Pokémon Laços: Teal & Indigo - O Disco Índigo, o "Filme" - INTRODUÇÃO (Vs. Crocalor)


Não recomendado para menores de 18 (dezoito) anos
Pode conter: Pessoas que se vestem com roupas do gênero oposto, algo inofensivo, isto é, que não causa mal para ninguém, que não causa a morte de ninguém, que não causa doenças ou patologias a ninguém, que não discrimina ninguém, que não nega ou viola os direitos de ninguém, mas que por alguma razão (coff, coff - preconceito) para algumas pessoas, pode ser considerado deveras inapropriado que menores de 18 anos saibam da existência dessas pessoas e aprendam a conviver e respeitá-las... .... ....
Dito isto, seguimos adiante para o capítulo...

INTRODUÇÃO
(Vs. Crocalor)

2005, 1º Semestre

Teatro... O único lugar do mundo onde você pode ser a pessoa mais pobre do mundo e ainda assim, morar em 5 países diferentes... Onde você pode ser idoso e ainda frequentar o jardim de infância. Onde você pode ser humano e também ser animal. Onde você pode ser bonzinho e pagar de vilão. Onde você pode ser homem e ainda assim, também ser mulher...

A arte drag e o teatro se entrecruzam de diversas maneiras. Afinal, Violet, la Violent, é uma personagem e como bom ator, é meu papel sustentá-la, fazer o público acreditar que ela é mais do que apenas uma invenção da minha cabeça, que ela é real. É preciso demonstrar presença de palco, torná-la viva, um ser "respirante" tanto quanto aqueles que estão do outro lado, assistindo-a. É objetivo encantar, e para encantar, é preciso convencer!

Mas eu ainda sou iniciante quando o assunto é ser drag. Há seis meses atrás, eu era ninguém. Não me entenda mal, eu sempre fui muito chegado às artes, sempre estudei música, desde que me lembro. Quando eu tinha três anos de idade, toquei meu primeiro Mozart. Mas até então, eu estava meio perdido. Não sabia que rumo seguir. Eu havia me matriculado na Academia Pokémon, na Região de Paldea, e ingressado como membro da Equipe Uva, mas... Eu não sei. Eu nunca me senti especial. Sempre me senti um excluído. Sempre me senti um "outro", mesmo diante de minha família, mesmo diante de meus colegas, de meus professores... Da sociedade, como um todo.

Eu sou um homem cisgênero, isto é, eu me identifico com o gênero que foi designado em meu nascimento, de acordo com as minhas genitais. E até aí, tudo bem. Mas o fato é que eu me assumi como uma pessoa assexual, o que causa, de certo modo, repulsa por parte de alguns, especialmente do meu pai. Assexual é o indivíduo que não sente atração sexual ou necessidade de ter relações sexuais. E isso foi um baque para a minha família, muito porque minha mãe sempre quis ter netos, e eu, como filho único, tinha essa missão (ao menos na cabeça dela). Meu pai, por outro lado, acha que eu sou gay e estou tentando esconder. E estaria tudo bem se eu fosse. De verdade. Mas não é o que eu sinto. Eu não sinto, de verdade, vontade alguma de me relacionar sexualmente com ninguém, nem com homens nem com mulheres nem com ninguém! ... ....... .... E está tudo bem... Não é porque nós vivemos em uma sociedade hipersexualizada que todos têm que gostar de sexo. Eu só... Estou bem comigo mesmo, embora eu gostaria que as outras pessoas também estivessem. Mas elas ainda me olham torto quando eu falo sobre isso, então... É, eu me sinto meio que estranho. Meio alienígena.

E foi nessa de me sentir deslocado que eu descobri que o sangue que carrego em minhas veias, o legado da família Yellow, não era assim tão puritano como meus pais tentavam me convencer. Eu descobri que, no Japão, alguns parentes vivos meus tinham manifestado superpoderes. Infelizmente, mesmo vivendo no Mundo Pokémon, seres humanos que possuem capacidades além do comum ainda são julgadas. Ainda há um estigma muito forte em torno de tudo o que é "diferente". Então, pensando nisso, resolvi encontrar esses meus parentes em uma viagem de estudos que fiz para a Terra de Kitakami. O passeio foi uma loucura, mas ao menos serviu para que eu tirasse a venda de meus olhos e descobrisse o que estava debaixo do meu nariz o tempo todo: a minha voz.

