— Eu também te amo, Black!
Mas, nossa escapada a Alola me fez sentir melhor. A começar que ainda estávamos resolvendo o problema dos outros, ou seja, estávamos mesmo cumprindo com nossas obrigações de campeões, ao mesmo tempo em que poderíamos fazer tudo o que viesse à cabeça, sem pressão alguma com horário, contas, cobranças, reclamações e o diabo a quatro. Podíamos ser qualquer um, em uma vasto horizonte, onde para onde quer que se olha, se veja Too Much Water. Ainda estávamos em nosso emprego, mas era como se tivéssemos voltado à adolescência, em nosso tempo de jornada.
E para comemorar isso, decidimos passar nossa primeira noite nas Ilha Alola na praia. Acamparíamos por ali mesmo, como se fôssemos crianças querendo parecer mais velhas, fazendo de tudo pra chamar a atenção, tudo para mostrar que já não dependiam mais de seus pais. O que eu não previa, era que Black me prepararia um romântico jantar à luz de velas, tudo isso enquanto eu estava distraída nas lojinhas locais.
Ele encheu um carrinho de super mercado com latas e mais latas de aguardente e seja lá o que Arceus quiser. Comprou algum lanche americano qualquer, mas que simplesmente era a melhor coisa do mundo com o toque de temperos Aloianos. Cheeseburguer Tropical. E me levou para a beira do mar logo no entardecer. Estava tudo calmo, aparentemente. Não havia sinal de chuva ou de terremoto. As ondas estavam calmíssimas. Nada de ressaca. A única coisa que nos incomodava era o frio vindo da brisa marítima com o cair na noite, mas depois dos primeiros goles, aquilo já nem nos atingia mais.
Ali, não tínhamos preocupação nenhuma. Ninguém estaria ali para nos incomodar, ninguém poderia nos aborrecer com ligações ou qualquer coisa envolvendo os demonstrativos contábeis dos investimentos públicos e blá blá blá. Estávamos completamente sozinhos, e podíamos fazer o que quiséssemos.
PS: Não pense besteira.
Pra você ter uma noção do quão isolada aquela praia era, só havia uma casa junto à areia, mas estava um pouco distante de onde estávamos. E do outro lado do mar, na direção da civilização, havia uma densa floresta tropical e o que parecia ser uma rota de treinadores. Mas àquela hora, não havia ninguém por aquelas bandas e ninguém era louco o suficiente de entrar no mar gelado depois das seis.
Mas lá estávamos nós, com os pés parcialmente afogados em território de sal e vida marinha. Não ligávamos para o frio, não ligávamos para os riscos de hipotermia. Por dentro, estávamos tão quentes quanto chamas. Não. Melhor. Tão quentes quanto o magma. Magma de vulcão.
Espera aí. Vulcão?! VULCÃO! A coisa toda aconteceu tão rápido que quando vimos, nossas roupas novas já estavam chamuscadas. A enorme montanha pra lá da casa na praia começou a cuspir fogo de uma hora para outro e bolas de lava foram expelidas para tudo quanto é lado. As que caíam na água formavam enormes nuvens de vapor, as que pegavam nas plantas adjacentes formavam enormes incêndios e derretiam as árvores como queijo no misto quente. As bolas incendiárias que tinham a sorte de cair na areia não causavam muito estrago, mas o que tínhamos medo mesmo era de que caíssem sobre nossas cabeças.
E de fato, isso parecia estar acontecendo. Pedras vulcânicas na forma de lava saltavam em uma incrível velocidade, voando pra cima de nós tão rápido que quase nem percebemos.
Nossas pernas, infelizmente, estavam muito dopadas para nos obedecer. O frio da água havia nos atingido antes que pudéssemos ter noção de que isso estava acontecendo. Empurrei Black para o lado, meio que cambaleando, uma mistura de bêbada com hipotérmica em potencial, mas de nada adiantou. Ainda estávamos na linha de frente, e aqueles torrões incineradores estavam agora a menos de meio metro de distância.
Um enorme estrondo toma conta da arrebentação, e um impacto colossal nos joga para trás. Lembro de ter dado outro grito, dessa vez em reação à água congelante inundando minhas costas quentes e meu cabelo recém produzido.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi que eu não sentia dor. Será que a morte era assim? Nos desligávamos de nossos corpos sem sofrermos com isso? Mas então eu me dei conta de que Black estava gritando alguma coisa. E eu abri os olhos, tentando focar alguma coisa.
