Shot I : Ransei
INTRODUÇÃO
Querido diário, esta é a primeira vez que escrevo em um diário, portanto, perdão se soa clichê iniciá-lo assim. Meu nome é Wish, estou com 16 anos e sou uma Guerreira Pokémon. Bem... Ao menos todos querem que eu seja. Eu sou rica. Podre de rica. Mas nunca gostei de assim ser. Isso porque o meu pai (Yoshihiro) é Mandarim do reino de Aurora na região de Ransei, um país fechado e muito tradicionalista, próximo à região de Unova. E como filha do Mandarim, é meu dever honrar a tradição e me tornar uma guerreira também.
Mas a vida já não é fácil para uma garota de 16 anos! Imagine para uma que teve de aprender (e odeia) esgrima desde os 5 anos de idade!
As coisas nunca foram muito boas para mim... Primeiro porque eu não gosto da tradição. Eu não gosto de viver em cidades baseadas na guerra, nos princípios de conquista de reinados e nas leis onde "o melhor é o que vence"; Eu quero ser só mais uma garota normal, que vive e estuda para se tornar uma treinadora Pokémon. Eu quero ir para a escola, eu quero ir para a faculdade. Eu quero ser alguém na vida. Chega de ser uma princesa. A única coisa que faz eu gostar de mim mesma enquanto filha do mandarim é a Eevinha, um presente que herdei de minha mãe, que faleceu no dia do meu nascimento. Eevinha é uma Eevee domesticada que, assim como eu, sonha brilhar nas batalhas Pokémon amistosas, e não nas guerras e lutas pelo domínio de territórios.
Mas Eevinha está só. E eu também. Às vezes eu sinto como se não pudesse mais aguentar. A pressão é grande. Todos esperam muito de mim. Mas eles já pararam para se perguntar se isso é o que eu realmente quero? Quando é que eu vou deixar de ser aquela que todos apontam a direção e vou me dedicar ao que eu amo fazer?
Sonho com isso todas as noites, e sem querer, às vezes me pego planejando uma fuga. Mas eu nunca tive coragem para realmente fazer isso, tive? Então aqui estou, às 2h da madrugada, chorando sobre um caderno, na esperança de que os dias de tempestade acabem e venha a tão aguardada calmaria...
DIA 1
As coisas foram de mal a pior no dia seguinte. Aquela época do ano, marcada pela colheita, era uma temporada importantíssima para o reino de Aurora, pois todo ano era feito um baile no castelo, onde lordes e rainhas se encontravam, discutindo as melhores táticas e alianças para combater os inimigos, unificar e intensificar seus exércitos e é claro, um monte de porcos se enchendo de vinho, risada alta, música erudita e mulheres tendo de trabalhar na cozinha. Francamente...
Eu estou em uma idade particularmente perigosa. Dezesseis anos é o marco na idade de uma menina em Ransei. Casamento. Para muitos, eu já sou considerada velha demais. Mas para mim... Ainda é muito cedo. Muito...
Eu sempre recusei todas as propostas de casamento. Todas. O que é claro, fez meu pai ficar furioso todas as vezes. Porém, dessa vez, ele me colocou contra a parede. Disse que eu não poderia me recusar a unir forças com o Império Ignis e que eu deveria me casar com o filho do imperador, para que assim, eles pudessem unir forças e formar uma aliança.
E lá estava ele, o príncipe de Ignis, cujo nome eu não sei e nem faço questão de saber, me chamando para a primeira dança do baile.
Ele era bonito. Mais velho. Tinha dezoito anos. Era cheiroso, cortês e gentil. Mas... Eu não sentia atração por ele. Em outra época, eu até sentiria qualquer coisa, mas saber que eu estava sendo obrigada a me casar com uma pessoa que eu nem sequer conheço, isso me dava tamanha ansiedade, nervosismo e náuseas, que eu jamais poderia me abrir para qualquer tipo de experiência. Eu estava de mente fechada.
O príncipe, por outro lado, flertava comigo a cada passo. Eu não via a hora de a maldita música chegar ao fim. Estava tudo indo mal. Eu estava com dor de cabeça e se ele se aproximasse mais um centímetro de mim, eu juro que eu iria chorar ali, na frente de toda aquela realeza reunida.
Eu sei que é ruim, mas eu preferia estar morta.
Pensando bem... Eu não posso desistir de quem eu sou para me tornar quem os outros querem que eu seja. E foi aí que eu me tornei... A Rainha Negra.
