Anteriormente em Pokémon Sol & Lua Adventures... Black está se sentindo muito frustrado e decide esfriar a cabeça dando um passeio em uma floresta adjacente. Porém, ele se encanta com a vida selvagem para além da cidade e resolve fazer algumas aquisições para seu time. Todavia, ele passa muito tempo fora e perde completamente o horário. Nisso, White decide ir atrás dele e acaba percebendo sons ao seu redor. Ela estava sendo perseguida. Hau Marshadow Eclipse vai atrás da garota para tentar descobrir detalhes que possam incriminá-la, mas no fim das contas, ambos acabam sendo pegos por alguém que sabia de muito mais do que eles imaginavam...
~Sun
— YES!
Komala acertara o alvo. Não era muito difícil, uma vez que Morellul era um pokémon minúsculo e desprovido de membros que lhe dessem agilidade para escapulir perante um ataque físico de um pokémon de maior porte. Porém, Komala recém havia sido capturado e a julgar pela aparência sonolenta do bichano, ele não estava nem um pouco disposto a batalhar ou pior: ser treinado.
Mas mesmo assim, Komala foi obediente e arrasou com Morelull, deixando o pokémon dos tipos Planta e Fada devastado.
Puxei uma pokébola e imediatamente mirei no fungo, fazendo-o ser tragado pra dentro do objeto esférico. Não demorou muito e a bola emitiu alguns brilhosinhos, prendendo Morelull definitivamente em seu interior. SUCESSO! Mais um pokémon exótico para a minha coleção.
Peguei meu celular para ver se eu não havia perdido muito tempo (pra falar a verdade, eu já estava atrasado, mas sinceramente, capturar mais alguns pokémon me poderia ser útil futuramente) e então quase deixei o aparelho cair no chão:
— 10 CHAMADAS PERDIDAS!! — Gritei desesperado. Eram todas de White. Redisquei o número, mas não chegou a chamar. Ali dentro da mata, mais especificamente naquele ponto, não estava pegando sinal. Então saí em disparada, retornando o mais rápido o possível para a cidade.
Se White havia me ligado tantas vezes, era porque algo havia acontecido, mas infelizmente, meu telemóvel estava no silencioso e eu acabei não ouvindo nenhuma das vezes em que ela me telefonara.
— Vai, vai, vai.
Mas o telefone não pegava justo quando eu mais precisava. ARGH.
Corri pelo bosque, refazendo meu caminho de volta rumo à delegacia. Meu coração estava disparado. Alguma coisa tinha acontecido. Alguma coisa tinha de ter acontecido. Ela não me ligaria dez vezes se fosse alguma coisa boba. White não era assim. Não era de chamar atenção ou fazer cena. Ela sabia que eu tinha meus tempos e meus limites e os respeitava, assim como eu respeitava os dela.
Mas então o que poderia estar havendo?
Quando pisei na boca da floresta, já enxergando a cidade e mais distante o cais, o telefone toca. Era White. Atendi rapidamente.
— Oi. Desculpa não ter atendido antes, amor. Eu--
Rispidamente, uma voz grave e gélida cortou a linha, interrompendo-me.
— O seu amor está com a gente.
Meu sangue gelou. Pegaram White e a culpa era minha. Eu não estava lá para protegê-la.
~Moon
O verde da floresta tremulou e eu me senti estranha. Como se estivesse bêbada. Era noite e eu via tudo ao meu redor em tons e cores jamais imaginadas, mas não era com meus olhos que eu enxergava. Eu não podia sentir mais meu corpo. Apenas a minha essência continuava ali e era isso o que tornava tudo tão diferente, tudo tão imaterial. Era como se eu estivesse ali, mas não estivesse ao mesmo tempo. Como se eu tivesse me dissolvido por completo e só tivesse restado uma parte de mim, a parte mais importante. Isso foi o suficiente para me fazer estremecer, não fisicamente, mas "por dentro".
Será que eu... Havia desencarnado?
Será que eu... Havia desencarnado?
Chorei em silêncio, desesperada, mas eu não tinha mais olhos. O que estava acontecendo comigo?
Então senti uma mão acolhedora no lugar que deveria ser o meu ombro. Olho para trás e vejo ninguém menos que o Capitão Drad.
