28 de Setembro de 2006, na Região de Sinnoh...
Mais precisamente nas profundezas do Underground...
O ar era denso, pesado, carregado de poeira e umidade. Entre túneis iluminados por tochas artificiais e sensores de presença ativados, cinco figuras caminhavam furtivamente.
A Policial Jenny de Veilstone City seguia à frente, com os olhos fixos no radar embutido no visor da sua moto (que não me pergunte COMO foi parar lá!). Ao lado dela, o renomado Professor Rowan analisava um mapa digital das rotas subterrâneas, um verdadeiro labirinto que mais pareciam-se com catacumbas, bem abaixo das grandes rotas e cidades da Região de Sinnoh...
Enquanto isso, os pokédex holders, Candice, Volkner e Flint, que nada mais eram do que pupilos do Professor, os acompanhavam prontos para cair no soco. Eles sabiam bem O QUE estavam prestes a enfrentar. E sabiam que não podiam errar...
Naquela noite, estavam prestes a interceptar a Caçadora J.
A criminosa mais procurada do mundo Pokémon estava prestes a fechar mais um de seus acordos nojentos no mercado negro: vender uma remessa de Shieldon petrificados, tratados como troféus por colecionadores sem alma. Segundo os informantes, a negociação ocorreria ali, em uma das galerias abandonadas do subsolo de Sinnoh.
E como previsto, lá estava ela.
Vestindo seu casaco negro, os cabelos prateados em um corte despojado e os óculos escuros que nem a escuridão das profundezas do subsolo era capaz de fazê-la tirar. Ao lado, o imponente Salamence, e mais atrás, seus lacaios, além de um Spinarak e um Skorupi, dois predadores de emboscada prontos para seu o comando, um em cada canto da câmara.
O comprador ainda não havia chegado. Mas os Shieldon petrificados já estavam dispostos em redomas de vidro reforçado, como peças de porcelana. A cena era grotesca.
A Guarda não esperou.
Jenny: AGORA!
Em segundos, a galeria explodiu em ação.
A Glaceon de Candice disparou como uma flecha de gelo, criando estalactites no teto e derrubando um bloco de pedra na frente do Salamence. O dragão tentou alçar voo, mas um golpe certeiro o atingiu na asa esquerda, fazendo-o desabar entre grunhidos e poeira.
Volkner, por outro lado, já tinha liberado seu Pikachu, que correu pelo chão como um raio... Até ser pego no contragolpe!!!
J ergueu o braço. O aparelho no seu pulso brilhou em um tom sépia como um filtro envelhecido de fotografia.
J: Queimando etapas hoje, não é? Pena que não aprenderam nada...
Em um clarão silencioso, o Pikachu de Volkner foi atingido por um disparo direto pelo mesmíssimo feixe amarelado que transformava qualquer ser vivo em uma escultura de Silício. E assim, sem tempo de gritar, o pequeno corpo do elétrico ficou rígido, inerte... Petrificado.
Volkner: Pikachu...?!
Ele correu até o companheiro, mas era tarde. Tudo que restava era a expressão congelada de um Pokémon que confiava demais.
Enquanto isso, Flint já estava em cima dos lacaios de J.
Infernape girava no ar com os punhos em chamas, acertando primeiro o Skorupi com um soco em cheio e depois derrubando o Spinarak com uma sequência de golpes que não deixou margem pra reação. Os capangas caíram desacordados antes mesmo de entenderem o que havia acontecido.
J recuava, os olhos ocultos por trás dos óculos, mas o maxilar tenso. Ela sabia que tinha perdido a vantagem. Os Pokémon estavam fora de ação, o comprador certamente havia recuado por não comparecer no horário marcado (talvez até prevendo a vinda da polícia)... E agora, os tiras provavelmente já rastreavam sua posição.
J: Isso ainda não acabou...
Ela pressionou um botão no bracelete. O teto acima da caverna se abriu em um buraco ovalado, revelando sua gigantesca aeronave, que desceu como uma sombra silenciosa.
Assim que o compartimento inferior foi liberado, ela pulou direto nas costas do Salamence, que mesmo ferido conseguiu alçar voo com dificuldade.
Jenny não hesitou. Subiu na sua moto, ligou o propulsor e foi atrás, mas não sem antes chamar reforços.
Rowan: Jenny, é perigoso demais!
Jenny (olhando para trás enquanto dirigia feito um foguete): Eu vou atrás dela! Nem que seja até o céu!
O túnel externo explodiu em luz quando a moto atravessou a abertura e subiu atrás do Salamence.
Mas o que se viu a seguir foi cruel.
Assim que J entrou na aeronave, a nave simplesmente desapareceu no ar. Camuflagem ativada. Invisível. Indetectável.
Riolu e Arcanine tentaram pegá-la, mas a nave já estava fora de alcance...
Jenny freou no ar, frustrada, encarando o vazio.
Jenny: Droga... droga...!!!
De volta ao chão, Rowan analisava os dados num visor portátil.
Rowan: Ela levou os dados. Mas não conseguiu vender os Pokémon. Isso nos dá tempo.
Volkner ainda segurava seu Pikachu, com os dedos trêmulos, desesperado para regressar ao Centro Pokémon e tentar desfazer o estrago causado ao seu parceiro. Flint tocou no ombro do amigo em silêncio, enquanto lágrimas desciam pelo rosto do garoto loiro.
Candice: Ela vai voltar. É só questão de tempo. E da próxima vez... Ela não vai escapar!!
E nas sombras do subsolo, agora apenas o som da respiração pesada dos heróis preenchia o espaço onde, segundos antes, o mal havia deixado sua marca...
...
Agora...
Eu estava em um sono profundo... Profundo como o oceano.
Tudo ao meu redor era escuro, mais preto que qualquer preto que você já possa ter visto. Não era um escuro comum... Era um breu infinito que te fazia esquecer de tudo e todos. Era um escuro estranhamente acolhedor. Como se o mundo tivesse silenciado completamente e, pela primeira vez, me deixado em paz.
Sem pressões.
Sem olhares de julgamento.
Sem Hastings.
A pressão ao meu redor era absurda... Mas estranhamente agradável. Era como se o peso esmagador do mar me abraçasse com braços invisíveis, firmes, dizendo que tudo ia ficar bem. Que eu podia descansar. E eu acreditei. Pela primeira vez em muito tempo, eu me deixei afundar sem culpa.
Foi aí que eu vi.
Uma luz. Pequena no começo, como uma estrela apagada... Mas que foi crescendo, ganhando forma, cor, movimento. Nado instintivamente em direção a ela, mesmo que meu corpo não obedeça como deveria. E de alguma forma, mesmo que aquela luz não tivesse forma alguma, eu sabia que era ELE.
Manaphy.
E então, pude ouvir sua doce voz, como se falasse dentro da minha cabeça.
Manaphy: Você tem vindo aqui com frequência. Mais do que qualquer outro humano... Isso não é um bom sinal. Você precisa voltar, Jade. Ainda não é a sua hora!
Jade: Não!
A minha voz ecoa sem som, como se o meu pensamento fosse carregado por aquela água escura como o interior de um buraco negro. Manaphy se assustou com o meu tom e a luz se afastou um pouco.
Jade: Aqui tá tudo certo... Aqui é bom. Eu tô bem. Pela primeira vez, Manaphy... Eu tô em paz.