O Príncipe de Ignis me chamou para um canto. Era a sacada do salão, na extremidade sul do castelo. As pessoas estavam comendo e bebendo, eu só ouvia o som de talheres, risadas e muita, muita piada machista sendo feita. Eu estava enojada ao máximo. E ter aquele homem ali, me chamando, me deixava aflita. Eu estava tremendo. O príncipe era muito gentil, com certeza, e um verdadeiro cavalheiro. Mas eu... Eu não podia estar pior. Eu estava me sentindo um lixo.
E foi então que uma ideia se passou pela minha cabeça. É feio compartilhar essas coisas. É feio FAZER essas coisas. Mas eu estava tão abalada psicológica e emocionalmente, que na hora eu nem pensei direito; Apenas fiz o que me deu na telha.
Eu sabia que aquele convite não havia sido em vão. Quando o príncipe se aproximou de mim, eu senti que ele ia me beijar. Então usei de todas as minhas forças e empurrei 70/80kg de homem sacada abaixo.
AH MEU ARCEUS!! O que foi que eu fiz???
Eu matei o príncipe de Ignis?
Corri imediatamente para meu quarto. Se estava chorando, nem notei. Só fui verificar que minha face estava completamente encharcada muito tempo depois, quando eu já estava com Eevinha no ombro, com a roupa mais comum que eu tinha, a cinquenta metros de distância do palácio.
Foi a primeira decisão na vida que eu tomei por mim mesma. Sinceramente... Na hora me pareceu a maior loucura que eu já fiz na vida. E foi, de fato. Eu não estava ciente do que eu estava fazendo. Não estava ciente das consequências de meus atos. Eu apenas fugi. Correndo pela floresta adjacente no frio da noite enquanto as pessoas distraídas, festejavam e lançavam fogos, como se fosse certo obrigar uma menor de idade a participar de uma união do qual ela nunca pretendeu fazer parte.
Passei pelos guardas sorrateiramente, utilizando os poderes de Eevinha para criar uma distração, e me fui mata a dentro. Eu chorava agora com muita intensidade. Mas não era de tristeza. Era de raiva. Raiva por não ter feito isso antes.
E assim foi. Essa era a prova de que eu tinha amor por mim mesma. Fugi do Reino de Aurora para nunca mais voltar...
DIA 2
Evitei passar por Ignis. Eu estava sozinha. Era noite. Estava cansada, com frio e com fome, mas eu ainda era uma criança treinada para ser uma guerreira. Avistei de longe uma vila onde eu muito fui quando criança. Era Greenleaf, o reino dos tipos Planta.
Era a única alma viva em Greenleaf naquele momento. Ou os chefes estavam no baile de meu pai em Aurora, ou os peões do proletariado estavam recém saindo de suas camas e tomando café para iniciar um longo, exaustivo e escravizante dia de trabalho.
Mas a minha discrição se foi por água abaixo. No momento em que aquele menino se virou e pôs os olhos em mim, ele perguntou, com uma cara de dúvida:
— Ei, você não é a Princesa Wish de Aurora?
— Não. — Menti, mas receio que minha voz tenha falhado. Eu nunca fui boa em mentiras.
— É sim! O que faz aqui? Não deveria ser a sua grande noite? O príncipe de Ignis não está lhe esperando no altar?
E foi nesse momento que Eevinha e eu pulamos de susto. Por detrás do garoto, eis que surge um vulto negro, um cão de caça. Ele estava ali a mando de meu pai. Me caçando.
Tarde demais. Minha fuga havia sido descoberta. O soldado (que se chamava Masanori) pegou uma pokébola e arremessou-a no ar, trazendo à tona um Skorupi, que começou a atacar a mim e a Eevinha.
— Chimchar, Piplup! Preparem-se! É guerra que eles querem? É guerra que eles vão ter...
Chimchar e Piplup utilizaram seus poderes de fogo e água para formarem uma névoa espessa que cobriu o campo, prejudicando a visão de Masanori e Skorupi. E por um momento, me vi de mãos dadas com o garoto, correndo em direção ao cais.
— Tudo bem, vamos começar do zero. — disse Best, em um tom interrogativo. — Você é a Princesa Wish do Reino de Aurora..?
— O que você acha?! — Desculpem-me pelo tom rude, mas eu estava desesperada.
— E o que você está fazendo aqui a estas horas? Por que está fugindo desses caras?
Respirei fundo. Reviver tudo aquilo na memória, por mais fresca que ainda estivesse, era difícil.
— Eu estou fugindo de um casamento arranjado. — Falei com um suspiro. Cara... Desabafar daquela maneira, com aquele plebeu estranho, foi a melhor coisa que aconteceu em horas! — Meu pai quer que eu me case com o Príncipe de Ignis para que eles possam formar uma aliança estratégica com o reino do fogo, porém... Eu não me sinto preparada para isso. Taquei o f*da-se: Joguei o príncipe da sacada; Agora eu estou aqui, sendo perseguida pela Team Ambition. — Revelei.
