Era uma vez, em uma pequena cidade cercada por densas florestas tropicais com uma vista incrível para o oceano, vivia uma família feliz composta por Alex, um talentoso desenhista, e Lucca, uma dedicada professora. Eles eram os orgulhosos pais de uma doce e adorável menininha de apenas 4 anos, com olhos curiosos e sorriso encantador.
Numa noite sombria de outono, quando o vento uivava como um lamento e a chuva batia nas janelas como dedos impacientes. Lucca e Alex estavam acolhidos em sua casa aconchegante, com a filha brincando animadamente no chão da sala. A chama da lareira lançava sombras dançantes nas paredes, criando uma atmosfera agradável e reconfortante.
Enquanto a tempestade rugia lá fora, Alex decidiu contar uma história à filha antes de dormir. "Venha, filha!," disse ele, "junte-se a nós perto da lareira. Eu vou te contar a história do Homem da Floresta."
Os olhos de Liko se iluminaram com entusiasmo. Ela adorava as histórias do pai, cheias de imaginação e cor.
"Há muito tempo atrás..." Começa Alex. No entanto, antes que ele pudesse dar prosseguimento, ouve-se um estrondo. Era um ruído ensurdecedor e extremamente amedrontador vindo da porta da residência. Começou com um som pesado e metálico de algo batendo repetidamente contra a madeira, como se fosse uma marreta ou um pé de cabra sendo usado com força bruta.
O impacto contínuo faz com que a porta vibre, produzindo um som de tremor que reverbera pelas paredes, intensificando a sensação de perigo iminente. O ambiente ao redor parece ecoar os sons, ampliando a tensão no ar.
À medida que a porta resiste, podem ser ouvidos estalos e rangidos agudos, ecoando pelo ambiente. O som metálico se mistura com o estalo da madeira cedendo sob a pressão, criando uma cacofonia de ruídos perturbadores e angustiantes. Em uma fração de segundos, o som se tornou mais alto e mais intenso, como se a própria estrutura da porta estivesse implorando por misericórdia. É como se a casa inteira estivesse gemendo de aflição diante da violência que estava sendo cometida.
"PAM!" De repente, em milésimos de segundos, a porta cai, deixando entrar naquele lar muito mais do que apenas as gotas da tempestade que enxarcavam o mundo lá fora.
A tranquilidade do lar da família foi brutalmente invadida. Um homem cruel havia adentrando a residência sem piedade. Ele estava acompanhado por um comparsa, ambos com rostos escondidos por máscaras sinistras.
O coração de Lucca disparou quando viu os intrusos apontando uma arma para sua cabeça e ameaçando matar a todos. O coração de Alex disparou em pânico e desespero ao ver o bandido apontando a arma para a cabeça de sua esposa. Seus olhos se encheram de terror, mas também de determinação, pois o instinto protetor o dominou completamente. Ele sentiu um misto avassalador de raiva e impotência, enquanto seus músculos se contraíam em uma luta interna entre a vontade de atacar o criminoso e o medo das consequências. Nesse momento aterrorizante, o amor que sentia por sua esposa impulsionou-o a enfrentar a ameaça, colocando a própria vida em risco para tentar salvá-la, mesmo que isso significasse desafiar a escuridão sombria do destino que se desenrolava diante de seus olhos. Já a filha, em seus pequenos olhos, refletia o mesmo temor que dominava sua mãe. Ainda que fosse muito pequena, ela sabia que algo de ruim estava acontecendo. Ela sentia que sua vida estava em perigo.
Os bandidos então amarraram os três membros da família cruelmente, amordaçando-os para garantir que não pudessem pedir socorro.
A garotinha estava completamente assustada e confusa com a situação. Ela tentava falar, gritar, mas apenas gemidos abafados escapavam de sua boca por causa da mordaça. Lágrimas escorriam por seu rostinho inocente, enquanto seus olhos suplicavam por compreensão.
O parceiro de crime dos invasores começou a revirar a casa, coletando todos os itens valiosos que encontrava. Enquanto isso, Lucca, a mãe, aproveitou um momento de distração dos bandidos e conseguiu se soltar de suas amarras. O coração dela batia descompassadamente, tomado pela adrenalina e pela preocupação com sua família.
Alex percebeu que a esposa havia se soltado e acenou com a cabeça para ela, em silêncio, para que não tomasse nenhuma atitude impensada. Mas Lucca era uma mãe protetora, ela sentia a necessidade de lutar para salvar sua família. Movendo-se então cuidadosamente, Lucca tentou agir em silêncio, desesperada para tirar a arma das mãos do assassino e proteger seu esposo e filha. Mas, infelizmente, um ruído mínimo denunciou sua presença. O bandido percebeu a aproximação e, sem hesitar, disparou a arma.
O som do tiro ecoou pela sala, e a vida de Lucca foi ceifada diante dos olhos da filha pequena, que sentiu o sangue espirrar em seu rosto assustado, manchando-o eternamente com o horror daquela cena terrível. Seu coraçãozinho acelerado parecia querer saltar do peito, e seus soluços desesperados eram covardemente abafados pela mordaça.
Seus olhos arregalados foram preenchidos por um misto de terror e incredulidade, enquanto seu coraçãozinho suplicava por misericórdia. O choque daquela cena horrível a deixou paralisada por um momento, e ela podia sentir suas pernas tremendo involuntariamente. Suas mãos pequenas e presas tentavam se a qualquer coisa próxima, buscando desesperadamente por uma sensação de segurança que agora havia desaparecido. O sangue espirrando em seu rosto assustado causou uma repulsa e náusea intensa. A partir desse momento traumático, seu corpo entrou em um estado de estresse extremo, com a liberação de hormônios como cortisol e adrenalina, causando um aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Seus músculos ficaram tensos, e suas mãos continuavam trêmulas. A mente da menina ficou turva e fragmentada, criando uma defesa psicológica para lidar com o trauma, o que poderia se manifestar posteriormente em pesadelos recorrentes, dificuldade para dormir, regressão comportamental e uma profunda ansiedade em relação a qualquer situação que lembre aquele terrível evento. O impacto emocional desse momento traumático deixou uma marca profunda na garota, afetando seu bem-estar físico e mental, e requerendo apoio e cuidado para enfrentar o longo processo de recuperação emocional. Mas esse foi o menor dos problemas causados pelo ocorrido...
O mundo da garotinha, antes tão seguro e acolhedor, agora estava repleto de sombras cruéis e fantasmas que a perseguiam dia e noite. A imagem da mãe sendo morta diante dela se gravou profundamente em sua mente inocente, criando um trauma que a acompanharia por muito tempo.
O parceiro de crime, ao perceber o que havia feito seu colega, apressou-se em sair da casa, carregando os objetos roubados consigo. A família ficou para trás, em uma mistura de desespero e luto. Alex tentava se acalmar para confortar a filha, mas também estava lutando contra o choque do ocorrido.
A menina, por sua vez, estava em choque, seus olhinhos claros vidrados e sua expressão perdida. Ela não conseguia entender completamente o que havia acontecido, mas sabia que algo terrível tinha se passado. Seu coraçãozinho estava partido, e suas emoções estavam em um turbilhão de medo, tristeza e confusão. Algo que ela jamais havia experienciado até aquele momento, mas que desde então passou a vivenciar diariamente...
Liko se acorda no meio da noite, aos gritos.
Ela estava em seu dormitório, na Academia Indigo, na Região de Kanto (Japão). Olhou para a cama ao lado, outrora de sua colega Ann, mas que agora jazia vazia. Um sombrio e desesperador desgosto tomou conta de Liko. Ann havia pedido para mudar de quarto, pois não aguentava mais se acordar de madrugada com os pesadelos de Liko... Mas o que Ann não sabia era que Liko rezava todas as noites para Deus que aquilo fosse apenas um sonho ruim. Mas não eram.
Aquelas eram lembranças firmemente enraizadas de uma data que ela jamais esqueceria. Dia 21 de Novembro de 1992. O dia em que Liko deixou de ser a única pessoa a habitar aquele corpo. O dia em que o seu trauma se materializou, tomando para si o nome 'Riko'.
E este era o resultado de uma mente colapsada. Uma jovem de 16, quase 17 anos, completamente fragmentada...
Recapitulando...
Os Trovonautas (grupos composto por Liko, Roy, Orla, Murdock, Mollie, Ludlow e seu líder, o Professor Friede) são voluntários a participarem de um projeto de pesquisa envolvendo a construção de uma máquina do tempo. Eles viajam para a Região de Paldea, onde encontram-se com os Professores Sada e Turo no Laboratório Zero, na Área Zero, a Grande Cratera de Paldea.
No entanto, no meio da noite, Sada invade o dormitório feminino e convence a jovem Liko a acompanhá-la sozinha numa viagem no tempo. Assim, as duas voltam para o passado, mas algo estranho começa a acontecer... Violentos Pokémon terastalizados começam a atacá-las, como se soubessem que elas estavam no tempo errado. Além disso, o computador de Sada, que estava coordenando não só a viagem como também todo o funcionamento do dirigível dos Trovonautas, também começa a terastalizar e pouco a pouco, ele vai se petrificando, transformando-se em cristal.
