2009
Em algum lugar da Ilha Sophian, a maior ilha da Região de Oblivia...
Uma militar e seus soldados estão abrindo caminho através de escombros do que um dia fora um templo dedicado aos deuses que governavam a terra, os céus e o mar de Oblivia e do mundo...
A mulher, de cabelos prateados, toda trabalhada no laquê, segurava a pokébola de seu Ariados em mãos, pronta para qualquer imprevisto... Ela olha de cima para baixo para seus homens, que faziam todo o trabalho duro enquanto ela tentava desvendar o enigma que a trouxera até tal ponto de difícil acesso, o fim do mundo, por assim dizer...
Os soldados se arriscavam diante de um risco real de desabamento enquanto a mulher, no topo de sua cadeia hierárquica, apenas observava com atenção, o barulho do salto alto ecoando nas paredes de pedra conforme ela desfilava até o interior das ruínas, observando as inscrições antigas deixadas por povos originários que há muito jaziam enterrados sob os escombros do tempo.
J: O Herói de Oblivia, em seu traje azul, enfrentando os tiranos Cabeças-de-Metal, que visavam controlar todos os Pokémon do Mundo...
J: A Fortaleza Celeste, construída pelos povos antigos para governar o mundo... Sua arma principal pode destruir uma ilha inteira com um único tiro. E com isso, ela trouxe caos e destruição para Oblivia... Dentro de suas paredes, esconde-se a Armadura Dourada, mais potente que a armadura dos Cabeças-de-Metal, capaz de controlar todo e qualquer Pokémon, com um irresistível poder de atração que coloca qualquer monstrinho curvado diante de seus pés.
J: Mas então, dando um basta na guerra, o herói invocou as forças do lendário Arco-Íris, criando uma barreira em torno da Fortaleza e a selando, para que os humanos jamais voltassem a cometer os mesmos erros.
J: E o Povo venerou o herói e seus Pokémon, por trazer paz à Região, finalmente cessando o desastre...
J: Mas isso só aconteceu porque a Armadura Dourada não tinha parado nas mãos da pessoa certa... Ela não tinha vindo até a Caçadora J!
***
Agora, em Dolce Island...
Mais especificamente em Cocona Village, na nova morada de Jade, onde ele veementemente relutava em pegar no sono...
Parte de ter uma crise existencial é boa, parte ruim. Boa porque ela nos coloca em perspectiva de quem verdadeiramente somos em relação ao Universo, do porquê as coisas acontecem e por que vivemos, aprendemos, evoluímos, envelhecemos e morremos. Mas é ruim porque por mais que enxerguemos a vida de fora, é impossível escapar da própria realidade, impossível burlar o sistema, especialmente quando a fome bate e você precisa baixar a cabeça e obedecer que nem uma cadelinha para garantir o seu pão. A vida é sobre isso. Uma dolorosa corda bamba entre sonhar e se conformar.
Ser um Pokémon Ranger é um trabalho nobre, mas desgastante. O cansaço mental é tão, senão mais extenuante que o físico. É claro que o meu corpo está saudável, eu tenho me exercitado e comido bem, mas como mantê-lo assim quando você vai dormir e acorda cheio de preocupação?
Aliás, correção... Você não dorme. Você finge que se esqueceu dos problemas por alguns segundos e dali a pouquinho, o despertador toca e você se vê outra vez preso à sua rotina inescapável, que te exige 100% quando o máximo que você consegue dar, naquele momento, é 30%, ou quem sabe 10%.
Ao logo dos dois anos e meio, quase três, desde que eu me graduei, eu vi muita, mas muita coisa, que me faz questionar se eu realmente gosto da humanidade, e se ainda faz sentido eu fazer parte dela. Acho que se um dia eu acreditei no potencial das pessoas, no bem e no amor, isso simplesmente se foi da minha vida, sem previsão para retorno.
As promessas dos professores se provaram uma farsa quando mais da metade da minha turma ficou e continua sem emprego após a colação de grau. Se o Estado exige que trabalhemos para comer, mas também não aceita que pessoas sem experiência ingressem no mercado de trabalho, pode-se chegar a conclusão lógica de que ele não quer que nós existamos.
E tudo isso me leva ao seguinte questionamento: por que eu? Por que eu tive toda essa sorte de ser colocado em uma posição de chefia, logo no dia da formatura? Por que dentre tantos, eu fui justamente o escolhido pelo Professor Hastings para ser o comandante júnior (agora pleno) na projeção e desenvolvimento do Capture Styler: Modelo Involito?
Foi quando eu cheguei a uma conclusão. As coisas que eu disse e fiz nunca foram bem vistas dentro da Ranger Union, eu sempre fui uma ameaça ao sistema. Então, para evitar que uma revolução transbordasse o recipiente, me colocaram em uma posição de prestígio, afinal, devemos manter os amigos próximos, e os inimigos, mais próximos ainda.
E funcionou, devo dizer. Funcionou porque antes eu me perguntava por que os Rangers tinham essa obsessão com a proibição do uso de pokébolas, questionando fervorosamente a rigidez das leis da Ranger Union. Mas hoje, eu concordo com eles, porque eu próprio encabeço o grupo que está desenvolvendo uma alternativa de captura melhor do que qualquer pokébola e melhor do que qualquer styler anteriormente criado. Eu estou diante daquilo que pode ser o fim da forma como tratamos e domesticamos os monstrinhos que vivem nesse mundo...
Mas ao mesmo tempo, eu não sei se devo me sentir feliz ou comprado. Afinal, eles conseguiram me arrastar para o seu lado da força, guinaram as minhas crenças para coincidirem com as suas, de modo que agora eu me pergunto por que diabos algum dia eu achei que eles estavam errados? E eles de fato estão? Ou não estão? Eu não sei...
Não temos como precisar o que é certo ou errado. Para a natureza, fatos são apenas fatos. Acontecimentos. Se aconteceu, acabou, é isso. Aceita que dói menos. Mas para nós, humanos, fatos podem ser classificados em bons ou ruins, de acordo com nossos próprios interesses. E aí eu lhe pergunto: será que o Go-Rock Squad, de volta à Fiore, não estava certo? De que não existe certo e errado, uma verdade absoluta, apenas aquilo que nós, arbitrariamente, por meio de nossos desejos, sejam eles altruístas ou egoístas, definimos como próprio ou impróprio? Será que tudo isso não é uma invenção social para nos mantermos alinhados com os interesses de quem está e pretende continuar estando, pelos próximos anos, no poder?
Eu não sei.
Hoje, participando da criação do novo Styler, eu me sinto convencido de que manter os Pokémon livres na natureza e só invocá-los, de onde quer que estejam, quando precisamos, é o certo. Mas... Isso quer dizer que quem eu era no passado, como um treinador ou mesmo como um coordenador Pokémon era errado? Isso anula os vínculos que eu e meus Pokémon criamos quando eu os mantinha encapsulados? Isso significa que a partir de agora eu tenho que criticar os meus amigos, Ruby, Sapphire e Emerald, por que eles continuam sendo treinadores? E se, na época, eu tivesse continuado? Hoje, eu não tenho mais nenhum Pokémon mantido em pokébolas. Todos eles estão soltos, livres, mas continuam sendo meus amigos. Mas e se hoje eu fosse um treinador/coordenador e não um patrulheiro? Ainda faria alguma diferença?
E mais: Será que quem eu era, antes de assumir esse cargo, passou a ser um . Será que eu devia ter sido condenado por capturar Rayquaza? Será que... Eu devo continuar pensando nisso e alimentando essa CULPA?
