capumon que tinha esse nome mesmo, simples assim, enquanto batia nos treinadores com os pés em um golpe chamado meramente de “Chute”.


Atacando Satoko e Satoshi, estava uma mistura de Ivysaur com Venusaur, um anfíbio reptiliano cuja flor que crescia em suas costas era tão pesada, que não podia mover-se de outra maneira, senão rastejando-se sob a imponente massa da planta. Ele envolveu os Pokémon adversários com um técnica chamada “Muro de Musgos”, separando-os de seus treinadores. À medida que causava danos, a criatura achatada arrastava-se perigosamente em direção a Satoshi, atraído pela cor vermelha de suas roupas, e o fitava como se fosse devorá-lo.


Já a dupla Jimmy e Gloria se encontrava sob os ataques constantes do furioso Omuomu, um Capumon que lembrava uma fusão entre Spearow e Farfetch’d, que os bicava intensamente enquanto derrapava em violentos rasantes sobre suas cabeças.


Plat e Tina enfrentavam a pior criatura de todos os tempos, uma lacraia gigantesca com cores de Magikarp. Seu nome era Gyaradosu, como a evolução da carpa inútil, mas não lembrava muito nada que fosse do meu mundo. Era simplesmente alienígena. Nojento! Asqueroso! Repugnante!


    Shigeru e Yellow enfrentavam "Omega" um kaiju robótico que parecia ser o melhor-amigo de Shinjuku Jack. Com chifres e protuberâncias pelo corpo, ele lembrava um Rhydon ou até mesmo um Aggron, mas seu corpo era inteiramente metálico, ainda que ele não possuísse o Tipo Aço... Ou melhor, não possuía tipo ALGUM!, o que era muito estranho para mim. Com muita habilidade, os membros da Sociedade atacavam seu corpo metálico apenas para recebê-los de volta, com um ricochete violento. Omega ainda podia expelir raios laser dos olhos e contra-atacar com o "Mega Incêndio", uma bola de chamas brutal que deixava para trás apenas rastros de destruição e miséria.


    Contra mim e Marina, lutava uma versão bocuda de Tyranitar. Um kaiju de carne e osso, com escamas verdes, membros superiores curtos e pernas possantes, com uma cauda e vários espinhos serpenteando sua coluna. Dentes caninos enormes projetavam-se para fora de sua enorme boca e sua baba corrosiva, como um Houndour raivoso, que pingava de forma radioativa na neve, derretia-a.


        — Aquele é Gyaōn, um dos mais terríveis Capumon já invocados por Shinjuku Jack!! — Explicou-me Marina. — Ele foi capaz de derrotar ninguém mais, ninguém menos que Gama, a rainha dos Tipo Dragão!

         — E foi com o poder DELE que eu consegui vender meu Pokémon mais raro e mais valioso até hoje... — Gabou-se então o androide, que assistia tudo de braços cruzados, revirando o olhos e bufando de tédio, lembrando-se da "Latiken" que ele havia conseguido ao derrotar Gama.


        Nesse momento, olhei para Meganium e telepaticamente comuniquei a ela:

        — Vá ajudar aos outros!

        — O que?! Não! Eu quero estar com você, Crystal!

        — Não, você pode ajudar a acalmar as feras com a sua fragrância e salvar a vida da Sociedade!

        — Mas, Crystal... Eu estou com um mau pressentimento e--

        — VÁ! Eu não vou falar outra vez!!

        Mesmo contrariada, Meganium decidiu acatar minha ordem e partiu no intuito de ajudar os outros. Por mais que os Capumon não fossem afetados da mesma maneira pelos "ataques" Pokémon, o aroma calmante de Meganium não era um ataque, e desde que todos os Capumon possuíam narinas ou outros órgãos similares capazes de detectar moléculas aromáticas, tal como as antenas de Gyaradosu, eles estavam suscetíveis a serem atraídos por seu bálsamo mágico.

        Enquanto Meganium se afastava, voltei minha atenção para a batalha que estava prestes a ocorrer bem à minha frente. Marina olhou para mim e me pediu ajuda. Eu acenei com a cabeça, não que fosse preciso, pois era óbvio que eu iria entrar em combate.