Uma enorme fumaça de vapor havia se formado ao nosso redor, e bem por ali, a água começava a ficar mais quente, devolvendo uma sensação de vida à minhas pernas. As bolas de fogo atingiram a água, afinal. Estávamos são e salvos.
— WHITE! Você está bem? — Ele perguntou, puxando-me para cima e ajudando-me a sair da água.
— Acho que sim. — disse, meio grogue. — O que foi isso? — perguntei, ainda não entendendo como as pedras haviam ido parar no oceano e não em cima da gente.
— Aquele pokémon... — Black apontou para uma criatura minúscula, quase invisível no breu do litoral e que eu só enxerguei porque começou a faiscar feito fiação elétrica de casa antiga. — ... Ele nos salvou!
— Hã? — Tentei enxergar a miudeza no meio do mar negro, semicerrando os olhos em fendas para tentar detectá-lo. Mas não foi preciso muito esforço. Black, que tinha curado o porre na marra, agora iluminava tudo com a luz de seu pokédex. E eu pude ver pequenas fagulhas contornando o corpo de uma criatura plasmática que flutuava sobre as ondas, um sorrisinho debochado na minúscula face.
— Um Rotom! — eu disse, reconhecendo a espécie do pokémon.
— Rotom? — Black, por outro lado, parecia não conhecer aquele pokémon. Por isso, chegou mais perto com sua pokédex, e os dados começaram a aparecer na tela, quando uma voz mecânica leu o texto automaticamente.
"Rotom, o pokémon Plasma. Seu corpo altamente eletrizado é o permite entrar em aparelhos eletrônicos para fazer travessuras." — Foi tudo o que a Dex de Unova no modo Nacional pode nos dizer.
Neste exato momento, Rotom começou a flutuar ao redor de Black. No começo, eu não estava entendendo, mas então eu percebi que existia certa atratividade no pokémon fantasma pela pokédex. Ele tentava se comunicar com o dispositivo eletrônico disparando algumas fagulhas e centelhas, mas parecia insatisfeito. Não obteve resposta alguma, e por um momento, pude perceber que aquilo o deixou chateado. Por fim, Rotom desistiu e voltou a focar no vulcão, que continuava mandando lava pra tudo quanto é lado.
— Ele... Estava tentando possuir a pokédex! — disse Black.
— P-possuir?!
E foi então que eu reparei naquele olhar, aquelas faíscas percorrendo os olhos de Black. Aquela cara que ele fazia quando estava a fim de um pokémon.
— Estou a fim desse pokémon. — Ele disse.
— Eu sei. — disse eu, dando gargalhadas por motivo algum. Então, consegui reunir fôlego o suficiente para dizer-lhe: — Capture-o!
— É o que vou fazer! — disse Black, já pegando uma pokébola vazia em uma das mãos, e lançando a que continha Popplio com a outra. — Vaaaai, "Pop"!
O leão marinho deixou sua esfera sorridente, pronto para um desafio.
— Pop? — Perguntei, dando risada.
— É. — disse Black, fechando a cara. — Qual é o problema?
— Nenhum. — Por fim meu lado consciente conseguiu tomar o controle. — Parece que o Black continua sendo o Black, mesmo por trás de toda essa maquiagem.
Ele sorriu, mas nada disse. Estava agora concentrado no processo de captura do travesso Rotom, que não se intimidara nem um pouco quando viu Pop entrar em campo. E quando eu digo nem um pouco, é nem um pouco mesmo. Rotom interpretou a presença de Popplio como uma hostilidade, e logo iniciou o ataque, disparando uma rajada de eletricidade...
...que seria super efetiva, se Popplio não tivesse usado o Tackle como evasiva, esquivando-se por completo do raio que atingiu a água.
Por sorte, todos já havíamos deixado os limites do mar quando o ataque acertou a superfície, ou teríamos todos sentido os efeitos do ataque.
Com instintos de um relâmpago, Black, que agora não fingia mais ser um iniciante, usou todo o conhecimento e agilidade que tinha para acompanhar uma batalha quando ordenou o próximo ataque de Pop.
— Pop, diminua a Defense dele com o Tail Whip!
O leão marinho começa a rodopiar no ar, elaborando uma dança de movimentos com sua cauda, que espalha um brilho suave pela costa, iluminando a água a seu redor de uma forma que Rotom parecia estar sendo afetado pelo próprio brilho, pois parecia estar ficando mais miúdo e mais fraco.