Após passarem por diversos períodos distintos, Sada leva Liko para uma época remota, na pré-história, em uma aparente viagem só de ida. As duas discutem, até que em dado momento, após o ataque de um Pokémon Terastalizado, Liko descobre que Sada não é uma pessoa de verdade, mas sim um Robô.
Movida pela sequência de traumas, Liko desperta uma personalidade sombria que por muito havia reprimido... Riko, sua "sombra", assume o controle e agora planeja tirar a "vida" da Inteligência Artificial. A luta entre Riko e a robô começa, mas Sada foge para um novo tempo, num passado ainda mais distante, há um bilhão de anos atrás...
E a partir de agora, você acompanha o desfecho desta emocionante história...
***
Agora, no ano de 2005...
"A Robô-Sada é humana em tudo, menos na inteligência. Como ela opera através de códigos de programação, ela pode aprender muito mais rápido do que um ser humano. Na verdade, ela pode assimilar toda a informação algum dia já digitalizada pela humanidade e agir como uma verdadeira enciclopédia ambulante... Além disso, ela tem uma vantagem sobre nós: Ela não se cansa, ela não envelhece e o principal, ela não morre. Pelo menos não da maneira tradicional. Ela precisa ser desligada ou imobilizada, de uma maneira que não seja mais possível que ela tome ações."
"Bom, e o que estamos esperando? Vamos atrás dela!" Diz Friede, já puxando os Trovonautas para a missão.
"Bem que eu queria, mas... Não é assim tão simples..." Confessa Turo. "O que quer que ela tenha feito com Liko, talvez seja irreversível..."
"E por que você diz isso?" Questiona Friede.
"Vocês... Não entenderiam..." Bufa o esposo de Sada.
"Como assim não entenderíamos? Por que elas não vão voltar?" Pergunta Roy. "A Máquina do Tempo está completa, não está?"
"Está. Mas eu duvido que o ego da Robô-Sada a deixará voltar antes de ter extraído o máximo de conhecimento de outras eras. Entendam... A Personalidade de Sada foi elevada ao extremo pela Robô. Se a minha esposa já era obcecada por conhecimento, imaginem a primeira inteligência artificial no mundo a viajar para épocas as quais o homem jamais pôde registrar, apenas especular?"
Um silêncio mórbido acomete os Trovonautas... Eles estavam incrédulos.
"Mas..." Continua o cambaleante Professor Turo...
"Mas...?" Questiona Friede, furioso, com uma sobrancelha arqueada.
"Tem mais uma coisa." Diz o esposo de Sada e pai do pequeno Arven. "Tem algo que eu jamais pensei que mostraria para outra pessoa... E que se eu simplesmente falar, talvez vocês não acreditem em mim. Então é melhor que vejam com seus próprios olhos."
Todos ficam intrigados. O que diabos o Professor Turo está falando?
Ele então gesticula um sinal e chama todos os tripulantes do Brave Asagi, enquanto caminha com o auxílio de seu parceiro Quaquaval para não errar os passos, levando-os para uma área ainda mais profunda da cratera, onde formações cristalinas coloridas refletiam a luz visível e iluminavam o abismo em feixes multicoloridos.
"O que está fazendo? Por que está nos trazendo até aqui?" Questiona Friede, que a estas alturas do campeonato, já queria voar no pescoço de Turo. "Você deveria voltar lá e operar a máquina do tempo para nos levar até onde elas estão ou então simplesmente trazê-las de volta, revertendo a viagem!"
"Não é tão simples quanto parece." Explica Turo, vagamente. "Como eu falei... É inútil. Nós já perdemos a Liko."
"O QUE?" Murdock também se enfurece.
"Você não pode simplesmente cruzar os braços e ficar sem fazer nada! Precisa trazê-la de volta!" Grita Orla, igualmente colérica.
"Não. Como eu disse... É uma causa perdida." Turo estava simplesmente desistindo. Mas ele precisava justificar sua resposta. Os Trovonautas não aceitariam este incidente sem uma boa desculpa. E foi por esta razão que ele os levou até ali embaixo.
Havia uma estufa cheia de plantas sendo cultivadas ali embaixo, para que o pessoal que trabalhava no projeto de pesquisa pudesse se alimentar, afinal, não valia a pena subir todo aquele desfiladeiro para buscar recursos. Eles precisavam se autossustentar estando ali embaixo, a tantos quilômetros abaixo do nível do mar.
Mas havia algo dentro destas estufas. Coisas que se mexiam.
"O que é isto?" Friede pergunta, em pânico, olhando para dentro da estufa, onde enormes e aparentemente ferais Pokémon estavam presos, vivendo trancafiados. Eram objetos de pesquisa.
"Eles são... PRIMITIVOS!" Comenta Mollie, apenas de observar as características físicas dos mesmos.
Então, Roy chega à conclusão que todos os Trovonautas já estavam teorizando em suas mentes:
"São Pokémon Pré-Históricos! Trazidos do Passado pela máquina do tempo!"
"Exatamente." Confirma Turo. "Antes de iniciarmos os testes com humanos, enviamos uma série de pokébolas... Master Balls, na verdade, para o passado. Estas pokébolas capturaram e trouxeram de um passado muito profundo estes seres que chamamos de Pokémon Paradoxo, porque em tese, deveriam estar extintos, mas como estão vivendo no presente, tecnicamente, ainda não estão..."
Todos ficam chocados. Aquela era uma descoberta sem precedentes! Diferentemente dos Pokémon Fósseis, que já eram restaurados pelos seres humanos nesta época, ainda que com diversas falhas, estes Pokémon haviam vindo DIRETAMENTE do passado, com o DNA intacto... Características genotípicas e fenotípicas completamente preservadas!
"Estão presos porque são muito, muito violentos. Mais do que qualquer espécie de Pokémon atual. Aquele ali de presas grandes, nós o batizamos de Colmilargo. Já o Pokémon em formato de lua com penas exuberantes é o Bramaluna.
"O dinossauróide com um fungo gigante na cabeça é Furioseta. O de asas na cabeça é o Melenaleteo."
"O inseto rastejante de asas escarlates é chamado Reptalada. Já o ser metálico que lembra um Magneton foi batizado de Pelarena."
"E por fim, mas não menos importante, o terrível raptor Ondulagua, um nato caçador de sua época, um predador de TOPO."
"Mas... Havia mais dois espécimes que não estão aqui." Complementa Turo. "Ela os levou."
"Por mais desconhecidas que estas espécies possam ser, eu tenho certeza que Liko consegue lidar bem com elas em batalha." Fala então Roy. "Eu e ela crescemos MUITO desde que entramos nos Trovonautas. E assim como eu aprendi muito com ela no quesito batalha, ela também aprendeu muito... com todos nós!"
"Esse não é o meu medo..." Diz Turo, entre soluços. "Eu ainda não lhes mostrei tudo."
"O que? Ainda tem mais?" Surpreende-se Friede, que já nem sabia mais se deveria ficar abalado ou se estava participando de uma pegadinha, porque tudo parecia surreal demais para ser verdade.
"Por aqui..."
Turo então encaminha os Trovonautas, fazendo-os contornar a estufa. E logo atrás da mesma estava uma formação cristalina muito, mas muito antiga, um verdadeiro achado geológico. Só que estava não era uma parede de cristal "comum". Muito pelo contrário... Havia algo extraordinário DENTRO dela. Assim que todos viram o que havia preso dentro daquela parede, ficaram sem palavras, sem AR. Como era possível?
Turo então continua: "Está aí desde ANTES de vocês virem para cá."
"Como assim desde ANTES?" Questiona Friede, incrédulo.
"Esta é principal razão pela qual Sada escolheu VOCÊS, os Trovonautas, para serem os primeiros a participarem da viagem no tempo... Para entender como o que está por detrás dessa parede, congelado há bilhões de anos, pode estar VIVO nos dias de hoje."
***
Agora, Há um Bilhão de Anos Atrás...
Sada se vira imediatamente, dando de cara com Riko, cujas mãos agora estavam enxarcadas de sangue. Os restos do jaleco de Sada, o qual Riko utilizara para enfaixar os próprios punhos, agora eram rubros, totalmente diferente da parte que ainda estava no entorno de Sada, vestindo-a.
A professora leva um susto.
"Por quê? Por que me escolheu se esta é uma viagem só de ida?" Pergunta Riko, entendendo que com aquele robô no controle, ela jamais retornaria para casa.
"O pingente." diz Sada. "O pingente tem um bilhão de anos. Eu quero descobrir como ele funciona."
"Você ainda não me respondeu. Diga logo para que eu possa desativá-la de uma vez por todas." Riko está perdendo a paciência. E não está blefando. Ela fala sério. Seu intuito é enfiar as mãos por dentro da pele sintética de Sada e arrancar todos os fios, causar um tremendo estrago lá por dentro e assim, evitar que a Professora robótica continue controlando a viagem no tempo.
"Huh..." Sada estreita um sorrisinho falso no canto da boca mais falsa ainda, artificial. "VOCÊ veio até mim. VOCÊ foi a descoberta da Sada de carne e osso."