No fim das contas, eu acabei entrando no automático... Eu só segui em frente, sem fazer muitas perguntas. Eu apenas trabalhei, pensando que aquele projeto seria uma escolha, uma alternativa para quem quisesse manter seus Pokémon vivendo na natureza, mas ainda alimentando um vínculo com eles. A escolha não é minha. A escolha é individual, de cada um. Cada um sabe o que é melhor para si, pelo menos é o que eu digo para mim mesmo para tentar dormir à noite.
A alternativa existe! Ela está aí para quem quiser... Não sou eu que forçar uma mudança em ninguém. Até porque, com tudo o que eu vi e vivi nos últimos anos, sei que tentar impor alguma crença ou comportamento sobre os outros é justamente o que causa os conflitos. Todos eles... Por trás de uma grande guerra, sempre há alguém querendo impor as suas vontades sobre os demais. Os próprios soldados sobreviventes são o maior exemplo disso. Eles são forçados a atirar, pelos seus superiores. É por isso que todos eles desenvolvem transtorno de estresse pós-traumático...
Eu não quero isso. Não quero ser um ditador. Não quero defender um ideal como fosse a verdade absoluta. Nada é absoluto, tudo é questão de escolha, então eu não quero tirar o direito de ninguém de tomar as suas próprias decisões. Eu quero dar opção para as pessoas, e a partir desse ponto, tendo elas alternativas para escolherem, elas que decidam o que é melhor. Quem sou eu para dizer o que é certo quando nada, naturalmente, é certo ou errado?
E com isso, volto ao meu ponto inicial... Quando eu criticava a rigidez das leis da Ranger Union contra quem usa Pokébolas... Por que punir tão severamente, quando podemos ENSINAR, incentivar o pensamento crítico, e mostrar que existem alternativas, que toda e qualquer opção sempre vem com um pró e um contra, e que, por bem ou por mal, não existe certo ou errado, mas apenas aquilo que você decidir que é o melhor para si.
"Direita ou Esquerda?", você me pergunta...
Não sei. Sinceramente, não sei. Acho que tem de haver uma maneira de coexistência mútua, sem invalidar ou tentar passar por cima dos argumentos uns dos outros, desde que esses argumentos sejam válidos, e não trapaça, obviamente.
Hoje, como um ser humano adulto, ainda jovem, mas que foi forçado pela vida a se sentir velho e cansado, eu só trabalho para garantir que exista mais de uma opção, garantir que existam alternativas, e que cada um tenha o DIREITO de escolher o que mais se aproxima do eixo da sua realidade...
Na Manhã Seguinte...
Eu estava tomando café da manhã quando resolvi fazer uma ligação. Eu esperava que não fosse muito cara, pois estava telefonando para o outro lado do país, mais especificamente, para Almia.
Kellyn: Alô?
Jade: Kellyn? Como você está?
Kellyn: Jade! É você?! Cara, que surpresa! Eu jamais imaginei que seria você ligando!
Jade: É, eu sei... Eu tenho sido um péssimo amigo... O trabalho tem me mantido ocupado e isso me afastou de vocês. Perdão pelo sumiço...
Kellyn: Relaxa, Jade... É a vida adulta. Sei como é. O dever vem em primeiro lugar!
Jade: Esse é o lema dos Rangers, não é? E aí, como está a Kate?
Kellyn: Ela finalmente conseguiu uma vaga com os Patrulheiros de Shiver Camp, após anos tentando passar no concurso, sem sucesso.
Jade: Uaaau! Fico muito feliz por ela!
Kellyn: É, a Kate também está muito feliz! Agora a perspectiva é que talvez em torno de 10 a 12 anos, ela possa subir um degrau acima e se tornar uma Top Ranger.
Jade: DEZ A DOZE ANOS?!?!?!
Kellyn: É... É um trabalho que exige experiência... Muita experiência.
Jade: Mas e você, Kellyn? Como está o serviço aí?
Kellyn: Ah, você sabe... Logo que eu me formei, fui recrutado pelos Rangers de Vientown e estou em campo desde então. Já sou um Ranger Nível 10 e tenho a impressão que o Barlow gosta de mim, então espero ser promovido em breve.
Jade: Nossa... Promovido para qual cargo?
Kellyn: Para Top Ranger, ué.
Jade: Mas você recém não disse que é um cargo que exigia de 10 a 12 anos de experiência?
Kellyn: É, mas acho que eu sou um cara de sorte.
Jade: Sorte? Não, acho que você só é um "cara"...
Kellyn: O quê?
Jade: Nada, não. Mas e aí, como estão as coisas? O que anda fazendo?
Kellyn: Ahn... Tem uma coisa que eu gostaria de te contar e não sei como será a sua recepção quanto a isso, mas... Fico feliz que tenha ligado, assim eu posso tirar esse peso da consciência e me abrir com você.
Jade: Iiihh... Lá vem pedrada! O que é? Fala logo, eu sou curioso.
Kellyn: Kate e eu estamos namorando...
Jade: Ora, Kellyn! Mas isso é uma ÓTIMA notícia! Por que você teria receio de me contar?!
Kellyn: Ah, sei lá... É que a gente já passou tanto tempo junto que talvez essa minha aproximação repentina com a Kate pudesse tornar as coisas meio estranhas, sabe...? Prejudicar a nossa amizade. Então, eu estava com medo de te contar.
Jade: Que bobagem! Eu fico muito feliz por vocês! Ao menos para alguém, as coisas têm que dar certo de vez em quando, não é? Hahaha!
Kellyn: É... Acho que sim! Kate e eu estamos pensando em nos mudar para um rancho.
Jade: Um rancho?
Kellyn: É, uma fazendinha pequena, assim como a irmã dela, para que possamos deixar os nossos Pokémon, agora que temos mais que um ou dois Partners (parceiros). Assim, eles poderiam viver soltos na natureza.
Jade: É para isso que eu estou trabalhando no Modelo Involito do Capture Styler! Inclusive, hoje é o dia que os Beta Testers irão experimentá-lo pela primeira vez. Por isso eu estou te ligando, para contar a novidade!
Kellyn: Uau! Isso é incrível! Quer dizer que o protótipo já está pronto, então?
Jade: Exatamente. Agora vou deixar que a minha equipe de beta testers utilizem o Styler por algum tempo para identificarem bugs, pequenos problemas e sugerirem melhorias. Feito isso, nós trabalharemos para corrigir os erros e aperfeiçoar o aparelho, e a partir daí, dispará-lo para o mercado. Em breve, muito em breve, devemos estar lançando.
Kellyn: Isso é incrível! Eu fico sem palavras! Você é demais, cara! Quando o produto sair, quero ser o primeiro a comprar!
Jade: Que comprar, o que?! Quando você e a Kate se mudarem para o rancho, eu levo um para você e um para ela, como um presente pela nova casa e a nova vida juntos.
Kellyn: Ah, Jade... Você é demais, cara!
É... Talvez sim, talvez não. Talvez eu só fosse alguém que havia se isolado demais e agora precisava reconquistar a atenção dos amigos...
Terminei de tomar o meu café e imediatamente me dirigi para a Praia Leste da Ilha Dolce. Oblivia era, na minha opinião, a mais bela de todas as regiões da Ranger Union e não demorou muito para que eu me acostumasse com a ideia de morar lá. Para falar a verdade, o clima me lembrava minha terra natal, Hoenn, então eu me sentia em casa. Em um mês de morada, eu já estava completamente habituado, o que não era verdade para Fiore ou Almia.