— Deu certo! — Comemorei ao ver as barreiras de Rotom caindo.
Mas, ao mesmo tempo em que isso acontecia, Rotom já elaborava seu próximo ataque, produzindo e liberando energia na forma de uma bola negra, potencializada pela penumbra.
Naquela noite, dormimos em um hotel próximo à praia. Era tarde demais para qualquer coisa e depois de tudo o que passamos, incluindo uma viagem longínqua e demorada, um jantar a luz de velas a beira-mar e um pequeno incidente envolvendo um Rotom e um vulcão, não queríamos mais nada senão nos atirarmos em uma boa cama e relaxar, sem se preocupar com as obrigações do dia seguinte.
White já havia colocado sua camisola de seda (que eu mesmo havia lhe dado de aniversário) e agora escovava os dentes, pronta para se deitar. Era o momento perfeito para eu contar pra ela uma ideia maluca que martelava minha cabeça desde o momento em que deixamos nossa mansão isolada em Unova.
Há muito tempo atrás, eu resolvi sair em minha primeira jornada pokémon a fim de encontrar inspiração para publicar um livro. Acreditem, esse foi o motivo de eu ter saído por aí, sem rumo algum, desbravando Unova pelas entranhas, até encontrar White, Cheren e mais uma porção de amigos e transformar tudo isso em uma duradoura e próspera carreira de sucesso.
Porém, desde cedo, eu tinha resolvido que escreveria profissionalmente. Aliás, isso é muito comum em um país tão bem estruturado e desenvolvido como Unova. Somos incentivamos desde pequenos a passarmos nosso conhecimento adiante através de ferramentas como a publicação. Mas comigo era diferente. Eu não queria ser doutor, professor ou nada do tipo. Eu só escrevia por prazer. Ficção. E assim foi. Desde muito cedo, de forma independente e com grande ajuda e apoio de minha mãe, publiquei minhas primeiras novelas.
Mas, no fim, acabei me desviando de meu caminho como escritor. Acabei aprendendo mais e mais sobre os pokémon e me apaixonei por eles, de forma que nunca mais consegui ficar parado em uma sala para produzir qualquer texto que fosse. Depois que saí em minha jornada, minha vida ganhou ritmo, movimento, cores. Eu saí da ficção e passei a ser o protagonista de minha própria história.
E de qualquer forma, mesmo que eu resolvesse, de uma hora pra outra, voltar a me concentrar na escrita e publicação de um novo livro, não daria certo. As responsabilidades como Campeão são muitas, e eu simplesmente preciso estar presente em diversos eventos, reuniões, assembleias e discussões por todos os cantos, não só do país, como também de todo o mundo. Dessa forma, não tenho tempo ou mesmo paciência para exercitar meu cérebro em uma atividade tão prazerosa quanto escrever.
Entretanto, aquela poderia ser uma oportunidade de começar de novo. Talvez Arceus tenha me reservado aquela missão em Alola só para eu recolocar minha vida de volta nos eixos. Se isso não é uma dádiva, eu não sei o que é. De uma hora pra outra, sinto-me livre de todos os compromissos. Claro que me preocupo por estar deixando tudo pra trás, mas não pense que este não foi um dia feliz porque foi. E muito.
Talvez seja a hora de eu me envolver em novos projetos literários. Em projetos que façam eu me sentir um cara "normal" de novo.
Mas... Seria esse o momento para contar? Não seria mais fácil que eu colocasse primeiro no papel para depois anunciar? E se... Bom, não vou nem pensar nas possibilidades. Ultimamente, tudo o que eu venho tentando fazer com minha vida tem miseravelmente falhado, então... Sim. É melhor fazer tudo nos conformes. Tudo no seu tempo.
White de repente saiu do banheiro, esboçou um boa noite enquanto bocejava, com muita cara de sono. Esfregou os olhos e foi pra cama. Estava cansada, nem me esperou. Eu sabia que ela já estava adormecida meio segundo depois de tocar na superfície do colchão, então me sentei na beirada da cama e puxei minha mochila para perto. Ela estava pesada. Carregava ali dentro bem mais do que vocês podem imaginar.