"O que?" Riko fica sem entender. "Fale de uma vez tudo o que tem para falar, pois estas serão suas últimas palavras!"
"Eu tenho todas as lembranças da falecida Professora Sada e quero honrar o legado dela, que não pode viver nada disso aqui porque sua vida foi CEIFADA antes que ela tivesse qualquer chance de brilhar... O meu objetivo é e sempre foi descobrir o que este colar que eu lhe entreguei tem de especial. Esse foi o meu objetivo o tempo todo..."
"O colar? O que tem o que colar?" Riko o puxa para fora da blusa, ensanguentando-o.
Sada então responde: "O colar é a resposta para a origem de tudo. Da Terastalização. Da Viagem no Tempo. E do começo da vida."
"Mas e eu? Onde EU entro nisso?"
"Quando eu te vi... Você simplesmente me lembrou quem eu..." A Professora Sada faz uma pausa. "Quem a verdadeira SADA era. Então eu achei que poderia me acompanhar nesta jornada rumo ao futuro da humanidade."
"Você estragou todas as suas chances de ter um futuro." Riko começa a gargalhar. Mas não era uma risada normal. Era uma risada afetada. Medonha.
"O que foi? Qual é a graça?"
"Você nem gente é! O que sabe sobre o futuro da humanidade? Você não passa de um lixo de máquina criado por um ser humano. Nós somos superiores a você, em todos os aspectos. Você é uma CRIAÇÃO humana."
Riko aperta a ferida e Sada provoca:
"Se você é tão superior assim, por que demorou tanto para descobrir sobre mim?"
Riko fervilha de raiva. E Sada sabe disso. Ela fez de propósito.
Riko então se lembra das palavras da jovem vidente de 1846, Akari Shining:
"Não se deixe ser enganada, mesmo por aqueles ou aquelas que se dizem ser amigos. Você ainda é ingênua, Liko. Tanto quanto no dia em que conheceu Sprigatito. Suas habilidades de batalha podem ter mudado, mas... Você ainda é a mesma garota que não sabe o que quer para si, e que insiste dia após dia tentar descobrir quem é, quando na verdade, ignora o que já está sendo."
Agora tudo fazia sentido. Akari estava tentando alertar Liko sobre a Professora Sada.
"Eu vou matá-la." Ameaça Riko. "E assim que eu o fizer, tomarei controle do Brave Asagi novamente e voltarei para casa."
"Se é por este caminho que você quer seguir... Eu respeito sua decisão. Mas não vou me render."
Os olhos da robô se acendem e brilham. Ela se prepara para entrar em modo de batalha. Sada então puxa uma pokébola do bolso.
Não era uma pokébola comum. Era uma Master Ball, cujas chances de captura são 100%.
Ela lança a pokébola para o alto e de dentro, sai uma criatura exatamente igual àquelas que voavam do lado de fora do dirigível. A coisa era rosa e redonda e tinha um cabelo que lembrava o Hisuian Zoroark de Akari... Mas de resto, era um Jigglypuff, sem tirar nem por.
" 'Colagrito', é com você!"
"Colagrito?" Riko não conhece o adversário, mas pelo tamanho diminuto, presume que seja fácil de derrotar. Então, com a mão esquerda, lança a pokébola de Meowscarada, com quem esta personalidade se dava muito bem.
"Tsc. É só isso o que você tem? Você não passa de uma garotinha medrosa! Colagrito, atacar!"
O Pokémon misterioso que parecia ser um Jigglypuff de 1 Bilhão de Anos solta um rugido gutural extremamente alto, cujo som parece incomodar não só Meowscarada como também sua treinadora, Riko. Sada, por ser uma robô, nada sente.
"Esse foi o Rugido Nobre, um golpe que Colagrito e eu treinamos para diminuir as estatísticas ofensivas de qualquer oponente!"
"Eu não me importo! Em breve vocês dois estarão como Caterpies imundos, esmagados sob minha sola!" Liko era uma garota de poucas palavras, já Riko era uma garota de xingamentos. "Agora, Meowscarada: Truque da Flor!"
Meowscarada prepara sua melhor ofensiva, invocando seu movimento-assinatura ao lançar sua flor como uma bomba sobre Colagrito.
"Huhuhu..." Sada não vacila. Ela deixa que Colagrito tome o dano, afinal, Mewoscarada estava mais fraca depois daquele último grito. "Metronome! Vai!"
O 'Pokémon Paradoxo' então começa a balançar seu polegar de um lado para o outro, de um lado para o outro, em um ritmo fixo. Quando Colagrito para de balançar, seu corpo começa a receber um poder misterioso, advindo de outros tempos. Todo o entorno do Pokémon então começa a ferver em chamas, e o Jigglypuff-Vampiro então se transforma em uma bola de fogo, que ruma a 140 km/h em direção à oponente.
Meowscarada toma o dano em cheio, e é arremessada para longe, caindo sobre o corpo de Riko, que também vai ao chão.
A Pokémon dos tipos Planta e Sombrio acaba por ser facilmente nocauteada, afinal, Meowscarada ainda estava enfraquecida de suas últimas lutas. Mas aquela queda fez com que por um breve momento, os olhos de Liko voltassem ao normal. A mudança foi sutil como um sopro, mas Sada pode perceber.
No momento em que Liko colocou Meowscarada de volta na pokébola, o pedaço de jaleco que estava amarrado em seu punho se soltou, no que a menina começou imediatamente a tremer e a soluçar. Ela própria estava aterrorizada, pois sabia tudo o que Riko vinha fazendo e não tinha autonomia para comandar o próprio corpo enquanto sua gêmea do mal o controlava.
"P-p-por favor, Sada... Eu só quero ir pra casa... N-n-não me obrigue a isso!"
Mas Sada era uma inteligência artificial e não uma inteligência emocional. Ela havia se autoprogramado para falar a verdade, mas em momentos como este, dizer a verdade pode acabar soando como uma ofensa...
"Casa? Que casa? Eu pensei que você havia sido enviada para um INTERNATO porque o seu pai não quis mais cuidar de você sozinho, depois que a sua mãe foi morta!"
Aquelas palavras acertaram o coração de Liko como um tiro, tal e qual o que havia ceifado a vida de sua mãe, porém ainda pior. Pior porque trouxe à tona tudo o que havia de ruim dentro de Liko. Ela pisca, num chacoalhar nervoso e seus olhos mudam de novo. Riko estava de volta, desta vez mais determinada do que nunca a alcançar o seu objetivo...
Ela torna a amarrar o pedaço de pano ensanguentado em seu punho e pega outra pokébola. Desta vez, uma que (assim como suas mãos) estava coberta de sangue.
"Prepare-se, Sada! A boazinha da minha irmã te deu uma chance, mas você se recusou a aceitá-la! Agora terá de implorar pela sua vida!"
"Muahahah! Me poupe! Você é apenas uma criança que não sabe lidar com a vida!"
"Talvez você tenha razão. Talvez eu não saiba mesmo lidar com a vida, mas uma coisa eu lhe garanto: eu sei lidar com a morte! E a sua está bem próxima! Pokémon, vaaaai!"
Riko arremessa a pokébola sangrenta e de dentro dela sai um ser que emana uma aura sombria, assim como a sua. Um ser recém-nascido, ou melhor, dadas as circunstâncias, recém-falecido.
Era um cachorro peludo e extremamente fedorento, cujo rosto ficava escondido por trás de uma densa franja de pelos brancos. O odor que dele exalava parecia carniça! Possuía uma mandíbula gigantesca, aproximadamente do mesmo tamanho que o próprio corpo e acima da cabeça, tinha uma vela feita de cera de verdade, que queimava lentamente uma lúgubre chama violeta, chama esta que era na verdade o seu espírito, aprisionado àquele corpo em estado de putrefação.
"Hã? Um Greavard? Desde quando você tem esse Pokémon? Isto não está registrado em meu banco de dados!"
"Não está reconhecendo o Fidough, Sada?" Questiona Riko, com a sobrancelha arqueada.
"Hã? Fidough?!" Sada continua sem entender. A Inteligência artificial está revirando todos os arquivos em sua mente robótica para tentar entender o que estava acontecendo.
"Ele morreu." Contextualiza então Riko. "Na verdade... Eu o matei. Agora há pouco. Sabe... É o que eu faço com quem fica no meu caminho..."
As mãos de Riko estavam ensanguentadas. É mesmo. Havia muito sangue nas mãos da garota depois que ela havia entrado no dirigível, e aparentemente, não era dela! Só agora Sada foi perceber!
"Quando um Pokémon-cachorro tem uma morte muito violenta, todo o rancor que se aglutina sobre o seu corpo se reúne para transformar-se em um Greavard, um tipo Fantasma morto-vivo que fica preso à Terra, condenado a vagar eternamente pelo mundo dos vivos!"
Os olhos da robô Sada se arregalam, exatamente como eles foram programados para agir quando uma informação nova, repentina e inesperada surgisse. Ela estava surpresa!
"Eu já havia ouvido falar que um Pokémon cão que morreu na natureza sem nunca interagir com um humano poderia renascer como um Greavard, mas eu nunca imaginei que um Pokémon de estimação pudesse sofrer do mesmo destino! E nem que fosse um processo instantâneo!" Constata a IA, que imediatamente trata de atualizar seu mapa mental com as novas informações coletadas.