A brisa do mar era refrescante e sempre que eu me sentia ruim, eu podia caminhar de pés descalços na areia, para desestressar e voltar a enxergar a vida como um presente, e não como uma maldição.
Era oito horas da manhã quando eu cheguei ao local de encontro. Minha equipe já estava toda a postos, esperando os beta testers chegarem.
Rand era o chefe dos Rangers da Região de Oblivia e era o Comandante Sênior do Projeto do Modelo Involito. Como eu era o Comandante Pleno, a única pessoa acima de mim era ele. Eu o via como um paizão, porque ele tinha uma mania de abraçar todo mundo, no sentido de acolher quem estava precisando e apesar do seu tom de voz grave, ele era o tipo de pessoa que achava coisas fofinhas e adorava assistir filmes de criança.
Além de Rand, havia também Leanne, sua esposa, e Nema, sua filha. Leanne é uma arqueóloga, ou seja estuda culturas e civilizações humanas antigas. Como Oblivia é uma Região rica em história, ela está tentando desvendar os enigmas deixados pelos povos que aqui viviam há muito tempo atrás, através de suas lendas, contos e fábulas, que foram sendo passados de geração em geração, em sua maioria, de forma oral. Já Nema é uma Mecânica e é ela quem está por trás da construção do hardware e do software do novo Styler, sendo uma gênia da computação, apesar da pouca idade. Uma menina prodígio, por assim dizer.
Por fim, mas não menos importante, tínhamos o Murph, que era um Operador. Originalmente, ele era um Ranger da base de Ringtown, em Fiore. Seu parceiro era um Slowpoke, que aparentemente é o mais rápido dos dois. Murph era provavelmente um Ranger de nível 1, sendo altamente incompetente, muitas vezes deixando cair seu Capture Styler, mesmo apenas tirando-o do bolso. Devido a isso, muitas vezes ele recebia missões sem importância. Às vezes, quando não tinha missão, ele criava a sua própria missão. Agora, no entanto, como um Operador, Murph está em um momento épico de sua carreira, podendo finalmente provar suas capacidades, organizando a parte burocrática de criação de relatórios e emissão de notas e pedidos.
E foi nesse contexto que ouvi um barco velho rangendo no cais. Com um assovio forte, um amigo anunciava sua chegada.
Booker: Ohohooo! Olha quem já está com cara de quem vai se lascar nessa empreitada!
O velho pescador Booker pulou do barco como se tivesse vinte anos a menos. Sua careca era escondida por um punhado de fios brancos que ainda restavam, e o cheiro de Magikarp era praticamente parte de sua identidade. Dizem que ele conhece Oblivia como a palma da mão calejada — e eu acredito.
Rand: Booker! Pensei que você não viria.
Booker: E perder a chance de ver esses moleques testando seus brinquedinhos novos? Nem que o Wailord me engolisse! GYA HA HA HAH!
Booker me lembrava o Mr. Briney... Que Arceus o tenha!
Em seguida, o céu pareceu brilhar um pouco mais. Um helicóptero sobrevoava a praia, com um som elegante demais pro clima rústico da ilha. Assim que ele pousou, dois Rangers saíram com toda a pompa de celebridade.
O primeiro a saltar foi Ben, com seu cabelo bagunçado, óculos escuros e aquele sorriso que grita "confiante demais para a própria segurança".
Ben: Yo! Atrasado, mas estiloso. Como sempre.
Sobre seu ombro, o Pichu de Ukulele dedilhava acordes totalmente fora de tom, mas, sinceramente, era carismático demais pra gente reclamar.
Logo atrás dele, desceu Summer... Cujas unhas de 30 cm claramente não estavam em sintonia com o perfil da missão. O salto dela afundou na areia e ela fez questão de bufar alto.
Summer: Fala Sério! Onde é que eles foram me mandar...?
Sua parceira, a Pichu de Orelha Pontuda, saltou com leveza e logo se pôs a arrumar a barra do shortinho da Ranger, como se aquilo fosse sua missão oficial.
Murph: Ben! Summer! Vocês vieram mesmo!
Ben: Claro, Murph. Não é todo dia que a gente tem a chance de testar um Styler feito por uma adolescente com intelecto de supercomputador.
Nema: Hmph. Adolescente não. Eu prefiro “engenheira responsável por revolucionar a Ranger Union.”
Summer: Dramática...
Ben: Como se você também não fosse...
Summer: O QUE VOCÊ DISSE?!
Ben: Eu disse que a brisa da ilha tem um cheiro doce...
Summer: a
Não sei exatamente o que me levou a lembrar daquela cena agora. Talvez o som abafado de um ukulele mal afinado ao longe, ou quem sabe, o cheiro de repelente misturado com perfume feminino doce (até demais!). A lembrança veio inteira, como se tivesse sido ontem... Embora o evento em si tenha sido qualquer coisa, menos memorável.
Estávamos de volta a Tilt Village, em Mitonga Island, mais precisamente numa Base Ranger temporária, erguida às pressas após um tsunami ter inundado boa parte de Dolce Island, no verão passado. Hastings havia mandado me chamar. Isso já era um mau sinal por si só. Quando ele me convoca diretamente, ou tem bronca, ou tem crise existencial. Às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo.
Hastings: Jade, estes são Summer e Ben. Top Rangers recém-graduados da Unidade de Infiltração de Oblivia.
Jade: Então esses são os Beta Testers? Eu vi o nome deles na lista...
Hastings: Exatamente. Sozinhos, eles desmantelaram completamente o grupo conhecido como Pokémon Pinchers.
Ben (fazendo pose e flexionando os braços, como se ali houvesse algum músculo): Com licença... “Raptores de Pokémon”. É assim que a mídia chamou. Soa mais perigoso.
Summer (olhando para a unha quebrada com horror): Soa mais estressante. Você faz ideia do que é invadir uma base secreta NO PÂNTANO com esse calor, umidade, e... e... Olha isso, meu esmalte! Totalmente destruído...
Ela parecia que já ia chorar por causa de suas unhas...
Hastings: Sim, como eu estava dizendo...
Summer: E ainda surgiu uma espinha ENORME aqui, ó.
Ela então vira o rosto de lado, apontando uma vermelhidão praticamente invisível.
Summer: Isso é o preço de salvar o mundo? Eu estou horrenda.
Jade (tentando não rir): Se isso é ser horrenda, então o Slowpoke do Murph é uma diva.
Ben: A Ha Ha Ha Hah! Ok, gostei de você. Como é o seu nome mesmo?
Me apresentei e cumprimentei Ben (Summer não quis chacoalhar minha mão, a dela estava quase gangrenando por falta de meio centímetro de unha).
E foi quando eles apareceram: dois Pichu. Um segurando um ukulele minúsculo com uma vibe de quem acha que vive num festival de música permanente (Woodstock, Coachella, Rock in Rio, UHU! É isso aí!), e o outro de orelhas pontudas, com olhos semicerrados e julgamento estampado no rosto.
Hastings: Esses são os parceiros atuais de Ben e Summer. O Pichu de Ukulele e a Pichu de Orelha Pontuda. Nenhum dos dois parece ser capaz de evoluir. Nem mesmo agora, depois da purificação completa de suas auras... Eles são um caso curioso, não acha? Por isso, eu concedi a Summer e Ben, dois Rangers de alto nível...
(Ele me olhou de cima abaixo, como quem diz que eu não estou nesse nível)
Hastings: ...Para descobrirem os segredos por trás dessa permanência no estágio inicial.