Mas o que retirei de lá foi um laptop que havíamos sequestrado do escritório de finanças da liga pokémon juntamente com óculos para descanso. Imediatamente, iniciei o sistema e, depois de tudo ligado, escolhi um diretório escondidinho, para que ninguém pudesse ver e estragar esse momento, e criei um novo documento de texto, que nomeei como "Menina-Mulher"
Comecei a escrever, parando uma vez ou outra para lavar o rosto ou para me recuperar de mais um pequeno tremor que abalava a ilha.
Eu estava disposto a recuperar o meu verdadeiro eu. E esse momento começava agora. Com um Black que ninguém jamais viu.
Pela manhã, eu estava morto, mas precisava me levantar. Era um dia novo e tínhamos muito o que investigar. Nossa tarefa diária era tentar descobrir o que podia ter acontecido com o Campeão local. Não podíamos ficar parados, apenas absorvendo as informações que as pessoas nos davam e caçando depoimentos. Já estava na hora de agir. Afinal, depois dos acontecimentos do último anoitecer, sabíamos que tínhamos de ser rápidos, ou Alola seria arruinada antes mesmo que pudéssemos descobrir a causa de tudo aquilo.
O fato era que estava quente, mesmo às 7 da manhã, e isso me dava energia para continuar. Pegamos nossas coisas, passamos o cartão de crédito no hotel e saímos, rumo a um novo local para ficar. Decidimos seguir pela rua asfaltada para chegarmos na próxima cidade, onde havia um porto e onde poderíamos comprar passagens para uma viagem de barco até as outras ilhas.
A brisa trazida pelo oceano ainda era um pouco gelada, mas o sol já estava alto no céu, e só de caminhar sob sua luz, já dava vontade de atirar as roupas longe.
Não cheguei ao ponto de fazer isso. Paramos e nos escondemos atrás de alguns arbustos quando vimos, ou melhor, ouvimos uma conversa muito estranha logo à nossa frente. Era Eclipse, o garoto que ficara com o Litten no momento em que pegamos nossos iniciais Aloianos. Estava discutindo com alguém. Uma garota extremamente pálida, cabelos platinados e uma voz incrivelmente enjoada.
Estavam na calçada, em ritmo de discussão. Se continuássemos caminhando naquela direção, mais tempo menos tempo, acabaríamos nos esbarrando com eles e interromperíamos a conversa. Por isso, nos agachamos e escutamos toda a conversa, sem causar interferência alguma.
"Você não pode contar nada! Entendeu!?" — disse a voz feminina abusada.
"Mas..." — Eclipse foi falar, mas foi interrompido. Ela colocou o dedo indicador sobre a boca dele, calando-o.
"Eu estava com o Ele e agora eu volto sozinha! Como que eu vou explicar isso?"— Pergunta ela.
"Mas o que aconteceu?" — Eclipse parecia bastante apreensivo.
"Aconteceu que eu fui fraca. E agora preciso resolver isso sozinha. Preciso recuperá-lo eu mesma." — disse a menina, que vestia um chapelão e alvas roupas de boneca, combinando com sua pele branca como leite e formando um completo contraste com o bronzeado de Eclipse. — "Por isso..." — Ela continuou. — "Nem um pio. Kukui não pode saber que eu estou de volta. Ele arruinaria tudo."
Opa. Palavra-Chave detectada. Kukui não poderia saber do que? Como assim? O que eles estavam escondendo de meu primo? Será que aquilo tinha a ver com os estranhos acontecimentos que vinham cercando a região?
Peguei minha pokédex e, de trás do arbusto mesmo, tirei não uma, mas várias fotos dos dois conversando. Aquilo precisava ser registrado.
Como Eclipse não parecia satisfeito com a resposta, a menina então enrolou:
"Eu... Tenho certeza de que conseguirei me resolver desta vez! Eu... Farei tudo certo. Aliás... Foi por isso que eu voltei à Ilha. Tem uma coisa aqui na Ilha MeleMele que me ajudará a... Bem..." — Ela pigarreou, como se fosse dizer uma coisa, mas logo desistiu. E então remendou: — "Trazer o Campeão de volta. Você quer que ele volte, não é?"
"S-sim." — Eclipse sentiu-se desconfortável quando ela disse aquilo. Era visível, mesmo de longe.
"Então colabore." — Ela disse.
"Como?" — Perguntou o adolescente.
"Ficando de bico calado. Quando tudo isso acabar... Você terá sua recompensa." — Ela virou as costas para Eclipse, o chapelão e os cabelos escorridos cobrindo boa parte de sua metade superior.
"E por que eu deveria--" — Eclipse começa a falar, mas é interrompido.