— Team Ambition? — Perguntou Best, sem entender.
— A Team Ambition ou Equipe Ambição é um esquadrão de guerreiros caça-tesouros que atua ocultamente na região de Ransei. — Expliquei. — Somente os grandes lordes, mandarins e senhores de terra possuem o conhecimento de sua existência. O líder do grupo, Nobunaga, é conhecido como o Senhor da Ambição, e juntos, eles têm o objetivo de enriquecer às custas de trabalhos sujos demais para que os lordes façam por si próprios. Assim, eles formam uma facção sombria e que muitas vezes são convocados para missões digamos que um tanto... Antiéticas, como tática de guerra dos grandes lordes. Mas eles não são muito confiáveis, pois não trabalham para nenhum lado, senão a si próprios. Ou seja, da mesma forma que são contratados por um exército, podem ser contratados pelo exército inimigo, tornando-se assim, agentes duplos. O meu pai tem usado dos serviços deles por muitos anos. Ele e Nobunaga são amigos há muito tempo, eu diria que desde o tempo da adolescência. Então eu tenho crescido ouvindo histórias tenebrosas envolvendo muito sangue e muita "honra" de general.
— Sinistro... — A boca de Best precisava ser erguida do chão neste momento.
— Então, meu querido e amado pai — ironia — resolveu chamar esses saqueadores de governo para me procurarem. Olha que beleza!
— Meu Arceus! — Best estava chocado. Não podia acreditar no que estava ouvindo. — E você vai fazer o que? Quais são os seus planos?
— Eu quero fugir para bem longe daqui. Me tornar uma treinadora Pokémon. Vencer desafios ao lado de meus Pokémon como amigos e aliados, e não como máquinas feitas para aniquilar a vida do oponente. — Falei, em um tom esperançoso de fúria.
— E para onde você pretende ir? — Perguntou Best.
— Ora, para Unova, é claro. — Respondi, sonhadora.
— Unova é uma região próxima, mas ainda assim é muito longe, Princesa Wish! — Avisou-me Best.
— Ok, por favor... Pode parar me chamar de Princesa? Pode me chamar apenas de Wish. É o meu nome, e afinal, acho que agora eu fui oficialmente renegada ao trono.
— Ah, tá bom, Wish! Como pretende chegar lá?
— Eu vou pelo mar.
— Sozinha?
— Sozinha. — Confirmei.
— Você tá louca, mulher?! — Gritou Best. — Quantas vezes você já viajou para Unova pelo alto mar? — Perguntou-me Best e eu senti que pelo tom, ele tinha certa experiência nisso.
— Hmm... Nenhuma.
— Então?! — Exclamou o menino. — Como você vai viajar por dias sem pelo menos ter uma equipe de Pokémon consigo? Deixa eu adivinhar... Você não tem, não é?
— Não.
— MEU ARCEUS! Eu vou junto.
— Não, obrigada. Sei me virar sozinha. — Recusei, com o nariz rebitado. Que imprudência.
— Sabe nada. Te orienta, rapariga! Eu vou junto e ponto final!
— E você vai deixar a sua família aqui? — Perguntei.
— Eu moro sozinho com o meu pai, ele é lenhador e eu sou pescador. Ele... Ele até que ficaria bem feliz em saber que eu arranjei uma namorada!
— Ih, sai fora! — Outro matrimônio? Ah, disso eu já estava farta.
— É tudo fachada, miga. Eu não gosto disso. — Best piscou pra mim e eu finalmente entendi. — Vamos. Eu vou pegar o meu barco.
— Mas... Nós não precisamos de Pokémon? — Perguntei, fazendo referência ao que ele havia me dito antes.
— É, é por isso que não podemos ir direto para Unova, sem antes pegarmos alguma coisa por aqui. Você já esteve em uma batalha Pokémon antes?
— Não. — Ai, meu Arceus. Aquilo ali estava ficando cada vez mais complicado para mim. Sair de minha rotina, por mais ferrada que fosse, era também sair de minha zona de conforto.
— Aff... Parece que teremos muito trabalho pela frente... — Bufou Best.
— ACERTOU! — Gritou Best, surpreso.
— Tem que dar certo! Pokébola, vai!
Mirei e pela primeira vez no dia todo, consegui acertar em cheio a pokébola em Cubchoo, que o engoliu, girou, girou e girou, até chover em um ruído sonoro agradável com uma centena de centelhas em formato de estrelas saindo de seu interior, confirmando enfim a captura.
Continua...
Eu estou em uma idade particularmente perigosa. Dezesseis anos é o marco na idade de uma menina em Ransei. Casamento. Para muitos, eu já sou considerada velha demais. Mas para mim... Ainda é muito cedo. Muito...