Jade: Hm... Pode ser trauma, vínculo emocional insuficiente, ou talvez uma mutação genética. Ou talvez... Eles só não queiram!
Summer: Credo. Por que eles não gostariam de ficar mais... Fabulosos?
Jade: Porque às vezes, ser “menor” significa estar exatamente onde se quer estar. Crescer não é tudo na vida. Às vezes, você perde coisas no caminho.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, como se não tivessem certeza se eu estava filosofando ou só sendo amargo. A resposta correta era: Ambos.
Ben: Eu ainda me lembro de quando o Professor Hastings me entregou meu primeiro Pokémon Parceiro (Partner). Era um Starly. Teimoso, desajeitado... Mas com um coração enorme. Hoje é um Staraptor. Mas desde que o Pichu de Ukulele foi mandado para mim, ele fica no quartel general, de reserva. Às vezes sinto falta dele ao meu lado.
Aquilo me pegou de jeito. Sem querer, minha mente me traiu... E eu vi Kate. O jeito desengonçado com que ela corria, os gritos do Bidoof rolando colina abaixo, o Starly bicando a cabeça dela para acordá-la todos os dias às seis da matina, como se fosse sua missão diária...
Jade (baixinho, sussurrando): Eu também sinto falta de alguém...
Hastings (cortando o momento): Muito bem! Agora que já se conhecem, espero que consigam manter um mínimo de civilidade e cooperação. E Summer... Vá cuidar desse esmalte antes que ele cause uma crise diplomática.
Summer: Finalmente alguém sensato neste prédio!
Ben (Encarando o Pichu de Ukulele): Vai lá, parceiro. Toca alguma coisa pra quebrar o clima.
O Pichu tocou três acordes... Desafinados, dolorosos, e completamente fora de ritmo. Eu sorri. Pela primeira vez naquele dia, sem ironia. Era ridículo. Mas ao mesmo tempo era bom. Muito bom.
E ali, naquela lembrança desajeitada e desconexa, eu entendi uma coisa simples: alguns Pokémon não evoluem não porque não podem... Mas porque, naquele estágio, naquele vínculo, naquele momento... Eles já se sentem completos.
Talvez... Como eu me sentia ao lado de Kate e Kellyn.
Talvez.
Enquanto o clima na Eastern Beach ainda era descontraído, o chão tremeu levemente. Três figuras vinham descendo as escadas de pedra do platô costeiro. Ostentavam em seu braço direito um Styler Especial da Força Avançada de Combate e cada um deles trazia nos olhos uma expressão de que estavam ali pra negócios — e não pra café da manhã na praia.
Reddy: Chegamos. E sim, estamos todos vivos. Pra sua informação.
Bluey: Não que isso vá durar muito... Se esse Styler falhar igual aos protótipos anteriores...
Lilac: Relaxa, Bluey. Se explodir, a gente pelo menos vai ter entretenimento.
Reddy era sisudo. Sempre de braços cruzados, falava como se tudo estivesse sob julgamento. Bluey, por outro lado, era objetiva... E ácida. Lilac? Um caos ambulante com humor duvidoso e brilho nos olhos.
Eles eram beta testers experientes — ex-membros das forças de contenção da própria Ranger Union — agora designados como "grupo de resistência preventiva". Que nome bonito pra “galera que limpa a bagunça quando tudo dá errado”.
Rand: Muito bem, pessoal. Agora que todos estão aqui, é hora de começar. Jade, apresenta o novo Styler.
Suspirei. Não pela responsabilidade... Mas porque se algo desse errado, adivinha quem ia ser o primeiro a ser apontado? Exatamente.
Jade: Ok. Esse é o Modelo Involito. Totalmente repensado pra funcionar em situações onde o contato físico com o Pokémon é inviável ou perigoso. Ele projeta laços psíquicos através de ondas controladas por gestos... E antes que alguém pergunte: sim, agora ele funciona até mesmo sem tocar no chão.
Ben: Isso é insano.
Summer: Isso é impossível!
Nema: Não. Isso é o MEU código. E funciona!
A praia ficou em silêncio por uns segundos... Até o Pichu de Ukulele tocar um acorde dramático.
Booker: Ohohooo! Isso vai ser divertido...
E eu? Eu só pensava no que ainda estava por vir... Porque, se tem uma coisa que aprendi desde que voltei do outro lado, é que a vida nunca deixa você confortável por muito tempo. E Oblivia... bem... também não.
Rand: Muito bem, pessoal! Hora de ver esse tal de "Involito" em ação. Quem vai ser o primeiro?
Ben: Eu, é claro. Passa pra cá esse treco aí!
Ele segura o Styler como se fosse um microfone e começa a girar com exagero.
Ben: Se for pra testar, que seja com estilo!
Traça um enorme "dáblio" no chão com um gesto largo, seguindo as instruções do livro que Nema escreveu (e pediu que todos os beta testers lessem com antecedência). O traço brilha e então...
Ben: Olha só quem chegou!
Um Bidoof rechonchudo e animado aparece de repente na areia, piscando como se tivesse acabado de acordar de um cochilo gostoso.
Summer: UM BIDOOF!? Nossa... Grande ajuda...
Ben: Espere! Esse não é um Bidoof qualquer... Eu o estou reconhecendo! Esse não é o parceiro da Kate?
Bem, o Lenço da Harmonia ao redor do pescoço dele confirmava isso.
Summer: O que ele tem de demais? Eu não tô vendo!
Jade: Esse Bidoof é capaz de "involuir". Quer dizer... Na maior parte do tempo, ele é um Bibarel, só que quando amarra o lenço, ele volta a ser Bidoof.
Summer: E em que Universo um Bidoof é mais útil que um Bibarel?
Jade: Bem, para entrar em espaços apertados, acho que Bidoof consegue fazer isso com excelência. Afinal, ele não é "Deus Pokémon" por acaso, não é mesmo, amigão?
Bidoof: Bidoof-bi!
Summer: Meh... Muito peludo pra meu gosto. Deixa eu tentar.
Summer pega um dos Stylers e com ele faz um gesto seco e minimalista, como se estivesse desenhando com uma caneta invisível.
Summer: Hmph. Deixe-me adivinhar... Esta é a Buneary da Luana, hein?
A coelhinha surge com um giro elegante, parando com pose de idol.
Summer: Pelo menos ela tem porte! Gostei ♥
Murph: Uau! Ela é tipo... Muito fotogênica! Posso tirar uma foto?
Leanne: Murph, foco na missão, por favor!
Booker: Agora é minha vez! Vai, Croagunk, responde ao meu sinal!
O traço no chão pisca, e surge Croagunk com sua eterna cara de tédio... Talvez aquele fosse o seu "normal"...
Croagunk: Grooog.
Booker: Incrível!
Jade: Ele sempre vem com cara de poucos amigos, mas é um amorzinho. Este Croagunk pertence ao Kellyn, é mais um de seus parceiros que ele conquistou depois que se formou na Academia Ranger, comigo e com a Kate, em Almia.
Ben: Pior que ele é um amorzinho mesmo... Dá um beijim aqui, Croa!
Croagunk: levanta a mão lentamente.
Jade: NÃO! Não beija! Ele não vira príncipe, ele dá TAPÃO!
Ben: Tá ficando interessante. Vai lá de novo, Booker.
Booker: Certo! Piplup, vamos lá!
O pinguim, também parceiro de Kellyn, aparece, rodando num mini redemoinho d'água antes de cair de bunda na areia com um “ploft!”, igual merda caindo no vaso.