"Confie em mim." — A garota o corta. — "A Lillie aqui sempre cumpre suas promessas."
E vai embora, certa de que Eclipse ficaria quieto.
Era o momento parar agir. Saímos discretamente de trás dos arbustos enquanto Eclipse estava de costas, assistindo a garota pálida ir embora e nos aproximamos.
— AI! Que susto! — Eclipse dá um pulo quando nos vê, logo perguntando: — O que fazem por aqui?
— Viemos à praia! — disse White, que levantou suas sacolas de compras para mostrar a Eclipse. em um momento oportuno, como se aquilo fosse uma sacola cheia de coisas pra levar pra areia.
— Ah! Claro! Hoje o mar está calmo. — disse ele com frieza. — Eu vou indo treinar. — Então completou. — Já consegui seis parceiros desde ontem!
— Já formou um time? — Perguntei, espantado.
— Já. Você não?
A verdade é que passamos o último dia nos preocupando com coisas mais importantes. Se de fato estivéssemos em uma jornada, talvez já estivéssemos no mesmo ritmo que Eclipse. Mas não poderíamos dizer isso pra ele, afinal, daquele momento em diante, o menino se tornou nossos principal suspeito.
— Tenho 5. — Apressei-me em mentir.
— Cinco? — Eclipse esboçou um sorriso. — Vamos batalhar de novo, então!
— Ah, desculpe! Estou indo pra praia com a W-- Moon!
— Claro, claro. — De repente, o olhar do garoto elucidou-se e ele se ergueu as mãos, em defesa. — Não vou atrapalhar vocês! Até a próxima!
E se afastou rapidamente, seguindo pelo asfalto e deixando eu e White a sós.
— O que foi isso? — Perguntei.
— Muito estranho. — disse White. — Ele já tem um time completo! Se de fato for necessário nos preocuparmos com ele... Temos que cuidá-lo desde já, ou ele vai se tornar um treinador tão bom quanto você antes que possamos perceber!
— Tem razão. Mas o que vamos fazer? — Perguntei sem muita certeza quanto aos nossos próximos passos. Eclipse era um treinador em ascensão, afinal. E por mais que tivesse iniciado sua jornada ainda ontem, era muito fácil conseguir pegar pokémons selvagens, da mesma maneira que era fácil batalhar contra outros treinadores. Uma hora ou outra, ele poderia nos superar em questão de poder e habilidades, e isso acontece muito, muito rápido.
— Bom, primeiro você vai ter que aprender que o meu nome é Moon! — disse White, zangada por eu quase ter cometido um desfalque, ao por pouco não chamá-la pelo verdadeiro nome.
— É, tem razão. Mas... O que podemos fazer para evitar que... Aquele garoto, seja lá quem for...
— Temos que implantar um espião, é óbvio! — disse White, mais do que depressa.
— Um espião?
— Algum pokémon que possa segui-lo e nos passar informações! Seria perfeito! Que tal o Rotom? Ele é um tipo Fantasma, não é?
— Um fantasma brincalhão e eletricamente bem visível! Você viu o que o pokédex disse... Ele tem uma personalidade um tanto... Travessa. Isso poderia acabar nos prejudicando.
— É, você tem razão. Então eu... Vou achar outro pokémon por aí que seja capaz de fazer isso e vou capturá-lo! Tenho certeza de que Alola tem muitas espécies que não são comuns em Unova! Aliás... Só os pokémon nativos de Unova são comuns em Unova... Enfim... — Ela disse, já indo na mesma direção em que Eclipse seguiu. — E você... Leve essas informações para Kukui! Tenho certeza de que ele ficaria agraciado em saber o que estão planejando pelas costas dele!
— Certo! — Peguei meu pokédex e revi as fotos que eu havia tirado. Estavam com baixa qualidade, mas dava pra ver claramente o rosto de Eclipse e da menina. E por falar em menina... — E A GAROTA? — Gritei para que White me ouvisse. Já estava longe agora... Seria melhor a seguirmos de uma vez, ou poderíamos nunca mais a encontrar.
— Vá ao laboratório! — Ela disse, e então compreendi. Se a menina conhecia Kukui, meu primo também a conhecia, e consequentemente, poderia nos contar quem ela é.
E assim, nos despedimos, com um triste aceno de mãos, à distância. White continuou em frente para a rota mais próxima a fim de conseguir uma captura e eu regressei todo o caminho, de volta para o laboratório de Kukui. As coisas pareciam estar fluindo, afinal.
