A Vida e a Jornada de Ash Ketchum #7 = Eu Estava Vivendo uma Mentira! Delia e Mimey!

Ash Ketchum nunca esteve mais feliz. Um ano se passou desde que ele iniciou sua jornada e formou seu primeiro time de Pokémon, mas suas inocentes e despretensiosas aventuras por Kanto foram só um prólogo, um pontapé inicial do que estava por vir.


Mesmo tendo se passado tão pouco tempo, agora com 11 anos, quase 12, Ash já coleciona muitas histórias para contar... Em suas aventuras iniciais pela sua Região Natal, em busca das famosas Insígnias de Ginásio, o garoto pode enfrentar diversos treinadores formidáveis... Dos mais justos e nobres...




...Até os mais cruéis e perversos, que utilizavam os Pokémon como meras ferramentas para atingirem seus objetivos pessoais e privados.





Ao fim de um ano, ele conseguiu coletar as 8 insígnias de Ginásio da Região, mas ele não fez isso sozinho. Fez com a ajuda de seus amigos, os Pokémon, que agora formavam um vínculo excepcional com o garoto, que tanto se importava com eles. Mesmo os mais rebeldes, como Charizard (que parecia gostar de torrá-lo frequentemente com o Lança-Chamas, assim como fazia com seu antigo treinador), tornaram-se verdadeiros companheiros e NUNCA os deixaram na mão.


Durante doze meses de desafios e peripécias, Ash acompanhou seu time crescer e evoluir, à medida que aprendiam novos movimentos e assumiam novas e mais poderosas formas através da Evolução. Bem... Nem todos. Afinal, seu Bulbasaur havia se recusado a evoluir após uma reunião secreta na floresta com um bando de Ivysaur e Venusaur (mas isso é mero detalhe!)...


E não foram apenas os Pokémon que Ash colecionou em seus primeiros momentos de aventura... Não, ele também fez amigos humanos. Amigos esses que Ash viu amadurecerem e brilharem... Misty, a garota reclamona que odiava Pokémon de tipo Insetos, aprendeu a amá-los após conviver com a Butterfree de Ash, e no fim das contas, acabou se tornando aquilo que sempre quis: A mais sensacional das Irmãs Sensacionais, assumindo o posto de Líder de Ginásio da Cidade de Cerulean.


E Brock, que após participar da Conferência da Liga Índigo daquele ano, conseguiu receber a bênção do pai para retornar para casa e assumir o Ginásio de Pewter, agora com conhecimento novo sobre a arte de ser um Criador, adquirido após tudo o que viveu e aprendeu ao lado de Ash e Misty.


Ash não poderia estar mais feliz pelos seus amigos. Inclusive, ele foi a pessoa que mais vibrou na plateia quando Brock e Misty, que de última hora decidiram que enfrentariam a Liga Índigo daquele ano, após serem aprovados no programa de Admissão na Liga Pokémon, sem que precisassem passar por todos os 8 ginásios necessários para entrar na Conferência do Planalto Índigo. Para isso, eles deveriam passar por uma série de provas e exames, garantindo assim uma única insígnia capaz de substituir todas as outras... Mas Ash ZEROU a prova teórica, sendo esta a única Insígnia de Kanto que ele não conseguiu coletar em sua jornada...


Afinal, quem poderia imaginar que aquilo não era um Electrode, e sim, um Jigglypuff visto de cima, não é mesmo?


Mas havia algo em sua jornada que o estava aborrecendo... O jeito como sua MÃE o tratava!!

Desde que Ash saiu de casa, Delia Ketchum enchia o saco do garoto para que toda vez que ele chegasse a um Centro Pokémon, fizesse uma chamada de vídeo com ela. Coitada, ela estava preocupada, afinal, o garoto era apenas uma criança e estava sozinho se aventurando mundo afora, o que poderia (e com certeza era) muito perigoso! Tudo o que Delia fazia era cuidar de seu pequeno Ash. Mas "pequeno" era uma palavra que nosso treinador de Pallet queria evitar. Para ele, ele já era um adulto e deveria ser tratado como tal. Como o próprio dizia "já estavam crescendo pelos no seu peito"...