Eu sempre recusei todas as propostas de casamento. Todas. O que é claro, fez meu pai ficar furioso todas as vezes. Porém, dessa vez, ele me colocou contra a parede. Disse que eu não poderia me recusar a unir forças com o Império Ignis e que eu deveria me casar com o filho do imperador, para que assim, eles pudessem unir forças e formar uma aliança.
E lá estava ele, o príncipe de Ignis, cujo nome eu não sei e nem faço questão de saber, me chamando para a primeira dança do baile.
Ele era bonito. Mais velho. Tinha dezoito anos. Era cheiroso, cortês e gentil. Mas... Eu não sentia atração por ele. Em outra época, eu até sentiria qualquer coisa, mas saber que eu estava sendo obrigada a me casar com uma pessoa que eu nem sequer conheço, isso me dava tamanha ansiedade, nervosismo e náuseas, que eu jamais poderia me abrir para qualquer tipo de experiência. Eu estava de mente fechada.
O príncipe, por outro lado, flertava comigo a cada passo. Eu não via a hora de a maldita música chegar ao fim. Estava tudo indo mal. Eu estava com dor de cabeça e se ele se aproximasse mais um centímetro de mim, eu juro que eu iria chorar ali, na frente de toda aquela realeza reunida.
Eu sei que é ruim, mas eu preferia estar morta.
Pensando bem... Eu não posso desistir de quem eu sou para me tornar quem os outros querem que eu seja. E foi aí que eu me tornei... A Rainha Negra.
O Príncipe de Ignis me chamou para um canto. Era a sacada do salão, na extremidade sul do castelo. As pessoas estavam comendo e bebendo, eu só ouvia o som de talheres, risadas e muita, muita piada machista sendo feita. Eu estava enojada ao máximo. E ter aquele homem ali, me chamando, me deixava aflita. Eu estava tremendo. O príncipe era muito gentil, com certeza, e um verdadeiro cavalheiro. Mas eu... Eu não podia estar pior. Eu estava me sentindo um lixo.
E foi então que uma ideia se passou pela minha cabeça. É feio compartilhar essas coisas. É feio FAZER essas coisas. Mas eu estava tão abalada psicológica e emocionalmente, que na hora eu nem pensei direito; Apenas fiz o que me deu na telha.
Eu sabia que aquele convite não havia sido em vão. Quando o príncipe se aproximou de mim, eu senti que ele ia me beijar. Então usei de todas as minhas forças e empurrei 70/80kg de homem sacada abaixo.
AH MEU ARCEUS!! O que foi que eu fiz???
Eu matei o príncipe de Ignis?
Corri imediatamente para meu quarto. Se estava chorando, nem notei. Só fui verificar que minha face estava completamente encharcada muito tempo depois, quando eu já estava com Eevinha no ombro, com a roupa mais comum que eu tinha, a cinquenta metros de distância do palácio.
Foi a primeira decisão na vida que eu tomei por mim mesma. Sinceramente... Na hora me pareceu a maior loucura que eu já fiz na vida. E foi, de fato. Eu não estava ciente do que eu estava fazendo. Não estava ciente das consequências de meus atos. Eu apenas fugi. Correndo pela floresta adjacente no frio da noite enquanto as pessoas distraídas, festejavam e lançavam fogos, como se fosse certo obrigar uma menor de idade a participar de uma união do qual ela nunca pretendeu fazer parte.
Passei pelos guardas sorrateiramente, utilizando os poderes de Eevinha para criar uma distração, e me fui mata a dentro. Eu chorava agora com muita intensidade. Mas não era de tristeza. Era de raiva. Raiva por não ter feito isso antes.
E assim foi. Essa era a prova de que eu tinha amor por mim mesma. Fugi do Reino de Aurora para nunca mais voltar...
DIA 2
Evitei passar por Ignis. Eu estava sozinha. Era noite. Estava cansada, com frio e com fome, mas eu ainda era uma criança treinada para ser uma guerreira. Avistei de longe uma vila onde eu muito fui quando criança. Era Greenleaf, o reino dos tipos Planta.
Havia muito tempo eu não ia lá. As pessoas ainda me conheciam, é claro, por isso eu tentei ser o mais discreta o possível. Era em torno de umas cinco horas da manhã, o dia estava nascendo. E ninguém havia ainda saído de suas casas. Era a oportunidade perfeita para eu chegar no mar e embarcar rumo à Unova, onde meu sonho de se tornar uma simples treinadora Pokémon poderia sair do papel e tornar-se realidade.
Mas eis então que um plebeu cheio de energia (fala sério, era seis da manhã), fazia alongamentos e cantarolava, junto de seus dois Pokémon, que o acompanhavam com um gás que eu jamais teria aquela hora.