Um espião... Essa era uma ideia que já me passara diversas vezes pela cabeça, e não estou falando só daqui. De Alola. Uma mulher esperta como eu tem que se manter viva dentro de um relacionamento. Eu não posso me anular em momento algum. Por isso, sempre tomei as rédeas da situação. Sempre trabalhei, me esforcei e sempre fiz de tudo para dar o meu melhor como ser individual. Afinal, as boas relações provém da participação efetiva de todos o envolvidos. E não estava sendo o meu caso.
Vamos nos situar na linha do tempo. Antes de todo o drama do meteoro e blá blá blá, Black e eu estávamos vivendo nossa fase de ouro. Conquistamos títulos e estávamos os mantendo com facilidade. Porém um dia, nos cansamos disso, e Black foi esperto. Resolveu sair em uma segunda jornada pokémon por Unova, dessa vez disfarçado como "Touya", um treinador iniciante. Exatamente como estamos fazendo aqui em Alola.
Só que, nisso, eu fiquei sozinha, tomando conta de todo o país. Ele... Praticamente me abandonou por algum tempo e eu não sabia onde ele estava, o que estava fazendo, com quem andava... Eu não suportava mais aquilo. Não queria ser a amélia da vez. Então eu tomei atitude e agi. Contratei cinco espiões profissionais para me passarem informações concretas e sigilosas sobre Black.
Felizmente, meu marido sempre foi fiel e nunca me traiu. Estava apenas voltando à ativa no ramo dos ginásios. E felizmente, ele nunca descobriu nada sobre os espiões.
Mas o fato é que, depois do ocorrido, ganhei certa experiência com espionagem. Por isso, eu sabia exatamente o que dizer quando Black me perguntou o que deveríamos fazer com Eclipse. Porque eu sabia que se mantivéssemos algo ou alguém infiltrado no dia a dia dele como treinador, descobriríamos, com certeza, informações muito relevantes. Aliás, descobriríamos praticamente tudo o que por ventura estivesse acontecendo.
E que jeito melhor de fazer isso do que mandando um pokémon sorrateiro para fazer o trabalho?
Assim, deixei a área urbana e adentrei na primeira rota terrestre que se seguia. Composta por aclives e declives, e de aparência íngreme, não se tinha muito o que fazer por ali senão capturar alguns poucos Pokémon que moravam no arvoredo próximo.
À primeira vista, tudo o que consegui visualizar foi matinho, grama da altura de meu quadril, muitas árvores e é claro, treinadores chatos que não tem mais o que fazer senão pedir pra batalhar. Vasculhei rapidamente a graminha nada convidativa em busca de pokémon selvagens para capturar e logo de cara encontro uma família de criaturinhas adoráveis tirando um cochilo. Na verdade, uma mamãe felpuda e dois pequenos filhotes, os três agarrados à pedaços de madeira semelhantes a tambores.
Aquela espécie era muito famosa no exterior por ser realmente muito fofa e muito preguiçosa. Eu sabia seu nome e tipo de cor. Eram Komalas e pertenciam ao tipo normal, sendo muito comuns em regiões tropicais como Alola. Mas, não eram o tipo de pokémon que eu precisava. Infelizmente.
E fora o detalhe de que eles estavam em um sono tão profundo que chamá-los para uma batalha seria judiaria, sem falar que eu estaria prejudicando a família, separando-os ao capturar só um e não os três.
Então peguei minha pokédex não para analisar as informações dos monstrinhos, mas para tirar uma foto daquele lindo momento em família. Eu tinha certeza de que essa viagem para Alola me traria ótimas fotografias e melhor ainda: ótimas recordações.
Mais adiante, pude verificar algumas poças d'água e lá dentro, burbulhavam Luvdiscs com seu pleno vigor. Imediatamente, lembrei-me de minha Alomomola, um pokémon que mantém estreita relação física com Luvdisc. Até me passou pela cabeça uma vontadezinha aguda de capturá-lo, mas então me lembrei da importância de encontrar um pokémon espião o mais depressa o possível.
Luvdisc até poderia ser um espião. Ele é bastante ágil. Porém, só funciona em ambiente aquáticos, visto que não possui membros para se locomover fora d'água. Já a família de coalas que eu acabara de encontrar parecia dormir muito, e não possuem características essenciais, como velocidade e capacidade de camuflagem.