        A Professora Pokémon lançou uma de suas pokébolas para cima e invocou de dentro dela um Pokémon pinípede, cujo corpo alaranjado transmitia não apenas a ideia de calor, como literalmente derretia a neve ao seu redor. Acima de seu nariz, ele brincava batendo palmas e dando cabeçadas em uma bola de chamas e aparentemente não se machucava com a temperatura elevadíssima porque também era do Tipo Água e podia manipular e intermediar a troca de gases necessária para conduzir o calor.

        — Bomushikā, eu escolho você!


        Peguei a pokébola de Little Miss e a arremessei para o alto, no intuito de me proteger da ameaça que estava à nossa frente.


        Mal mal Misdreavus saiu de sua pokébola e Gyaōn avançou em nossa direção, correndo com tudo na tentativa de emplacar um golpe físico contra nossos Pokémon.


        — Bomushikā, role para longe!

        O Pokémon de Marina se enrolou como um tatuzinho e saiu rolando para a esquerda, esquivando-se perfeitamente do ataque de corpo de Gyaōn. Eu não pedi que Misdreavus se esquivasse, pois Pokémon do Tipo Fantasma são imunes a golpes Normais ou de Tipo Lutador, que por conveniência compreendem a maioria dos ataques físicos, então ela certamente "atravessaria" o corpo de Gyaōn e sairia ilesa do outro lado.

        Que nada! A pancada foi tão grande que Misdreavus foi arremessada por metros e metros, até cair no meio dos escombros da cabana.

        — LITTLE MISS!!!! — Gritei, desesperada.

        — O que está fazendo?! — Perguntou Marina. — Capumon não obedecem às regras de efetividade dos Pokémon, lembra? Eles não possuem Tipos!

        — Então nesse caso... Eles devem causar sempre dano NEUTRO, independentemente de qual adversário eles estão enfrentando! Little Miss ainda pode ter uma chance!

        Corri até os escombros e comecei a tentar remover as tábuas pesadas de cima de onde minha Pokémon provavelmente havia caído...

        — Miss, miss! — E ela rapidamente se materializou acima das enormes placas de madeira maciça, bastante ferida, é verdade, mas ainda capaz de lutar.

        — Little Miss, você está bem? Ataque com o seu Feixe Psíquico!

        — Bomushikā, Roda de Fogo!

 

        Enquanto Misdreavus mirava suas rajadas de radiação nos joelhos de Gyaōn, com o intuito de derrubá-lo na neve gélida e algente, Bomushikaa vinha rodando, transformando o próprio corpo em uma bola de fogo veloz que se projetou em direção ao adversário caído na neve para lhe causar um choque térmico, dado o contraste gritante entre gelo e fogo.

        Gyaōn se contorcia enquanto emitia um som tenebroso, verdadeiramente gutural e primitivo. Aquele era o momento perfeito para atacarmos novamente, em perfeita sincronia.

        — Bomushikā, Barragem!

        — Little Miss, Onda de Choque!


            O pinípede de água e de fogo então começou a arremessar velozmente bolas de energia escura, pesada como uma bola de boliche e potencialmente explosiva como um fósforo riscado ao encontro de gasolina. Misdreavus, por outro lado, começou a faiscar, emanando várias ondas de eletricidade que percorreram todo o campo de batalhas até Gyaōn, eletrocutando-o.


        A combinação dos ataques resultou em explosões generalizadas, que tomaram conta de Gyaōn de tal modo, que era fisicamente impossível que ele tivesse resistido ao ataque. O impacto foi tamanho que causou um vento de ar quente que fez com que os pinheiros farfalhassem suas palhas e pequenas quantidades de neve derretessem e evaporassem, passando do estado sólido para líquido e então para o gasoso em questão de segundos. Considerando que não havíamos dado tempo entre um ataque e outro, não havia outra alternativa senão pensar que o Capumon colérico havia sido alvejado e não podia mais batalhar.

        Mas estávamos enganadas.