— Não se assuste. Tudo vai ficar bem. — disse ele, com uma voz que não vinha do desenho de sua boca, mas de sua cabeça. Seu corpo brilhava em uma névoa azul e eu mal podia enxergá-lo. Era como se eu visse através dele, como se ele fosse um reflexo.
— Eu morri? — Perguntei, de repente sentindo uma angústia tão grande, que bem poderia assemelhar-se a uma depressão. Então era assim que era a morte? Injusta? Imprevisível? Inimaginável?
— Olhe. — Ele então aponta calmamente para o chão, mostrando-me um monte de folhas secas.
— O que? — Pergunto sem entender do que se tratava.
— Você não quer olhar, mas será preciso. Está com medo? Não fique. Olhe com mais atenção. A verdade está naquilo que você teme.
E ele continuava apontando para as folhas do bosque, mas nada havia lá senão dejetos naturais. Então dois flashes percorreram minha visão, como dois frames muito rápidos de uma animação, mostrando a floresta em suas cores verdadeiras, ainda de dia e em sua estatura real. E logo, as imagens se dissolveram, o mundo voltando a oscilar.
— O que é isso? — Pergunto, mas dessa vez, Drad não me diz nada.
Ele continuava apontando para o solo, como quem diz: olhe e veja.
Passei a encarar a terra com mais força, com mais vontade, e as cores do bosque retornaram como se um interruptor tivesse lido ligado. E então, bem ali onde Drad apontava, avistei meu corpo. E não só o meu, mas também o de Eclipse, debruçado sobre mim.
— AAAHH!
Gritei de desespero, uma amargura tremenda inundando meu coração ou o que eu achava que fosse o meu coração.
— Eu estou morta, não é? — Parte de mim sentia-se tranquila, outra parte queria gritar e espernear. Mas me contive, pois uma dúvida me surgiu. — E o... Eclipse?
O corpo do garoto jazia sobre o meu, mas Drad fez que não com a cabeça. Permanecia vivo.
Então senti o chão se abrir, meu mundo desmoronar. Por que aquilo estava acontecendo comigo? Era algum tipo de pegadinha? Algum tipo de droga que colocaram em minha comida? Como aquilo poderia estar acontecendo? Como eu poderia ter morrido?
— Você não está morta ainda — Por fim disse ele, depois de algum tempo. —, mas em breve estará se não achar o seu caminho de volta à vida. E o tempo é curto. O tempo é curto.
— Como assim? Se eu não estou morta, onde estou?
— Essa é a ruptura do espaço tempo, a linha divisória entre a vida e a morte. — Explicou o capitão. — Eu sou capaz de andar sobre esta linha quando estou dormindo. Também tenho vislumbres involuntários daqueles que estão perto de fazer a travessia...
Então um raio de compreensão passou pela minha cabeça. Foi por isso que Drad disse para deixarmos Jesse, quer dizer, Kyle, ir conosco ao Festival Pomaikai: porque ele sabia que o garoto estava prestes a morrer. E era por isso que Drad estava ali agora, porque sabia que EU também estaria por um fio.
— Black... Ele está com problemas! — eu disse mais pra mim mesma, tentando acordar daquele pesadelo. Mas quando acabei, Drad continuava ali, ao vivo e em cores. Bem na minha frente.
— Eu sei. — Foi o que ele se limitou a dizer. — Você pode ajudá-lo daqui. A boa notícia é que neste plano, o tempo passa mais rápido que lá embaixo e os 100% vivos são capazes de perceber nossas sugestões.
Ele apontou novamente para o chão. Me vi caída na terra, toda suja e com muito sangue escorrendo pelo canto da testa.
— Como assim? — Perguntei, sentindo um afastamento do capitão.
— A pancada em sua cabeça teria matado a qualquer um, mas por alguma razão, você não foi morta. Por alguma razão, você está aqui, pendendo entre os dois lados da moeda. Para qual dos lados você vai cair, eu não sei, mas há uma razão para isso e você pode seguir para qualquer uma das faces. Basta que encontre o caminho certo.
— O que você quer dizer com isso?
— Pergunte-me se acredito em Deus e eu direi que sim.
Senti um arrepio na alma. Lunala.
— Eles... Eles têm o poder de vir aqui, não tem?
Drad fez que sim, o que confirmou minhas suspeitas. A visita de Lunala à minha cabeça era o que estava me prendendo ali. Entre a vida e a morte. Era o que estava me dando uma segunda chance.
— Mas o que eu devo fazer? Como acharei meu caminho de volta?