"Esse bicho sempre foi tratado como parte da família. Mas ele não gostava muito de mim... Isto é, da minha verdadeira persona! HAHAHAH!" Riko solta uma gargalhada maquiavélica, preenchendo a sala de comando do Brave Asagi. "Acho que ele se surpreendeu quando eu QUEBREI O SEU PESCOÇO!"
Riko ria e seu corpo tremia todo. Mas ao contrário da tremura de Liko, que era de medo, esta era uma tremura de perturbação.
Ela era louca.
Alucinada.
Psicopata.
"Hahahahah! Eu não esperava por isso, mas a morte me trouxe um novo Pokémon..."
Diferentemente de Fidough, que era justo e fiel, Greavard era bobão, como um doguinho filhote, só que de um jeito pior. Muito pior. Mesmo tendo sido morto pela própria treinadora, ele estava morbidamente condenado a obedecê-la, pois seu afetado cérebro em decomposição o obrigava a ser subserviente à sua humana de tal maneira, que ele era física e mentalmente incapaz de questionar qualquer comando. Ele havia se tornado um perfeito algoz em eterna escravidão, submisso às vontades de sua tutora, por mais perversas que elas possam ser. O Pokémon-cão perfeito para uma lunática!
A robô Sada, que tinha um sofisticado sistema de inteligência artificial, capaz de reconhecer os atributos e estatísticas de um Pokémon apenas de escaneá-los com as câmeras em seus olhos (tal qual uma pokédex), avalia as condições do novo Pokémon de Liko (ou melhor, de Riko) e chega à conclusão de que não precisa se preocupar:
"De qualquer forma, Greavard ainda é uma espécie muito fraca para combater o meu fabuloso Colagrito! Vocês não têm a mínima chance!"
"Muito fraca, é?" Riko lança um olhar sorrateiro sobre Sada e um sorrisinho malicioso de canto. "Greavard, largue a pedra. Isto é uma ordem!"
Ao dizer aquelas palavras até então enigmáticas para a robô, que não fazia a menor ideia sobre o que sua oponente estava falando, Riko faz com que Greavard solte uma pequena pedra redonda que havia dentro de sua boca. Era uma Pedra do Sempre, item que impede que um Pokémon evolua.
"A tola da Liko nunca quis evoluir o Fidough porque achava que, por ele ser de estimação, precisava eternamente manter uma aparência fofa e ingênua. Tsc. Mas a Liko não está mais aqui. Quem dá ordens agora sou EU!"
Com a Pedra longe do Pokémon Fantasma, um brilho começa a inundar seu corpo, que passa a se desenvolver rapidamente e a cada vez mais se assemelhar com uma criatura morta. A vela em sua cabeça, que continha a alma de Fidough agora desaparece para sempre e é substituída por uma lápide, que põe um fim de vez por todas a qualquer resquício que poderia existir do Pokémon que fora outrora. De aspecto extremamente cadavérico, com membros esqueléticos, Greavard havia evoluído para tornar-se um maior e mais forte Pokémon-zumbi: Houndstone, e agora Riko tinha Sada em suas mãos.
"Que os fracos se curvem perante minha escuridão, pois sou a sombra que dança na penumbra da alma humana." Fala Riko enquanto olha sem piscar para a robô Sada, com um sorriso sinistro que ia de orelha a orelha. Ela não era mais a mesma. Ela havia se tornado cruel, vingativa e, por incrível que pareça, replicava agora com os outros, as características vis e nefastas daqueles que no passado tiraram a vida de sua mãe. Involuntariamente, a garotinha traumatizada havia se tornado quem ela mais odiava, com a péssima justificativa de que só é forte quem está se desafia a roubar para si o poder de tomar decisões sobre a vida (ou, neste caso, a morte) dos outros. "Atacar! Agora!"
Imediatamente, o Pokémon fantasmagórico começa a irradiar uma aura sombria, emanando forças ocultas provenientes do além, que juntam toda a força do recém-morto Pokémon com a amargura deixada para trás pela recente derrota de Meowscarada para causar ainda mais dano em seu oponente. Colagrito, que era em parte tipo Psíquico sofre um superefetivo, mas mais que isso, um acerto crítico.
"Colagrito, Retorne!" Comanda a IA Sada, que faz com que o pequeno Pokémon Paradoxo de Jigglypuff volte à Master Ball depois de ser brutalmente nocauteado pelo golpe explosivo de Houndstone. O Pokémon cão, por sua vez, se vangloria dando latidos sinistros com sua voz de pedra, enquanto Riko já se dá por vitoriosa. Não satisfeita com sua derrota, a robô puxa do bolso do jaleco mais uma Master Ball. Ela depositava toda a sua confiança naquele último monstrinho. "Você realmente me surpreendeu com sua habilidade, mas deixe-me contar um pequeno segredo: Eu estava apenas arranhando a superfície do meu verdadeiro poder. O que você acabou de enfrentar foi apenas uma pequena amostra do que posso fazer. A verdadeira batalha começa agora, e você está prestes a ser testemunha do que é a verdadeira grandeza. Prepare-se para se maravilhar com a magnitude de minha maestria, pois a verdadeira vitória está prestes a ser revelada." Com um olhar desafiador, Sada revela seu blefe, deixando Riko intrigada e incerta sobre o que ainda está por vir.
E de dentro da pokébnola de Sada sai um Pokémon apocalíptico, de cores vibrantes: vermelho, azul e branco. Tinha feições reptilianas e se postava imponentemente sobre duas patas, enquanto abria seu cocar de penas para parecer maior e ainda mais intimidador.
Riko fica estupefata, observando a inquestionável beleza do Pokémon, que além de exuberante, parecia ser extremamente forte a julgar pelo tamanho.
"Você pensou que já tinha visto tudo o que eu tinha a oferecer, mas a verdade é que eu estava apenas esperando o momento perfeito para revelar meu verdadeiro trunfo. Agora é a hora de você sentir o poder absoluto que carrego em minhas mãos. Ruja, meu onipotente Rei Alado!"
"Rei Alado?" Riko não conhecia aquele Pokémon. Rei Alado era, assim como Colagrito, um dos 'Pokémon Paradoxos' que Sada e Turo haviam teletransportado ao presente. Mas ele, diferentemente do anterior, parecia emanar uma aura de superioridade, algo que fazia os pelos da nuca de Riko se ouriçarem.
"Comece com o Agudo!" Ordena Sada.
Rei Alado então abre a boca e solta um berro que ecoa pelas paredes metálicas do Brave Asagi, causando uma surdez momentânea tanto em Riko quanto em Houndstone, que via sua Defesa sendo diminuído bruscamente.
"Houndstone, Mastigada! Agora!"
Riko ordena um ataque direto de Houndstone, mas o Pokémon não sai do lugar. Ele realmente teve sua audição prejudicada pelo golpe de Rei Alado.
"Esta é uma das infinitas maneiras que Rei Alado e eu encontrados de utilizar a sua habilidade: Brado Dino. Sem ouvidos, o nosso oponente não consegue receber comandos, não é mesmo?"
"Brado Dino? E-eu nunca ouvi falar..." Riko hesita por um momento, então ela percebe que estava se deixando influenciar pela postura difícil de Sada.
"Sabe, eu gosto de jogar com as expectativas das pessoas, deixando-as pensar que têm uma chance, mas a realidade é que eu sou imparável. Então, se prepare, pois o verdadeiro espetáculo está prestes a começar." Blefa a Inteligência Artificial, que segue atacando. "Pulso de Dragão!"
O Rei Alado então abre sua bocarra e a partir dela, começa a reunir energia dracônica de modo a criar um feixe em formato serpentino e dispará-lo quase que imediatamente na direção de Houndstone.
"Evasiva!" Grita Riko, mas Houndstone, cujo corpo era feito de ossos, e não de músculos, não é ágil o suficiente para se esquivar do ataque, mesmo que quisesse, e acaba sendo englobado por uma explosão rubra e púrpura.
Um estrondo ensurdecedor cortou o ar, fazendo todos a bordo do Brave Asagi se sobressaltarem. A explosão atingiu não só o Pokémon de Riko como também o coração do dirigível, rasgando a estrutura metálica e liberando uma fumaça negra que se espalhava rapidamente. Gritos de terror ecoaram pelos corredores, enquanto Riko tentava desesperadamente entender o que estava acontecendo.
Muito rapidamente, o fogo começou a se propagar, devorando as paredes e os compartimentos internos do dirigível. O calor intenso tornava o ambiente sufocante e caótico. As janelas se partiram com a força da explosão, e pedaços retorcidos de metal voavam como projéteis, adicionando mais pânico à cena.
"Esta batalha ainda não terminou! Rei Alado, ataque!" Ordena a robô Sada, que não parecia se preocupar enquanto o dirigível guinava perigosamente na direção de uma cratera vulcânica na recém-formada região de Paldea logo abaixo.
Rei Alado energiza o punho e parte para cima de Houndstone, mas desta vez, o Pokémon de Riko tem uma vantagem, pois sendo do tipo Fantasma, ele é capaz de neutralizar os golpes do tipo Lutador, sendo completamente imune a eles.
