Conto: Aquela Dúvida...

Aquela Dúvida...

Red era o maior fã de pokémon. Desde pequeno, acompanhava as incríveis lutas entre campeões, elite dos 4, e é claro, os campeonatos regionais entre os treinadores que enfrentavam os líderes de ginásio, na televisão. E ele sempre se via no lugar do vitorioso. Seu sonho era virar um deles. Adolescentes de todas as partes do mundo se tornando reconhecidos por suas habilidades de treinamento, adestramento e coordenação dos monstrinhos conhecidos como pokémon.
Por sorte, o dia que tornaria tudo isso possível estava perto. O dia de ir buscar o seu pokémon inicial no Laboratório do famoso Professor Carvalho, um velho contador de piadas e amante de poesias, e que era também um excelente pesquisador pokémon. Ele morava no cume de uma montanha na mesma cidade que Red, Pallet Town, e estaria distribuindo um pokémon para cada um de 3 jovens treinadores locais.
Faltavam exatos 64 dias, de acordo com o anúncio no jornal. O primeiro passo era ir se inscrever em um órgão público junto à prefeitura, o que para Red não foi nenhum problema. Ele esperou exatas seis horas e quarenta e cinco minutos na fila para então preencher uma ficha de duas folhas e então ser enviado para mais uma fila, onde esperou por mais duas horas até ser atendido em um rápido exame médico para ver se estava tudo o.k. e se ele realmente tinha condições de sair por aí, embrenhando-se em ambientes inóspitos atrás das formas de vida mais selvagens.
Após a perícia, ele teve de esperar mais dez dias. Faltavam agora 54. E foi nesse dia que telefonaram para ele, agendando uma nova entrevista, que foi marcada para dali a 15 dias.
Duas semanas depois, agora faltando 39 dias para o início de sua grande  e afortunada jornada, Red compareceu às 7 da manhã, em um sábado chuvoso, à SATP, Secretaria de Aconselhamento para Treinadores Pokémon. Após uma horinha básica sentado em um banco duro e gelado na sala de espera, seu nome finalmente foi chamado. Ele saltou da cadeira e correu em direção à porta, onde uma mulher o esperava.
Doutora Daisy, era o nome dela. Psicóloga, psiquiatra e oficialmente habilitada para dirigir aquela entrevista, de acordo com as regras oficiais impostas pela Liga Pokémon. Dra Daisy começou com perguntas básicas, como o nome completo, RG, CPF, Endereço, CEP... Essas coisas. Depois começou a fazer perguntas mais difíceis, como renda familiar, bolsas em escolas e universidades para jovens itinerantes, planos para o futuro, a carreira pokémon ao qual Red pretendia seguir, convênios, contas em bancos, agências e uma série de coisas que o garoto nem sabia o que era.
Voltou para casa murcho, sem nenhuma expectativa de ter sido aprovado. Para sua sorte, no entanto, uma semana depois (faltando agora 32 dias), sua mãe recebeu um telefonema. A notícia pegou todos de surpresa, e a comemoração foi tanta que até fizeram um churrasco naquele fim de semana: Red fora aprovado! Por incrível que pareça, ele foi um dos 24 Palletianos selecionados para seguir para a próxima fase na concorrência pelo pokémon inicial. A partir de agora, ele teria de passar por uma espécie de escola avaliatória, verificando habilidades como arremesso de pokébolas, capturas, conhecimentos gerais sobre tipos, vantagens, desvantagens, condições de status e essas coisas todas que geralmente caem em vestibular.
Dando pulinhos de alegria, faltavam agora 26 dias. Red foi mandado para o internato por uma semana. Lá, ficou em um quarto junto com dois outros garotos excepcionalmente inteligentes. Agora sim, ele pensou. Estava ferrado. Não tinha chance alguma de passar.
As provas do primeiros e do segundo dia foram fáceis. Eram escritas. Red acertou 78% da primeira e 84% da segunda. Sentia-se orgulhoso. Nunca pensou que passar tantas horas em frente à tv pudessem lhe trazer algo tão bom. E assim, seguiu confiante para o terceiro dia, onde teria de provar que era bom também na prática.
A Dra Daisy estava lá. Foi ela quem lhe entregou um cinto com 6 pokébolas aleatórias. Nelas estavam os seguintes pokémon: Poliwhrat, Jynx, Jolteon, Raichu, Venusaur e Nidoking. Todos completamente evoluídos e prontos para uma explosão de poderes.
     