Contudo, Ash estava LONGE de ser gente grande. Qualquer um que o visse de fora poderia perceber que a obviedade de que ele recém estava engatinhando para fora do ninho. Mas uma vez fora, ele estava começando a achar que era o dono da verdade e que não precisava ser, em suas próprias palavras, "paparicado toda hora".



Eis que, em um dia qualquer, enquanto Ash estava testando a sorte na Rota 21, após um almoço solitário sem a companhia de seus então companheiros de viagem, Brock e Misty, o garoto tem um ideia...


 Pikachu! Eu acabo de pensar uma coisa...
 Pika?!
 A minha mãe tem se sentido muito só depois que eu saí em jornada, então que tal... SE EU CAPTURASSE UM POKÉMON para fazer companhia a ela?
 Pika, pika!
Pikachu sorri, a ideia lhe parece interesse...
 Yeah! É isso o que eu vou fazer! Se prepare, Pikachu! Vamos encontrar um Pokémon e dar a ela de presente!
Ash se levanta e, ao invés de desmanchar a mesa improvisada sobre um tronco, onde estava realizando seu piquenique, simplesmente sai em direção à grama alta, embrenhando-se ao ponto de não conseguir enxergar mais nada a não ser mato até mesmo acima de sua cabeça.

Então, ele bate em uma parede. Uma parede invisível.
 UGH!
 PIKA!
 Pikachu? O que foi isso?!
Ele tateia o "ar" e percebe que há algo ali, uma espécie de campo de força. Quem quer que tenha feito aquilo, estava agora dando gargalhadas da cara de Ash, como se tirasse uma onda da cara do garoto após inadvertidamente esbarrar de cara na barreira.
 GYA HA HA HA HA HA HA!!!
 Olha ali!
Um Pokémon de expressão um tanto quanto feliz está se fartando de rir. Ash não pensa duas vezes.
 Um Mr. Mime! Ele parece fofo. O que você acha, Pikachu?
 Pika!
 É ELE, então!
Ash puxa a pokébola de Blastoise em seu cinto e então, uma batalha contra o Pokémon brincalhão (para não dizer palhaço) começa. Poucos minutos depois, Ash está com um novo parceiro em mãos, contente por agora ter um presente para oferecer à sua mãe.
 É, depois de tantas aventuras, pegá-lo foi moleza! Vamos voltar para casa, Pikachu?
 Pika, pika!
 Aposto que você está com saudade da comida da mãe tanto quanto eu!
A barriga de Ash ronca com a lembrança dos pratos preparados gentilmente por sua amada mãe, mesmo ele tendo acabado de comer. E assim, com a concordância de Pikachu, o garoto pega suas coisas, arruma sua bagunça (conforme orientado pela vozinha do Brock, sempre ecoando em sua cabeça!) e parte em direção a Pallet, onde tudo começou...


>> Um Dia Depois, na Cidade de Pallet...


Ash chega pé por pé em sua casa, localizada na periferia, afastada do centro da cidade, próximo às grandes plantações de arroz que haviam por ali. Seu objetivo era fazer uma surpresa para sua mãe, que ainda não sabe que ele está retornando.


