Pokémon Laços: 50 Tons de Vermelho - 07: Vermelho Queimado


2002

Depois de bater de assalto no laboratório da Equipe Rocket na Ilha GR no ano passado, eu me tornei um alvo ambulante. Giovanni mandou diversos de seus agentes e recrutas para caçar a mim e a Yellow. Então nós nos embrenhamos cada vez mais nas áreas selvagens do Mundo Pokémon afora, desaparecendo dos grandes centros urbanos e levando uma vida mais "raiz", por assim dizer.

Enquanto nos aproximávamos da Zona do Safári, localizada ao norte da Rota 48, além do Portão da Zona do Safári em Johto, Yellow cantava alegremente sobre isso em antecipação.


"Yellow, para." Minha voz saiu mais áspera do que eu queria. "Vai chamar atenção da Equipe Rocket!"

Ela girou, de costas pro sol, a franja loira cobrindo um olho. "A maioria deles já está detrás das grades, inclusive Jessie e James!" E continuou, mais alta ainda, batendo palmas. "Safari-Zone, Safari-Zone —"

Merda. Ela não ouve ninguém. Nunca me ouviu. É verdade, Gold e Ruby haviam feito um ótimo trabalho ao prenderem Jessie, James e Meowth na Região de Hoenn, mas ainda havia outros membros ocultos por aí. A Equipe Rocket era como uma SEITA. Ela nunca acabava, pois os membros sofriam com uma lavagem cerebral tão intensa, que sempre que o grupo se desfazia, eles achavam um jeito de se reagrupar e recomeçar, chamando mais pessoas para o culto.

Foi quando o Pika pulou no meu ombro e começou a cantar também. A Chuchu dele imitou, chiando como uma panela de pressão. E eu... eu não sei por que diabos abri a boca.  

A voz na minha cabeça não parava: "Cala a boca, Red. Você não é criança pra ficar cantando" Mas o som dos passos de Yellow na estrada de terra, aquele ritmo idiota da música que ela inventou sobre "Safari-Zone-Safari-Zone", e os piados desafinados do Pika e da Chuchu... Era difícil não sentir algo. Algo que queimava no fundo da garganta, como se fosse raiva, mas mais doce. Mais perigoso.
  

Nesse momento, um homem se aproximou de um prédio próximo e gritou abruptamente:

"CALEM A P*RR* DA BOCA!!!"


O grito veio de um cara saindo de um barraco de madeira, a camisa suja de graxa, os olhos injetados. Mais um maluco.

"Qual o seu problema?" eu cuspi, a mão já na pokébola de Poliwrath, pronto para entrar em uma briga. Meu sangue adolescente fervendo.  

Que Erro!

O velho sacou uma arma tão rápido que eu quase não vi. Um revólver enferrujado, com "Choque do Trovão" gravado no cano. "Meu problema é que eu atiro em criança barulhenta."



Yellow congelou. Até o Pika se calou. 

"Desculpa," eu menti, os dentes cerrados. Só mais um velho bêbado. Só mais um, eu disse para mim mesmo, tentando acalmar o coração, que acelerou imediatamente ao fitar o cano prateado do revólver antigo.  

Ele baixou a arma. "Baoba. Sou o guardião da Safari Zone."  




Dentro do escritório dele, o cheiro era de mofo e pólvora. Baoba jogou uma cesta de Safari Balls e um varinhas de pesca na mesa. "Regras são simples. Só isso aqui dentro. Se quebrar? Leve um tiro de lembrança."


O Professor Oak botou essa merda nas minhas costas. "Complete a Pokédex, Red." Como se eu não tivesse mais nada pra fazer além de caçar bicho pra ele. 

Mas eu estiquei a mão mesmo assim.  

**CLIQUE**

O cano da arma encostou na minha testa. "Demonstração educada," Baoba sorriu. Sádico.

Yellow, enquanto isso, tava fitando feito uma idiota pra uma foto na parede. Baoba quando jovem, segurando um raríssimo Dratini.  


"Ouvi dizer que tem um Dratini aqui," eu disse, ao observar a foto.  

E foi como cutucar um Beedril com a mão.

Baoba arrancou a foto da parede, a moldura esmagando na mão dele. "NÃO. TEM. NADA."  

A arma dele tremia. Ele tava com medo. Mas de quê? 

Quando ele saiu, eu ouvi. Ele sussurrou pra foto: "Desculpa, Dratini. Nunca mais."  




Liguei pro Professor Carvalho. Se ele me enrolar de novo, eu jogo o Pokédex no mar.