Tudo o que Red precisava fazer era se comunicar com aqueles pokémon, treiná-los e adestrá-los por alguns dias até que estivessem prontos para batalhar e vencer o tutor responsável, que era a Dra Daisy.
E assim foi. Red não dormia de noite, preenchendo pranchetas de planejamento estratégico, uma dádiva da administração moderna. Ele queria por um fim naquilo e iria sair arrasando. Todos iriam se lembrar do garoto que arrebentou em seu teste. Ele queria uma nota dez. E assim, passou a treinar arduamente, sem parar.
Quando chegou o dia da disputa, estava exausto. Queria era ficar dormindo, mas a Dra Daisy estava de pé, bem ali na frente dele, e isso o deixava nervoso. Não podia fazer feio. Não podia errar.
E errou. As primeiras duas partidas foram um desastre, é claro, mas depois Red pegou o jeito. Os seis parceiros de Daisy (Lapras, Gyarados, Wigglytuff, Charizard, Exeggutor e Farfetch'd) foram caindo, um a um. Red tivera o cuidado de pegar os melhores disquetes de TMs e HMs, e assim, ao ensinar as melhores técnicas aos pokémons que lhe foram entregues, conseguiu dominar a partida, recebendo uma chuva de aplausos de todos no acampamento.
     
Enquanto isso, os dois "crânios" que tornaram-se colegas de quarto de Red se mataram no primeiro desafio, ficando presos demais à teoria e ponto tudo em risco na prática. Reprovados.
Agora restavam 12 treinadores, faltando apenas 19 dias para o grande dia. Red já podia se ver dentro do laboratório do Professor Carvalho... E tudo o que ele precisava fazer agora era passar por uma prova de conhecimentos gerais hardcore, estilo enem, que aconteceria dali a novos 7 dias.
Mais algumas noites sem dormir, e Red já tinha decorado, praticamente, 5 enciclopédias. Estava super preparado para o exame. Voltou para o internato nervoso. Foi mandado para uma salinha junto de todos os outros 11 treinadores, onde passou 4 horas e meia (no primeiro dia), lendo, interpretando e marcando "xis" em apenas uma de 5 respostas para cada pergunta. No segundo dia, foi afrontado por uma redação supercomplicada de tirar 10 e mais uma penca de perguntas, mais complicadas do que as do dia anterior.
Teve de esperar mais uma semana em agonia para receber o resultado da prova. A média era 450 de 1000. Quando o pacote contendo a nota chegou na porta de sua casa, Red quase foi morto pelo carteiro, por ter picotado o envelope antes mesmo de assinar a guia.
Mas lá estava. 750. Uma boa, uma ótima nota. Ele duvidava que alguém tivesse tirado mais do que ele. Red estudara dia e noite, e ali estava. A um passo de conseguir o seu primeiro pokémon.
Dois dias depois (faltavam agora só mais 2 dias), Red foi convocado para um torneio surpresa, onde todos os aprovados no "vestibular" teriam de batalhar entre si até restarem os 3 melhores, novamente com pokémons aleatórios.
Red pegou um Golem, um Onix, um Rapidash, um Tauros, um Vileplume e um Tentacruel. Ele não achou que aquele fosse um time muito bom, mas mesmo assim, empenhou-se ao máximo e chegou à final, derrotando todos os oponentes que lhe foram dados.
     