 *Cochichando* Faça silêncio, Pikachu. Vamos dar um SUSTO nela!
 *Concordando baixinho* Pika!
Então, assim de passa pela porta de entrada utilizando uma cópia da chave de casa (que levou consigo quando saiu em jornada), o menino deixa seus sapatos e caminha descalços, fazendo o mínimo de barulho enquanto se arrasta furtivamente para dentro de seu próprio domicílio.
No entanto, assim que se aproxima das escadas que levam para o seu quarto, localizado no andar de cima, Ash ouve um som estranho... Parecia alguém chorando.
 Mãe?
O garoto corre pelas escadas e abre a porta de seu quarto com força, apenas para encontrar sua mãe em prantos sobre sua cama, arrasada.
 ASH!!!
A mulher leva um susto, não queria ter sido pega naquela situação.
 O que houve, mãe? 😨
O garoto se assusta, ele jamais pensou que encontraria sua mãe assim, com olhos inchados e olheiras profundas.
 Oh, Ash!
Delia se levanta e abraça o filho, apertando-o contra o peito. Poderia ser a cena de reencontro mais belo do mundo, não fosse o fato de ela estar desesperadamente chorando, enquanto o filho, agora extremamente preocupado, tenta entender o que está se passando ali.
 Ash, você está bem?
 VOCÊ está bem?! Mãe, o que aconteceu? 😨
 Eu...
Delia limpa as lágrimas com o braço e força um sorriso nada convincente, tentando desviar do assunto.
 Eu estou ótima! Como você cresceu!
 Mãe! Pare com isso! Não minta para mim! O que aconteceu?!
Ash lança a Delia um olhar de desconfiança e a moça, muito abalada psicologicamente, não faz nada senão desmoronar na frente do filho, tornando a chorar.
 F-f-filho... Ash... Eu estava com tanta saudade...
Delia abraça Ash novamente, mas o menino segue desconfiado. Saudades não a fariam chorar daquele jeito.
 Tem mais alguma coisa aí que você NÃO QUER me contar, não é?
Ash olha fundo nos olhos da mãe e Delia não tem escolha senão se abrir com o garoto. Ela dá umas palminhas ao seu lado, no colchão, para que o garoto se sente com ela, e assim, ele o faz.
 Não faz mais sentido eu mentir para você, não é? Você está se tornando um rapazinho... Precisa saber de toda a verdade...
 Hã? Do que você está falando?
 O seu pai, Ash... Ele... Não saiu em uma jornada para se tornar um Mestre Pokémon, como eu sempre te contei. Ele também não deixou o Pikachu para trás para que você o criasse e cuidasse como um Pokémonzinho de estimação... Na verdade, quem o trouxe para dentro de casa, FUI EU. Eu que o capturei e dei para o seu pai te entregar de presente, porque nem isso ele se prestou a fazer!
 Hã?
 Para que você não se sentisse tão sozinho depois de... Depois de...
Delia mal consegue pronunciar aquilo. Ela precisa reunir toda a coragem do mundo para contar ao filho o que ela vinha escondendo do garoto durante todos esses anos.
 Depois de termos sido ABANDONADOS.
 Abandonados?
Ash arqueia uma sobrancelha, em questionamento. A mãe agora sabe que está pisando em um terreno delicado e busca as melhores palavras para contar a verdade ao garoto, sem machucá-lo, ainda que fosse impossível não fazê-lo.
 Ash... Eu quero que ouça com muita atenção o que eu tenho para dizer agora. Eu preciso que você seja forte. Você já está entrando na pré-adolescência e está começando a entender o mundo como ele realmente é. Então, por favor, me promete que não vai brigar comigo, ok?
 Tudo bem! Eu prometo! Mas fale logo, mãe! O que diabos está acontecendo?!
 O seu pai... Ele... Tem outra família!
 O QUE?!?!?!
Os olhos de Ash se arregalam, mas Delia segue em frente, com medo de tropeçar e não conseguir mais continuar contando.
 Na verdade... Nós é que somos os "outros". Quando seu pai se envolveu comigo e me engravidou, eu não sabia, mas... Ele já tinha outra mulher, com quem ele se casou e teve outro filho. É por isso que você herdou o MEU sobrenome, Ketchum, e não o dele...
Ash está paralisado. Ele não sabe como reagir. Ele não sabe o que falar. Ele não sabe se DEVE falar. Ele está simplesmente boquiaberto...
 ... ...... .... .... ...... .... ..
 Ele nunca te assumiu. No começo, quando você ainda era bem pequeno, ele vinha te visitar e trazia alguns presentes, contava algumas histórias (todas invenções, é claro!) sobre como ele era um treinador incrível que vivia por aí em busca do sonho milenar de se tornar um Mestre Pokémon... Quando na verdade, esse tempo todo, ele esteve trabalhando em um escritório de Contabilidade, em uma cidade próxima daqui, rindo e se divertindo com sua mulher e filho.
Ele sempre mandou dinheiro para ajudar a pagar o gás, a luz, os seus alimentos... E eu sei que isso nunca foi suficiente, ele tinha que ter dado mais, ele tinha que ter te dado AMOR, e é claro, tinha que ter contado a verdade! Mas ele nunca foi um homem honesto, nem comigo, nem com a outra mulher. Ela sequer SABE da sua existência! É por isso que, com o tempo, ele parou de vir, mentindo que estava ocupando viajando o mundo... Porque estava ficando cada vez mais difícil para ele manter uma vida dupla, então ele optou por ficar com ela e esquecer que nós existíamos.
Ash apenas olhava para Delia, sem reação. O garoto estava em choque. Durante todos esses anos, seu pai havia sido sua MAIOR inspiração, o motivo pelo qual ele decidiu sair em uma jornada e se tornar um Mestre Pokémon... Mas agora, essa inspiração havia se dissipado, desaparecido da frente de seus olhos, como em um passe de mágica. Estava tudo arruinado. Tudo destruído. Ash viveu todos esses anos na sombra de uma mentira...
 Por favor, não brigue comigo. Você era pequeno demais para entender, filho... Por isso eu não falei nada...
Delia implora pelo perdão de Ash. O garoto, ainda sem saber o que dizer, abraça a mãe, indicando que estava do lado dela.
 Mas por que... Por que você estava chorando? Já faz bastante tempo que o papai "sumiu"?
 Tem sido assim desde que você saiu em jornada... Eu nunca contei para você porque... Bem, por que eu ESTRAGARIA a sua jornada, não é? Eu fui diagnosticada com depressão. Eu tenho tomado medicamentos para conseguir dormir, eu nunca me senti tão SOZINHA em toda a minha via! E... Sabe... O meu maior medo... É que você me abandone, assim como ele me abandonou.
 Não se preocupe, mãe... Isso jamais vai acontecer.
Ash baixa a cabeça e deixa que o boné encubra suas lágrimas, enquanto ele se abraça à sua mãe, igualmente arrasada.