— Não sei, White, mas lhe desejo toda a sorte do mundo para que isso aconteça. Toda vez que eu acordo, retorno para o outro plano. Mas você não vai acordar assim tão fácil. Veja.
Espiei pela fenda espaço-temporal e vi o homem com rosto conhecido pegar Eclipse e tirar de cima de mim. Depois ele me ergueu e só então percebi que havia perdido quase todo o sangue.
— O que eu faço?
Perguntei, ao ver que Drad se afastava etereamente de mim, desaparecendo daquele plano.
— Ajude Black a fazer a coisa certa. Sussurre no ouvido dele. Ele fará o que você mandar. E lembre-se: aqui o tempo e o espaço são uma vantagem para você.
E estas foram as últimas palavras que o espírito me disse antes de esmaecer e me deixar sozinha, desolada naquele mundo em que tudo era, mas nada podia ser, ao mesmo tempo.
Black, foi o a primeira coisa que pensei. Eu tinha que ir atrás dele. Mas para onde ele havia ido? Eu olhava ao meu redor e tudo parecia diferente. Meus sentidos estavam mais aguçados, isso porque eu sentia o ambiente com a minha aura e não com o meu corpo físico.
Para a cidade, então raciocinei. Ele devia ter ido para a cidade. E foi para lá que me transportei. Meus pés pisavam nas nuvens e aquela sensação era muito boa, se não fosse pelo fato de que aquela situação toda era muito perturbadora. Eu estava quase morrendo. Quando que eu poderia imaginar uma coisa dessas? E agora? O que eu faria?
De repente, em minha travessia para a cidade, ouço um barulho muito perturbador. O choro de uma criança. Olho para todos os lados, mas nada identifico. Então faço como Drad me instruiu. Olhei com mais atenção, e um menino que não devia ter muito mais do que cinco anos apareceu, em prantos. Era um eco do que um dia fora sua verdadeira aparência. Sua essência estava quase se dissolvendo, quase passando para o outro lado.
Ele era tão transparente, que dava a entender que ele estava perdido, sozinho naquele mundo de transição havia muito tempo e agora estava prestes a ficar por ali para sempre.
— Ei.
Me abaixo, tentando chegar à criança. Quando ele percebe que estou ali, limpa os contorno dos olhos depressa e me encara, perguntando:
— Quem é você?
— O meu nome é Hilda. E o seu?
— Oliver.
— Estou tentando sair daqui, Oliver. Você... Sabe como?
— Não tem como sair. — Disse ele, começando a berrar novamente, desesperado.
— Calma. — Mas a verdade é que nem eu estava calma. Como poderia pedir isso dele?
Aproximei-me do menininho e senti meus braços de perispírito envolver o corpo dele em um acolhedor abraço.
— Vai ficar tudo bem. Vamos sair daqui.
— Não... — Ele soluçou. — Não dá. Eu preciso de terapia. Eu preciso de terapia!
— Terapia? — Perguntei, para que ele me explicasse melhor.
— Minha tia está tentando a terapia, mas não consegue o pokémon que é preciso para fazer o tratamento. Se ela não conseguir, eu vou morrer...
E ele chorou mais intensamente ainda.
Com o eco, algumas formas de vida (ou melhor, formas de quase morte) surgiram e se juntaram em nosso abraço.
Primeiro, foi uma criatura cujo brilho era de um branco muito intenso. Um Vulpix, do tipo gelo. Em seguida, surgiu um Rattata dos tipos Normal e Sombrio. Tinha feições de roedor e espelhava uma luz negra, um completo contraste ao pokémon que aparecera antes. Depois veio um Meowth, um Minior e um lindo pássaro vermelho que eu achava que se chamava Oricorio, mas não tinha certeza.
— EI! Pra onde você vai?
O desenho de Oliver e seus pokémon foi desaparecendo conforme eles ficavam longe, até que os perdi de vista completamente.
Então ouvi um assovio baixinho. Olhei para cima, em uma árvore. Lá estava Oliver, empoleirado.
— Como você chegou aí? — Perguntei.
— Eles nunca vão me encontrar aqui em cima. — ele disse.
— Como você subiu...?
— Truques. — Ele respondeu e então desapareceu de novo. Quando olhei para o lado, pulei de susto. Oliver já estava no chão.