Ele não respondeu com palavras. Em vez disso, a luz que eu sabia que era ele, se aproximou de mim até se chocar contra minha pele. Um toque leve. E então, tudo mudou.
A escuridão se rasgou.
Diante de mim, como se estivesse assistindo a um filme em VR, eu vejo...
A Ilha Dolce... Minha casa. As praias que eu caminhava todo fim de tarde... Em chamas. O mar fervendo. A vegetação reduzida a cinzas.
E acima disso tudo...
Ela.
Jota.
Montada no Salamence como se fosse uma deusa da destruição. Um aparato colossal flutuando sobre o céu: A Sky Fortress (Fortaleza Celeste). Eu já tinha lido sobre ela nos relatórios antigos da Ranger Union. O castelo voador foi construído por pessoas malignas nos tempos antigos para governar o mundo, mas seus planos foram interrompidos e a fortaleza foi selada na Região de Oblivia. Sua arma principal pode destruir uma ilha com um único tiro. Uma arma. Uma aberração tecnológica. E agora... Nas mãos erradas.
Um raio. Um disparo só. Direto da fortaleza. E a Ilha Dolce simplesmente... Desapareceu!
Manaphy: Você precisa impedi-la.
Jade: Isso não é mais problema meu...
Viro o rosto. A imagem continua ali, flutuando ao meu lado. Mas eu... Eu já não quero ver.
Jade: Eles podem resolver. Não precisa ser sempre eu.
E deixo o corpo afundar mais uma vez... como se o fundo do oceano me chamasse de volta pra casa.
Mas Manaphy não me deixaria desistir tão facilmente.
Mesmo sabendo que eu me encontrava capturado por uma atração irresistível pelo vazio do nada, ele não deixou de brilhar.
Moveu-se em sua forma de luz e me tocou no peito, desta vez me mostrando imagens dos meus amigos... Ben, Summer, Reddy, Lilac e Bluey.
E então, tudo mudou.
O peso do oceano cedeu espaço ao calor sufocante do passado. Me vi de novo na Região de Fiore. Em Ringtown.
O alarme da prisão principal berrava como a Delcatty de certo alguém pedindo ração às 5h da madrugada. As luzes vermelhas piscavam em ritmo frenético. E eu me lembrava... Porque, afinal, como esquecer?
Eu estava lá acompanhando Nema, que foi buscar algumas peças que ela havia encomendado para o protótipo do novo Styler, e de repente fomos pegos pela confusão...
O trio de fugitivos era nada menos que o Sinis Trio. Três nomes que, na Ranger Union, faziam mais Ranger perder o sono do que qualquer tempestade. Lavana, com seu Magmortar Brilhante que produzia chamas cor-de-rosa (seria bonito, não fosse uma catástrofe treinadora e Pokémon estarem reunidos novamente). Ice, o cara mais frio (literalmente) que eu já vi, com sua Froslass que se movia como um fantasma em meio à neblina que ela própria criara. E Heath, um brutamontes decerebrado, com um Electivire que parecia mais uma locomotiva elétrica com pernas.
Eles estavam escapando de "alcatraz", uma missão que até então pensava-se ser impossível, já que a prisão de segurança máxima dos Rangers nunca havia sido violada, com um histórico impecável de 0 fugas. Bom, pelo menos até agora...
A base inteira parecia despreparada.
Até que eles chegaram.
Solana e Lunick me puxaram pelo braço, me jogaram um capacete e disseram algo do tipo “vem ver o que é combate de verdade”. E eu fui.
E então eu vi os três pela primeira vez. Jovens. Mas prontos.
De cara fechada, Reddy foi o primeiro a avançar. Ele não falou nada. Seu jeitinho marrento de ser e os braços de fora, só para ostentar músculos era, na verdade, uma estratégia para enfeitiçar Bluey, por quem ele nitidamente era perdidamente apaixonado. E essa atitude era tão escancarada que na hora eu percebi! Mas não funcionava. Bluey não estava nem aí para relacionamentos, ela só queria focar nos estudos e na profissão. Mas Reddy achava que ela não lhe dava bola por causa de Lilac, por isso, morria de ciúmes dele, então sempre que tinha uma oportunidade, ele fechava a cara, caminhava de um jeito "descolado" e todo marrentinho, metido a "machinho", para conseguir um pouco de atenção da amada. Lilac, por sua vez, não parecia ter interesse romântico em Bluey nem ninguém, ele apenas... Era ele.
Ele só lançou seu parceiro Blaziken, que bateu os punhos em chamas e partiu pra cima da Froslass como se soubesse que aquele era o último round. A batalha foi seca. Direta. A Froslass tentou se esconder na névoa, mas Blaziken explodiu a área com um Chute Flamejante, evaporando a bruma e acertando Ice de raspão, que caiu no chão, gelada no ego e no corpo.
Lilac parecia que estava dançando. Girando, pulando, se equilibrando nos escombros como um bailarino do caos. Na época, ele tinha um cabelinho tenebroso que mais parecia uma capa (ainda bem que ele cortou)... Seu Gliscor duelava com o Electivire de Heath, desviando dos Socos Trovoada como se já tivesse mapeado cada soco antes mesmo de ele ser dado. Quando Heath finalmente errou o tempo, Gliscor aproveitou e lhe cortou com as asas em um rasante, e logo na sequência, cravou o ferrão envenenado no ombro do Electivire. O Brutus caiu de joelhos nem meio segundo depois.
E então, Bluey.
Sem pressa, como se soubesse que ia ganhar.
Ela liberou seu Walrein com um aceno quase entediado. Lavana riu. Riu alto.
Lavana: Você acha que água vai parar fogo?
Mas não era só água. Era estratégia. Walrein criou uma espiral de vapor com o Raio Congelante disparado no chão molhado. E quando o Magmortar cor-de-rosa entrou na névoa pra atacar, ele escorregou (literalmente) numa armadilha de gelo sob os pés. A sequência foi rápida: uma só Pancada Corporal e Magmortar já estava imobilizado no chão, apagado como uma vela.

O Sinis Trio foi derrotado com uma facilidade sem precedentes. Sem drama, sem discurso. Algemados no chão, vítimas da própria arrogância. E ali, na base de Ringtown, ainda com o cheiro de ozônio e fumaça no ar, enquanto o Trio da Team Dim Sun era levado de volta para suas celas (ou, muito provavelmente, para a solitária) a Professora Solana se virou pra mim e disse:
Solana: Esses três ainda vão dar o que falar. Anota aí.
E ela tava certa.
De volta ao presente, ou o que quer que fosse aquele espaço entre mundos, a imagem deles permanecia. Firmes. Valentes. Humanos.
E eu entendi o que Manaphy queria me mostrar. Amizade...
Mas ainda assim... Não era tão simples. Porque mesmo com tudo isso... Parte de mim ainda queria ficar. Parte de mim ainda não queria voltar. Não ainda.
Manaphy se aproximou de novo. Dessa vez, não havia urgência no gesto... Mas também não havia espaço pra recusa. A luz dele pulsava mais devagar, como o batimento de um coração calmo, porém insistente... PERsistente...
Ele me tocou no peito outra vez.
E, de novo, o mar se abriu ao meu redor e meu mundo mudou.
Dessa vez, fui lançado para um lugar bem menos grandioso que a Sky Fortress... Mas muito mais significativo (pelo menos para mim).
Uma estrada de terra batida. O mar revolto quebrando nas pedras logo abaixo. Um céu laranja de fim de tarde. O som de tábuas rangendo e martelos ecoando no vento. E no meio disso tudo, ele: Booker.