Mais tarde, naquela noite, Ash realiza uma web conferência com seus amigos, Brock e Misty, para contar-lhes tudo o que ele havia ouvido da mãe. Afinal, em um momento triste como esse, tudo o que o garoto precisava era desabafar e nada melhor do que contar com o conselho dos amigos em uma situação como essa...
 ASH! Eu... ESTOU CHOCADA!
 Que situação, cara... Que situação!
 É, não é? E agora... Eu tenho que conviver com a notícia de que eu tenho um irmão por aí... Um irmão ao qual o meu pai ESCOLHEU ao invés de mim...
Brock e Misty lançam olhares de pena sobre Ash. Eles próprios não parecem encontrar palavras para confortá-lo, até porque NADA nesse momento poderia fazê-lo.
 Deem uma olhada nisso...
Ash clica em seu computador e abre um perfil da Liga Pokémon daquele mesmo ano, compartilhando a tela com os demais, e mostrando um garoto de aproximadamente a mesma idade que ele a seus amigos.
 É ELE?!?!?!
 Sim.
 Puxa, ele é IGUALZINHO a você, Ash!
 Igual, porém MELHOR. O desgraçado é uma CÓPIA minha! Porém, até o nome de rico ele tem... Ritchie!
Ash está possesso, ele nunca sentiu tanta raiva na vida. Raiva do pai, raiva do garoto que era seu meio-irmão e nem sequer sabia da sua existência... Raiva do mundo, Raiva da VIDA. Tudo o que ele queria nesse momento era botar para fora toda a destruição que esta BOMBA havia causado em sua cabeça.
 Ele tem os mesmos sonhos, os mesmos objetivos que eu... De acordo com o site da Liga Índigo, ele quer se tornar um Mestre Pokémon e está coletando insígnias para conseguir a obediência de monstrinhos. E vejam isso...
Ash dá um clique e compartilha outra tela com Brock e Misty. Desta vez, a tela mostrava o time de Ritchie.
 Aqui diz que o Pikachu "que o pai deu a ele como Pokémon de estimação" se chama Sparky.
 Já o Pokémon que ele escolheu como inicial é "Zippo", um Charmeleon.
 E ainda de acordo com a Liga, o primeiro Pokémon que ele teve a atingir o terceiro estágio foi nada mais nada menos que Happy, seu Butterfree!
 Até o time dele... É igualzinho ao SEU!
 Isso não pode ser verdade... Ash, você não está tentando nos aplicar com uma brincadeira, está?
 Bem que eu gostaria que estivesse... 😔 Mas não. É verdade. Eu também não acreditei assim que eu vi... O desgraçado até usa roupas parecidas com as minhas! Ele usa o mesmo TOM de azul que eu! Essa ERA a minha cor favorita! Fiquei com tanto nojo quando vi isso que até troquei para o vermelho!
 E agora, a cada minuto que passa e eu fico encarando essa tela, mais raiva eu sinto. Eu... Não sei o que fazer... Eu acho que eu NUNCA vou superar isso!
 Eu sinto muito por tudo, Ash. Eu queria estar aí agora para te dar um abraço!
 Eu digo o mesmo, camarada. Até quando você vai ficar em Pallet? Eu posso dar um pulinho aí se precisar de um ombro amigo!
 É! Eu sei que não podemos fazer nada em relação ao que você descobriu, mas ao menos podemos passar um bom tempo juntos, pelo menos até você se sentir melhor com tudo isso!
 Não se preocupem comigo. Vocês dois têm muitas obrigações agora, como Líderes de Ginásio... Eu só precisava colocar para fora mesmo, por isso eu liguei para vocês. Eu... Estou bem. Estranhamente bem. Eu não me sinto triste, eu só me sinto... Com Raiva. Só. O que é estranho... Eu não sei como eu devo reagir diante de uma situação como essa... Eu só espero que passe logo.
 Oh, Ash!
Misty e Brock estão genuinamente com pena do garoto, mas não há muito o que eles possam fazer a não ser estender a mão para o que o amigo precisasse.
 Pode me ligar SEMPRE que você precisar, tá bom? Eu estou aqui, nos momentos bons e nos momentos ruins.
 Por favor, Ash, não faça nenhuma besteira. Como a Misty bem disse, estamos aqui para te ajudar a passar por essa situação. Você não está sozinho!
 Obrigado, pessoal! Eu me sinto mais calmo agora, só de poder conversar com vocês... Mas eu tomei uma decisão e quero que vocês me ouçam antes de julgar...
  Hã??
 Eu não quero mais viajar. Quero ficar em casa e cuidar da minha mãe. Ela precisa de mim. Ela ficou muito, mas muito triste depois que eu saí em jornada. Eu não suportaria perder ela também...