Então, minha vida virou de cabeça para baixo. De lá, fui fazer um Intercâmbio na Blueberry Academy, em Unova, onde ingressei no Clube de Música e rapidinho acabei me tornando Líder de Ginásio, logo após a virada de ano. É, eu sei. Muitas oportunidades vindo todas de uma vez só... Sim, é inacreditável! Muitos dizem que eu nasci com a bunda virada para a lua, mas se eu tenho mesmo sorte, eu não sei. Do lado de cá, as coisas não são tão fáceis quanto parecem. Mas agora que eu sei que, como qualquer outra pessoa, eu SOU especial e eu tenho o direito de me sentir assim, nada mais vai me parar. Nada vai me impedir de fazer o que eu nasci para fazer: BRILHAR.

É neste contexto que nasce Violet, la Violent. Uma persona tão incrível a qual eu posso me transformar para tocar a mente, alma e coração daqueles que me assistem, com meu bem mais precioso: a minha voz. Violet é incrível! Ela é uma super-heroína e uma cantora, ao mesmo tempo. Então, além de possuir superpoderes, ela tem talento. Eu escolhi esse nome porque... Bem, VIOLETA é a cor complementar do Amarelo, e a Violet é o que me complementa. E se você acha que o jogo de palavras que dá origem ao nome dela é um indício da mesma ser uma pessoa violenta, você está enganado: Violet tem uma MÚSICA violenta. Ela só mata com bondade.

Mas tem um porém... Ela é uma drag. EU sou uma drag. Isso quer dizer que para dar vida a Violet, eu preciso me transformar. E eu vou de menino para menina em instantes. Eu brinco que é "mágica" quando me perguntam como eu faço isso, mas é tudo truque de maquiagem, roupas, enchimentos e proporções corporais. E claro, eu uso a mesma tecnologia dos Poké Rides de Alola, que me permitem trocar de roupa quase que instantaneamente, mas isto é um mero artifício.

Drag é a expressão da feminilidade no exagero e na subversão dos estereótipos, na teatralidade e na performance do ser mulher. Mas existem também os Drag Kings, que são pessoas que personificam estereótipos de gênero masculino... E ainda, Drag Queers, que personificam características andróginas e não-binárias. A Arte Drag é, literalmente, calçar as botas da coragem e subir ao palco para cantar e encantar através da atuação, de ser tudo aquilo que o mundo disse que você jamais poderia ser...

O que me atrai na arte drag é que ela é para todos... Engana-se você se pensa que drag queen é apenas um homem se vestindo de mulher... Não, não, não. Uma Drag pode ser um homem cisgênero, assim como eu e assim também como a Glória Groove. Mas uma Drag pode ser um homem trans, como Gottmik. Uma Drag pode ser uma mulher cisgênero, como Chappell Roan. Uma Drag pode ser uma mulher trans, como Sasha Colby. E uma Drag pode ser uma pessoa não-binária, como Morphine Love Dion. Uma Drag pode ser qualquer pessoa, afinal, Drag é uma performance, uma encenação que está ali para entreter e te fazer acreditar que é real, e cá estamos nós novamente falando sobre Teatro.

Drag Queens/Kings/Queers são artistas. Pessoas multitalentosas, de diferentes áreas... Elas(es) podem ser atrizes/atores, comediantes, performers, apresentadoras(es) de tevê, lip syncers, ou quem sabe, assim como eu: cantoras/cantores. Infelizmente, algumas pessoas ainda veem isso com maus olhos. Mas isso é algo que eu não entendo: como a roupa que o outro está usando pode ser algo que causa tanta revolta?! Digo, como um pedaço de pano aliado a uma boa atuação pode causar tanto ÓDIO no coração das pessoas? Como que uma veste pode ser nociva? Eu nunca vi pedaços de roupa causarem guerras. Nunca vi pedaços de roupa causarem doenças. Então por que as pessoas ainda se abalam TANTO quando veem um homem vestido "de mulher" ou uma mulher vestida "de homem"? Gente, é só pano... E pano é pano. Ninguém é obrigado a usar o que o outro está vestindo. Só porque eu me visto assim, não quer dizer que agora todo mundo tenha que se vestir. Não é assim que as coisas funcionam. A arte drag nunca foi sobre IMPOSIÇÃO, mas sim sobre aceitação, crítica social e desconstrução. As drags não arrastam ninguém e obrigam esta pessoa a se tornar drag com elas... Não. E se assim você acredita, parabéns, você ainda está vivendo na Idade Média, em pleno Século XXI.

São estas pessoas, as que acham que podem impor a sua opinião sobre os outros, as que você deve temer!

E é com ELAS que eu me preocupo. Hoje está acontecendo um evento muito, mas muito especial no Terarium, a instalação subaquática com 4 diferentes biomas, no interior da Blueberry Academy. Hoje está acontecendo o 5º Torneio do Disco Índigo, um torneio que visa determinar um equilíbrio de forças entre as duas Ligas Pokémon que ocorrem em Unova: a oficial, espalhada pelas cidades da Região, e a da Blueberry Academy, que se dá inteiramente no interior da Escola. E eu fui chamada para tocar neste evento. Esta é a primeira vez que eu me apresento para o público da escola, então, estou com um friozinho na barriga. Embora eu tenha confiança em mim e na minha banda, eu nunca sei o que posso esperar das pessoas... E eu sempre penso no PIOR.