Era um Chimchar, do tipo Fogo, e um Piplup, do tipo Água. Eles dançavam e executavam os mesmos movimentos que seu tutor, que com muita dedicação, parecia estar treinando algum tipo de arte marcial (digo algum tipo, porque eu nunca me interessei por nenhuma, então nunca fiz questão de distinguir uma da outra).Era a única alma viva em Greenleaf naquele momento. Ou os chefes estavam no baile de meu pai em Aurora, ou os peões do proletariado estavam recém saindo de suas camas e tomando café para iniciar um longo, exaustivo e escravizante dia de trabalho.
Mas a minha discrição se foi por água abaixo. No momento em que aquele menino se virou e pôs os olhos em mim, ele perguntou, com uma cara de dúvida:
— Ei, você não é a Princesa Wish de Aurora?
— Não. — Menti, mas receio que minha voz tenha falhado. Eu nunca fui boa em mentiras.
— É sim! O que faz aqui? Não deveria ser a sua grande noite? O príncipe de Ignis não está lhe esperando no altar?
E foi nesse momento que Eevinha e eu pulamos de susto. Por detrás do garoto, eis que surge um vulto negro, um cão de caça. Ele estava ali a mando de meu pai. Me caçando.
Tarde demais. Minha fuga havia sido descoberta. O soldado (que se chamava Masanori) pegou uma pokébola e arremessou-a no ar, trazendo à tona um Skorupi, que começou a atacar a mim e a Eevinha.
— Proteja-me, Plebeu! Proteja-me! — Gritei para o menino, que estava sem entender o que acontecia.
— Tá, o meu nome é Best! Eu vou fingir que você não me chamou assim e vou te ajudar, mas só porque eu sou um bom cara! — disse ele, em um tom bem humorado, enquanto eu me escondia atrás de sua armadura.— Chimchar, Piplup! Preparem-se! É guerra que eles querem? É guerra que eles vão ter...
Chimchar e Piplup utilizaram seus poderes de fogo e água para formarem uma névoa espessa que cobriu o campo, prejudicando a visão de Masanori e Skorupi. E por um momento, me vi de mãos dadas com o garoto, correndo em direção ao cais.
***
Passado (o rolê) o susto, alguns quilômetros mais tarde, paramos em frente ao mar. Aquela nos parecia ser a saída mais lógica.— Tudo bem, vamos começar do zero. — disse Best, em um tom interrogativo. — Você é a Princesa Wish do Reino de Aurora..?
— O que você acha?! — Desculpem-me pelo tom rude, mas eu estava desesperada.
— E o que você está fazendo aqui a estas horas? Por que está fugindo desses caras?
Respirei fundo. Reviver tudo aquilo na memória, por mais fresca que ainda estivesse, era difícil.
— Eu estou fugindo de um casamento arranjado. — Falei com um suspiro. Cara... Desabafar daquela maneira, com aquele plebeu estranho, foi a melhor coisa que aconteceu em horas! — Meu pai quer que eu me case com o Príncipe de Ignis para que eles possam formar uma aliança estratégica com o reino do fogo, porém... Eu não me sinto preparada para isso. Taquei o f*da-se: Joguei o príncipe da sacada; Agora eu estou aqui, sendo perseguida pela Team Ambition. — Revelei.
— Team Ambition? — Perguntou Best, sem entender.
— A Team Ambition ou Equipe Ambição é um esquadrão de guerreiros caça-tesouros que atua ocultamente na região de Ransei. — Expliquei. — Somente os grandes lordes, mandarins e senhores de terra possuem o conhecimento de sua existência. O líder do grupo, Nobunaga, é conhecido como o Senhor da Ambição, e juntos, eles têm o objetivo de enriquecer às custas de trabalhos sujos demais para que os lordes façam por si próprios. Assim, eles formam uma facção sombria e que muitas vezes são convocados para missões digamos que um tanto... Antiéticas, como tática de guerra dos grandes lordes. Mas eles não são muito confiáveis, pois não trabalham para nenhum lado, senão a si próprios. Ou seja, da mesma forma que são contratados por um exército, podem ser contratados pelo exército inimigo, tornando-se assim, agentes duplos. O meu pai tem usado dos serviços deles por muitos anos. Ele e Nobunaga são amigos há muito tempo, eu diria que desde o tempo da adolescência. Então eu tenho crescido ouvindo histórias tenebrosas envolvendo muito sangue e muita "honra" de general.
— Sinistro... — A boca de Best precisava ser erguida do chão neste momento.
— Então, meu querido e amado pai — ironia — resolveu chamar esses saqueadores de governo para me procurarem. Olha que beleza!