Na manhã seguinte, porém... Ash se acorda com o barulho de talheres. Sua mãe vinha trazendo café da manhã na cama, com um sorriso renovado no rosto. Apesar de permanecer destruída por dentro, Delia Ketchum se sentia um pouco mais aliviada após ter divido o peso que carregava sozinha por todos esses anos com o filho e como uma boa mãe, ela não poderia ver o garoto desistindo de tudo só para 
 Hã? Mãe...? Que horas são?
 Hora de acordar!
Delia deixa um delicioso omelete de Chansey, do jeitinho que Ash gostava, no bidê, ao lado da cama, e com um ânimo em acordar cedo que só as mães têm, ela puxa as cortinas e a arregaça a janela, deixando o sol entrar no rosto do sonolento garoto que, para falar a verdade, nem tinha conseguido dormir aquela noite.
 A sua mochila está pronta? Eu a recheei com TUDO o que você vai precisar, incluindo cuecas novas e LIMPAS.
 Mochila? Cuecas? Mãe, do que você está falando?
 Eu falei com o Professor Carvalho. Ele quer ver você. Ele tem uma nova missão para você, uma nova jornada!
 Jornada? Não, eu não quero. Pode agradecer para ele, eu vou ficar aqui, com você!
 Aaaash! Nananinanão! Você vai escovar esses dentes, tomar o seu café da manhã, tomar um banho, pegar a mochila que eu já deixei PRONTA e sair por aquela porta ali em busca dos seus SONHOS. Você não pode desistir de tudo para ficar comigo e além do mais... Eu não vou aceitar.
 M-m-mãe?
Ash olha para sua mãe e percebe que ela está falando sério. Delia Ketchum nunca esteve tão convicta em toda a sua vida. Ela queria o melhor para o filho e sabia que o melhor jamais chegaria se ele continuasse ali, enfurnado naquela cidadezinha de 5000 habitantes, a maioria aposentados cuja vida já estava feita.
 A-GO-RA!
Aquilo era uma ordem. Ash entendeu. Ele assentiu com a cabeça e decidiu fazer o que a mãe pediu, mesmo que seu coração estivesse doendo por dentro por ter que deixá-la sozinha... Ele não queria mais vê-la sofrendo daquele jeito. Mas as coisas amenizaram, ao menos um pouquinho (uma coisica de nada) quando Delia, observando o menino passando creme dental na escova, disse em um tom alegre e animado:
 Além disso, você não precisa se preocupar comigo! Eu estou sendo medicada, indo à terapia, e estou me sentindo BEM MELHOR agora que eu tenho o "Mimey" para me fazer companhia!
 Mimey?
 É! Ele não é uma graça?
Delia indica com o braço e Ash olha na direção apontada e avista o Mr. Mime que ele havia dado à mãe com avental e uma vassoura nas mãos, orgulhosamente ajudando nas tarefas domésticas.
O garoto se permitiu abrir um sorriso ao perceber o quão grata a mãe estava. Pela primeira vez, ele sentia que havia acertado no presente!