Com a camisa arregaçada, a careca cintilando, refletindo a luz do sol, e o bigode mais desalinhado da região de Oblivia, o velho trabalhava como se tivesse vinte anos a menos (ou talvez ele simplesmente havia decidido ignorar a idade que tinha e fazer o que queria). O neto dele, Ralph, um pirralho esperto que não conseguia ficar parado (É hiperativo que fala? Não, acho que o termo correto é CAPETA!), ajudava a segurar as tábuas enquanto Booker pregava uma a uma, montando os pilares da nova ponte.
Eu me lembrava bem daquela missão.
Fui encarregado de escoltar Booker de volta à sua vila depois que ele e o neto foram ameaçados pelos Pokémon Pinchers, aquele bando de parasitas que tomaram conta do Aqua Resort, a comando de um grupo de magnatas filhos da p*t4.
Eles não queriam a ponte sendo construída. Sabiam que, se a ponte ficasse pronta, os Rangers teriam acesso direto ao território deles. E mafioso odeia transparência... Disso todo mundo sabe!
A travessia foi um caos. Emboscadas no meio do caminho. Armadilhas escondidas nas trilhas. Teve até uma explosão. Eu ainda sentia o cheiro de pólvora.
Mas, no fim... Conseguimos.
Roserade foi essencial. Lembro de como ela se moveu entre os arbustos como se dançasse, cortando as vinhas que prendiam Booker e derrubando os bandidos com golpes precisos de suas vinhas que estalavam como os chicotes de uma dominatrix (não que eu saiba o que é isso, longe de mim... hehehe). Foi rápido, mas marcante.
No fim daquela missão, com o pôr do sol banhando a madeira recém-pregada da ponte, Booker virou pra mim com os olhos marejados e disse:
Booker: Sabe, moleque... Eu achava que já tinha feito tudo que dava na vida. Mas hoje, vendo você e sua Roserade... eu percebi que ainda tem coisa que eu quero fazer. Eu passei a vida toda sendo um covarde, me escondendo e precisando da ajuda e proteção dos outros, mas agora... Agora eu quero ser um Ranger como você! E não me importa se sou velho... A vida não acabou ainda! Ainda há muito pela frente!
Na hora, achei que era só bravata de velho emocionado.
Mas Booker não brincava em serviço.
Poucas semanas depois, ele foi pessoalmente até Hastings (que por ventura era seu irmão mais novo, com quem ele não falava HÁ ANOS), todo engomadinho num terno marrom horroroso, e se apresentou como candidato a Patrulheiro de Área.
Hastings: Mas você tem... 65 anos!
Booker: Mas pelo menos eu tenho VONTADE de TRABALHAR, "professor".
Eu tava lá. E nunca vi Hastings perder uma discussão tão rápido. (bem feito!)
Contra todas as expectativas, Booker passou no treinamento. Construiu seu próprio Capture Styler com peças recicladas. Desenvolveu técnicas próprias pra navegação em florestas costeiras. E com o tempo... Se tornou um dos melhores Patrulheiros da Região de Oblivia.
Hoje, ele é beta tester do Involito.
Aquela ponte que ele queria construir lá atrás? Não era só de madeira. Era simbólica. Era sobre ligar as pessoas aos Pokémon de novo. Era sobre fazer parte.
Ali, na lembrança, eu vi ele sorrindo. Martelo em uma mão. Styler na outra. O neto do lado. E aquele brilho nos olhos que só quem (re)encontra um propósito consegue ter.
E de volta à escuridão... Aquela sensação voltou.
Aquela pontada. Não de dor. De vergonha.
Porque enquanto eu afundava num oceano de fuga, de negação, de "não é mais problema meu"... Tinha gente como Booker, que já tinha vivido uma vida inteira... E ainda assim escolheu lutar.
Mesmo velho. Mesmo desacreditado. Mesmo invisível.
E eu?
Eu só queria sumir.
Mas Booker... Me lembrava que, às vezes, começar de novo era a forma mais bonita de continuar.
Eu ainda estava no fundo. No escuro. No silêncio pesado de um mar que parecia me aceitar melhor do que qualquer pessoa em terra firme.
Mas Manaphy não parava.
Ele se movia à minha frente com mais urgência agora, como se estivesse puxando cada lembrança que ainda me conectava à vida. E, dessa vez, ele me mostrou ela.
Summer.
No começo, só vi seu rosto. Não o de agora, orgulhoso, maquiado, sempre impecável. Antes um rosto mais jovem. Muito antes de se tornar Ranger. Sem base. Sem gloss. Sem os cílios postiços que ela dizia que “davam vida aos olhos”. E... sem a sua máscara.
A imagem se abriu. E eu vi o que nunca tinha visto antes. O que ela nunca tinha contado a ninguém.
Summer nasceu em uma cidadezinha esquecida no norte de Fiore, Wintown. Neve o ano todo, vento forte, e um hospital com mais infiltração do que seringas.
Ela era filha de uma enfermeira sobrecarregada e um treinador frustrado, que abandonou a família quando Summer tinha apenas sete anos.
Ela cresceu em uma casa fria, no sentido mais literal e mais cruel da palavra. Cobertores finos, janelas quebradas, comida contada. Quando a mãe voltava do turno, muitas vezes deitava direto no chão da cozinha pra descansar, sem forças nem pra subir as escadas. Summer cuidava sozinha do irmão mais novo, que era doente. E mesmo pequena, aprendeu a aquecer as mãos esfregando pedacinhos de pano, a derreter neve suja pra ferver e fazer chá, a sorrir quando a barriga doía de fome, a fingir que não estava doente mesmo quando ardia em febre e estava prestes a desmaiar (pra não preocupar mais ainda a mãe).
Na escola, os colegas zombavam dela. Riam das roupas velhas, dos cotovelos furados, do lanche que ela não levava. Chamavam ela de "mendiga da neve". E quando ela finalmente conseguiu um lenço cor-de-rosa emprestado, usou ele por cinco dias seguidos, fingindo que era uma tiara de princesa. No sexto dia, rasgou. Ela não chorou. Mas prometeu pra si mesma: Nunca mais seria vista como fraca.
Aos doze, cortou o cabelo, roubou batom velho da mãe e começou a andar com o nariz empinado. Não era orgulho. Era proteção. Criou uma personagem. Uma Summer que usava salto, mesmo na neve. Que falava “ugh” como resposta padrão. Que tratava o mundo como inferior porque... Esse mesmo mundo já a tinha tratado assim por tempo demais.
E mesmo com tudo isso... Ela nunca desistiu!
Treinou escondido. Estudou à noite. Trabalhou como faxineira em um Centro Pokémon pra juntar dinheiro pra inscrição na Academia Ranger. E no dia da entrevista, chegou com as botas encharcadas, o delineador borrado e a cabeça erguida.
Passou. Porque Summer, apesar da armadura de esmalte e spray fixador, tinha mais fibra do que muita gente que se diz durona...
Voltei a vê-la como é hoje. Na lembrança que Manaphy me mostrava. Sorrindo torto. Fazendo piada de si mesma antes que alguém fizesse. Mas eu via agora. Por trás do brilho falso, dos comentários fúteis e das poses dramáticas... Havia a garotinha da neve. Que sonhava em ser princesa. Não porque queria luxo. Mas porque ninguém a tinha tratado como alguém valiosa antes...