Summer: Hahahaha. Ai, que tragicômico!
Bluey: Tsc. Já enjoei dessa palhaçada. Agora vou mostrar como se usa isso de verdade.
Ela gira o Styler com precisão militar. O símbolo de Ranger brilha como neon na areia.
Bluey: Meganium, venha.
Uma brisa com pétalas floresce e a grande saurona verde aparece, esticando o pescoço com majestade.
Lilac: Ai, ai... vocês são todos tão previsíveis... Observem e aprendam.
Ele faz um símbolo com os dedos girando como se dançasse. O chão vibra.
Lilac: Garchomp.
O Garchomp de Jade emerge da areia como se fosse um tubarão no oceano. Silêncio por uns segundos.
Jade: ...Ah. Esse cara.
O Pseudo-lendário fareja o ar e quando seus olhos se encontram com os de Lilac, ele bufa, furioso.
Garchomp: GRRROOOOAAARRHHH!!!
Lilac: Fala sério, ele ainda me reconhece?
Jade: Provavelmente. E deve estar se perguntando por que você não some.
No passado, em uma missão qualquer, Garchomp foi montado por Lilac, e ele não gostou quando o Ranger fincou suas esporas nas costelas do dragão.
Lilac: Aw, que gentil.
Reddy: Chega de teatrinho. Hora de invocar fogo de verdade.
Ele traça um símbolo rápido, direto. Uma explosão suave de fumaça irrompe e dela emerge Typhlosion, com o colar de chamas pulsando como um motor prestes a engatar.
Reddy: Curto e direto. Perfeito.
Ben: Tá, mas... Como é que isso tá funcionando mesmo? Isso é tipo teletransporte? Isso é magia? Hackeragem?
Nema: É TECNOLOGIA, sua ameba!
Jade: Posso explicar.
Cruzo os braços, vendo todos os Pokémon agora reunidos na praia, um mais desconfiado que o outro.
Jade: O que vocês estão vendo aqui é o efeito do Involito. Esses Pokémon foram registrados previamente nos nossos servidores com um sinal específico de Ranger, baseado na assinatura de energia do vínculo que têm com seus parceiros originais.
Jade: Quando alguém usa o Styler pra traçar o símbolo no chão (não é qualquer rabisco, tem que ser certinho)o Styler envia um sinal psíquico codificado. Esse sinal atravessa a rede da Ranger Union, encontra o Pokémon registrado, e ativa um protocolo de teleporte instantâneo, usando os campos de dobra dimensional das cápsulas de armazenamento.
Summer: Tradução?
Jade: De onde quer que eles estejam... Eles vêm.
Dou de ombros.
Jade: Eles foram treinados pra isso. Não é só captura. É vínculo. Eles sabem que esse símbolo significa “venha ajudar”. E eles vêm. Porque querem.
Murph: Isso é... tipo... Revolucionário?
Nema: É LITERALMENTE revolucionário.
Ela estufa o peito com orgulho.
Nema: E a melhor parte: o sistema é compatível com Pokémon fora da Pokébola. É a ponte entre o modo tradicional e o modelo Ranger. Finalmente uma forma de conciliar as duas culturas.
Ben: Tá... Mas e se eu invocar o Piplup do Kellyn e ele estiver dormindo?
Jade: Ele VEM. Mal-humorado, mas vem.
Piplup: (resmunga) Piiiplup...
Lilac: E se invocar o Garchomp de novo e ele estiver jantando?
Jade: Melhor sair correndo. Rápido.
Todos riram. Era brincadeira, claro, então expliquei a real, para não deixar dúvidas:
Jade: O Involito abre o coração dos Pokémon para os sentimentos da ou do Ranger que o invocou e automaticamente forma um elo entre os dois, um vínculo temporário, mas forte e confiável, que permite que o Pokémon se junte ao Ranger para a realização de uma tarefa ou mesmo missão.
Booker: Ohohoooo! Nunca vi tanta modernidade junta! Agora só falta fazer Finneon assado sair desses aparelhos aí!
Rand: Pessoal... Isso aqui é só o começo. Mas ver todos esses Pokémon responderem tão bem... Me dá esperanças. Estamos prestes a testemunhar uma nova era na Ranger Union! E vocês fazem parte dela!
Eu olho pros Pokémon, pra galera ao redor, pra praia que pareceu congelar no tempo. E pela primeira vez em muito tempo, sinto que talvez... A gente teja realmente construindo algo novo. Algo melhor.
Ben ainda encarava o Bidoof rolando na areia como se fosse uma bolinha de pelos feliz da vida.
Ben: Isso aqui... Isso muda tudo. Quero dizer, o que a gente tem hoje com o Capture Styler já era útil, Mas isso? Isso é tipo... Um vínculo portátil. Você traça o símbolo, e o seu parceiro aparece, não importa onde esteja. Isso me faz pensar...
Ele coça a cabeça, sem jeito.
Ben: Será que a gente não tava sendo orgulhoso demais, querendo manter distância do modelo tradicional de Pokébolas? Porque, olha... Isso aqui é mais íntimo do que apertar um botão e lançar um Pokémon. Isso é... Quase espiritual. E saber que os Pokémon que invocamos com os involitos continuam por aí, vivendo suas vidas livremente, sem estarem presos e/ou sendo escravizados... Isso é incrível! E se nós levarmos essa tecnologia para fora das Regiões da Ranger Union, será uma insurreição!
Summer mantém os braços cruzados, mas os olhos não mentem: estavam analisando tudo com atenção.
Summer: Admito que fiquei cética. E ainda acho o nome “Involito” brega. Mas... O sistema tem potencial. Muito potencial!
Ela observa a Buneary, que pula até ela, animada.
Summer: ...E se a gente puder manter os Pokémon perto da gente sem precisar enjaulá-los em cápsulas, mantendo o vínculo ativo e voluntário... Talvez eu esteja pronta pra repensar algumas coisas. Talvez.
Booker parecia um adolescente vendo um jogo novo rodar em um PC de última geração.
Booker: Cara... isso é tipo mágica com Wi-Fi! É tipo... você gira o treco, e PLOFT, o bicho aparece!
Ele olha para Croagunk, que se recosta na sua perna.
Booker: Eu sei que o vínculo que eu tenho com eles é de verdade. Mas ver isso se materializar assim... É como se o universo confirmasse.
Ele fecha o punho e sorri, determinado.
Booker: Eu quero trabalhar com isso. De verdade. Eu quero ser parte disso! Ohohooo!
Summer agora estava de cócoras, alisando o Bidoof se rolando na areia como se fosse uma almofada viva.
Summer: E pensar que só de desenhar uns olhinhos e uma estrelinhas no chão, e o "Biduzim" aparece...
Ela levanta os olhos, emocionada.
Summer: Eu sempre tive fé que os Pokémon entendem a gente. Mas isso aqui... É a prova.
Ela limpa discretamente uma lágrima.
Summer: Nunca mais vai ser preciso gritar por socorro. Agora, a ajuda pode ouvir você mesmo no silêncio.
Reddy observava Typhlosion de braços cruzados, silencioso. Só falou quando todos estavam prestando atenção em outra coisa.
Reddy: A precisão é impressionante.
Ele se agacha, passa a mão pelos restos de traços brilhantes no chão.
Reddy: Mas me pergunto... E se cair nas mãos erradas? E se usarem isso pra invocar um Pokémon sem consentimento?
Se levanta e encara Jade.