Então segui pelo matinho, catando pokémon por entre a grama alta. Ou melhor, selecionando as criaturas que apareciam, sempre prezando as qualidades que um bom espião deve possuir. E então, depois de muito esforço...
— Ahá! Você é o pokémon perfeito para o que eu preciso... Gastly!
Uma bola de gás flutuante capaz de ficar invisível, com incrível agilidade no voo. Esse era Gastly, um tipo fantasma e venenoso.
— Gas!
Peguei minha pokédex em modo nacional e dessa vez a utilizei para escanear o pokémon que se encontrava à minha frente.
A voz eletrônica anunciou: "O pokémon gás, Gastly, nasce dos gases. Qualquer um que seja tragado por sua espessa camada de gás desmaia, uma vez que esse vapor contém veneno."
— É... É de você mesmo que eu preciso. Vaai, Rowlet!
Peguei e joguei a pela primeira vez a pokébola de Rowlet, o pokémon que eu tinha ganhado de Hala, desde o momento em que me fora entregue.
A corujinha saiu com cara de sono, não estando pronta para batalhas, porque aparentemente, nunca fora treinado para tal. Seu nível não passava do 5.
— Row...
Ela piou baixinho, meio mole.
— Anime-se, Rowlet! Vamos capturar um pokémon! — Exclamei em alto e bom som, a fim de motivar Rowlet a se erguer. Mas não foi preciso muito.
Ao ver o ataque de Gastly se aproximando, Rowlet voou como um raio, a fim de se escapar da enorme "lambida" proporcionada pelo movimento tipo fantasma Lick.
— Ele é rápido! Muito rápido! — Observei. Gastly estava tentando acertar Rowlet com a língua, enquanto a ave tentava se esquivar múltiplas vezes, ao dar pequenos pulinhos para trás.
Aquele era o momento certo para atacar. Tínhamos que mandar Gastly pra longe, então gritei: "Leafage"! Rowlet pousou em terra firme e girou o corpo, enviando uma leve brisa de folhas afiadas pra cima de Gastly.
O tipo fantasma é pego de surpresa e recebe o dano, mas eu sabia que não poderia me basear só em ataques tipo grama, porque sua efetividade contra Gastly não passava de ½.
Rapidamente, a bola de gás se reergueu do susto e começou um novo ataque. De seus olhos espirrava uma rajada de energia negra, delineada por traços vermelhos.
— Evasiva! — Gritei, e Rowlet me obedeceu dando um super voo e contornando Gastly. Mas a cabeça flutuante foi rápida e se virou, atingindo a ave com seus raios óticos.
— Piu!
Rowlet se estatelou no chão, levantando muita poeira e penas.
Precisávamos diminuir aquele ataque, pensei. Então ordenei:
— Use Growl! Agora!
À distância, Rowlet gritou, emitindo ondas de som que ultrapassam a barreira de gás de Gastly e diminuem seu stat de Attack em um estágio.
— Ótimo. — comemorei.
Mas aquele barulho todo só havia irritado o fantasma, que decidiu de investir em uma vingança. Da testa do bichano, surge uma luz cor-de-rosa, que se configura em uma onda de vibrações telecinéticas.
De repente, Rowlet flutuava no ar, sem mover um músculo. Estava sendo erguido pela força da mente de Gastly, em uma dolorosa compressão que o esmagava de fora para dentro, em todos os cantos do corpo.
Nestas alturas do campeonato, Rowlet já se encontrava na metade do HP, em uma batalha contra um oponente mais forte e aparentemente em vantagem.
Então peguei minha pokédex novamente para analisar os movimentos da ave, que eu ainda não sabia completamente de cor. Fora o Leafage e o Growl, ele só tinha mais um no momento, e era minha única esperança de virar o jogo:
— Peck!
Do tipo voador, o Peck consistia em um ataque sorrateiro de contato físico, causando 1x de damage em um oponente como Gastly. Dano comum, mas mesmo assim, era nossa maior vantagem no momento.
Do outro lado do campo, Gastly reagia instintivamente. Ao ver Rowlet avançando, a cabeça gasosa começou um novo ataque, também físico. Lá vinha o golpe tipo noturno conhecido como Payback. Gastly avançava pra cima de Rowlet, da direção oposta.
Assim, aconteceu um confronto de frente à frente. Os dois colidiram um com o outro, ambos sendo jogados para trás com a força do impacto.
