Z-IV



 Ato IV 

Já do lado de fora, saímos todos em direção ao norte da cidade. Lucy trancou a porta e guardou a chave no bolso do jaleco. Andamos a pé até a sutil rota que ligava Vaniville a Aquacorde Town. Era um espaço pequeno e sem nenhum pokémon selvagem onde as pessoas passavam o domingo com a família e amigos. O tempo todo, Lillie foi interagindo com os Gelecas, mas não disse uma sequer palavra.
Chegando na Rota, a garota se abaixou e deixou o caixote de vidro com a luz verde na grama, embaixo da sombra de uma árvore. Ela olhou para Lucy, com um olhar de o que é que eu faço agora?.
— Abra. — Ordenou sua mentora.
Alguns cliques e a estufa portátil estava aberta. Geleca olhou para nós, surpreso, esperando que aquilo fosse uma espécie de truque. Como não fizemos nada... As lesminhas flácidas que o acompanhavam rastejaram muito rápido para fora,sumindo em meio à natureza. E quando eu digo sumindo, é desaparecendo mesmo! Ficaram invisíveis e desapareceram pela Rota.
— Como vamos fazer para ele não fugir? — Perguntei, imediatamente percebendo a falha do plano.
— Ora, isso é simples. Vaaai, Snorlax! Block!
A pokébola de Lucy pairou a alguns metros à nossa frente, abrindo-se com um estalo e liberando uma criatura monstruosa, duas vezes a minha altura, de pelo baixo, gelatinosa e aparência fofa. Snorlax tinha os olhos apertados como fendas, mas sob o comando de Lucy, os abriu, lentamente, emitindo uma luz misteriosa que cercou Geleca, prendendo-o completamente sob os limites da Rota.
— Muito bom, Snor! Obrigada. — A treinadora colocou o gigante tipo normal de volta na pokébola e então se agachou, para ver Geleca mais de perto. — É o seguinte, amiguinho...
Lucy se dirigiu a Geleca, mas este emitiu um olhar de desprezo tão profundo que eu poderia sentir como se uma faca atravessasse Lucy. Então ela recorreu a sua assistente.
— Lillie?
Sem dizer coisa alguma, Lillie se aproximou. Não foi preciso mais do que uma careta para que ela conquistasse a atenção do pokémon.
— Como eu ia dizendo, vamos batalhar! — Continuou Lucy. — Batalhar é natural de qualquer pokémon. Desde que saem do berço, eles já estão aptos a participar de batalhas. E o fazem, por instinto. Eu lamento ter que lhe dizer, mas é a única maneira de descobrirmos seu tipo e movimentos.
O pokémon apenas ficou observando.
— Meninos?
Dei um passo à frente e soltei Pangoro.
O panda gigante rugiu com uma certa ferocidade, mas se conteve. Esperava por instruções.
— Pangoro é dos tipos Lutador e Sombrio. Vamos ver... Se os ataques não funcionarem, Geleca pode ser do tipo Lutador, Voador ou Fada. Se funcionarem, Sombrio, Fantasma ou Pedra.
— Eu chutaria um fantasma. Esses... — Ele fez uma cara de nojo — olhos desproporcionais, a capacidade de ficar invisível... Tudo encaixa, não?
— Bom, se ele foi afetado pelo movimento Block do Snorlax, isso quer dizer que ele não é um tipo Fantasma. Afinal, os espíritos são imunes à ataques normais. Mas se vocês pararem para reparar, a cor verde pode representar o tipo Planta. — Afirmei, observando que a habilidade de ficar invisível também poderia estar relacionada à camuflagem em meio à natureza.
— Se formos pensar nas cores... — Continuou Matt. — Ele bem que poderia ser um tipo Fogo. O polígono vermelho lembra alguma coisa?
— Mas também pode ser do tipo Inseto, não pode? Ele parece minhoca. Sem ofensas. — Rapidamente acrescentou Lucy, antes que o pokémon lhe injetasse mais um olhar duro.
— Minhocas são anelídeos. — Corrigiu Matthew. — Não insetos.
— Ah, é. Mas como eu ia dizendo... Só testando para vermos de que tipo ele é. — disse Lucy. — Calem?
— É pra já. Pangoro: Hammer Arm!
O braço do panda se energizou, ganhando um brilho esbranquiçado que ardia nos olhos, tão luminoso quanto lâmpada florescente. Imediatamente, Pangoro cerrou os punhos e então... desceu o braço como caratecas que quebram telha, porém com as mãos fortemente fechadas, projetando uma martelada violenta que atolaria o pobre Geleca no chão, se não fosse...
 