E ali, no fundo do oceano, engolido por um nada que tentava me convencer a desistir, eu senti algo apertar no peito.
Porque Summer... Nunca desistiu.
E eu?
Eu ainda estava tentando.
A cena mudou outra vez. No lugar da escuridão... O som suave de uma ventania cortando as palmeiras.
O céu estava cinza. O tipo de cinza que não chove, mas pesa. E lá estava ele. Ben. Pequeno. Frágil. Com uns dez anos de idade, no máximo. Os cabelos mais escuros do que hoje, e a expressão... Ainda curiosa. Ainda viva.
Ele caminhava de mãos dadas com um senhor de aparência forte, mas cansada. As roupas eram simples. As botas, gastas. Mas o sorriso... Era do tipo que quebrava qualquer inverno. Seu avô.
Avô de Ben: Quando você tiver medo, Ben... Tenta mesmo assim.
Ben: E se der errado, vovô?
Avô de Ben: Aí cê tenta de novo. E se errar mais uma vez, você levanta e diz: “foi mal, universo! Mas eu ainda tô aqui.”
Ben sorriu. Mas por trás daquele momento bonito, havia um silêncio cheio de coisa escondida. A imagem cortou para uma casa humilde, no interior de Oblivia. Telhado parcialmente afundado, paredes mofadas. A câmera da lembrança girou e mostrou os pais de Ben, deitados em macas improvisadas no que parecia ser uma sala hospitalar montada às pressas. Vítimas de um acidente de mineração que os deixou em estado vegetativo. A renda da casa se foi. O peso emocional, não.
O avô criou Ben sozinho. Viajavam de vila em vila, pegando bicos, dormindo em Centros Pokémon, dentro de um barco velho ou no próprio chão.
Mas o velho nunca reclamava. Nunca.
E Ben aprendeu a sorrir assim...
A sorrir quando dava vontade de gritar.
Avô de Ben: A vida vai tentar te quebrar, garoto. Mas se você sorrir, mesmo que seja só por teimosia... Ela perde um pouco da força.
Aos treze, Ben entrou pra Academia Ranger. Sem roupa adequada, sem tutor, sem histórico escolar regular. Mas com uma carta escrita à mão pelo avô.
“Este menino vai tentar. E se ele errar, vai tentar de novo. Porque foi isso que ensinei a ele.”
Foi aceito. Com ressalvas. Mas aceito.
E quando o avô morreu no ano seguinte, Ben não chorou na cerimônia.
Chorou sozinho, dias depois, durante uma patrulha de rotina, no topo de um penhasco. Gritou pro vento. Depois, olhou pro céu e disse:
Ben: Tá vendo, velho teimoso? Eu ainda tô tentando! E NÃO VOU PARAR!
A lembrança voltou para o presente.
Ben, já crescido, tocando o ukulele desafinado. Mesmo sob tiroteio. Mesmo depois de falhar. Mesmo petrificado.
E eu... Eu me vi ali.
Preso em mim mesmo. Me afundando em drama e culpa... Enquanto gente como o Ben vivia a vida como um “por favor, me dá outra chance” diário.
Ele não era alegre porque a vida foi boa consigo.
Ele era alegre APESAR de tudo.
E foi aí que algo em mim rachou.
Senti meu corpo doer. Sentia as mãos, os pés, o peito. Tudo de volta.
A água ficou mais quente. A pressão mais incômoda. Como se o próprio oceano me empurrasse pra cima, pela barriga. O fio de prata que conectava a minha alma ao corpo puxou com força e eu senti o espaço se distorcendo ao meu redor como em um túnel.
E pela primeira vez, depois de tanto tempo...
Eu quis voltar.
Quis gritar. Quis respirar. Quis... Viver.
Os olhos se abriram. Um clarão.
E a primeira coisa que senti foi dor. A segunda, medo.
Mas a terceira... Foi esperança.
E às vezes, só isso já basta.
...
O vento cortava as encostas da Stark Mountain, na Battle Zone, com violência, lançando fagulhas vermelhas do magma que corria por fendas próximas. Era um lugar inóspito... Perfeito para encontros que não deveriam ser registrados.
No topo de um dos platôs rochosos, uma figura de sobretudo preto e cabelo prateado esperava com os braços cruzados e a expressão entediada. O visor da aeronave invisível atrás dela ainda piscava em modo de camuflagem, mantendo o disfarce. Ao seu lado, Salamence batia as asas inquieto sobre as pedras, enquanto seus capangas ficavam à espreita na nave. Ao menor sinal de perigo, eles estariam prontos para decolar.
Então...
De dentro de uma névoa escura que se formou subitamente entre duas grandes rochas, ela surgiu.
Sird Storc... Ou Neptune, da Equipe Galáctica, como vinha se identificando nos últimos tempos...
Ela tinha uma postura que misturava elegância com ameaça. Ao seu lado, seus lacaios Venus (Jessie), Uranus (James) e Persian, outrora Meowth, com os olhos vidrados, sem brilho, como se eles fossem marionetes que esqueceram que já foram gente.
J: Aí está. Atrasada. Eu não suporto atrasos.
Sird sorri, ela não devia satisfações a J, mas como ela tinha interesse em negócios, desculpou-se (com a maior má vontade do mundo).
Sird: Eu ouvi falar de você, J. Ou melhor... De seus serviços.
J (com desdém): Deixa eu adivinhar... Veio me contratar?
Sird: Algo assim. Estou interessada em capturar um ser... Peculiar.
J nem se moveu. Apenas ergueu uma sobrancelha, ligeiramente.
J: E quer que eu coloque uma coleira nele pra você, é isso?
Sird: Quero que se junte a nós em minha missão de capturar ele.
J: Nós quem?
Sird: Equipe Galáctica.
O silêncio que se formou foi espesso como fumaça. Jota fixou os olhos no "G" de ouro estampado nas vestes espaciais dos três potenciais "clientes".
J: Não trabalho pra ninguém. Nunca trabalhei. Nunca vou trabalhar.
Sird (sorrindo com os lábios, mas não com os olhos): E se eu só quiser comprar uma das suas armas petrificantes?
J (seca): Não estão à venda.
Sird: Eu ofereço uma quantia significativa. O bastante para comprar uma ilha inteira em Unova.
Venus se aproxima e abre uma maleta cheia de Pokédollars, oferecendo-a para J conferir. Era muito dinheiro... Muito dinheiro MESMO. Mas J não parecia interessada. Ela desdenhou, com escárnio:
J: Eu consigo fazer esse valor em um único fim de semana, vendendo um par de fósseis raros ou um Dragonite brilhante... Além disso... Eu não achei meu pós-doc em Ciência da Tecnologia no lixo pra ficar distribuindo minhas invenções pra uma maluca fazendo cosplay de vilã de Star Trek.
Sird: Eu esperava mais hospitalidade da sua parte, caçadora...
A palavra caçadora foi pronunciada de uma forma provocativa, como quem menospreza aquela alcunha. Mas se Sird não valorizava o trabalho de J, não a teria procurado, e Jota sabia disso!
J: E eu esperava mais seriedade de uma mulher que fabrica zumbis.
Sird estreitou os olhos. Deu um passo à frente, o chão vibrando com a presença invisível de algo... Sombrio.
Sird: Se você não vai colaborar, serei obrigada a fazer o que fiz com eles...