Enquanto isso, Riko corre em direção ao voltante do dirigível. Ela lutava para manter o controle do Brave Asagi, mas era uma batalha perdida. A embarcação perdeu sua estabilidade, inclinando-se violentamente para um lado enquanto o fogo continuava a se alastrar. A descida tumultuada começou, e o vulcão distante parecia aproximar-se rapidamente.
Enquanto o dirigível despencava em direção ao vulcão, o rugido da lava em ebulição ecoava pelo ar, intensificando a sensação de horror e inevitabilidade do desastre iminente. A enorme cratera de fogo e lava se aproximava cada vez mais, preenchendo o horizonte.
Riko mal conseguia acreditar no que estava acontecendo. O vulcão se erguia como um monstro faminto, ansioso para engolir o dirigível em chamas. O calor insuportável se misturava ao cheiro de metal queimado e fumaça, criando uma atmosfera infernal.
Enquanto isso, ao perceber que seu golpe não surtia efeito em Houndstone, o Rei Alado passa a concentrar a fúria de seu ataque Quebra-Telha no alvo mais próximo: a própria Riko!
"Aaargh!"
A garota corre, soltando o volante, no que o dirigível cambaleia ainda mais para o lado, fazendo-a escorregar e cair.
"Muahahahah! Satisfeita? Este será o seu fim!" Sada ergue-se acima de Riko, olhando-a com desdém. Riko sabe que, naquelas condições, ela seria uma presa fácil. Então, agarra-se aos pés da robô e a puxa para o chão também.
"O que está fazendo?" Grita a robô Sada, que cai, batendo a cabeça no chão. Sendo um androide extremamente resistente, ela não sofre nenhum dano, mas se ela fosse de carne e osso, certamente teria tido um traumatismo craniano, tamanha a violência do golpe.
"Se eu cair, você vai junto!" Urra Riko, em cólera. "Você me trouxe até aqui, não foi? Agora eu vou te levar COMIGO!"
Rei Alado se aproxima para o ataque, mas ao ver sua "treinadora" enrolada ao corpo de Riko no chão, ele não pode atacar.
Riko, entretanto, não teme a morte. Ela grita, a plenos pulmões:
"Houndstone, mire o seu ataque em nós!"
"O que?" Sada se surpreende. Seus sensores a alertam do perigo.
Houndstone obedece cegamente, e manda um 'Último Adeus' na direção de Riko e Sada, esta última contorcendo-se no chão, tentando fugir, enquanto a outra a segurava com força.
"Rei Alado!" Grita a IA Sada, na esperança que seu Pokémon a ajudasse, mas para a sua surpresa, o Rei Alado nada mais era do que um ser bestial de uma época remota, incapaz de compreender o conceito de uma batalha Pokémon esportiva como no mundo contemporâneo, pós-moderno. Rei Alado vê Houndstone atacando as duas e o que ele faz? Ao invés de tentar proteger sua Mestra Sada, a ataca também, desta vez com seu movimento-assinatura, o poderoso Rota de Colisão.
E então, em um impacto devastador, o dirigível colidiu com o solo próximo à borda do vulcão. A violência da queda sacudiu todos os ocupantes, e os gritos foram abafados pelo ruído ensurdecedor da explosão final. Chamas irromperam com ainda mais intensidade, envolvendo a embarcação em uma tempestade de fogo.
O cenário se transformou em um pesadelo de proporções apocalípticas. O dirigível, agora em ruínas, começou a deslizar para dentro do vulcão. A lava borbulhante engoliu o que restava da aeronave, consumindo-a como um monstro voraz.
O silêncio sepulcral substituiu os gritos, e a paisagem que antes era serena se transformou em um cenário de destruição e desolação. O vulcão permanecia impassível, como se tivesse devorado uma presa insignificante.
Nesse momento de horror e desespero, não havia mais nada a ser feito. O destino cruel tinha se imposto sobre aqueles que estavam a bordo do dirigível, e a tragédia era completa. A paisagem agora testemunhava uma cena sombria, como uma pintura em tons de fogo e desespero, marcando o trágico fim do dirigível e de todos que ali estavam...
Não fosse pelo fato de Liko abrir os olhos novamente e perceber estar envolta em um brilho especial.
"E-e-eu morri?" Questiona-se a garota em sua personalidade boazinha novamente, sem saber o que havia acontecido. Então ela percebe que há algo de errado com o colar, mais especificamente com o pingente que era a fonte do poder Terastal, dado a ela por Sada.
No coração desse intrincado sistema, uma esfera flutuante começou a se formar, emanando um brilho suave e verde, que logo se tornou mais intenso e vibrante. O campo de força iridescente começou a se estender a partir da esfera, como ondulações se espalhando em um lago calmo.
As ondas de luz verde se expandiam rapidamente, convergindo em seis pontos específicos ao redor da esfera central. A medida que se encontravam, linhas reluzentes começaram a se entrelaçar entre eles, formando uma rede hexagonal, cujos padrões brilhantes pareciam uma teia de energia. O campo de força foi se moldando, cada segmento se alinhando com precisão matemática, criando uma barreira hexagonal perfeita.
À medida que a rede se completava, o brilho verde ganhava uma qualidade iridescente, com tons que variavam do esmeralda ao turquesa e jade, refletindo a luz de maneira hipnótica. Cada lado do hexágono reluzia de forma diferente, como se fossem múltiplos prismas que capturavam e refletiam a luz em um espetáculo de cores em constante mudança.
O campo de força parecia pulsar com vida, como se estivesse reagindo à presença de Liko ao redor. O zumbido suave, quase musical, ecoava pelo ambiente, criando uma sensação de harmonia entre a tecnologia e a natureza. Era como se o próprio campo de força estivesse cantando sua canção iridescente para aqueles que o invocaram.
Enquanto o brilho verde se intensificava, a esfera central parecia ganhar um núcleo ainda mais luminoso, irradiando uma energia reconfortante e protetora. À medida que o campo de força hexagonal alcançava seu potencial máximo, uma aura de segurança e poder se espalhava pela sala, enchendo Liko de admiração e respeito diante do poder que gentilmente a acalentava e envolvia.
O campo de força deslumbrante, com seu brilho verde cintilante, estava agora completo. Cada lado do hexágono irradiava uma energia resplandecente, e a esfera central pairava no centro, como uma joia celeste. Era uma obra-prima da natureza. E só podia ser fruto de uma consciência... Um Pokémon havia de ter feito aquilo.
E o pressentimento de Liko estava certo. Após pousar a garota em segurança do lado de fora do vulcão, onde a lava não podia consumi-la assim como estava fazendo com o Brave Asagi, o campo de força flutuante cedeu e o colar que saltava do pescoço de Liko começa a ganhar vida própria, soltando-se da corrente e voando para longe.
Ao fazê-lo, o pingente de cristal então reluz como uma estrela solitária. À medida que a luz do sol banha o cristal, uma energia intensa começa a emanar dele, envolvendo-o em um brilho iridescente que dança em tons de escarlate e violeta. Gradualmente, o pingente começou a se contorcer e se remodelar, suas bordas afiadas suavizando-se enquanto tomava forma. Uma criatura enigmática emergiu do brilho, sua aparência semelhante a uma tartaruga, mas composta inteiramente de cristal translúcido, irradiando luminosidade. Seu casco era uma obra de arte intrincada, decorado com padrões que refletiam o universo em si. Os olhos da tartaruga de cristal brilhavam como estrelas cintilantes, e enquanto se movia, deixava um rastro de faíscas luminosas. O ar ao redor estava repleto de um resplendor hipnotizante, e à medida que a criatura se movia graciosamente, parecia estar envolta em uma aura de mistério e encanto. O pingente, agora transformado em uma tartaruga de cristal resplandecente, emanava uma energia serena e poderosa, como se fosse uma entidade transcendente, conectada aos segredos mais profundos do universo.
"O que...?"
Ela mal conseguia acreditar no que seus olhos estavam vendo. Quem era aquele?
A criatura sorridente olha para Liko e a encara, com um olhar ingênuo.
A garota, em desespero, sentindo-se sozinha ao encarar o desconhecido, começa a olhar para os lados, em busca de algo que lhe reconfortasse. É quando ela enxerga o Rei Alado carregando Houndstone para longe. O Pokémon vermelho, outrora controlado pela Robô Sada, havia estendido seu penacho, transformando-o em asas que o permitiam voar para longe com rapidez, enquanto levava o Pokémon Fantasma para bem longe, até desaparecer no horizonte, salvando-o do vulcão.
O coração acelerou. Bateu o desespero. Liko estava sozinha. O dirigível havia mergulhado em lava e os dispositivos que controlavam a máquina do tempo, haviam se perdido.
De repente, uma voz mecânica toda bugada começa a zombar de Liko...
"Nunca deixe uma criança assumir o controle..."
Liko olha para baixo e percebe que, junto à ela, estava a robô Sada, toda destruída, exalando um forte cheiro de plástico queimado. Só havia sobrado a parte superior do corpo de Sada, dos seios para cima. O resto havia se perdido. Os cabelos, outrora perfeitos, agora estavam queimados e soltando fumaça. Os ataques de Rei Alado e Houndstone haviam fritado a parte externa do corpo da robô, que agora com cabos e conexões perdidas, lutava para manter-se estável.