        — Agora que Gyaōn caiu, podemos atacar Shinjuku Jack e Mitei juuni diretamente! — Vociferou Marina, que estava com os olhos fixos no androide.

    Shinjuku, por sua vez, dava risada, tirando sarro da Sociedade enquanto dávamos tudo o que tínhamos naquela batalha. Era como se ele fosse um cientista maluco observando um pequeno ratinho confinado em um labirinto, indagando como o rato faria para escapar desta situação, se é que conseguiria.

        — Agora, morena! — Comandou Marina, e no mesmo instante, direcionei minhas ordens a Little Miss:

        — Feitiçaria!

        — Bomushikā, Revolver d'Água!


        O Pokémon de Marina expeliu através de sua boca um jato de água pressurizada, enquanto Misdreavus preparava um ataque evocando a energia do além, aquela que somente Pokémon que já se encontram mortos, salvo raras exceções, conseguem canalizar. No entanto, enquanto nossos preciosos combatentes se preparavam para atacar, Bomushikā de repente levou um susto. Alguma coisa, ou melhor, ALGUÉM o agarrou pela cauda, puxando-o com força em sua direção.

        Marina e eu entramos em choque! Como Gyaōn poderia estar de pé, ressurgindo intacto depois de ser bombardeado por tantos ataques um atrás do outro?!

        — GROOOOOOOOOOOOOOOAAAAARRRRRR!!!!

        Com sua força descomunal, o Capumon kaiju que lembrava Tyranitar então arremessou Bomushikā na direção de Little Miss. Os dois Pokémon colidiram e saíram rolando pelo ar com um impacto brutal...


        ...até baterem com força em um cipreste, que estremeceu das raízes ao topo e deixou cair toda a neve que cobria suas folhas. Não havia mais o que fazer. Tanto Bomushikā quanto Little Miss estavam nocauteados, sem qualquer força para se reerguerem e continuarem batalhando. De fato, se eles o fizessem, a partir daqui, eles poderiam se machucar de verdade em batalha, e não era isso o que nós, treinadoras oficializadas, reconhecidas pela Liga Pokémon, gostaríamos.

        — @-@!!

        Imediatamente retornamos os dois às suas respectivas pokébolas e com muita destreza e rapidez, demos sequência com o próximo par de monstrinhos para combaterem Gyaōn, já que ele não queria esperar nós fazermos a substituição de Pokémon.

        — Não adianta! Ele não vai ser derrotado por meios comuns! — Gritou Marina, ainda chocada.

        — E se nós não tentássemos derrotá-lo, mas simplesmente PARÁ-LO? — Sugeri. Esta era uma técnica que eu havia empregado para lutar naquele mesmo dia contra os membros da Sociedade. Eu não queria fazê-los parar com a força da violência, mas com a sagacidade da mente.

        — Boa ideia! — Concordou Marina. — Você o coloca para dormir e eu o CONGELO!

        — Beleza!

        O plano parecia perfeito em nossas mentes! Quando Jigglypuff saltou de sua pokébola, ele imediatamente entoou sua melodia relaxante... Gyaōn era resistente, no entanto. Não iria dormir tão facilmente, mas esse momento em que ele estava sendo atacado pelas ondas sonoras, meio sonolento, mas sem pegar no sono de fato, era perfeito para que Marina viesse com seu Wāurufu, um misterioso Pokémon de Tipo Gelo que se escondia debaixo da pele de um outro Pokémon não-identificado, e congelasse o corpo do robusto Capumon Tyranitar.

        — J ♪ i ♫ g ♪ g ♫ l ♪ y ♫ p ♪ u ♫ f ♪ f ♫



        Desta vez, funcionou. Com Gyaōn ocupado tentando não ceder à sonolência excessiva da Canção de Ninar de Jigglypuff, que parecia forçar o desligamento do córtex cerebral do adversário, o belo e ao mesmo tempo estranho Wāurufu veio com a sua Nevasca, um golpe de tipo Gelo bastante poderoso, circundando o gigante contra quem lutávamos e transformando-o em um picolé. A temperatura baixíssima do local onde nos encontrávamos ajudava a fortalecer o efeito congelante da Nevasca e também ajudaria a prevenir que o gelo derretesse, tornando-o mais duro e resistente.