Ela então aponta com a cabeça na direção de Jessie, James e Persian. Neste estado de transe profundo, eles não sentem mais dor. Não sentem mais vontade. Apenas... Obedecem.
Então, com um movimento sorrateiro e soturno, Sird ergue o braço e algo se move no chão. As sombras se contraem e contorcem, materializando-se em um Banette, agora flutuando acima da cabeça de J com seu zíper semicerrado que parecia prestes a estourar.
Jota, já acionando o bracelete, cospe por cima do ombro, sem perder a postura:
J: Bela Tentativa...
A esfera que J lançava no ar se abriu como uma granada de plasma: Drapion aterrissou no chão com um baque surdo e já se posicionou para o ataque.
Banette desapareceu numa nuvem de sombra que se arrastou pelo solo como uma lâmina, desviando-se completamente do ataque.
Drapion cravou seus espinhos venenosos na pedra, fazendo estilhaços saltarem, um movimento defensivo que expôs a aproximação de Banette.
Revelado, o fantasma precisou reagir rápido: lançou um , atingindo de raspão a lateral de Drapion, que recuou com o brilho azul fantasmagórico queimando sua carapaça.
J apenas sorriu, enquanto Sird (semi)cerrava os olhos, estreitando o olhar com desprezo à arrogância da oponente. Nisso, Drapion avançou num salto arqueado com garras brilhando em energia sombria, e acertou Banette direto nos flancos.
O golpe jogou o Pokémon contra a parede rochosa da montanha. Antes que Sird pudesse ordenar qualquer contra-ataque, Drapion continuou o assalto com uma sequência de Corte-Veneno, deixando Banette quase sem forças.
Sird: Divisão da Dor!
Mas era tarde demais. J foi mais rápida.
J: Finalize.
Drapion golpeou o chão com força total. O platô inteiro tremeu. Banette cai de vez, sucumbindo sobre rochas enormes que se desprendem do teto no chacoalhar da caverna, levantando poeira.
Neptune recuou. Seus olhos quase, repito: QUASE, refletiam uma fagulha de frustração. Mas se ainda não havia ficado claro o suficiente, ela deixou explícito em sua última fala antes de se afastar:
Sird: Você vai se arrepender disso.
J (dando de ombros): O arrependimento é um luxo que a minha conta bancária não me permite ter...
Sird fez um gesto. Jessie, James e o Persian zumbificado se recolheram na escuridão. Um feixe de energia então os envolveu e todos desapareceram na mesma névoa com a qual tinham chegado. J ficou em silêncio por alguns segundos, olhando pro ponto onde Sird tinha estado.
Depois virou-se, deu dois toques em seu bracelete e a aeronave camuflada começou a se materializar lentamente atrás dela.
J (resmungando sozinha): Ganho mais vendendo um Arcanine albino que escova os próprios dentes... Ficar presa com aquelas roupinhas tecnofuturistas bregas? Tô fora.
Subiu na nave. Drapion e Salamence foram atrás.
E a noite, mais uma vez, se calou...
...
O tempo parecia parado.
Mas eu não estava mais dormindo.
Acordei com um gosto metálico na boca... E uma ardência nos olhos que só vinha depois de muito choro ou muito desespero. Minha cabeça era a única parte do meu corpo que ainda podia se mover. O resto... Pedra. Fria, pesada... Estática.
Meus olhos se moveram devagar, escaneando os arredores.
Todos estavam petrificados.
Ben, Summer, Reddy, Lilac, Bluey... Até mesmo o Murph e seu Slowpoke. A Leanne. Nema. Rand.
Pareciam estátuas de cera no pior museu do planeta. Congelados no tempo... Com a mesma expressão de horror paralisada no rosto desde o momento em que foram alvejados. Foi aí que escutei aquela voz de novo.
J: Já era hora...
O chão tremeu levemente. Não... Não era o chão. Era o ar. A nave dela. Estávamos voando!
Tirando a vez que eu fui para o espaço (longa história...), eu nunca estive tão alto. E flutuando à nossa frente... ´Lá estava ela.
A Sky Fortress.
Eu nem sabia se aquilo era real. Uma estrutura colossal, com tecnologia ancestral que se perdeu no tempo e nem Hastings saberia explicar. Cercada por uma barreira pulsante que mais parecia uma membrana viva. Azulada, eletrificada... Impenetrável.
J: Bonita, não é? E completamente inacessível... Por fora.
Ela caminhou na minha direção. O casaco batendo nas pernas, os óculos escuros ainda tapando metade do rosto, mesmo dentro da nave.
J: É por isso que eu preciso do seu brinquedinho, Ranger. O Involito... Se eu usar ele pra traçar os pontos de luz certos, posso invocar Pokémon direto pro lado de dentro da barreira... Afinal, luz é a única coisa capaz de penetrar o campo de força. E assim, quebrar tudo de dentro pra fora.
Fiquei em silêncio. Não porque queria. Mas porque... Parte de mim ainda tentava entender se isso era um pesadelo ou só o fim.
J: Ah, não precisa falar nada. Eu já esperava que você fosse se recusar. Vocês Rangers adoram morrer pela causa, não é? Otários... Eu não me mataria por NINGUÉM além de mim mesma...
Ela então tirou o MEU Involito do bolso. O aparelho ainda aceso. Rodando... Esperando comandos. Eu o reconheci porque o havia personalizado com a minha cor favorita...
J: Mas sabe o que é mais divertido? Eu não preciso de você pra isso. Só preciso dos comandos certos...
Foi quando ela estalou os dedos.
Gallade entrou.
Meu Gallade.
Mas... Ele tava diferente. Com os olhos baixos. O corpo tenso. Quase como se estivesse... Com Vergonha... E DE MIM!
J: Gallade vai fazer o trabalho para mim. Vai ler a sua mente. E me passar as sequências dos símbolos certos. Assim, posso brincar de deusa com a Sky Fortress.
Tentei dizer alguma coisa. Um grito. Um insulto. (Um não). Mas só saiu ar. Nem raiva meu corpo conseguia demonstrar mais. Ou melhor, a minha cabeça, já que era só o que eu podia mover agora...
J (agachando pra ficar na altura do meu rosto): E se ele não fizer isso...
Ela começou a sussurrar, como quem conta um segredo:
J: ...Eu vou te transformar em pedra de novo... E depois te jogar de cima dessa nave. Vamos ver se uma estátua resiste ao impacto de mil metros de altura...
Gallade fechou os olhos.
Eu tentei... Tentei mesmo mandar um "não faz isso" mentalmente. Mas no olhar dele... Eu vi.
Ele não queria.
Mas ele tinha que fazer.
E o pior?
Eu entendi.
***
J agora tinha tudo o que precisava.
Com o Involito em mãos, e os padrões arrancados à força da minha mente, ela começou a traçar os símbolos no ar, com uma precisão irritante. Como se tivesse treinado a vida inteira pra isso. Como se aquilo nunca tivesse sido meu... Só meu...
E foi então que aconteceu.
Cada vez que o símbolo era concluído, uma luz piscava no centro do aparelho... E no interior da Sky Fortress, os fótons eram recebidos.
Do lado de dentro da barreira, um clarão azulado se expandia... E um Pokémon surgia, teletransportando em segurança para dentro da barreira. Se um Pokémon do lado de fora tentasse usar o movimento Teleporte para pular para dentro, isso simplesmente não aconteceria. Apenas a luz pode penetrar aquele invólucro sagrado, e é justamente com luz que os involitos são desenhados! O plano dela era de mestre! Mestre do crime...