Reddy: Você acredita tanto nesse vínculo, Jade. Espero que ele resista ao mau uso... Porque se falhar, o estrago vai ser grande.
Bluey não olhava pra ninguém. Apenas para a Meganium, que lhe tocava com o pescoço, suave.
Bluey: Nunca fui muito fã de nostalgia. E sempre achei que o sistema Ranger era arcaico. Mas...
Ela fecha os olhos por um instante.
Bluey: Se isso aqui é o futuro...´É um futuro no qual Meganium escolhe vir até mim.
Ela sorri, de leve.
Bluey: Isso me dá paz.
Lilac não parava de olhar pro Garchomp. Era um olhar estranho. Um olhar de quem tinha MEDO.
Lilac: Jade, ele ainda lembra de mim, não lembra? Mesmo depois de tudo...
Ela caminha até o Pokémon, que a observa com olhos semicerrados, mas sem hostilidade.
Lilac: Eu fiz muita coisa errada. Mas se ele me atendeu...
Ele respira fundo.
Lilac: Talvez eu ainda tenha uma chance de me perdoar.
Murph estava tentando invocar um Pokémon, mas tinha desenhado o símbolo ao contrário.
Murph: Ué... Não foi. Será que precisa de pilha?
Nema: (gritando do lado de fora) MURPH! É SIMBOLOGIA ESPIRITUAL ANCESTRAL! SÍMBOLOS DE ALQUIMIA MILENAR, E NÃO UMA TORNEIRA DE LUZ! APONTE ESSA COISA COM CUIDADO!!!
Todo mundo ri, mas então Murph para, sério, segurando o Styler com ambas as mãos.
Murph: Vocês sabem que... eu sempre fui o bobão do grupo. Mas esse negócio de invocar um amigo de qualquer lugar...
Ele olha para o céu, emocionado.
Murph: Isso me faz sentir que... Talvez até eu tenha um papel importante na História e mude a forma como humanos e Pokémon interagem!
Nema observava tudo de longe, de braços cruzados e olhos atentos.
Nema: Eu passei meses quebrando a cabeça pra isso funcionar. Códigos, frequências, microcircuitos, falhas dimensionais...
Ela olha os Rangers e os Pokémon interagindo.
Nema: Mas ver isso funcionando... Não como tecnologia, mas como conexão real...
Ela sorri, segurando uma lágrima de orgulho.
Nema: É mais bonito do que qualquer código que eu já escrevi.
Rand caminha devagar entre os símbolos traçados, como se estivesse andando por um templo.
Rand: Quando entrei pra Ranger Union, a ideia era proteger a relação entre humanos e Pokémon.
Ele olha para os Styler Involito nas mãos de cada um.
Rand: Acho que hoje, a gente finalmente entendeu o que isso significa.
Aquela manhã na praia mudou tudo. O Involito não era só uma ferramenta. Era uma ponte entre tempos, ideias, crenças... Entre quem fomos, quem somos... E quem ainda podemos ser.
E ali, sob o sol de Oblivia, com os pés afundados na areia e o símbolo brilhando sob meus olhos, eu soube: Essa nova era... tinha começado. E não ia ter volta.
A brisa quente de Oblivia dançava entre as palmeiras quando, por um instante, fechei os olhos... E fui levado de volta. Voltei para Almia.
Para aquele barranco através do qual se podia ver toda Pueltown. O som das ondas do mar quebrando e batendo contra as rochas ainda ecoava como se estivesse bem ao meu lado. E lá estavam eles: Kate e Kellyn, e uma variedade de Pokémon que eles adquiriram como companheiros muito recentemente, fazendo o que sabiam fazer de melhor: tratar os Pokémon com carinho, cuidar deles e treiná-los.
Kate: Chimchar, vamo treiná a Chama Furacaum! Tem que acertá bem no meio do alvo, viu?
Chimchar: Chiim!
O macaquinho de fogo pulou animado, deixou um rastro incandescente no ar e pousou firme com uma cambalhota torta.
Kellyn: Quase! Foi melhor que o do Kricketot, pelo menos.
Kricketot: cri-cri-cri...
O grilo batucava o corpinho tentando acompanhar o ritmo, mas sem nenhuma noção de tempo.
Kate: Tadinho... Tá tentando, uai! Não é todo bicho que nasce com gingado!
Do outro lado, Shieldon tentava empurrar um tronco até a borda de um círculo traçado com gravetos, enquanto Machop fazia levantamento de peso com "pedras" como se estivesse em uma academia invisível. Hippopotas dormia. Naturalmente.
Sentei no chão, observando aquela algazarra organizada com um leve sorriso. Era estranho como aqueles dois conseguiam dar conta de tudo. Mesmo com o caos dos Pokémon, parecia que estavam sempre em sintonia.
Kellyn: Jade... Cê tá quieto demais. Isso não é normal. Fala aí... O que tá te incomodando?
Demorei uns segundos pra responder. Passei a mão pelo cabelo, cocei a nuca. Suspirei.
Jade: ...É o Hastings.
Kate: Oxe! Ocê ainda tá com isso?
Jade: Não é só "isso". É ele. É a forma como ele olha pra mim...
Abaixei a cabeça, puxando uma folha seca do chão.
Jade: Sempre que ele entra na sala, parece que eu tô devendo algo. E não é só paranoia minha. A forma como ele evita elogiar qualquer coisa que eu faço... Como ele sempre me corrige na frente de todo mundo... Ele continua guardando RANCOR... Ele me julga... Ele me quer PRESO!
Pausa.
Jade: Eu me sinto... Pequeno. Insuficiente.
Kellyn: Mas você já fez tanta coisa, cara. Você enfrentou o Esquadrão Go-Rock, protegeu o Manaphy, sobreviveu a uma EQM! Isso é mais do que qualquer um aqui!
Jade: Eu sei... Racionalmente eu sei. Mas emocionalmente? Eu travo.
Olho para os Pokémon treinando e lembro das falhas. Dos erros. Das vezes em que me deixei levar.
Jade: É como se, por mais que eu faça, nada nunca é o suficiente pra ele. Como se eu tivesse que me provar sempre. Mesmo depois de tudo.
Kate: Ocê já se provô déiz mil veiz. Hastings é só um velho carrancudo que não sabe dizê que tá orgulhoso...
Ela se aproxima e põe a mão no meu ombro.
Kate: Mas nóis sabe. Nóis vê. E nóis tá com ocê.
Kellyn: Você criou o Involito, Jade. Você tá revolucionando a forma como os Rangers trabalham. Se Hastings não reconhece isso... O problema não tá em você. Tá nele.
Fiquei em silêncio por alguns segundos. O sol começava a se pôr, tingindo o campo com tons dourados. Mime Jr. imitava as poses do Croagunk, que por sua vez imitava o Machop, que imitava... absolutamente nada. Apenas malhava.
Jade: Obrigado, vocês dois. De verdade.
Dei um sorriso sincero, talvez o primeiro daquele dia.
Jade: Às vezes, só preciso lembrar que não tô sozinho nessa.
Kate: Nunca teve, homi!
Kellyn: Nem vai estar.
E enquanto os Pokémon continuavam treinando... Eu só fiquei ali. Ouvindo o som da água. A risada dos meus amigos. E sentindo que, mesmo inseguro... Talvez eu estivesse no caminho certo.
Mas ao mesmo tempo que eles me davam forças, havia alguém que me puxava para baixo... Me arrastando para um flashback do qual eu nunca consegui escapar...