— Meu Arceus! — Best estava chocado. Não podia acreditar no que estava ouvindo. — E você vai fazer o que? Quais são os seus planos?
— Eu quero fugir para bem longe daqui. Me tornar uma treinadora Pokémon. Vencer desafios ao lado de meus Pokémon como amigos e aliados, e não como máquinas feitas para aniquilar a vida do oponente. — Falei, em um tom esperançoso de fúria.
— E para onde você pretende ir? — Perguntou Best.
— Ora, para Unova, é claro. — Respondi, sonhadora.
— Unova é uma região próxima, mas ainda assim é muito longe, Princesa Wish! — Avisou-me Best.
— Ok, por favor... Pode parar me chamar de Princesa? Pode me chamar apenas de Wish. É o meu nome, e afinal, acho que agora eu fui oficialmente renegada ao trono.
— Ah, tá bom, Wish! Como pretende chegar lá?
— Eu vou pelo mar.
— Sozinha?
— Sozinha. — Confirmei.
— Você tá louca, mulher?! — Gritou Best. — Quantas vezes você já viajou para Unova pelo alto mar? — Perguntou-me Best e eu senti que pelo tom, ele tinha certa experiência nisso.
— Hmm... Nenhuma.
— Então?! — Exclamou o menino. — Como você vai viajar por dias sem pelo menos ter uma equipe de Pokémon consigo? Deixa eu adivinhar... Você não tem, não é?
— Não.
— MEU ARCEUS! Eu vou junto.
— Não, obrigada. Sei me virar sozinha. — Recusei, com o nariz rebitado. Que imprudência.
— Sabe nada. Te orienta, rapariga! Eu vou junto e ponto final!
— E você vai deixar a sua família aqui? — Perguntei.
— Eu moro sozinho com o meu pai, ele é lenhador e eu sou pescador. Ele... Ele até que ficaria bem feliz em saber que eu arranjei uma namorada!
— Ih, sai fora! — Outro matrimônio? Ah, disso eu já estava farta.
— É tudo fachada, miga. Eu não gosto disso. — Best piscou pra mim e eu finalmente entendi. — Vamos. Eu vou pegar o meu barco.
— Mas... Nós não precisamos de Pokémon? — Perguntei, fazendo referência ao que ele havia me dito antes.
— É, é por isso que não podemos ir direto para Unova, sem antes pegarmos alguma coisa por aqui. Você já esteve em uma batalha Pokémon antes?
— Não. — Ai, meu Arceus. Aquilo ali estava ficando cada vez mais complicado para mim. Sair de minha rotina, por mais ferrada que fosse, era também sair de minha zona de conforto.
— Aff... Parece que teremos muito trabalho pela frente... — Bufou Best.
***
Ainda naquela tarde, depois de centenas de falhas tentativas de capturar o meu primeiro Pokémon, encontrei um Cubchoo selvagem.
Imediatamente, pus Eevinha em ação. A pobre Eevee era pomposa e mimada demais para saber o que fazer e quando fazer, mas seus instintos de batalhadora a fizeram erguer a cabeça e no final das contas, deu tudo certo.
— Olha! O Cubchoo está usando o Bide como contra-dano!
— Eevinha! Evasiva e depois Take Down!
Ao mesmo tempo em que Cubchoo disparava uma rajada de energia vermelha, resultado dos últimos ataques de Eevinha contra ele, a Eevee saltitava em uma corrida que não só viria a ferir e derrubar Cubchoo, como também a ela própria.— ACERTOU! — Gritou Best, surpreso.
— Tem que dar certo! Pokébola, vai!
Mirei e pela primeira vez no dia todo, consegui acertar em cheio a pokébola em Cubchoo, que o engoliu, girou, girou e girou, até chover em um ruído sonoro agradável com uma centena de centelhas em formato de estrelas saindo de seu interior, confirmando enfim a captura.
Cubchoo era meu.
— Yeah! Meu primeiro Pokémon! Vou batizá-lo de Cubinho!
— Cubinho? — Best ficou intrigado.
— Isso, Cubinho, de cubo de gelo. — Falei, sendo criativa.
— Pelamor...
— O que você disse?
— NADA! — Best tentou fugir mudando de assunto. — O meu barco é humilde. Não vai aguentar uma viagem em alto mar. E durante um dia inteiro, você só conseguiu capturar 1 Pokémon! Wish, eu to achando que essa sua jornada vai ser impossível se você não ficar pelo menos mais um mês em Ransei antes de realmente fugir daqui!
— Ah, não me diga isso! — Brandei, furiosa. — Três semanas!
— Um mês! — Insistiu Best.
— Uma semana! — Pedi.