"Sada?"
Liko se admira. Como a robô continua viva, mesmo depois de tudo aquilo?
"Você queria controlar a viagem no tempo. Agora não podemos nem avançar nem retroceder. Estamos perdidas." Fala a robô, utilizando as últimas porcentagens de sua bateria.
"Eu não pedi por isso." Contesta Liko, berrando. "Você me trouxe até aqui! Você me TROUXE!"
...
Silêncio.
A robô Sada não emite mais nenhuma palavra. Assim como a verdadeira mãe de Arven, no momento do parto, esta aqui havia se desligado para sempre.
Uma mistura avassaladora de emoções começou então a acometer a jovem Liko ao perceber que estava sozinha, presa no passado distante, há um bilhão de anos atrás. Inicialmente, um profundo sentimento de desamparo tomou conta dela, como se tivesse sido abandonada em um mundo desconhecido e inalcançável. O choque e a incredulidade se entrelaçavam, fazendo com que seu coração acelerasse descontroladamente, como se estivesse prestes a explodir.
A solidão era esmagadora, e a sensação de estar isolada em um período tão remoto da história a deixava vulnerável e apreensiva. Um filme de sua vida começou a passar então diante de seus olhos. Liko se viu bebê, se viu criança, ao lado de seu pai, que lhe fazia os mais incríveis desenhos e contava histórias. Viu também o trágico incidente que tirou a vida de sua mãe bem diante de seus olhos. Ela ainda sentia o cheiro do sangue que esguichou em seu rosto, um mórbido odor que jamais abandonou seu olfato. Viu também seu pai não sabendo lidar com a perda. Viu-se sendo mandada para o exterior após ser obrigada a parender uma língua estrangeira, indo parar me um internato. Viu também Friede lhe estendendo a mão e convidando-a a participar dos Trovonautas, junto a Roy. Ela se lembra que naquele momento pensou que estaria destinada a viver inúmeras aventuras. Mas a alegria não durou muito. Cerca de um ano depois, ela estava ali, à beira do esquecimento, nas profundezas de um passado remoto, onde sequer existiam outros seres humanos para lhe fazer companhia.
Liko tentava em vão compreender o que havia acontecido, como havia se deixado levar pelo impulso e aceitado as propostas absurdas de Sada, e como tudo isso resultou nela indo tragicamente parar naquele lugar distante e desolado, sem qualquer conexão com o mundo que conhecia.
Ao olhar para as paisagens antigas ao seu redor, Liko sentia-se pequena e insignificante, diante de um passado imensurável. A nostalgia e a saudade da família e dos amigos eram esmagadoras, como se estivesse sendo dilacerada por uma sensação de perda profunda.
Sentia ainda um misto de curiosidade e temor diante do desconhecido. Aprender a sobreviver nessa era tão diferente seria um desafio imenso. As emoções da jovem Liko eram uma montanha-russa, oscilando entre a esperança e a melancolia, a coragem e o desespero. Ela estava sozinha em um passado distante, enfrentando uma jornada desconhecida e desafiadora, e estando sozinha, permitiu-se pela primeira vez desde que sua mãe fora brutalmente assassinada, CHORAR, já que ninguém estava olhando.
Liko berrou profundamente, tremendo e soluçando, enquanto um ataque de fúria a acometia. Ela pegou os destroços da robô Sada e começou a socá-los, chutá-los, arrancando cada fibra de tecido sintético que constituía a pele daquele ser não mais vivo. Com unhas e dentes, ela puxou e rasgou cada um dos fios que estavam presos no interior da máquina, trazendo-os para fora. Há muito, Sada já não respondia, mas Liko ainda não estava satisfeita. Ofegante, ela continuava lutando contra a robô, mesmo que aquela batalha já houvesse chegado a um fim.
Ela socava, chutava, batia, mordia, arrancava, dilacerava. Toda a sua raiva, todo o seu ódio, toda a sua frustração, ela estava descontando naquela pilha de lata, que para nada mais servia senão de saco de pancadas.
Liko sentia-se extremamente cansada. Exausta. A cada tapa que desferia, tornava-se mais difícil. Mas ela não desistia. sentia seus membros tornando-se mais rígios e pesados, o cansaço extremo tomando conta, mas ela não parava. Não queria soltar os "restos mortais" de Sada enquanto aquilo não se transformasse em pó, mas o que ela não percebia era que quem estava mineralizando era ela própria.
Liko não havia se dado conta, mas quanto mais ela atacava brutalmente aqueles destroços imóveis de Sada, mais ela era reconhecida como uma ameaça. E o misterioso ser do pingente não perdoava. Ele não tolerava violência.
Através de seus olhos estrelados, o Pokémon de nome Terapagos, não via nada além de tristeza e amargura naquela garota que, em estado de choque, só fazia bater e exalar hostilidade.
Agora, em sua verdadeira forma, maior e mais robusta, o lendário cristalino emitia o mesmo poder que anteriormente utilizara para chamar Pokémon selvagens de todos os cantos para protegê-lo... Desde o Tauros Terastalizado do lado de fora da Academia Índigo ao Garchomp Alfa nos tempos de Hisui. Esta era a mesmíssima energia que havia transformado o computador de Sada em pedra, e criado um campo de força hexagonal para proteger todos os tripulantes a bordo do Brave Asagi de morrerem queimados na boca do vulcão...
Entretanto, esta força transcendente que evocava a energia do infinito contida nos 17 tipos (Fogo, Água, Planta, Elétrico, Dragão, Voador, Inseto, Pedra, Terrestre, Aço, Psíquico, Sombrio, Lutador, Gelo, Venenoso, Fantasma e Normal) estava agora sendo utilizada para trazer novamente a paz e o silêncio àquela época que não merecia a conturbação e o tumulto que Liko estava causando.
Enquanto Liko agride violentamente os destroços de sua arqui-inimiga robô, uma energia misteriosa e sinistra começa a envolvê-la lentamente. Seus ataques, antes ágeis e precisos, parecem encontrar resistência inexplicável, como se a realidade estivesse se distorcendo ao seu redor. Ela luta com toda a sua força, mas a sensação de impotência começa a se instaurar, pois não consegue entender o porquê de sua força estar falhando.
Lágrimas de desespero escorrem por suas bochechas enquanto ela continua a golpear os destroços com frustração e raiva. A angústia em seus olhos reflete o sentimento avassalador de estar presa em uma situação inescapável. Ela tenta desesperadamente acelerar seus movimentos, mas sua percepção do tempo parece distorcida e irreal.
Lentamente, Liko percebe que algo está errado. Seu corpo começa a se sentir pesado e seus movimentos ficam mais difíceis de controlar. O ar ao seu redor parece mais denso, como se ela estivesse lutando em um sonho em câmera lenta. O desespero cresce em seu peito, pois ela não entende o que está acontecendo e por que sua força está a abandonando.
Enquanto as lágrimas se misturam com a poeira e destroços ao seu redor, Liko continua a lutar com todas as suas forças. Mas a transformação em cristal avança implacavelmente, envolvendo seu corpo aos poucos, como se ela estivesse se fundindo com os escombros que a cercam. Seu coração bate descompassadamente, e sua mente está em turbilhão de confusão e desesperança.
No entanto, mesmo em meio à sua própria transformação, Liko não para de lutar. Cada golpe, cada chute, são executados com a mesma intensidade, mesmo que agora eles sejam mais lentos e pesados. Ela é movida por uma determinação inabalável, recusando-se a se render à tragédia que está acontecendo.
Aos poucos, o brilho cristalino começa a se espalhar por sua pele, conferindo um aspecto etéreo e iridescente à sua figura. Seus movimentos, antes ágeis e precisos, tornam-se mais rígidos e contidos, como se estivesse lutando em um mundo paralelo, uma dimensão onde o tempo se move de forma inesperada e cruel.
Liko está presa em um terrível limbo entre o presente e o futuro, entre a realidade e a fantasia. A dor da transformação, o desespero pela perda de controle e a luta incansável por sua sobrevivência se misturam em uma dança agridoce de tragédia e coragem, enquanto ela enfrenta seu destino com coragem e resistência até o último momento.
***
Agora, no ano de 2005...
"Eu ainda não lhes mostrei tudo."
"O que? Ainda tem mais?" Surpreende-se Friede, que já nem sabia mais se deveria ficar abalado ou se estava participando de uma pegadinha, porque tudo parecia surreal demais para ser verdade.
"Por aqui..."
Turo então encaminha os Trovonautas, fazendo-os contornar a estufa. E logo atrás da mesma estava uma formação cristalina muito, mas muito antiga, um verdadeiro achado geológico. Só que estava não era uma parede de cristal "comum". Muito pelo contrário... Havia algo extraordinário DENTRO dela. Assim que todos viram o que havia preso dentro daquela parede, ficaram sem palavras, sem AR. Como era possível?
Turo então continua: "Está aí desde ANTES de vocês virem para cá."
"Como assim desde ANTES?" Questiona Friede, incrédulo.