— Eu... Posso fazer isso também? — Perguntei, lembrando-me das palavras de Drad. O Tempo e o Espaço são uma vantagem para você. Se o tempo aqui passava mais devagar, então a vantagem do espaço era que... eu podia fazer aquilo?
— É só se concentrar e BOOOM! — disse o menininho, sumindo mais uma vez.
— Oliver! — Mas ele não estava mais ali.
Fiquei me perguntando se só de imaginar Black, eu conseguiria ir até ele. Comecei a pensar nele. Seu cabelo rebelde que o acompanhava desde a adolescência, a cara que ele fazia quando eu fazia alguma piada ruim e sua respiração ofegante ao cantar suas músicas favoritas no chuveiro. Ele podia ser um chato, mas eu o amava mais do que tudo nesse mundo. Ele era o MEU idiota e eu faria tudo por ele.
Abri meus olhos psíquicos novamente, quando ouvi a voz de Black gritar: "Vai, vai, vai."
De repente, eu estava junto a ele, em alta velocidade floresta a fora. Ele tentava telefonar desesperado. Percebi então que era pra mim. Ele tentava falar comigo.
Quando estava chegando na saída da cidade, o telefone finalmente pegou sinal e começou a tocar. Ele atendeu.
— Oi. Desculpa não ter atendido antes, amor. Eu-- — E então a expressão dele mudou de nervosismo para medo intenso.
"O seu amor está com a gente", pude ouvir a voz dizer. Mas não no telefone, em minha própria cabeça. Black então ficou sem saber o que fazer. Ele andava de um lado para o outro.
— Onde? — Perguntou e o cara do outro lado da linha deu uma risada fria.
— Não é só ele que está com a gente. — disse o homem, de repente se afastando. Ouvi o barulho de socos do outro lado da linha e um grito de desespero que não formava nenhuma palavra conhecida, mas uma interjeição de dor. E eu sabia de quem era aquela voz. Eclipse. — Venha ao bosque à meia-noite ou será o fim deles. Se é que já não foi o fim de sua princesinha.
Senti o coração de Black bater muito, muito mais rápido. Não sei como isso era possível, mas eu escutava. Black pegou o celular e perguntou novamente:
— Onde?
— Dê meia volta e nós encontrará. Mas venha sozinho. — disse o homem no momento em que desligou, deixando Black a falar sozinho.
— Alô? Alô? DROGA!
Ele começou a chorar em desespero. E agora? O que ele faria? Chamaria o Detetive Pawssum e seus amigos Detetive Kale e Juiz Kana ou iria sozinho, como a voz ordenara?
Eu gritei e gritei, mas ele não podia me ouvir. Black não podia me ouvir. Eu queria dizer que aquilo era uma grande enrascada, uma armadilha que estavam preparando para que o pegassem, mas de nada adiantou. Black correu e foi para a delegacia montar seu plano de ataque.
— Pegaram meu tio. — Uma voz disse ao meu lado.
— Eclipse é seu tio? — Perguntei a Oliver, que agora estava triste de novo.
— Bem, mais ou menos.
— Você está aqui há muito tempo, não é? — Perguntei.
— Sim.
— Então pode me dizer como que eu faço para falar com ele?
— É seu namorado, tia?
Em outra ocasião, eu ficaria irritada com aquela criança, mas eu não tinha tempo para isso.
— É. E ele está correndo um grande perigo, assim como seu tio. Acha que você e seus pokémon conseguem me ajudar a chegar até ele? Acha que consigo estabelecer contato?
— Você não pode falar com ele. — Oliver enfiou o dedo no nariz para limpar o salão. — Mas pode dar sinais.
Sinais? Eu precisava que Oliver me ajudasse. Eu estava quase morta, mas minha consciência estava ali, lutando para alertar Black do perigo. Eu faria tudo o que fosse possível para ajudá-lo, mesmo que isso significasse minha morte.
— E você... Vai me ajudar?
— Posso tentar, mas tem um preço.
Que absurdo! Mas que criança abusada!
— Se você sair daqui... Por favor, diz pra minha tia... Que não foi culpa dela.
Aquilo me doeu.
— Fechado.
Apertei a mão de Oliver e então todos os pokémon se reuniram ao nosso redor. Teríamos trabalho a fazer. Muito trabalho.
— Eles querem que você vá sozinho, mas sempre é bom ter uma carta na manga. — disse o detetive.