Um a um, os Pokémon foram aparecendo, conforme seus símbolos únicos eram desenhados com luz através da barreira. Vários deles começaram a surgir, enfileirados lado a lado... Como se fossem soldados numa tropa convocada para a guerra. Eles piscavam os olhos, confusos, analisando o ambiente ao redor.
E então...
Garchomp.
O MEU Garchomp.
Eu gritei. Com a voz, com o corpo, com a alma.
Jade: NÃO! NÃO OBEDEÇAM ELA! NÃO É PRA ELA QUE VOCÊS TRABALHAM! NÓS SOMOS OS PARCEIROS DE VOCÊS! NÓS, OS RANGERS!
Mas... Já era tarde.
O código que a Nema programou funcionava perfeitamente: Qualquer Pokémon invocado pelo Involito criava um laço instantâneo com quem havia traçado o símbolo.
E agora... Esses Pokémon eram DELA.
J (rindo): Olha que coisa mais fofa. Eles já me amam!
Ela apontou pra barreira.
J: Destruam.
Foi como ver a história sendo apagada a socos.
E a cartada final foi dele... Com um uivo grave, Garchomp canalizou uma Garra de Dragão direto no núcleo da barreira.
Num piscar de olhos, o que era uma muralha indestrutível virou poeira estelar, espalhada pelo vento em partículas brilhantes. O campo de força desabou e a entrada foi desobstruída.
J (com o tom mais satisfeito do universo): Agora sim... Vamos pousar.
E com um gesto quase casual, como quem chama o táxi, ela ordenou:
J: Leve-nos pra dentro da Fortaleza.
O metal da nave rangeu enquanto os motores se inclinavam e a aeronave começou a descer.
Eu ainda gritava. Mas ninguém escutava.
Ou pior...
Ninguém mais obedecia.
***
A Sky Fortress era ainda mais insana por dentro do que por fora.
Paredes de pedra que lembravam castelos medievais Poké-europeus como eu nunca havia visto antes! J subiu os andares como se estivesse entrando em sua própria sala de estar. Estava em casa.
Chegando ao topo do castelo, no centro de comando, ela posicionou as mãos em uma alavanca central e automaticamente, a estrutura que havia ficado parada por séculos em uma única posição no céu de Oblivia, começou a tremer toda...
E aí ela fez o que ninguém achou que fosse possível.
Moveu a Fortaleza.
Ela tirou aquela coisa do ponto onde havia sido selada há nem sei quantos "centos" de anos e colocou pra voar livremente pelos céus de Oblivia. Como se não bastasse destruir aquele templo antigo, agora ela queria desfilar por aí, ostentando seu feito.
J: Acabou a brincadeira.
Foi quando ela estalou os dedos, com puro desdém, e os compartimentos de contenção se abriram.
Todos nós fomos jogados no chão como sacos de lixo.
Corpos moles, ossos ainda meio duros da petrificação. Eu não conseguia nem sentir meu próprio ombro. Ben tossia. Summer olhava em volta, sem entender onde estava. Murph... Bem, ele ainda tava desacordado e pelo jeito como babava, tenho certeza que estava sonhando com a Rhythmi, sua paixonite de infância por quem ele era caidinho até hoje...
J: Vocês já não servem pra mim. Façam bom proveito da vista... Enquanto ainda há chão lá embaixo.
Eu rolei no chão e apoiei o rosto no braço. Meus pulmões ardiam. Mas a raiva queimava ainda MAIS.
Jade: Isso não vai ficar assim.
Foi nesse instante que um trovão estourou no céu. Alto. Seco. Como se o próprio universo tivesse perdido a paciência.
E então...
Um raio.
Um único raio. Mas tão forte que partiu um dos pilares da fortaleza ao meio. A estrutura inteira se inclinou como se tivesse levado um gancho no queixo. Uma fumaça se instaurou, conforme os blocos de pedra iam se desgrudando das paredes e se esfarelando no chão. Os capangas de J correram de um lado pro outro feito Zubats desorientados.
J: O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! ALGUÉM ME DIZ O QUE ESTÁ ACONTECENDO!
A fortaleza começou a cair.
Lentamente no início... Depois, como se tivesse sido puxada por gravidade demais.
Ela tombava como um avião com os motores apagados, meio que de lado, deixando tudo ainda mais vertiginoso.
J se agarrou a uma pilastra, enquanto meu Involito escorregou de seu pulso e caiu no chão. Eu me levantei com as forças que me restavam e corri até ele. Os capangas gritavam.
E aí... Eles apareceram.
Solana.
Lunick.
Spenser.
Kate.
Kellyn.
Keith.
Crawford.
Todos trajando o vermelho, preto, branco e amarelo comum em seus uniformes. Todos com seus Stylers acesos. Todos de pé, nos Z.Z. Flyers, veículos aéreos dos próprios "Pokémon Pinchers", que os Rangers se apropriaram depois que Ben e Summer desfizeram a quadrilha de mercenários.
J os viu e arregalou os olhos como se tivesse visto um Celebi dando tchau.
J: COMO?! QUANDO FOI QUE VOCÊ PEDIU REFORÇOS?! VOCÊS ESTAVAM TODOS PETRIFICADOS ATÉ DOIS MINUTOS ATRÁS!
Fiquei de pé, respirando fundo. Sentindo as pernas ainda bambas. A adrenalina batia como tambor no meu peito.
Jade: É. E a gente tava mesmo.
Levantei o rosto. Olhei bem nos olhos dela. Sorri. Devagar.
Jade: Mas eu sabia que meu telefone tava grampeado. Que você tava ouvindo cada palavra...
Ela cerrou os dentes.
Jade: Então ainda de manhã... Antes de tudo isso... Eu passei uma mensagem codificada pro Kellyn. Uma que você não conseguiu decifrar, mas que o meu amigo aqui entendeu CERTINHO!
Kellyn sorriu lá do fundo da sala e levantou o Styler.
Kellyn: Eu peguei NA HORA!
...
Kellyn: Alô?
Um Ranger nunca atende uma ligação dizendo alô. Nós dizemos: Ranger, Câmbio. Kellyn só respondeu assim porque eu falei "alô" primeiro. Um claro sinal de que havia algo errado. Além disso, aquele era um horário que eu NUNCA telefonava, porque sabia que Kellyn estava indo pro trabalho, mais um motivo para suspeitar de que boa coisa não era...
Jade: Kellyn? Como você está?Kellyn: Jade! É você?! Cara, que surpresa! Eu jamais imaginei que seria você ligando!
Era mentira. Nos falávamos praticamente todos os dias. Ele foi sagaz... E foi aí que a comunicação "cifrada" teve início.
Jade: É, eu sei... Eu tenho sido um péssimo amigo... O trabalho tem me mantido ocupado e isso me afastou de vocês. Perdão pelo sumiço...
Mentiras e mais mentiras. Kate, Kellyn e eu ainda éramos muito, muito próximos. Eu sabia TUDO sobre a vida deles, e eles, sobre a minha. Não havia segredos entre nós. Mas é claro que eu não podia deixar isso claro na ligação. Não sabendo que tinha mais alguém ouvindo, alguém que não podia saber que eu estava pedindo reforços...
Kellyn: Relaxa, Jade... É a vida adulta. Sei como é. O dever vem em primeiro lugar!Jade: Esse é o lema dos Rangers, não é?