"Esta é principal razão pela qual Sada escolheu VOCÊS, os Trovonautas, para serem os primeiros a participarem da viagem no tempo... Para entender como o que está por detrás dessa parede, congelado há bilhões de anos, pode estar VIVO nos dias de hoje."
Os Trovonautas ficaram atônitos diante da descoberta chocante que se revelou atrás das paredes rochosas da Área Zero. Seus olhos arregalaram-se em espanto e incredulidade ao verem o corpo de Liko petrificado em cristal, enquanto socava uma cabeça desfigurada do que parecia ter sido outrora a robô Sada. A figura jovem e corajosa que costumava brilhar com vida agora estava congelada em uma forma iridescente e imóvel, como uma estátua congelada no tempo.
Um silêncio pesado e carregado pairou sobre o grupo, interrompido apenas pelo som abafado de suas próprias respirações aceleradas. Eles estavam sem palavras, incapazes de assimilar o que estavam vendo diante deles. A angústia e o pesar preencheram o ar, e uma onda de tristeza tomou conta de seus corações.
Os Trovonautas sentiam-se impotentes diante da cena perturbadora. Suas mentes estavam em tumulto, tentando compreender como isso poderia ter acontecido com sua amiga Liko, uma força incansável de determinação e bravura. O choque diante da perda prematura da jovem os deixou desnorteados, com um vazio no peito que parecia impossível de preencher.
Os olhares dos Trovonautas percorreram o corpo petrificado de Liko, observando os detalhes congelados em cristal, como se fosse uma obra de arte trágica. As lágrimas embargadas em seus olhos testemunhavam a dor de terem perdido alguém tão valioso e querido. Uma sensação de injustiça e revolta surgiu, pois eles sabiam que ela não merecia este destino cruel.
A Área Zero, que costumava ser um refúgio de mistério e aventura, agora se transformou em um local repleto de melancolia e desolação. As paredes rochosas pareciam murmurar segredos sombrios, ecoando o pesar dos Trovonautas.
A mente do grupo liderado por Friede girava em torno da busca por respostas, tentando decifrar como e por que Liko havia sido transformada em cristal. A descoberta trouxe à tona uma onda de questionamentos e dilemas sobre o desconhecido e o destino. O grupo estava emocionalmente abalado, com um vazio profundo em seus corações e uma sensação de urgência para honrar a memória de sua amiga, protegendo seu legado e buscando justiça em meio à tristeza inimaginável que agora os cercava.
Turo então quebra o silêncio e resolve explicar o que sabia desde o começo:
"Agora vocês entendem a razão pela qual a Sada, digo... A Androide, ficou obcecada com Liko? Porque a verdadeira Sada (da qual a robô absorveu todas as memórias) encontrou o corpo desta menina há décadas atrás enquanto desbravava os mistérios da Área Zero e uma coisa muito, mas muito intrigante lhe chamou a atenção... A garota petrificada está segurando uma cabeça cujo rosto é IDÊNTICO ao de Sada! Obviamente a minha esposa morreu muito antes de descobrir como um fóssil datado de 600 milhões a 1 bilhão de anos atrás poderia conter o ROSTO DELA. Ela nunca chegou a resolver este mistério (porque a sua prioridade era construir a máquina do tempo e desenvolver a mecânica do Terastal para batalhas Pokémon), mas a robô... Bem, como eu falei, ela elevou a personalidade da Sada real ao máximo e com isso, sua curiosidade foi aguçada ao extremo... Ela ficou aficionada com esta descoberta, algo que a verdadeira Sada nunca pôde compreender, e por isso, a robô resolveu fazer tudo o que fez e atraiu vocês para cá direitinho..."
"Foi tudo premeditado!" De repente Friede chega à conclusão de que tudo foi arquitetado pela Robô Sada e o marido, quer dizer, o inventor dela, o Professor Turo, havia sido conivente com o que aconteceu.
"E-eu não sabia que ela iria fazer isso." Explica Turo, tentando se defender. "Eu achei que ela só estava tentando descobrir a ligação entre o COLAR, o fóssil e a garota."
"O colar? Mas o que tem o colar?" Questiona Mollie, incrédula.
"A Professora Sada humana, quando descobriu o Terastal, não descobriu apenas o fenômeno. Descobriu também uma câmara nas profundezas da Área Zero. Uma câmara de aproximadamente 1 bilhão de anos. Exatamente AQUI onde estamos... Todas as paredes são feitas de cristal. O mesmo cristal da Terastalização. E adivinhe só: o pingente que eu havia mencionado anteriormente também é feito do mesmíssimo material. Nós encontramos o pingente junto ao 'fóssil' de Liko. Foi a única parte que chegamos a EXTRAIR da parede de cristal. No entanto, ao analisarmos com cuidado, percebemos se tratar de um fragmento radioativo, pois estava liberando altas doses de energia. Por detrás das paredes, ele não tinha como emitir nenhuma radiação (era como se o cristal o IMPEDISSE de fazer isso), mas depois que foi liberto, começou a emanar energia... Quase como um vírus antigo adormecido em permafrost sendo trazido de volta ao mundo para causar uma epidemia em massa. Por isso, resolvemos deixar a garota e a cabeça aí, dentro da parede. Não sabíamos quais seriam os RISCOS aos desenterrá-las... Não sabíamos que tipo de energia poderíamos desencadear ao fazê-lo..."
"Você... Sabia de tudo isso... E ainda assim PERMITIU que ela nos trouxesse até aqui! C-c-como... Se fôssemos COBAIAS do seu experimento!!!" Brada Orla, furiosa.
"Como eu disse... Eu não tinha como saber que a robô iria RAPTAR a pequena Liko. Eu não tinha! Ela é autoconsciente! Como qualquer ser vivo!"
"Mas ela não está aqui para responder por suas ações..." Observa Murdock. "Neste caso, é VOCÊ quem deve responder por ELA."
"Afinal, foi você quem CRIOU esta aberração!" Complementa Mollie.
"Como você nos encontrou?" Pergunta então Friede, curioso. "Quero dizer... Como a SADA nos encontrou?"
Turo então responde:
"Na Época em que você recrutou Liko e Roy na Academia Índigo, em Kanto, para participarem dos Trovonautas... Você deu uma entrevista para a TV, lembra?"
"Oh!"
Friede então se lembra...
Um ano atrás, quando ele estava visitando a Região de Kanto para presentear os mais brilhantes alunos da Academia Índigo com bolsas de estudos para participarem do projeto de pesquisa dos Trovonautas, ele deu uma entrevista para uma jornalista famosa, no irreverente 'De Frente com Gabby e Ty'.
Não apenas Liko como também Roy e os demais tripulantes do Brave Asagi apareceram nesta entrevista, que foi transmitida ao mundo inteiro. É claro! A robô Sada deve ter visto a entrevista e relacionado a garota que viu na TV (Liko) com a que estava petrificada nas profundezas da Área Zero.
"Quando você, Friede, deu uma entrevista e os Trovonautas aparecram na televisão, Sada não teve dúvidas de que a garotinha que apareceu ao seu lado (a Liko) era a MESMA pessoa que estava congelada detrás daquelas paredes de cristal. Mas... Ela só não entendia uma coisa... Como a Liko poderia ser uma criança que viajaria o mundo ao lado dos Trovonautas e, ao mesmo tempo, estar congelada em uma câmara de pedra? E por que a Liko fossilizada carregava este colar misterioso que emitia enormes quantidades de energia... De fato, a energia que originou o fenômeno Terastal? A robô ficou obcecada com esse mistério e resolveu atraí-los para cá com o propósito de estudar Liko secretamente e tentar descobrir como a garota viva parecia idência à morta."
"Por isso... Por isso um grupo de pesquisadores ANÔNIMO como os Trovonautas foi selecionado para serem os primeiros a participarem de uma fucking VIAGEM NO TEMPO!!" Diz Mollie, chamando o próprio grupo de 'anônimo'.
"Exatamente. Eu sinto muito. Não pude evitar." Explica Turo. "Acho que... Eu estive bêbado demais para enxergar o que estava acontecendo..."
Então, neste momento, um berro ecoou pelas paredes da Área Zero. Todos olharam para Roy, cujo rosto estava inundado em lágrimas. Um nó apertado havia se formado na garganta do menino, tornando difícil respirar. O mundo ao seu redor parecia desaparecer, deixando-o isolado em sua dor profunda. As lembranças dos momentos compartilhados com Liko inundaram sua mente, e ele sentiu uma sensação de vazio e perda inexprimível. Cada risada compartilhada, cada aventura vivida juntos, agora se misturava à tristeza esmagadora de nunca mais poder desfrutar da companhia de sua querida amiga. A dor em seu peito era insuportável, e Roy se viu desejando que aquilo tudo fosse apenas um terrível pesadelo do qual ele pudesse acordar. Mas a cruel realidade estava diante dele, e a ausência de Liko deixava um vazio imenso em sua vida, uma ausência que jamais poderia ser preenchida.
Os Trovonautas então se compadeceram do menino, reunindo-se em torno dele para um abraço coletivo.
