Capítulo 03
Contágio
Eu nunca pensei que enquanto eu estivesse dormindo, ao invés de sonhar, eu pudesse rememorar uma lembrança tal e qual ela aconteceu.
Mas lá estava eu, de volta ao momento da minha (quase) morte, quando o meu coração parou de bater e eu pude encontrar meus pais biológicos no além.
Do lado de fora da carne, dava para ver tudo o que acontecia ao meu redor com extrema facilidade. Eu não precisava mais girar a cabeça para visualizar os arredores. Primeiro porque eu não tinha mais cabeça, e segundo porque minha visão agora alcançava os 360º. Abaixo de onde minha consciência pairava sobre o ar, leve como se nada pesasse, encontrava-se o meu corpo sem vida e meus amigos, Ruby e Sapphire, desesperados. Mas eu olhava para aquele corpo desfalecido com a maior indiferença do mundo, como se não pertencesse a mim. Havia um silêncio estarrecedor, algo que transmitia um sentimento de paz impossível de ser colocado em palavras. E eu estava ali compreendendo que tudo aquilo era um processo natural e curiosamente familiar, como se já tivesse acontecido comigo antes.
Eu me lembro de ter reconhecido aqueles vultos cheios de luz assim que os vi. Minha mãe e meu pai faleceram em uma acidente de carro quando eu era bem pequenininho. Não teria como eu me lembrar deles senão pelo que eu vi nas fotos de família. Mas eu sabia que eram eles e que estavam ali para me guiar.
Naquele momento, o que eu senti foi inexplicável. Uma sensação de afeto e carinho que vão para além do que a experiência neste mundo pode oferecer. Era transcendente. Um amor que eu jamais conseguirei retribuir. Era maior do que o planeta, do que o sistema solar, do que a Via Láctea inteira!
Eu me sentia calmo, sereno e tranquilo, e melhor parte disso: lúcido. Eu soube, naquele instante, que eles estavam ali, na verdade, para me impedir de retornar ao meu verdadeiro lar: o mundo do além. E soube disso sem precisar perguntar nada. As respostas simplesmente surgiam em minha cabeça, assim como eles também não precisavam usar a boca para falar. Os pensamentos fluíam de sua mente e entravam na minha.
Meu pai, o Professor William Carson, que desencarnou aos 32 anos de idade, sabia que eu sabia que deveria retornar à vida. Mas mesmo assim, insistiu e deixou bem claro, para caso eu me fizesse de desentendido: o meu lugar não era ali.
Wendy Jade, minha mãe biológica, com seus belos cabelos tingidos de verde, falecida aos 26, também me disse o que eu já tinha ciência, de que eu não pertencia ao reino dos mortos. Mas não pense que eu interpretei todas as frases imperativas de maneira rude, grossa ou mandona. Não. A vibração que eu sentia, a energia que emanava dos dois... Era puro amor. Eles só queriam o melhor para mim e só queriam me lembrar do que eu havia prometido ANTES de nascer...
Como uma criança chorona, eu não queria voltar para meu corpo. Tudo o que eu estava sentindo do lado de lá era tão bom... Tão atraente. Deve ser por isso que ninguém volta dos mortos para contar como é. Isto é... Menos eu, não é?
Então meus pais se compadeceram de minha situação e continuaram tentando me explicar o motivo de eu não poder ficar. Pelo menos, não por enquanto.
Assim que minha mãe falou "lembra-se?", minha consciência implodiu. Eu senti como se minha inteligência se ampliasse e meu ego se desfizesse diante do regresso da memória de tantas vidas anteriores que eu já vivi, todas elas brotando de uma só vez em minha mente.
E foi aí que eu lembrei da minha promessa. Eu lembrei que decidi nascer na Região de Hoenn como o garotinho fraco e debilitado a que deram o nome de Wally Jade, porque precisava encarnar na Terra com a incrível missão de proteger alguém...
Eu me lembrei. Lembrei de tudo. Lembrei do porquê estar ali e o que eu tinha de fazer na Terra antes de voltar para minha verdadeira casa. Então concordei. Eu não podia avançar. Não sem concluir o que eu comecei: minha missão de vida.
Então, com um sopro que me empurrou do umbigo para trás, voltei para dentro de meu corpo inerte, da mesma maneira que me acordei aqui, de volta à Região de Fiore, após termos fracassado em proteger o protótipo do Super Styler que o Professor Hastings carregava, das garras do terrível Esquadrão Go-Rock...
Olhei para o lado e todos os meus Pokémon estavam ali, me aquecendo.









Se você não está lembrade, Lunick e eu estávamos no meio de uma missão de escolta (missão esta que nem era nossa - era da Solana, mas nós fomos escondidos) e falhamos. Agora, com uma intensa chuva do lado de fora, abrigamo-nos na entrada do Krokka Tunnel e eu acabei pegando brevemente no sono enquanto Solana se lamentava pela sua falha, o Professor Hastings tentava consolá-la, e Lunick buscava algumas frutas para ajudar minha Altaria.