— Negativo! Três! — Estávamos começando a negociar.
— Uma semana! — Pedi de novo.
— Wish...?
— Ah, qual é? Duas semanas é perigoso demais pra eu ficar aqui! Eles são nível de Elite, Best! — Draminha apelativo. Quem nunca usou para conseguir o que queria?
— Está bem, uma semana! Mas durante esse tempo, teremos de conseguir três concluir missões: 1) Conseguir um barco maior e mais resistente, que dure uma jornada de ida e volta até Unova; 2) Eu tenho que ter capturado um time inteiro de Pokémon antes de partir; 3) VOCÊ terá de ter capturado um time inteiro de Pokémon antes de partir. E sinceramente... Das três, a mais difícil eu acho que será esta última.
— Mas o que você está insinuando? — Bicha desgranida.
— Que você é muito ruim, querida. Mas nada que uns dias de treino não resolvam! Agora, se me der licença, preciso saquear um banco para conseguir dinheiro para dar um upgrade no meu velho barquinho!
— É dinheiro que você precisa para concluir a primeira missão? — Perguntei. — Toma. — E entreguei nas mãos dele um saco com aproximadamente 100 moedas de ouro típicas da região de Ransei.
Os olhinhos de Best chegaram a brilhar.
— WTF?!
— É pra usar na aquisição do barco. — Falei rigidamente. — Agora faça o favor de me tirar desse maldito lugar!!
— Mas... Só temos mais um probleminha... — Falou ele. — Os bons barcos são produzidos em outro reino: Fontaine. As estradas diretas para lá estão bloqueadas devido a um terrível maremoto que afetou a área sul de nossa região ainda esta semana... Então para chegarmos até lá, teremos de cruzar por pelo menos uns cinco reinos no caminho. Você acha muito arriscado de a Team Ambition te encontrar em algum desses territórios vizinhos?
— Hell Yeah, man! Mas quer saber de uma coisa? Eu joguei um príncipe de uma fucking sacada! Não tem nada mais prazeroso do que isso! Eu aguento! — Falei, com determinação. Se eu queria sair de Ransei, a jornada teria de ser com qualidade, e se qualidade significava comprar um barco novo em Fontaine, então eu enfrentaria 10, ou se preciso fosse, os 17 reinos de Ransei inteiros, só para conseguir o que eu queria.
— Então fechou. Parceiros?
Ele colocou a mão para que eu cumprimentasse.
— Parceiros. — E eu bati de volta, em um estalinho que significou muito para mim naquele momento. Amizade.
DIA 3
O plano era viajarmos de Greenleaf para Violight, passando por Chrysalia (Já que Pugilis é muito perigosa devido meu pai ter forte influência por lá e por ser ao lado do Reino de Ignis), seguindo por Illusio, Terrera, Cragspur e por fim, chegaríamos ao porto de Yaksha, onde seguiríamos em uma rota livre pelo mar até Fountaine e lá, adquiriríamos um barco novo.
O de Best era velho e talvez até um pouco antiquado, porque fedia a Magikarp. Mas era o melhor que eu tinha até aquele momento, então eu não podia reclamar. O menino estava fazendo o seu melhor para me ajudar.
Aportamos enfim em Violight, a cidade das luzes, conhecida por seus guerreiros do tipo elétrico. Mas a cidade era mais sombria do que eu imaginava, de asfaltos e fachadas escuras, os pontos de luz que saíam das lâmpadas faziam com que sempre parecesse noite naquele lugar, ainda que fosse de dia.
Aportamos enfim em Violight, a cidade das luzes, conhecida por seus guerreiros do tipo elétrico. Mas a cidade era mais sombria do que eu imaginava, de asfaltos e fachadas escuras, os pontos de luz que saíam das lâmpadas faziam com que sempre parecesse noite naquele lugar, ainda que fosse de dia.
Chegando lá, me envolvi em mais uma batalha Pokémon, desta vez contra um Ekans, o qual capturei e imediatamente batizei de "Longuinha".
Ekans era um Pokémon do tipo venenoso puro e meu time estava fugindo dos padrões convencionais, tendo além dela, um tipo normal e um tipo gelo. Que tipo de treinadora eu iria me tornar? Bom, eu ainda não sabia. E não sei até hoje. Fato é que eu precisava fortalecer minha equipe naqueles dias e por isso, peguei o máximo de Pokémon que consegui.
Mas Best e eu estávamos sendo observados de longe, e naquele momento, eu nem percebi. Quando fui ver, era tarde demais. Primeiro foi Masanori com seu Skorupi. Desta vez foi Motochika, da Team Ambition, que apareceu do nada, atacando com um Luxio que eletrocutou não só Cubchoo como também a pokébola de Longuinha, que eu havia acabado de capturar.