Àquelas alturas, ele já nem sabia mais se aquilo era realidade ou não passava de um sonho.
Então, naquela manhã, o anúncio da televisão mudou. A competição havia oficialmente acabado e a lista dos 5 aprovados foi divulgada. Red apareceu em primeiro lugar. Seria o primeiro a pegar o pokémon inicial, ficando assim, com livre escolha.
Quando chegou o grande dia, Red pesava 5 quilos a menos. Estava magro, passara muitas noites sem dormir e agora parecia um zumbi ambulante, mas nada alterou sua expectativa. Sentia-se muito nervoso e realmente não tinha ideia do que fazer, de como agir.
Chegou ao Laboratório do Professor Carvalho bem cedo. Não queria estragar tudo. Dessa vez, não precisou enfrentar filas ou preencher papelada. Já estava tudo certo. Bastava agora pegar o seu primeiro pokémon e sair a desbravar o mundo, em busca de aventuras e diversão.
"Está ansioso, Red?" — Perguntou o velho professor de sobrancelhas muito grossas, cabelos grisalhos e jaleco comprido.
"Muito." — Respondeu o menino, que tremia da cabeça aos pés.
"Então está na hora, né? Eu tenho aqui 3 excelentes pokémon! Bulbasaur, do tipo planta; Charmander, do tipo fogo; e Squirtle, do tipo aquático."
O professor fez um gesto com a mão e lançou 3 pokébolas ao ar, revelando 3 criaturinhas fofinhas extremamente bonitinhas, mas ao mesmo tempo, infinitamente poderosas.
"Eu... Eu..." — Ao ver os três pokémons sobre a mesa, Red não sabia o que fazer. Suas pernas travaram, sua voz embolou e ele não conseguia pronunciar mais do que meia dúzia de palavras.
"Tudo bem, tudo bem! Só o que precisa fazer é escolher um dos três!" — Disse-lhe o professor.
Mas como fazer isso?
Bulbasaur, o primeiro dos três, era metade do tipo planta e metade do tipo venenoso, o que com certeza já era uma vantagem.
Mas Charmander poderia evoluir para Charizard, dos tipos fogo e voador, além de aprender uma série de movimentos tipo dragão.
E Squirtle, do tipo aquático, parecia perfeito para o primeiro ginásio da região, que ficava em Pewter City e especializava-se em tipos mineral.
E agora? O que fazer?
As mãos de Red começaram a suar, e sua testa a gotejar. Os olhos enxeram de lágrimas e o peito doeu. O que fazer?
Ele podia muito bem pegar o pokémon certo e ganhar reconhecimento internacional, mas também podia pegar o pokémon errado e se dar mal logo nas primeiras batalhas de ginásio, nunca nem mesmo alcançando a liga pokémon.
Além do mais, ele precisava de um pokémon fácil de treinar. Mas qual daqueles seria? Talvez Bulbasaur, que aparentemente, lutava com o bulbo florescendo em suas costas, ou Squirtle, que retirava-se pra dentro de sua dura concha na tentativa de defender-se de um ataque. Charmander, por outro lado, parecia bastante rebelde. Um filhote de dragão.
Red olhou para o professor, o professor olhou para Red, e nada. Cinco minutos depois, Red já estava ajoelhado no chão do laboratório, observando aqueles pokémons como se nunca tivesse os visto antes.
Ele não queria errar. Não queria fazer nada que o prejudicasse no futuro. Mas por que era tão difícil?
Estudara todos aqueles monstrinhos nas várias enciclopédias que fora obrigado a ler para a última prova. Não podia se dar ao luxo de escapar nenhum detalhe. Mas o pior era que tudo estava escapando. Sua mente em pânico não sabia o que pensar. Deu um branco geral.
Então, o professor resolveu chamar o segundo colocado. Era uma menina, que rapidamente pegou Squirtle para seu parceiro. E nada. Red nem sequer se movera. O professor resolveu então chamar o terceiro colocado. Um menino de óculos estilo Ray Ban. Este ficou com Charmander.
Faltava apenas Bulbasaur, mas Red ainda não parecia certo de que deveria ser ele. Pegou a pokébola do pokémon, examinou os mínimos detalhes, e não falou nada. Ficou ali, pensando, enquanto recolocava a bola em cima da mesa.
Ele estava completamente perdido... Pela primeira vez, em 64 dias, ele não sabia como agir, não sabia como prosseguir. Aquele, sem sombra de dúvidas, foi o desafio mais complicado ao qual ele teve de enfrentar. Não foram as provas, as batalhas ou o preenchimento de papelada, nem mesmo as longas horas na fila de espera... O maior desafio estava ali, no grande dia, quando ele teria de escolher quem seria, permanentemente, seu grande parceiro pokémon, o que poderia ser um sucesso absoluto ou uma desgraça total.
"Eu vou ter de chamar o quarto colocado..." — Informou o Professor Carvalho.
E Red continuou ali, perdido em pensamentos... Quando o menino que tinha ficado em quarto lugar entrou na sala, Red sentiu algo estranho, como se suas ideias estivessem voltando a fluir. O menino levou Bulbasaur e Red continuou ali, parado. Sim, foi o certo, ele pensou.
O Professor então se aproximou e deu-lhe um tapinha de leve no ombro, e Red voltou para casa, sentindo-se mais leve do que nunca. Enfim tinha tirado o peso daquela dúvida de cima de seus ombros.

4 comentários:

  1. Ok kevin, você fez a sua parte como crítico quando eu poste ancient origins, agora é a minha vez ;) Achei a fanfic-de-capitulo-unico realmente muito legal, com o final um pouco frustrante, mas mesmo assim legal. Seria legal se você começasse a postar mais contos assim, pra ir enxendo o blog com fanfics. talvez muitos dos leitores não gostem de ficar acompanhando histórias longas, talvez muitos prefiram historias mais curtas, como eh o meu caso. Eu mesma poderia procurar algumas creepypastas e coisas do tipo pra postar, oq q vc acha?

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    1. Lari, essa sem dúvidas é uma ótima ideia. Eu não tinha respondido ainda pq tava pensando na possibilidade e vejo que sim. Realmente o leitor de hoje, se não for seu amigo, prefere histórias mais curtas e com um fim "visível". Foi pelo mesmo motivo que eu resolvi criar este conto. E já aviso a todos: Pretendo criar mais. Quanto às creepypastas, você pode pegar da internet e postar aqui no blog, sim. Só uma coisa: Lembre-se de citar e dar créditos ao autor da história. Ah, lari... Como é que eu não te encontrei antes? É perfeito hahaha com vc postando aqui eu até que tenho uma folguinha :D ashuashuashuash Muito obrigado pelo favor e, é claro, nunca se esqueça dos créditos. Você sabe, sou rigoroso quanto a isso. Beijo. ;)

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  2. ARGH!
    Todo esse trabalho para no fim escolher o inicial e ser mais difícil do que os outros testes xD Exatamente o que acontece comigo quando vou escolher o inicial...
    Hey, adorei esse conto, deveria postar mais nesse estilo

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    1. Obrigado! Vou anotar seu pedido! :D Só agora que vi seu comentário, então desculpe se te deixei esperando alguma resposta...

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