Mas Roy estvaa desolado. Nada parecia consolá-lo. Ele soluçava de tanto chorar. Um choro tão genuíno quanto o que Liko derramou há um bilhão de anos atrás...
No meio de seu surto, então, Roy decidiu agir. Ele não aceitava o que estava presenciando. Sua mente era uma teia de desejos impossíveis, ansiando voltar ao passado para consertar as coisas, como se pudesse reverter o destino cruel que levou sua melhor amiga. Ele se agarrava a memórias e momentos compartilhados, desejando desesperadamente que fossem reais novamente. A cada batida de seu coração, ele implorava ao universo para que lhe desse uma segunda chance de dizer a Liko o quanto a amava e o quanto ela significava para ele. A dor da perda era avassaladora, e a saudade parecia sufocá-lo a cada respiração. Ele não conseguia imaginar sua vida sem ela, e a ideia de seguir em frente sem sua amiga lhe parecia insuportável. O desejo de retroceder no tempo e consertar as coisas era uma âncora que o prendia ao passado, enquanto ele tentava desesperadamente aceitar que Liko nunca mais estaria ao seu lado.
Foi neste momento que algo inexplicável aconteceu...
Uma luz tomou conta da sala. Luz esta que vinha diretamente do bolso de Roy.
"A POKÉBOLA ANCESTRAL!!" Grita Mollie, ao perceber que a pokébola que Roy carregava com tanto carinho durante todos esses anos estava finalmente dando sinal de vida.
"Hã?" Roy se surpreende. A Pokébola Ancestral que seu avô havia encontrado em jornada estava finalmente abrindo, algo que NUNCA ocorreu em todos esses anos.
De fato, a pokébola misteriosa começa a soltar um intenso vapor e se abre de fato, revelando ser uma cápsula e não uma pokébola em si.
Uma cápsula porque DENTRO da Pokébola Ancestral havia outra Pokéball (uma verdadeira, desta vez). Feita de ouro e prata e com as letras "G" e "S" entalhadas em sua superfície, a pokébola sai pela primeira vez de dentro da cápsula antiga desde que o avô de Roy encontrou aquele objeto há cinquenta anos atrás.
"G.S.?" Roy fica estupefato, observando o item...
Mas ele não fica parado por muito tempo. Estando em posse aquele estranho objeto que parecia ter entrado em ressonância com seus mais profundos sentimentos, Roy pretende usá-lo. E é o que ele faz: o garoto de apenas 14 anos de idade arremessa a "Bola GS" para o alto e de dentro dela, emana uma criatura cujo poder transcendia qualquer noção humana de tempo e espaço.
Com um aspecto encantador e misterioso, a criatura tinha um corpo pequeno e esbelto que lembra uma fadinha. Seu corpo é predominantemente verde, com detalhes em diferentes tons de verde e azul. Ele possui grandes olhos brilhantes, que transmitiam sabedoria e serenidade. Em sua cabeça, haviam pequenas antenas que se moviam suavamente conforme o ar soprava sobre elas. Suas asas são minúsculas e transparentes, com um padrão intricado e deslumbrante. O ser misterioso também possuía braços longos e graciosos, com um brilho suave que emanava uma aura mística. Sua aparência radiante e etérea refletia sua natureza especial como um guardião há muito adormecido.
"Não pode ser!!" Exclamam os Professores Friede e Turo ao mesmo tempo. Os únicos a reconhecerem a mítica figura que os abençoava com sua graciosa presença: Celebi.
Imediatamente, o ser de luz começa a manifestar suas habilidades...
Uma nuvem de brilho verde começa a emanar a partir do corpo do Pokémon ao qual Roy sente-se deveras atraído. O garoto corre até o Pokémon, sentindo uma necessidade ABSURDA de tocá-lo.
"Roy! Espere!" Grita Murdock, assustado.
"CUIDADO!" Grita Mollie, ao mesmo tempo.
Os Trovonautas sabiam do perigo que era agarrar Pokémon desconhecidos e por isso, tentaram impedir o garoto, mas era tarde demais.
"Liko, eu vou te encontrar, nem que seja Daqui a um Bilhão de Anos..." Promete o garoto sonhador, no momento em que TOCA o Pokémon Mítico. E assim que entra em contato com com Celebi, a luz em torno do Pokémon multiplica-se depressa, criando uma onda de impacto que acertou não só o garoto como a todos ao seu redor: Orla, Murdock, Ludlow e também Mollie.
Todos aqueles atingidos pelo feixe, então, desaparecem sem deixar rastros, sendo teletransportados para longe...
O silêncio reina. Os únicos a sobrarem na câmara são Friede e Turo.
O Professor Friede então encara o Professor Turo, aproxima-se do mesmo e dá um soco na cara do pai de Arven, fazendo-o cair no chão, a boca agora ensanguentada. E numa mistura de um rosnado com um grito de fúria, Friede faz sua última ameaça:
"Você... Você VAI PAGAR pelo que fez!"
***
Região de Alola... 1 Bilhão de Anos no Futuro...
Os Trovonautas capturados pela energia emitida pelo mítico Celebi são teletransportados diretamente para uma cidade futurista, numa realidade distópica em que o sol não brilha mais.
Roy, Mollie e os outros (que ainda gritavam, pensando ainda estarem caindo num vórtice infernal que decompunha e refazia todos os átomos de seus corpos quase que instantaneamente ao passo em que cada segundo parecia uma eternidade) agora se viam em uma cidade famtas,a, outrora repleta de vida e promessa, mas que agora se erguia como uma miragem abandonada, envolta em sombras e solidão. O cenário desolado era composto por prédios majestosos e construções arrojadas, todos feitos de um cristal preto sinistro e enigmático. Cada superfície absorvia implacavelmente os raios de luz que tocavam seus contornos, mas se recusava a liberá-los de volta ao mundo, como se sugasse toda a esperança e alegria do ambiente. A atmosfera opressora pairava pesadamente no ar, criando uma sensação mórbida que penetrava até mesmo nos corações mais corajosos.
No centro da cidade, a única fonte de luz visível era a torre de proporções colossais, uma obra-prima da engenharia humana que se erguia orgulhosamente em meio à escuridão. As paredes da torre eram revestidas com o mesmo cristal negro, mas ela possuía um brilho tênue, como se a energia ali contida lutasse para escapar da escuridão que a aprisionava. A luz que a torre emitia parecia fraca e desesperada, como um último suspiro de vida em um mundo prestes a sucumbir, ainda que fosse essencialmente a única fonte de luz a banhar a cidade inteira.
As ruas e avenidas da cidade eram um labirinto silencioso, onde sombras dançavam nas paredes dos prédios sombrios, criando formas grotescas que pareciam espreitar os raros visitantes corajosos o suficiente para adentrar aquele reino abandonado. As janelas, agora manchadas e quebradas, refletiam a escuridão interior, como espelhos da alma desolada da cidade.
O silêncio na cidade era ensurdecedor, interrompido apenas pelo eco distante de passos solitários e pelo sussurro dos ventos lamentando a perda. Cada esquina escondia segredos do passado, enquanto a cidade se tornava uma cápsula do tempo de uma era extinta.
Naquele local sombrio e desolado, as almas que um dia ocuparam esses prédios imponentes pareciam permanecer como espectros silenciosos, testemunhas silenciosas de uma civilização esquecida. A cidade futurista aparentemente abandonada era agora um reflexo triste e mórbido de uma promessa não cumprida, uma memória desvanecida de um tempo em que a luz da vida brilhava intensamente em suas ruas, agora condenada a vagar eternamente nas sombras.
Mas a cidade-fantasma não estava tão abandonada quanto parecia. Pessoas de pele cinzenta por nunca terem visto a cor do sol, armadas com rifles a laser, de repente irrompem da escuridão, apontando as armas para a cabeça dos forasteiros.
E junto a eles, criaturas que até se pareciam com Pokémon, mas eram visivelmente artificiais, fabricadas pelo homem, tal qual a robô Sada havia sido construída no passado. A diferença é que estes seres eram milhares, senão MILHÕES de vezes mais evoluídos tecnologicamente e estavam a anos luz de distância à frente da invenção do Professor Turo. Sozinhos, cada um dos três seres robóticos poderiam subjugar o grupo inteiro dos Trovonautas em um único golpe.
Mas a ameaça não parou por aí.
O mais velho dos seres humanos apocalípticos, de bigodes curvos, e que empunhava uma metralhadora futurista de alta tecnologia, pronto para fuzilar quem quer que estivesse invadindo indiscriminadamente seu território, grita:
"Mãos para o Alto, ou todo mundo vai morrer!"
Essa não! O que foi que eu fiz? Questiona-se o jovem Roy, amedrontado, no que ele olha para os lados, procurando desesperadamente a misteriosa "Pokébola GS", só para perceber que Celebi havia entrado dentro dela novamente, e a mesma havia se LACRADO sozinha de volta na cápsula ancestral e sabe-se-lá como ela voltaria a abrir para tirá-los dali...
"Santo Arceus..." Exclama o guri, que enfim levanta as mãos em direção ao céu negro que cobria a cidade sombria, agora com as esperanças totalmente nulas...
Ele sabia que
Sua aventura no Tempo havia chegado ao
FIM
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