Rowlet entrara no vermelho e uma sirenezinha infame já bombava em minha cabeça. Era a pokédex emitindo um aviso de que o meu pokémon estava próximo do fim.
Mas em compensação, Gastly também estava mais abatido. Já não flutuava mais tão alto e era possível ver arranhões em sua superfície sólida.
— Rowlet, eu quero que me dê o seu melhor! — disse eu, motivando Rowlet.
O pokémon voador, já ferido, girou seu pescoço 180º e me encarou com uma expressão que significava "Vadia, você deveria calar essa boca".
"Quenga estúpida".
Eu sabia que Rowlet já estava ferido e zangado por não conseguir abater um adversário tão forte quanto Gastly, mas eu precisava contar com a colaboração dele para aquela luta.
E assim, peguei em minha bolsa à meia espalda um item que com certeza seria muito útil na batalha. Eu não tinha as habilidades como Move Tutor que Black tinha, mas eu tinha dinheiro e era isso o que importava.
Assim que consegui Rowlet com Kukui e o Professor Hala, fui correndo comprar alguns materiais úteis para seu treinamento. E uma Technical Machine do tipo Grama era essencial.
Encaixei o mini disco em minha pokédex, que fez uma rápida leitura, quando a mesma voz eletrônica de mais cedo começa a dar instruções para Rowlet:
"Focalize sua energia em frente à sua boca, concentrando todo o seu poder no movimento de rotação. O golpe Energy Ball não poderá ser lançado enquanto a energia concentrada não for suficiente para rotacionar como um redemoinho. Pratique a mira e então dispare."
Rowlet ouvira tudo com atenção. Estava ainda com a cabeça virada pra trás, me encarando, quando a voz mecânica parou.
Então, muito rapidamente, Rowlet fez o que o TM ordenou. Abriu bem o bico e concentrou sua energia tipo grama ali, naquela região, fazendo-a rodopiar e crescer enquanto Gastly se aprontava para mais um ataque de língua.
Do lado de dentro, a construção parecia ter 3 vezes o tamanho do lado de fora e Kukui tinha uma mobília realmente bonita, tudo arrumadinho e no seu devido lugar. Fiquei imaginando se ele tinha namorada.
— Eu sei que sou demais! - Gaba-se o Pokémon, mas sendo ignorado pelos dois humanos.
— Queria ver se você ia gostar de ficar dentro de um saco ao lado de outro saco! - Rotom Dex poderia ter a voz de uma criança de 5 anos, mas aquelas palavras não eram nem um pouco inocentes.
— Eu posso até ajudar, mas milagre eu ainda não faço!
Dou risada e Kukui me olha zangado.
— Vai rindo, mas lembre-se que ele vai ficar 24 horas contigo.
— Solgaleo, lendário Pokémon da região de Alola, alvo de muitos mistérios, segundo as lendas locais, é o emissário do Sol. Lunala, lendário Pokémon da região de Alola, alvo de muitos mistérios, segundo as lendas locais, é o emissário da Lua.
Olho interessado para a Pokédex viva, que parecia bem informada.
— Sem enrolação — Ameaço.
— E d-depois de ele agonizar até morrer... Ingerimos o coração pra chamarmos Lunala. Nós... Fizemos a antiga oração.
(Img Original) |
Que capítulo maravilhoso!
ResponderExcluirCapturas lindas de se ler e adorei ver as perspectiva da White, ops dá Moon. Caitlin mulher perigosa,uii adoro 'u'
Rowlet melhor pokémon, já considero ele pakas <33
Vlw pelo comentário Caf (vou abreviar u.u pq sim), a partir de agora veremos uma divisão nos pontos de vista, sempre haverá mais de um personagem a narrar um capítulo. ;)
ExcluirCRAZY AND FUNNY! Só agora que eu vi o seu comentário! Muito obrigado por estar acompanhando e obrigado pelos elogios, é claro. O capítulo 02 focou no psicológico dos personagens de forma "separada" por isso, a partir de agora, se verá muito mais das perspectivas separadas de cada um e isso deverá se manter até o fim da fanfic. Ademais, outros detalhes com relação à produção do capítulo e às minhas intenções como autor, você (e todos os que estiverem lendo este comentário agora) pode conferir nas notas do autor, que acabei de publicar: www.my-pokemon-travels.tk/2016/06/notas-do-autor-sol-lua-adventures-02.html
ExcluirEspero que goste! E mais uma vez, muito obrigado pelo comentário. As coisas andam meio paradas ultimamente...