>> Chegando ao Laboratório do Professor Carvalho...

 C-c-com licença! Professor? Sou eu, Ash!
 Hã? Ash? Eu não me lembro de nenhum Ash...
O velho Carvalho já estava começando a demonstrar sinais de Alzheimer, a doença de todo mundo sabe que ele viria a ser oficialmente diagnosticado anos depois.
 A minha mãe falou que o senhor queria falar comigo.
 A sua mãe? Ooh, sim! Delia Ketchum! Claro! Como eu pude ter me esquecido? Onde eu ando com a cabeça?
O Professor, finalmente reconhecendo Ash, se aproxima do garoto...
 Puxa, você já está um rapazinho! Cresceu bastante desde a última vez que eu o vi! Está enorme!
 O-o-obrigado, eu acho...
 Então, Ash... Eu ouvi dizer que você é um Colecionador de Insígnias, estou certo?
 É isso aí. Eu já tenho TODAS as insígnias de Kanto.
Ash abre o casaco e mostra sua coleção de insígnias, presas como broches, para o Professor.
 Uau! Você realmente esteve EMPENHADO nesses últimos meses, garoto! Mas talvez você devesse expandir seus horizontes, buscar um desafio ainda mais complexo que os Líderes de Ginásio de Kanto!
 Hã?
 Talvez esteja na hora de você enfrentar o Líder de Ginásio SUPREMO.
 Líder de Ginásio Supremo?
 Isso mesmo! Ele é o ÚLTIMO de um grupo de 5 líderes de ginásio de uma Região próxima, pequena, mas paradisíaca, perfeita para tirar umas férias e relaxar.
 E que Região seria essa, Professor?


>> Em Casa...

 Ilhas Laranja?! Para mim, parece PERFEITO, Ash!
 É, o Professor me disse que lá eu poderia encontrar batalhas ainda mais difíceis do que em Kanto e que os ginásios de lá, apesar de menores em número, ofereciam verdadeiros desafios muito mais elaborados e complexos, que eu poderia me desenvolver melhor como um treinador por lá...
 "Mas..."?
 Mas eu me sinto muito mal por deixá-la aqui. Você sabe... Eu não fazia ideia de que você estava sofrendo tanto... E eu aqui, te julgando por ficar insistentemente querendo falar comigo ao telefone.
 Ash, não se sinta mal! Você tem um futuro brilhante pela frente, não pode deixar de lado os seus sonhos POR MIM. Eu quero te ver FELIZ, filho. Eu não quero que você fique aqui e ADOEÇA, como eu. Eu quero que você vá para frente e se torne bem sucedido. Quero que você alcance todos os lugares que você deseja ocupar. E isso só se faz saindo de casa... Você PRECISA seguir em frente. E não se preocupe comigo, eu sei me cuidar. Além do mais, eu ainda sou sua mãe, eu ainda MANDO em você.
 Mãe...
Os olhos de Ash enchem-se d'água. Ele quer muito ir nessa jornada, mas ele sabe que sua mãe está vivendo um momento extremamente delicado e que seria prudente da parte dele, ficar com ela, ao menos até tudo se estabilizar. Nesse momento, o garoto está extremamente dividido e ele não sabe o que faz, se vai ou se fica.
Delia, percebendo a indecisão do filho, se aproxima e o abraça. Então, ela complementa sua fala, dizendo:
 Não importa onde você esteja, Ash. Você sempre estará aqui comigo.
Delia coloca a mão sobre o coração e então, o garoto perde todas as estribeiras e não se contém: ele finalmente cede diante do caos que está vivendo e se permite chorar.



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