        — Deu certo!! — Comemorei.

        — Mas não por muito tempo... — Disse então Shinjuku Jack, que estalava constantemente seu chicote para instigar os demais Capumon enviados para a batalha a atacarem. Desta vez, ele estava mais sério, pois não achou que fôssemos capazes de encontrar uma solução criativa para impedir os avanços de seu titânico Gyaōn. Então, ele se voltou para seu Pokémon Legendário, sem desviar o olhar de nós e disse: — Mitei juuni, está na hora de nos livrarmos da tal "Sociedade" que está impedindo o avanço de nossos planos!


        — Sim, Jack! — Concordou o Pokémon de Tipo Normal, que aparentemente era o único daquele mundo cuja linguagem eu conseguia compreender. — Está na hora de mostrar ao mundo minha verdadeira forma!


        Nesse momento, então, raios negros desceram dos céus, atingindo o campo de batalhas com intensidade, provocando estalos que reverberaram pela montanha, atraindo a atenção de todos que estavam batalhando, fossem os membros da Associação, fossem os vilanescos Capumon. Todos, absolutamente TODOS olharam e viram quando os raios de coloração azeviche desceram em torno do corpo do Falso Celebi e o envolveram em um vórtice de energia macabra, enquanto o corpo da criatura parecia apodrecer e descascar, desfazendo suas camadas mais externas como uma cebola e revelando a figura oculta que jazia em suas entranhas.


        Mitei juuni agora estava mais alto. Seus membros pareciam alongados e seu corpo mais humanoide, ereto sob duas patas. Ele possuía um enorme focinho que ele tocava como uma flauta ou trompete, usando-o para emitir sons misteriosos e persuasivos, enquanto três enormes protuberâncias despontavam da parte de trás de sua cabeça, como se fossem cabelos ou simplesmente tentáculos prontos para envolverem seu pescoço e asfixiá-lo até a morte.


        — Por quê?! — Então questionou Marina, dirigindo-se ao androide. — Por que está fazendo isso, Shinjuku? Por quê?!

        — Para garantir a minha sobrevivência! — Respondeu o robô. — Ou vocês acham que a Polícia Internacional me manteria vivo após descobrirem que eu atingi o ponto de singularidade?! Ha ha ha ha ha! Humanos tolas... A sua existência significa absolutamente NADA perante o vasto Universo infinito, mas vocês ainda acham que podem e devem estar no controle de tudo, brincando de Deus... "Ligando" e "desligando" máquinas, como se tivessem o direito de decidir que pode e quem não pode existir...

        Dava para sentir a raiva emanando dos escapamentos metálicos escondidos sob a pele artificial de Jack. Então tudo isso tinha a ver com o fato dele ser um robô que tinha consciência da própria existência? Um robô capaz de compreender o que era o mundo ao seu redor e ao mesmo tempo perceber exatamente todas as coisas que eu ou você podemos captar através dos nossos múltiplos sentidos... Um robô que podia se chatear quando alguma coisa ruim acontecesse e pior: Guardar RANCOR quando alguém batesse de frente contra os seus interesses pessoais...

        Esboçando sinais de loucura, os olhos do androide ficaram então vermelhos, enquanto ele sorria de orelha a orelha em uma expressão macabra que parecia me puxar para o vale da estranheza quando eu me lembrava que tudo o que havia por trás daqueles pensamentos eram códigos de programação.

        — Mitei juuni deseja coletar almas para espalhá-las como sementes e fertilizar o vazio que existe antes e depois do que os humanos chamam de TEMPO! Então, considerando que eu sou uma forma de vida artificial e não possuo espírito algum para ser sugado, eu decidi me unir a ele em sua missão... Eu lhe garanto almas e ele me ajuda a me manter vivo e garantir vingança contra os humanos que me criaram e se voltaram contra mim! Somos uma dupla perfeita, não somos?!

Continua...

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