"Ah, Baoba..." o Professor riu, como se aquele velho caduco fosse um velho amigo seu. "Trinta anos atrás, ele encontrou um Dratini, um Pokémon que até então era considerado Lendário, e poucas pessoas haviam visto. Treinadores de todos os cantos então se reuniram na Zona do Safári para capturar Dratini, mas, enquanto estavam lá, capturaram muitos outros Pokémon no processo, literalmente destruindo a Zona do Safári e seu ecossistema. Desde então, apenas o uso de Safari Balls foi permitido na Zona de Safári. O Dratini nunca foi encontrado, e tudo o que resta é uma foto..."


Claro. Porque nada nessa merda de mundo pode ser simples.

Foi quando ouvi um riso atrás das árvores.  

Cassidy e Butch. Lixo da Equipe Rocket.


Cassidy: Prepare-se para encrenca!
Butch: E vai ser encrenca das grandes!
Cassidy: Para infectar o mundo com devastação!
Butch: Para apagar as pessoas de todas as nações!
Cassidy: Para denunciar a beleza do amor e da verdade!
Butch: Para estender nossa ira até as estrelas!
Cassidy: Cassidy!
Butch: E Butch!
Cassidy: Somos a Equipe Rocket, circulando a terra dia e noite, noite e dia.
Butch: Renda-se agora mesmo ou então vai perder a luta, luta, luta!



"VOCÊS!" Eu gritei, reconhecendo-os de outras oportunidades. Sabe, eu já enfrentei tantos membros da Equipe Rocket, que eu já sabia o nome de praticamente todas as pessoas envolvidas na organização... Eu era uma enciclopédia ambulante quando se tratava da Sociedade (não tão) Secreta criada pela família de Giovanni. Eu era o inimigo número 1 da máfia Kantoniana, e não havia Yakuza que chegasse aos pés deles!

Eu até pensei em pronunciar equivocadamente o nome de Butch só para vê-lo ficar p*to, mas não deu tempo:

"Um Desafio!" Cassidy anunciou, como se fosse uma ideia original. "Quem pegar mais Pokémon ganha. Se for a gente, levamos todos os seus Pokémon. Se for vocês..."

"Se formos nós, vocês desaparecem," eu terminei.

Ela me olhou com uma cara cética, mas concordou. Ela estava claramente mentindo. Eles nunca desapareceriam, e eu sabia disso.


Mas eu aceitei o acordo. Porque eu nunca perco.



O primeiro foi um Tauros. Fácil. Arremessei uma Bola Safári sobre ele e o Pokémon Touro foi facilmente engolido, sem sequer precisar de uma batalha.





O segundo... Merda.

Um Rhyhorn, parado na grama. Joguei a Safari Ball —  

TROVOADA.

A manada de Tauros passou como um tsunami na minha frente, bem na hora que eu estava arremessando a Pokébola, e quando a poeira baixou, eu tinha pego outro Tauros.  

Cassidy, escondida, riu. "A gente já ganhou." 

Eu ouvi a risada dela, mas não a do Butch. Onde ele estava...? Descobrimos rápido.  Dentro da recepção da Zona do Safári, Butch estava com a arma para a cabeça do Baoba. "Cadê o Dratini, seu velho gagá?"

Baoba não falou. Nem quando o Tentacruel da Cassidy se enroscou nele, constringindo-o, nem quando o Drowzee dela tentou hipnotizar.  


Foi o Cloyster do Butch que quebrou Baoba. Espinhos enterrando no braço. Sangue escorrendo no chão de madeira podre.


"Vale dos Dragões," Baoba gemeu, revelando a localidade onde, há trinta anos atrás, ele havia encontrado o raríssimo Dratini.  


Enquanto isso, Yellow pescou um Slowpoke. Lento até pra fugir da captura.



"Dodrio, Ataque Triplo!" Ela gritou, como se fosse uma batalha de verdade.  


Pra que paralisar? O bicho já era uma lesma! De qualquer forma, a Bola Safári cantou e Slowpoke foi preso. Yellow comemorou voltando a cantar "Safari-Zone, Safari-Zone ♪"


Nisso...

Baoba apareceu correndo, ainda perseguido por Cloyster e Tentacruel. Seu rosto tinha a mesma expressão que eu e Yellow fizemos quando esse velho desgraçado apontou a arma para mim: "Tão indo atrás do Dratini! Ajudem!" ele gritou, em desespero. Apesar de não gostar dele, eu nem pensei duas vezes... Tudo o que eu fiz foi acatar ao pedido.