— Aí está você, Princesa! — Brandou ele.
— Best! É a Equipe Ambição! — Avisei meu amigo Best e imediatamente, ele sacou Chimchar, que começou uma disputa feroz contra Luxio.
— Deixa a gente em paz! — disse Best, logo ordenando Chimchar: — Scratch! Agora!
— P*ta M*r*a, Best! O Chimchar sabe o Flamethrower e você usa justo o Scratch? — Reclamei.
Mas Chimchar estava só testando a força de Luxio, que obviamente desviou de um ataque fraco daqueles.
— Luxio, Iron Tail! — Ordenou Motochika.
O golpe, mesmo do tipo metálico e pouco efetivo em Chimchar, foi forte o suficiente para fazer o macaquinho voar longe...
— Wild Charge!
E Motochika não parou, coordenando mais um ataque elétrico, seguido de uma colisão que jogou Chimchar ainda mais longe...
— Chimchar, use Flame Wheel!
Mas o tipo fogo também podia preencher seu próprio corpo com o elemento ao qual pertence, e assim, duas rodas, uma de fogo e outra de eletricidade, ficaram colidindo uma com a outra, jorrando faíscas para tudo quanto é lado.
Ambos os Pokémon acabaram feridos.
— Chimchar, Fire Spin! — Comandou Best, fazendo com que Chimchar formasse um vórtice de fogo que envolveu todo o corpo de Luxio imediatamente, prendendo-o em um turbilhão de chamas inescapável.
— Luxio, Discharge de novo!
Motochika tenta fazer com que Luxio se liberte das chamas ao expelir eletricidade por seu pelo sedoso e brilhante, mas é inútil. Chimchar, por mais fraco que aparentasse, era um bom combatente e sabia como armar uma arapuca para prender o inimigo.
— Agora, Chimchar! — Gritou Best. — Termine com o Flamethrower!
E da boca do pequeno primata, mais um jato de fogo jorra com esforço, sem parar, queimando o pelo de Luxio. Mas o Flamethrower por si só, não é capaz de derrotá-lo.
— Ele continua de pé! — Observei.
— Não por muito tempo! — Ameaçou Best.
— LUXIO! — Gritou Motochika.
E foi então que o turbilhão de fogo do Fire Spin retornou, prensando Luxio novamente e levando seus últimos pontos de energia. A batalha estava encerrada. Vencemos.
Motochika retornou Luxio à pokébola e prometeu:
— Isso ainda não acabou!
E foi embora, mas não sem antes eu colocar a língua para ele. Filho da mãe.
— Estamos seguros agora! — disse Best no momento em que algo muito especial começou a acontecer. O corpo de seu querido Chimchar começou a brilhar e a evoluir, tornando-se agora um Monferno.
De repente, uma voz conhecida gritou:
— RENDAM-SE!! — Era Motochika que estava de volta, dessa vez com dois novos membros da Team Ambition: Yoshimoto (treinador de Scyther) e Kanbei (treinador de Lampent).
— Wish, eu não vou conseguir sozinho! — Informou Best.
— Essa não! Eu nunca batalhei contra outra pessoa antes! — Eu estava nervosa. Era a minha primeira vez para tudo isso.
— É fácil, deixa que eu te guio. — Ele se ofereceu para ajudar. Nisso, Scyther e Lampent já vinham rasgando com tudo, dando seus mais poderosos ataques: Razor Wind e Inferno.
— Monferno, Flamethrower! — Comandou Best.
— O... O que eu faço? — Perguntei, já chamando Longuinha para batalhar.
— Que tal ir por baixo?
— Ah! Entendi! — Saquei. — DIG!
Resultado: Uma explosão e tanto. Com Ekans no subsolo, Scyther e Lampent conseguem nocautear Monferno com golpes diretos, enquanto que Longuinha salta para atingir Lampent, mas Scyther voa na frente e o ataque se torna inútil.
— MONFERNO! — Gritou Best.
— LONGUINHA! — Gritei eu. Estávamos fritos.
— Vocês não vão a lugar algum! — Motochika agarrou meus braços e os amarrou nas costas, imobilizando-me. O mesmo fez Kanbei com Best, enquanto Yoshimoto só ria maquiavelicamente abanando aquele leque.
Tornamo-nos prisioneiros.
Rapidamente, estávamos no Reino de Pugilis, dos tipos Lutador, uma terra onde meu pai dominava, bem próxima ao Reino de Aurora. Eu estava com medo, tudo estava dando errado. Será que eu não ia conseguir sair de Ransei nunca na vida? (E teria que me casar com qualquer um que meu pai achasse que tinha dinheiro o suficiente?)
Continua...
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