Eu estava no laboratório principal de Oblivia, localizado na casa do próprio Rand, na Renbow Island, poucos meses antes da demonstração do Involito. Nema havia saído para buscar algumas peças e Rand estava em uma ligação com Leanne... só estávamos nós dois.
Aquele velho insuportável... Ele nem me olhou quando falou. Apenas continuou digitando no terminal, como se estivesse recitando a previsão do tempo.
Hastings: Esse seu projeto não vai pra frente, garoto!
Fiquei em silêncio. Eu não esperava parabéns, mas também não esperava isso. Meu punho se fechou involuntariamente ao lado do corpo. Cobicei de pegar o velho pela gola e jogá-lo contra o chão, como eu fantasiava mentalmente toda noite antes de dormir, mas me contive.
Jade: ...Como é?
Hastings: O Modelo Involito. É teórico demais, sentimental demais... Frágil. Como você.
Pisquei algumas vezes, tentando entender se aquilo era uma provocação ou apenas o tom padrão dele de “incentivo passivo-agressivo”. A resposta veio antes mesmo que eu conseguisse perguntar.
Hastings: Além do mais, acho que eu não quero o seu nome nos créditos. Já basta o constrangimento de você ainda fazer parte da Ranger Union. Um ex-treinador... Ex-coordenador...
Jade: Você por acaso não quis dizer "um garoto que salvou Fiore e Almia, e protegeu Manaphy com as próprias mãos"?
Hastings (Virando-se bruscamente): Um garoto que quebrou mais protocolos do que qualquer outro recruta em toda a história da Ranger Union! Você é uma bomba-relógio com franja!
Jade: A franja é nova. Obrigado por notar.
Ele suspirou fundo, apertando a ponte do nariz como se eu fosse uma dor de cabeça constante. E talvez eu fosse mesmo. F0d4-s3! Eu não devia nada pra ninguém, devia?
Hastings: Você já me causou problemas demais, pivete! Já me envergonhou publicamente, já desafiou minhas diretrizes, e agora quer ser o rosto de um projeto revolucionário? Me poupe. A Ranger Union precisa de nomes confiáveis. De símbolos. E você é um rabisco... Rand e Nema serão os nomes públicos por trás da criação e desenvolvimento do Modelo Involito. Fim de história!
Jade: Ah, é? Vai dar todos os créditos a eles? Então por que me chamou pra liderar esse projeto, afinal? Hein? Se tudo que você queria era me apagar dos registros, por que me colocar à frente dessa m3rd4 a qual venho trabalhando incansavelmente dia e noite, em escala 6x1 (e se bobear, 7x0)?!
Ele não respondeu de imediato. Só ficou ali, parado, como se cogitasse por alguns segundos se valia a pena dizer a verdade. Mas disse.
Hastings: De volta ao dia da Graduação... Eu não sabia o que fazer com você... Só isso. Um talento desperdiçado. Uma anomalia funcional. Eu te joguei aqui pra que ficasse fora do caminho. Pra ocupar sua cabeça. Pra ver se você... Desistia, sei lá. Achei que fosse largar tudo, assim como fez com a sua jornada como treinador e como coordenador, em Hoenn...
Aquilo me acertou mais do que qualquer golpe de Hiper Raio. Porque no fundo... Doía saber que, apesar de tudo, mesmo sendo útil, eu continuava sendo um estorvo para aquele velho desgraçado.
Olhei pra ele por um tempo. Queria gritar. Queria quebrar alguma coisa. Mas no fim... Eu só dei um sorrisinho torto.
Jade: Então me desculpa... Por não ter desistido. Eu vou me manter aqui, e vou continuar até o fim. Esse projeto vai ver a luz do dia e eu estarei estampado na capa de todos os jornais junto ao Rand e a Nema. Escreve o que eu tô te dizendo, ou eu não me chamo Wally Jade!
O som das ondas voltou a preencher meus ouvidos, me puxando de volta pra praia de Oblivia. O sol seguia brilhando, os Pokémon ainda dançavam no vento e o Involito... O Involito era real. Contra todas as expectativas. Contra Hastings.
E no fundo, talvez... Fosse por isso que eu ainda estivesse aqui. Não pra me provar pra ele.
Mas pra me provar... Apesar dele.
O sol ainda estava alto quando todo mundo se reuniu de novo em semicírculo, bem ali na areia fofa da Praia Leste. Os Pokémon que a gente invocou estavam brincando, lutando entre si ou só observando a paisagem como se fossem turistas tirando férias depois de uma missão.
Eu peguei meu Styler, ergui um pouco pra cima pra todo mundo ver e falei:
Jade: Tá vendo esse botãozinho aqui? Do lado esquerdo, logo abaixo do Símbolo Ranger? Se apertarem ele, todos os Pokémon invocados voltam pra onde estavam antes. Tipo um teletransporte instantâneo. Eles não somem para sempre, nem desaparecem da vida da gente, mas voltam pro ponto de origem... Como se nada tivesse acontecido.
Ben: Tipo recall de emergência?
Jade: Tipo isso, mas sem o drama. Só... Prático. Prático e "Nature-Friendly". Podem testar.
Todo mundo fez exatamente o que eu falei. Um por um, foram apertando o botão.
Primeiro foi o Bidoof da Kate, que fez aquele barulhinho esquisito e desapareceu com uma luzinha azul. Depois a Buneary, o Piplup, o Garchomp, o Typhlosion... Todos sumiram num brilho suave, como se tivessem virado poeira estelar. E então, silêncio. Sem contar os Pokémon Parceiros, que sempre ficavam conosco, só sobraram humanos na praia.
Por alguns segundos... Ninguém respirou. E aí, como se todo mundo tivesse combinado, veio a salva de palmas. Gente batendo palma, assobiando, até o Murph levantando os braços como se tivesse ganhado um Oscar por conseguir ficar cinco minutos sem derrubar nada.
Rand: Isso foi além do que esperávamos... Isso prova que o Capture Styler: Modelo Involito está pronto para testes em campo! Cada um de vocês vai receber um agora mesmo!
Ele segurava uma maleta preta, que Nema abriu com orgulho. Dentro, vários Stylers novinhos, vermelhos com um contorno dourado e pulseira prateada, e o símbolo Ranger brilhando na lateral escarlate.
Rand: Durante o próximo mês, todos vocês deverão utilizar o aparelho em missões reais. Qualquer erro, qualquer problema ou defeito, quero em relatório. E até mesmo os acertos... Tudo documentado. E lembrem-se: Isso pode mudar a história da Ranger Union.
Mais palmas. Mais sorriso. Ben jogou o dele pro alto e pegou no ar como se fosse uma Pokébola de estreia. Summer analisou o dela como se estivesse prestes a experimentar um novo creme facial (só de pensar nisso, ela já começou a fazer pose, toda emperiquitada em frente a um espelho imaginário em plena areia). Bluey passou os dedos como quem checa uma arma, enquanto Reddy analisava cada detalhe do design que lembrava um Pokétch/Pokélógio da Região de Sinnoh, só que mais clean e dinâmico. Lilac fingiu que ia comer o seu. E Murph quase deixou o dele cair, é claro. Foi salvo pelo Slowpoke. Ironia? Talvez.
Mas e eu?
Eu fiquei ali. Com o Styler na mão. Sentindo o peso dele.
Não era só o peso do equipamento. Era o peso da cobrança. Do que isso significava. Eu que ajudei a idealizar o troço, e agora... Tudo que eu conseguia pensar era: “Será que eu devia MESMO estar aqui?”