Quando os Recrutas do Esquadrão Go-Rock fugiram voando em um Swellow, eu prontamente ordenei que Altaria os seguisse em segredo, mas ela foi descoberta e acabou levando uma surra de algum Pokémon... Voltou cambaleando enquanto voava, lutando para manter-se estável no ar... Seu estado estava deplorável. Havia veneno circulando em suas veias. Quando caiu no chão, não resistiu: perdeu imediatamente a consciência.
E foi assim que eu me sentei juntinho a ela, e suas plumas fofinhas como algodão criaram a condição perfeita para que um menino cansado como eu, cochilasse abraçado a elas.

Quando me acordei, no entanto, Altaria já estava se sentindo melhor, embora não tivesse tido o veneno extraído completamente de seu sistema. Lunick saiu e colheu algumas frutas Laran, que lhe restauraram uma pequena parcela de HP, mas não mais do que isso. Quem precisava de atenção, no entanto, era Solana, que caminhava de um lado para o outro, praticamente entrando em parafuso por conta de seu desempenho medíocre no papel de proteger o Professor.









Esperei que os três se afastassem um pouco junto de Magneton e quando já estava completamente sozinho, puxei do bolso uma Pokégear, que trouxe comigo para Fiore por motivos de comunicação.

Digitei um número que eu sempre soube de cor, mas que por algum motivo, no passado, eu relutava em ligar e esperei pacientemente...



Hesitei por um momento. Depois de tudo o que eu fiz com a pobre da Wanda, minha prima e (ao mesmo tempo) minha mãe adotiva, eu me sentia um lixo. Como eu pude fugir do hospital, interrompendo o meu tratando e desaparecer por Hoenn em uma jornada Pokémon sem sua autorização? Mas eu estava tentando me redimir... Prometi que lhe mandaria notícias de tempo em tempos.

Não foi difícil alcançar Solana, Lunick e o Professor Hastings. Eles haviam parado em uma bifurcação logo mais adiante. Aquela caverna era um convite para se perder caso você não fosse preparado, e ainda assim, era a maneira mais rápida de se chegar até Fall City, ainda mais considerando o tempo, que fechou de uma hora para a outra.
Caminhamos durante vários minutos, adentrando em estreitas passagens que se abriam para câmaras e mais câmaras. Até que, por algum motivo, Solana (a líder da expedição) para de andar, congestionando o fluxo.




Solana então aponta para uma pequena fresta, de onde uma coisa gosmenta parecia se estremer para sair.

Um pequeno Pokémon lamacento cujo corpo na verdade era um blob de detritos fedorentos adentra na câmara em que estávamos, poluindo o ambiente em questão de segundos.



O Professor Hastings então começa a analisar o bigode, pensativo.











De diversos buracos nas paredes, então, brotam vários Grimer, que deixam o ambiente praticamente impossível de suportar. Em poucos segundos, estávamos cercados, e a simples presença deles nos causava náuseas.



Neste momento, eu iria pedir para Kirlia averiguar telepaticamente quais Pokémon selvagem viviam no Krokka Tunnel, para que pudéssemos solicitar sua ajuda no estilo Ranger, mas ela leu meus pensamentos e antes que eu pudesse terminar a frase, já havia feito uma relação com todos os monstrinhos que ali viviam, exibindo suas imagens em nossas cabeças.










Roselia exala uma fragrância extremamente agradável a partir dos botões de rosa em suas mãos. E isso atrai todos os Pokémon que Kirlia havia visualizado em sua premonição de uma só vez: Dugtrio, Poliwag e Poliwhirl, Parasect, Graveler e Hariyama!







Solana salta na frente de Lunick e ativa seu Styler, rapidamente concluindo a captura da Poliwag selvagem, dada as altas habilidades de uma Ranger Nível 10 como ela.

Um círculo de energia se forma em torno do Pokémon tipo água e aquela energia rapidamente penetra na membrana de Poliwag, acalmando-a.


Poliwag salta e cospe uma sequência de jatos d'água contra os Grimer, que ficam mais pegajosos ainda depois de receberem água sobre seus corpos lamacentos. Os Grimer afetados pelo ataque fogem imediatamente.


E Poliwag, que agora está unida à Solana pelo laço da captura, se esforça ao máximo, cuspindo mais água para expulsar mais Grimers do recinto.




Os Grimer reduzidos cospem projéteis de lama envenenada para cima, minando o túnel.


Mas é tarde demais. Poliwag é atingida pelos detritos, fica ferida e vínculo da captura se perde. Assustada, a pokémon foge para o interior da caverna, abandonando a luta.



Desta vez quem roda o pião é Lunick, capturando o Poliwhirl que havia sido atraído junto pelo Aroma Doce de Roselia.





Poliwhirl dá uma coça nos Grimers restantes soltando um jato d'água que era duas vezes mais potente que o de Poliwag, lavando os demais invasores e estancando seu cheiro insuportável.
E estavam mesmo. Todos eles estavam aplaudindo o trabalho de nós, Rangers, depois que os últimos Grimers rastejaram para longe, tornando o ar respirável novamente.





Poliwhirl volta para dentro da caverna para viver sua vida selvagem, assim como os demais monstirnhos.
De fato, o Professor Hastings estava certo. Caminhamos mais uns dez minutos e já chegamos à outra ponta do Túnel. A chuva havia parado, o céu estava começando a ficar limpo e Fall City estendia-se gloriosa bem à nossa frente...
Não fosse o fato de que a própria cidade estava infestada de Grimers também, e não apenas isso: Muk, sua forma evoluída, também!

























Continua...
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