Quando eu olho para a minha banda, isto é, quando eu olho para os MEUS Pokémon... Eu me sinto um pouco mais calmo e seguro, pois sei que eles entendem a minha maneira de me expressar e sabem que a minha arte fala sobre amor e aceitação, fraternidade e união, e não o que quer que esses intolerantes pensam que ela fale.

Oh, eu acabo de me lembrar que eu acabei falando muito sobre a Violet e não falei nada sobre a banda, não é? Pois bem... Ela é composta por seis membros. O primeiro, é claro, é Crocalor.

Quando eu vim para a Blueberry Academy, meus únicos parceiros Pokémon eram Fuecoco e Miraidon, mas conforme eu fui ascendendo nos estudos, eu fui me aproximando de mais e mais Pokémon, que hoje formam a banda "Os Desajustados". O nome não poderia combinar melhor. Era como eu... Como NÓS nos sentíamos antes. Mas agora que estamos todos juntos, "os desajustados" fazem os outros dançarem, e sorrirem e cantarem, se alegrarem, pularem, esquecerem-se dos problemas... Nós agora somos Astros e Estrelas. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Crocalor canta junto comigo. Ele alcança notas que nenhum ser humano é capaz de emitir, então é sempre muito bom tê-lo ao meu lado. Miraidon, que me carrega em suas costas desde a Região de Paldea, faz um show pirotécnico com suas faíscas, e isso sempre deixa o público entusiasmado.

Vibrava amplifica o som com seu bater de asas, garantindo um volume muito mais alto e um alcance maior de nossos microfones... Já Kricketot é um instrumentista nato. Suas antenas, quando esfregadas uma contra a outra, produzem um som mais doce que o de um violino. Quando está bravo, porém, o som fica mais grave, como o de um violoncelo.

Brionne usa suas bolhas coloridas para animar, mas ela também canta com uma voz de soprano e bate palmas no ritmo das músicas, o que sem sombra de dúvidas é de grande ajuda para...

...Thwackey, o percussionista da banda, que toca bateria.

Logo que eu entrei na Blueberry Academy, aquele sem noção do Drayton e seus colegas veteranos quiseram dar um trote em mim. Você sabe... O aluno intercambista que fala um idioma diferente, "por que não zoá-lo, um pouco?" Eles me soltaram no Terarium à meia-noite e disseram que só me deixariam voltar para o dormitório se eu saísse de lá com um "Pokémon Inicial" capturado.

Voltei de lá com três. Claro, o Fuecoco já era meu, mas eles não sabiam. A Popplio e o Grookey, por outro lado, eu capturei sozinho, na calada da noite. Eu nunca vou me esquecer da cara que eles fizeram quando perceberam que eu tinha me sobressaído no seu desafiozinho de merda...

Mas cá estamos nós hoje... Eu me tornei uma Líder de Ginásio da Liga BB. E não qualquer uma, mas a última, ou seja, aquela que é mais forte dentre todos os outros, perdendo apenas para a Elite dos 4. E também sou uma super-heroína e uma superstar. Acho difícil encontrar alguém que me supere. Não que eu seja superior a ninguém, nem nada do tipo, mas quando você cresce se sentindo uma pessoa diferente, uma pessoa "estranha", você aprende que precisa se dedicar ao máximo para conseguir ter uma vida melhor, uma vida no mínimo digna, como é para a maioria das outras pessoas. Então eu me esforço dia e noite em busca de excelência.

Eu não aceito falhar. Em contrapartida, eu me culpo demais quando isso acontece. Mas o meu medo hoje não é esse. Minha maior insegurança é performar vestido de mulher, em frente à escola toda, e ser vaiado. Como eu disse anteriormente, eu sei que roupas são apenas roupas, mas... Será que os OUTROS sabem? Será que não vão fazer o mesmo que os meus pais e meus colegas da Academia Pokémon lá em Paldea, fizeram comigo? Meu coração bate mais rápido, só de pensar nisso. Falta 15 minutos para o show, e eu estou suando frio. A maquiagem está perfeita, eu sei. O cabelo está impecável, eu sei. Mas e eu? Será que eu estou pronto para entregar ao mundo uma drag confiante e sorridente, que consegue se empoderar e seguir adiante mesmo se tudo der errado? Será que eu estou pronta para ser a super-heroína que eu me propus a ser?

O meu nome é Lang, mas hoje eu subo no palco sendo chamada de Violet... E seja o que Arceus quiser.

Postar um comentário

0 Comentários