Porque por mais que todo mundo estivesse comemorando, por dentro... Eu tava vazio.
É esquisito. Ver todo mundo empolgado com algo que você criou, e mesmo assim se sentir... Invisível. Tipo... Eu era o cara por trás de tudo no projeto, desde os orçamentos até a fiscalização operacional, passando pela produção e pelo controle da qualidade, mas e os créditos? Tavam indo pra todo mundo, menos pra mim. Eu sabia o porquê, claro. Hastings já tinha deixado isso bem claro. Ele não gostava de mim porque eu fazia perguntas DEMAIS. Isso o incomodava... O tirava da zona de conforto... E, obviamente, ele não queria parar, refletir e confrontar o que acreditou a vida toda...
E essa questão dos créditos não era nem por ego, saca? Não era por querer holofote. Eu só... Queria me sentir parte. Queria olhar pro Styler e pensar: "Isso tem aqui tem meu suor dentro", sem ter que fingir que foi só mais um trabalho qualquer, como as missões Rangers que todos os demais patrulheiros cumprem diariamente.
Mas, como sempre... Eu botei um sorriso na cara. Fingi que tava tudo certo, que nem eu fiz quando fugi do hospital e interrompi o tratamento do câncer. Porque ser o cara que questiona quando todo mundo tá feliz... Ah, esse cara sempre vira o chato. E eu já cansei de ser o chato!
Só respirei fundo, enfiei o Styler no coldre da cintura... E sorri. Um sorriso de fachada.
Porque, no fim das contas... A gente sabe quando tá sobrando. E naquela praia, mesmo no meio da minha própria produção, fruto de todo o meu esforço e trabalho... Eu me sentia exatamente assim. Sobrando.
Foi quando eu senti. Primeiro, só um ventinho leve, esquisito, cortando a praia. Depois, o som. Aquele som. Um zumbido grave, metálico, que não parecia vir de lugar nenhum... Mas ao mesmo tempo, vinha de todos os cantos. Me gelou a espinha na hora.
Rand (confuso): Hã?
Summer: Mais alguém tá ouvindo isso?
E aí... Tudo aconteceu rápido demais.
Um clarão atravessou o céu e explodiu bem no meio do círculo onde estavam os Rangers. Um estrondo seco, quase como um trovão engasgado, e em seguida, os gritos.
Ben: AAAARGH!!
Summer: MINHA PERNA!!
Reddy: O QUE--
Bluey: NÃO--!
Lilac: MALDIÇÃO!!
Um por um, os Beta Testers foram sendo atingidos por... Por algo. Tiros de energia. Rojões brilhantes, amarelados, que surgiam do nada, do espaço invisível. Sem direção. Sem origem. Sem chance.
Eu vi o Reddy cair com um grito abafado. Vi Rand desmaiar antes de completar um movimento. Vi até a Pichu de Orelha Pontuda ser arremessada como um brinquedo quebrado no chão da praia.
Um a um, os Rangers e beta testers foram sendo tomados por uma rigidez súbita, seus corpos congelando em movimentos interrompidos... A Bluey paralisou com o braço meio erguido, o Reddy tentando se levantar, e o Lilac com um sorriso sarcástico ainda estampado no rosto...
Ben enrijeceu protegendo o Pichu de Ukulele com o próprio corpo, mas não foi o suficiente, pois o pequeno Pokémon Elétrico também se transformou em uma estátua da Medusa.
Summer olhando em choque para as próprias mãos, agora não precisava mais se preocupar com suas unhas, elas deixaram de ser queratina - viraram minério puro. PEDRA.
Foi tão rápido que eu mal tive tempo de acompanhar. Em segundos, todos que estavam ali comigo começaram a se revestir por uma camada opaca e acinzentada, que rapidamente se solidificava em rocha. Não era metáfora. Era real. Cada traço do rosto, cada ruga de expressão, cada gesto... imortalizado de forma grotesca. Como se o tempo houvesse parado completamente para eles.
O som cessou. Nenhum grito. Nenhum sussurro. Apenas o estalo seco da areia sendo deslocada por estátuas de carne fossilizada e uma fumaça com um cheiro estranho de pólvora com enxofre e amônia. E eu...
Eu só fiquei de pé. Embasbacado. Sem reação.
Só eu sobrei.
E eu... Travei.
As pernas tremiam. A boca secou. A mão foi até o Styler na cintura por instinto, mas eu sabia... Eu sabia que não ia dar tempo.
Tentei correr. Juro que tentei. Dei dois passos na areia e ouvi aquele som rastejante atrás de mim. O som de patas arranhando a terra.
Quando virei, ele já tava em cima. Drapion. Os olhos brilhando de forma anormal. A aura em volta... errada. Errada demais.
Ele me empurrou com suas pinças usando uma força absurda. Eu tentei escapar de seu aperto, mas seu exoesqueleto de artrópode era mais forte.
Então, com um movimento seco, ele acabou me jogando de costas contra... Uma teia!
Um Ariados. Enorme. Saindo das sombras como se sempre tivesse estado ali. O impacto fez o ar sair do meu corpo num baque seco. Antes que eu pudesse me mexer, tava preso. Braços colados ao corpo. Perna presa. Nada respondia.
Minha fobia a aracnídeos atacou e eu só queria me coçar, mas eu não podia. Estava grudado. Completamente indefeso.
Minha cabeça girava. Os gritos ao redor desapareceram. O som agora era só o da minha respiração falha... E de algo... Descendo.
O céu pareceu rasgar. Literalmente. Um brilho meio que cor-de-rosa cortou o ar e a ilusão se desfez. Lá estava ela. Uma aeronave flutuando sobre a praia, envolta em um campo de camuflagem que se desfez como vidro rachando no ar.
O zumbido aumentou. Meu peito doía.
A nave pousou como um sussurro mortal. Nenhum Ranger reagiu. Todos inconscientes. Ou pior.
E então ela surgiu.
Primeiro os pés, depois o casacão preto esvoaçante. Óculos escuros. Cabelos brancos platinados, como neve suja. No braço direito, um aparato grotesco que até lembrava o Styler modificado que Lilac, Reddy e Bluey usavam, mas tinha o mesmo brilho dos disparos que transformaram Ben, Summer e os outros em PEDRA!
Nas costas de um Salamence, a mulher então desceu como se fosse a própria queda de Rayquaza, sem jamais perder a pose e a elegância.
???: Que cena adorável.
A voz dela era gélida. Sem tom. Sem raiva. Só uma indiferença... Que feria mais do que ódio.
Jade: Quem é você?! Por que está fazendo isso?!
Eu berrei. Ela apenas desferiu um sorrisinho ácido de canto e então apontou direto pra mim. Ou melhor... Pro Styler preso na minha cintura.
Jota: Chame-me de "J". Guarde este nome, garoto, pois agora o Capture Styler: Modelo Involito... É MEU!
O Salamence rugiu com tanta força que a areia ao meu redor tremeu. E naquele momento, travado, grudado na teia, sem ninguém pra me acudir, eu só conseguia pensar numa coisa:
“Eu devia ter sido mais cuidadoso...”
O Styler começou a brilhar. Como se reconhecesse que estava sendo caçado. Como se sentisse medo... igual a mim.
Jota: E você, Wally Jade... Vai ficar aí... Vendo tudo que criou... Virar pedra!!
Rangi os dentes, tentando me libertar, mas nesse momento...
Ela ergueu o braço. O aparelho brilhou com uma luz amarelada cegante.
E foi aí... Que o mundo apagou.
Continua...
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