Mencionar o lema dos Rangers significa que aquela ligação está sendo grampeada. É um código nosso. E também pode significar que estamos em MISSÃO, ou seja, que aquela não era apenas um bate-papo casual.
Jade: E aí, como está a Kate?Kellyn: Ela finalmente conseguiu uma vaga com os Patrulheiros de Shiver Camp, após anos tentando passar no concurso, sem sucesso.
Aqui, Kellyn estava me OFERECENDO soldados de Shriver Camp. Era verdade, Kate trabalhava lá, então ela podia enviar esses soldados rapidinho para Oblivia...
Jade: Uaaau! Fico muito feliz por ela!Kellyn: É, a Kate também está muito feliz! Agora a perspectiva é que talvez em torno de 10 a 12 anos, ela possa subir um degrau acima e se tornar uma Top Ranger.Jade: DEZ A DOZE ANOS?!?!?!Kellyn: É... É um trabalho que exige experiência... Muita experiência.
Dez a Doze Rangers para virem me ajudar.
Jade: Mas e você, Kellyn? Como está o serviço aí?
Recusei. Eu queria que o KELLYN viesse, e não um banco de Rangers que eu tinha pouco, senão NENHUM contato.
Kellyn: Ah, você sabe... Logo que eu me formei, fui recrutado pelos Rangers de Vientown e estou em campo desde então. Já sou um Ranger Nível 10 e tenho a impressão que o Barlow gosta de mim, então espero ser promovido em breve.Jade: Nossa... Promovido para qual cargo?Kellyn: Para Top Ranger, ué.
Aqui, ele estava me perguntando se eu necessitava de um Top Ranger, o nível mais alto dos Rangers, pois ele sabia que eu estava em uma missão ultrassecreta de desenvolver o novo e mais precioso Capture Styler para o alto escalão da Ranger Union.
Jade: Mas você recém não disse que é um cargo que exigia de 10 a 12 anos de experiência?Kellyn: É, mas acho que eu sou um cara de sorte.Jade: Sorte? Não, acho que você só é um "cara"...Kellyn: O quê?Jade: Nada, não. Mas e aí, como estão as coisas? O que anda fazendo?
Reiterei. Não. Eu não quero os Rangers de Shriver Camp. Eu quero ELE.
Kellyn: Ahn... Tem uma coisa que eu gostaria de te contar e não sei como será a sua recepção quanto a isso, mas... Fico feliz que tenha ligado, assim eu posso tirar esse peso da consciência e me abrir com você.Jade: Iiihh... Lá vem pedrada! O que é? Fala logo, eu sou curioso.Kellyn: Kate e eu estamos namorando...
Como se eu não soubesse... Aqui, ele estava me dizendo que a Kate estava junto dele na hora da ligação e ouvindo tudo.
Jade: Ora, Kellyn! Mas isso é uma ÓTIMA notícia! Por que você teria receio de me contar?!
Eu disse que estava tudo bem, e que era ótimo que ela estivesse por ali, junto, pois eu também queria que ela viesse.
Kellyn: Ah, sei lá... É que a gente já passou tanto tempo junto que talvez essa minha aproximação repentina com a Kate pudesse tornar as coisas meio estranhas, sabe...? Prejudicar a nossa amizade. Então, eu estava com medo de te contar.Jade: Que bobagem! Eu fico muito feliz por vocês! Ao menos para alguém, as coisas têm que dar certo de vez em quando, não é? Hahaha!
Dar certo de vez em quando... Foi uma maneira de eu dizer que estava tudo dando ERRADO e que por isso eu precisava da ajuda deles.
Kellyn: É... Acho que sim! Kate e eu estamos pensando em nos mudar para um rancho.
Nos "MUDAR"... Kate deve ter dito para ele, do outro lado da linha, que estava disposta a se locomover para Oblivia, me ajudar.
Jade: Um rancho?Kellyn: É, uma fazendinha pequena, assim como a irmã dela, para que possamos deixar os nossos Pokémon, agora que temos mais que um ou dois Partners (parceiros). Assim, eles poderiam viver soltos na natureza.
Kellyn estava dizendo que traria seus Pokémon junto. Todos eles.
Jade: É para isso que eu estou trabalhando no Modelo Involito do Capture Styler! Inclusive, hoje é o dia que os Beta Testers irão experimentá-lo pela primeira vez. Por isso eu estou te ligando, para contar a novidade!Kellyn: Uau! Isso é incrível! Quer dizer que o protótipo já está pronto, então?
Jade: Exatamente. Agora vou deixar que a minha equipe de beta testers utilizem o Styler por algum tempo para identificarem bugs, pequenos problemas e sugerirem melhorias. Feito isso, nós trabalharemos para corrigir os erros e aperfeiçoar o aparelho, e a partir daí, dispará-lo para o mercado. Em breve, muito em breve, devemos estar lançando.
Essa era uma informação real, uma informação que eu sabia que quem quer que tivesse grampeado o meu telefone, estava esperando por.
Kellyn: Isso é incrível! Eu fico sem palavras! Você é demais, cara! Quando o produto sair, quero ser o primeiro a comprar!Jade: Que comprar, o que?! Quando você e a Kate se mudarem para o rancho, eu levo um para você e um para ela, como um presente pela nova casa e a nova vida juntos.
Kellyn queria saber se o "problema" tinha alguma relação com o Styler. E eu disse que sim. E confirmei que ele e Kate deveriam vir para cá, para sua nova "casa" (Oblivia) em função desse problema envolvendo o Modelo Involito.
Kellyn: Ah, Jade... Você é demais, cara!
Sou mesmo. Eu arquitetei tudo aquilo, desde o princípio. E aqui, Kellyn me confirmou que entendeu tudo, e que o esquema estava combinado!
...
Jade: Sabe o que é mais irônico, J?
Apontei pra ela.
Jade: Meu Styler... Que não foi petrificado... Tava no seu pulso o tempo todo. Foi por meio dele que eles rastrearam a nossa localização.
O silêncio foi quase bonito.
Só que foi quebrado logo em seguida... Pelos motores explodindo.
A Sky Fortress começou a ruir.
E dessa vez... Ela não ia voar de novo.
A Sky Fortress já tremia como uma lata velha prestes a despencar. Mas J ainda não tinha desistido. Ela arrancou a Pokébola do coldre com tanta força que quase a quebrou.
J: VÃO! ACABEM COM ELES!
De dentro da névoa metálica, surgiram Ariados, Drapion e Salamence, este último abrindo as asas no meio da sala de pedra e soltando um berro que rachou parte do teto já danificado.
E então vieram os capangas.
Uma horda de Golbat saiu voando pelos dutos de ventilação da fortaleza como um enxame de morte. Uns dez? Vinte? Eu perdi a conta. Tudo o que via eram asas e presas.
Mas não estávamos sozinhos.
Me ergui, o braço firme apesar da exaustão, e com o Involito agora em mãos, ordenei:
Jade: Vai, Garchomp! Hora de mostrar quem manda aqui!
Solana: Plusle, bora acabar com esse Ariados nojento!
Lunick: Minun, juntos de novo, parceiro!
Kate: Chimchar, é agora ou nunca, vai com tudo! Fogo nessis mizerávi!
Kellyn: Piplup, Munchlax! Mostrem o que sabem fazer!
Spenser: Fearow, fúria total, sem dó nem piedade!
Crawford: Budew, me dá uma força aqui, pequenina!