Geleca ergueu uma barreira de polígonos de luz bem na hora, defendendo-se da braçada.
— Dark Pulse! — Continuei. 
E Pangoro abriu bem as mãos, liberando anéis negros pulsantes que explodiram freneticamente contra... OS OUTROS?
 
A fumaça se abaixou e os quatro outros Gelecas (os flácidos) haviam se rematerializado em frente ao vermelho, protegendo-o do impacto.
— Essas habilidades são incríveis. Que movimento foi aquele? Um Protect? E este outro? Um Defend Order? Não... Acho que este é o ataque-assinatura de Vespiquen.
— Ei, olhem! Não são mais quatro!
— Hã? É mesmo...
Lucy se surpreendeu ao ver o que eu vi.  Haviam sete lesminhas flácidas ao redor do Geleca de polígono vermelho e não quatro como anteriormente.
— De onde vieram? — Fiquei me perguntando. Aparentemente, aquilo só deixou Lucy mais empolgada com sua pesquisa, pois ela pediu:
— Matthew? Por favor, traga outro pokémon. Quero ver mais do que este Geleca é capaz.
— Hydrogon, me ajude!
A criatura que conhecemos como um pequeno Deino estava irreconhecível. Altíssimo, com três pares de asas, três cabeças e uma cauda longa aliadas a pernas desproporcionais, mas fortes o suficiente para sustentar o dragão em repouso. Hydrogon, o Hydreigon era um titã vivo.
— Nós podemos usar três modalidades ao mesmo tempo: eletricidade, fogo e gelo. Vamos, Hydrogon! Brilhe com o Tri-Attack!
Três golpes de naturezas distintas jorraram das três bocas do dragão. Juntos, os três golpes exerciam danos "normais". Separados, porém, poderiam muito bem se passar por um Thunderbolt, um Flamethrower e um Ice Beam.
Imediatamente, o pequeno Geleca se reuniu em torno dos flácidos, emanando uma luz verde igual à da mini-estufa onde outrora estiveram confinados.
O chão começou a tremer, as placas tectônicas colidindo entre si para formar um mini-terremoto que abriu uma baita de uma cratera no lugar onde Hydreigon estivera pouco antes de levantar voo automaticamente como reflexo para esquivar do ataque de Geleca.
 
— Earthquake? — Perguntou Lucy. — Magnitude?
— Fala sério? Ele é tipo... Solo? Dessa cor? — Disse Matthew, ligeiramente intrigado.
— Cor não define caráter, compagnon. — Filosofei.
— Ei, eu sei disso. — Contestou Matt, lançando-me um olhar de "eu entendo o preconceito mais que todo mundo. Eu já sofri muito bullying na minha vida". Mas o assunto morreu ali, pois Lucy continuou, muito interessada em saber a tipagem do pokémonzinho.
— Calem, que tal mais um pokémon? — Ela me pediu.
— Certo, então eu vou escolher... Houndoom!
Lancei a pokébola do primeiro pokémon em minha equipe. Houndoom, do tipo Fogo. Se Geleca fosse do tipo Solo, seria agora que obteríamos a resposta.
O pokémon de feições caninas deu um uivo alto, mas Geleca não se assustou. Apenas olhou firme em seus olhos. Houndoom então farejou e começou a latir bem alto, ecoando por toda a rota.
— O que foi, amigão? O que há de errado? — Eu perguntei, tentando acalmar meu pokémon, que latia e rosnava, mostrando os dentes para Geleca. — Precisamos descobrir o tipo desse... EI! Pare!
Mas Houndoom não parou. Eu fiquei sem entender o que aconteceu quando fui obrigado a retorná-lo rapidamente à pokébola.
— O que foi isso? — Perguntou Lucy.
— Não sei... Ele estava tão nervoso! Nunca o vi daquele jeito. Será que foi o Geleca que fez ele ficar assim?
— Não sei... Que tipo de habilidade é essa? — Perguntou Lucy. — Torment?
— Acho que não... É algo diferente. Era como se o Houndoom tivesse ficado bravo só de olhar nos olhos do Geleca.
De repente, dei por falta de alguém...
— Ei! Onde está Matthew?
— Aqui em cima! — Ela acenou, de cima de um velho carvalho, a quatro metros de altura.
— Matthew? O que está fazendo aí? — Perguntou Lucy.
— Da próxima vez que for soltar esse seu cão, põe uma plaquinha de "cuidado" antes! — Resmungou Matt, cujas mãos tremiam me medo.
Então...
— Que embaraçoso! Toda vez que nos vemos, Matt está trepado num pau!

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