Pika e Chuchu atacaram. Investida Trovão. O cheiro de peixe queimando encheu o ar.  


Dois a menos para eu me preocupar.






Cassidy e Butch já estavam no lago, com roupa de mergulho. Patéticos

E foi então que três Dratini apareceram. Um deles era azul, normal, o outro era ciano e o terceiro era lilás, o que fez a Equipe Rocket presumir que eles eram *ainda mais* raros que o normal.

  

Cassidy esticou a mão —  

SPLASH! Butch caiu que nem um Magikarp bêbado, assustando os Dratini, que mergulharam e desapareceram no lago do Vale dos Dragões.  

"Plano B!" Butch gritou, segurando uma bomba elétrica. "Isso aqui vai fritar tudo o que estiver se escondendo na água!" E arremessou a bomba no fundo do lago.

Não. Não de novo. 

Eu e Baoba pulamos.  

A água era gelada. Escura. Como aquele tanque no esconderijo da Rocket, onde eu vi o que eles faziam com os Pokémon...

A bomba afundava rápido. Baoba tava ficando pra trás.  

"Slowpoke, leva ele!" Yellow gritou de longe, chamando sua mais recente captura.  


Eu nadei mais fundo. Os pulmões ardendo, a visão escurecendo.

Peguei a bomba.  

Não consigo voltar. Eu pensei, achando que tudo havia acabado e aquele seria o meu fim.

Foi quando um redemoinho começou.



Luz azul. Eu pensei: "No céu tem pão?"

Mas eu não havia morrido. Não, eu estava vivíssimo. Dragonair emergiu das ondas e me pôs em suas costas.




Ela era cor-de-rosa e suas pérolas, douradas como se feitas de ouro 24 quilates. Era um Pokémon Brilhante, Pokémon de coloração diferentes descobertos pela primeira vez ali, na Região de Johto. Com um rugido cósmico de arrepiar os pelinhos dos braços, ela então me levou até a superfície e eu joguei a bomba nos Rocket's — 




BOOM.  

"Até a próxima, seus merdas!" Cassidy e Butch gritaram, desaparecendo no horizonte enquanto pateticamente decolavam, pela milésima vez.  





Baoba chorou quando viu a Dragonair Brilhante. "É você... depois de tudo isso..."

É verdade. A Dratini que Baoba havia encontrado há trinta anos era cor-de-rosa, um Pokémon Mais que Raro. Encontrar um Pokémon Brilhante era de 1 chance em 8192. Encontrar um Dratini/Dragonair Brilhante, que já era raro por si só, era ainda mais improvável!

Foi emocionante. Yellow tinha lágrimas nos olhos, que rapidamente se transportaram sozinhas para as suas bochechas. Baoba abraçava-se em Dragonair, que enroscou gentilmente sua cauda em volta do velho, como se dissesse "Está tudo bem, estamos bem."

Então, os três pequenos Dratini apareceram. O de coloração normal e os outros dois, de cores diferentes. Eram os filhotes da Dragonair! Baoba prometeu que jamais deixaria que a Equipe Rocket encostasse em um fio de cabelo deles, e Dragonair assentiu com a cabeça, tendo certeza que sim.

Todo mundo teve um final feliz. Menos eu.




De volta ao escritório, liguei para o Professor Carvalho. "Aprendeu algo, Red?" Ele me perguntou, querendo me dar uma lição de moral, e isso só me fez ficar p*to.


Contive minha fúria para usá-la contra as pessoas *certas* e prometi ao velho Oak que jamais compartilharia aquela experiência na Zona do Safári com ninguém. O avô de Blue então me diz que eu amadureci muito desde o início da minha jornada e, curioso para saber se eu havia seguido suas ordens de completar a pokédex, me perguntou se eu havia lhe enviado algum Pokémon novo...

Nesse momento, uma manada de Pokémon atropela o Professor em uma debandada, revelando ao outro velho caduco que, no final, eu havia muitos Pokémon na Zona de Safári (Nidoking, Bellsprout, Weepinbell, Victreebel, Parasect, Exeggcute...


E, claro, uma manada de 30 FUCKING TAUROS!)  e até já os havia transferido para ele. Afinal, não havia mais espaço no meu time...






Despedimo-nos então de Baoba, que seguia com seu revólver na cintura, com Dragonair e os 3 Dratini cuidando dele.

Yellow acenou pro Baoba. Dratini e Dragonair observavam.  

E eu só pensei: "Pelo menos hoje, a Rocket não venceu."

Mas a voz na minha cabeça corrigiu: "Eles sempre voltam.


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