Keith: Floatzel, mostre por que você é o mais rápido da região!
Ben: Ukulele, toque!
Summer: Brilha, Pichu!
A sala virou um caos de luz e som.
Garchomp avançou como um raio contra Salamence, os dois se chocando no ar com um estrondo que quase nos derrubou.
Plusle e Minun trabalharam juntos como sempre, dispararam envoltos em uma carga elétrica conjunta direto nas patas do Ariados, que gritou e recuou.
Chimchar soltou sua Chama Furacão no meio da horda de Golbat, abrindo caminho entre as asas cortantes.
Piplup congelava as asas dos inimigos com uma rajada criogênica enquanto Munchlax derrubava os que se aproximavam com socos desajeitados, mas eficientes.
Fearow mergulhou em picada e acertou Drapion com um Drill Peck bem no olho esquerdo, enquanto Budew disparava esporos paralisantes pelo ar, paralisando os Golbat.
Floatzel rodopiava com o Vento Cortante, derrubando três Golbat de uma só vez.
Os dois Pichu, de Ben e de Summer, se uniram num raio sincronizado que varreu o campo como uma explosão de trovões dançantes. Até mesmo Drapion tremeu na base e cambaleou.
Mas foi aí...
Que a explosão final aconteceu: Apontei para o céu e Garchomp entendeu. Não havia misericórdia que chegasse a tempo para os vilões...
Do centro da Sky Fortress, veio um rugido surdo, profundo, como o estômago de uma montanha prestes a vomitar magma.
A estrutura inteira começou a colapsar.
Um pedaço da parede voou. A sala de comando ruiu parcialmente. O chão rachou.
J: NÃO! NÃO AGORA! NÃO DEPOIS DE TUDO!
Mas era tarde.
A fortaleza, enfraquecida por dentro, não aguentou o próprio peso.
Com um último gemido metálico, começou a despencar em velocidade máxima.
E desabou.
Lá de cima, todos vimos os destroços se partindo em milhares de pedaços. A Sky Fortress mergulhou em queda livre, se estilhaçando conforme atravessava as nuvens em direção ao mar.
E então...
O impacto.
O Mar de Corais de Oblivia engoliram o que restava. Explosões submersas iluminaram a superfície. Vapor subiu aos céus.
A Sky Fortress afundou. E com ela, nós também fomos.
Silêncio.
E então... Só o som do vento.
***
A sala estava iluminada pelo sol da tarde entrando pelas janelas amplas. O cheiro de maresia ainda se infiltrava pelas paredes, lembrando que Oblivia era, antes de tudo, meu mais novo lar...
Estávamos ali — eu, Ben, Summer, Nema, Reddy, Bluey e Lilac, mas também meus antigos companheiros de jornada por Fiore e Almia... Todos de pé diante da mesa central. Ainda estávamos um pouco machucados, com marcas da batalha e da queda... Mas vivos! Completos. Vitoriosos. E era sobre isso...
O Professor Hastings tirou a cartola com seus dedos decrépitos e pigarreou antes de abrir a maldita boca. Mas dessa vez não foi para falar nenhuma atrocidade. Ele não teve alternativa se não nos elogiar.
Hastings: Meus sinceros agradecimentos. O que vocês fizeram hoje... Foi histórico! Prender a Caçadora J e seus capangas... É algo que a Polícia de Sinnoh vem tentando há anos!!! Vocês sucederam onde outros falharam.
Ben: E tudo graças à genialidade do Jade!
Summer: Eu jamais conseguiria ter feito tudo o que ele fez por telefone! (E olha que eu passo HOOOOORAS com as minhas amigas na linha...)
Hastings: É... Graças a "genialidade" do Jade...
Ele disse "genialidade" meio que caçoando de mim.
Hastings: MAS, ele se colocou em risco ao não aceitar o reforço dos Guardas de Shriver Camp... E o PIOR: Colocou TODOS VOCÊS em risco!!! Bem como o futuro da missão. O Involito podia ter sido roubado, copiado ou sabe-se lá mais o quê, por aqueles mafiosos... Você sempre acaba me trazendo dor de cabeça... É incrível...
Ele fez uma pausa dramática, como sempre. Porém, eu já sabia onde aquilo ia parar... Então, antes mesmo que ele puxasse aquela desculpa velha, fui mais rápido.
Jade: É. Mas não deu em nada, não é? Eu consegui, eu venci, eu triunfei e capturei, com a ajuda de todos os meus amigos, a Caçadora de Pokémon mais procurada do Japão, e é por isso que meu nome vai estar no lançamento do Capture Styler: Modelo Involito. Sim, senhor! Nada vai me impedir...
Coloquei o dedo no nariz dele. Literalmente. Encostei na ponta daquele faro de bruxa do velho de cabelos encardidos (não dava para chamar de brancos) e o empurrei para trás, de leve.
Jade: Achou ruim? Amanhã Gabby e Ty estarão batendo na sua porta, o perseguindo para uma entrevista em rede nacional...
A sala congelou por um segundo. Hastings arqueou as sobrancelhas como se tivesse levado um tapa. Abriu a boca, mas Ben logo se adiantou, cruzando os braços com um sorriso de canto.
Ben: Eu assino embaixo. Sem o Jade, a gente nem estaria aqui.
Summer: O Involito só existe porque ele teve coragem de acreditar numa ideia absurda. A gente devia é dar o crédito que ele merece...
Booker, que tava escorado na parede com os braços cruzados, soltou uma risadinha seca e se adiantou com a típica calma de quem não precisa provar mais nada pra ninguém. Muito menos para seu irmão mais novo, a quem ele não baixa a cabeça mesmo agora que trabalha para a Ranger Union...
Booker: Irmãozinho... Já tá mais do que na hora de parar de subestimar o garoto. Subestimar e IMPLICAR. Você sabe que ele é mais do que bom, você sabe que ele merece...
Summer: Sinto muito, Professor. Mas desta vez, o senhor não tem razão.
Ben: O senhor está buscando razões para condenar Jade, sendo que foi ele quem salvou o dia. Para mim, não faz o menor sentido!
Hastings bufou. Encarou o chão. Ajeitou o chapéu e a bengala, e...
Baixou a cabeça.
Hastings: Muito bem... Faça como quiser... Guarda Jade.
Aquilo ali... Valeu bem mais que qualquer cerimônia oficial.
Virei pros meus amigos. Olhei um por um. Nema já tinha lágrimas nos olhos. Summer sorria feito criança. Bluey e Lilac batiam palmas discretas, Reddy fazia pose de quem já esperava por aquilo.
Solana: Esse é o Jade que eu conheço...
Lunick: Correção! Esse é Jade que a gente VIU NASCER!
Kellyn: É por isso que eu admiro tanto... Ele nunca se entrega!
Kate: Esse guri ainda vai longe! Vai longe...
Jade: Já fui, Kate.
E então...
Eu os abracei.
Todos juntos, ali no centro da sala, numa mistura desengonçada de corpos e risadas. A tensão foi embora. O peso, também. Só sobrou o alívio... E o orgulho!
O Involito funcionou. A missão foi um sucesso. E finalmente... Eu me sentia em paz.
E depois de tudo isso, com a Caçadora J e seus capangas sendo mandados para a prisão de segurança máxima em Fiore, e eu finalmente podendo lançar o novo Styler, eu percebi que aquele não era o fim...
Era apenas o começo do algo muito maior.
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