— Se eles os virem, vão matá-los. — Adverti.
— Você é o Campeão da Região de Unova. Se entrar lá sozinho, matarão você. — disse Juiz Kana.
Fiquei quieto. A verdade é que estávamos todos com o risco de morrer.
Depois de alguns minutos de caminhada, paramos em uma clareira no pé das montanhas cujos topos eram cobertos por gelo. Ali, bem rente à parede de pedras havia um chalezinho bem ajeitadinho com uma luz que vinha de seu interior que eu só pude presumir ser de uma lareira, pois havia fogo em sua chaminé e o barulho do crepitar de chamas era audível.
— Fiquem aqui. — pedi. — Eu vou entrar.
— De maneira alguma. — Detetive Pawssum rugiu, tomando a frente. Ele não me deixaria ir sozinho.
— Detetive, eu preciso ir sozinho! — Implorei.
Foi quando um estalo preencheu o campo auditivo de todos nós e a voz doce, sedutora, mas perigosa de uma mulher falou, apontando uma arma para a cabeça de Kana e outra para a cabeça de Kale, disse:
— Mais um passo, gordão, e eles morrem!
Detetive ficou branco. Com certeza, em todos os seus anos nessa indústria vital, era a primeira vez que isso acontecia: seus dois melhores amigos estavam sendo feitos de reféns. Os outros dois policiais que vinham a gente também haviam sido rendidos. Um velho com bigode branco, monóculo e um terno à la mordomo segurava um fuzil militar, apontando para o primeiro e um homem moreno e risonho (PSICOPATA! PSICOPATA!) prendia o segundo com uma faca na garganta.
Pawssum olhou para a mim para os seus colegas, avaliando a situação. De onde aqueles caras surgiram?
— Ele vai sozinho. — disse o velho que parecia um mordomo em um tom autoritário.
— Eu vou sozinho. — Por fim falei, deixando Pawssum para trás com os capangas, que haviam brotado da floresta sem nenhum aviso prévio.
— Você nem sabe se ela está mesmo lá. — Gritou-me Pawssum de longe.
— Se não estiver, tem outra pessoa lá dentro que pode ser salva esta noite. — Falei, entrando no chalé e deixando aquele confusão toda para trás.
— Sente-se. — O homem encapuzado ordenou. Estava sentado na ponta de uma mesa comprida, onde dois pokémon enormes estavam em posição de "sentido" ao seu lado. O primeiro era particularmente enorme. Uma tartaruga cheia de espinhos e formas pontudas por todo o seu corpo. Já o segundo tinha um olho inchado e pinças gigantes que lembravam luvas de boxe azuis.
— Eu vou ter que falar duas vezes? — Perguntou o homem.
— N-não. — Que droga. Minha voz vacilou. Isso não podia acontecer. Eu não podia demonstrar que estava com medo.
— Eles estão ali, se é o que quer saber.
O homem apontou para um moirão de madeira onde Eclipse estava amarrado de um lado e do outro... Meu coração parou. White. Ela estava inconsciente, toda cortada e havia derramado muito sangue. Era mesmo ela. Eles estavam certos. Eu estava certo. Aquele sentimento que havia me dominado, no fundo me dizia a verdade. White estava mesmo com eles. E poderia estar morta.
— O que vocês fizeram com ela? — Perguntei, cerrando os dentes.
— Calma, garotão. Bu**ta tem de monte por aí pra roçar o piu piu. — O homem piscou, preenchendo-me com um ódio que eu jamais imaginei possuir. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa estúpida, ele se levantou e disse: — Ela está esperando por você.
O homem abriu uma porta à sua direita e de lá de dentro, aproximaram-se passos que eu logo identifiquei serem de mais de uma pessoa.
Ela Hall entrou na sala acompanhado por uma adolescente de pele morena e lindos cabelos encaracolados.
— Até que enfim. Eu já estava ficando entediada. — Ela debochou, sentando-se no lugar onde o homem estava.
— Liberte-a! Agora! — Eu gritei.
— Infelizmente, isso não será possível, a menos que você colabore! — interveio a garota.
Ela riu, mas era uma risada em um tom gélido de desprezo e até mesmo... nojo.
— Se você quer vê-los libertos, sente-se primeiro e vamos conversar.
Eu nem havia percebido, mas já estava de pé. Sentei-me de novo.
— É o seguinte: Você fica longe da gente e você tem a sua namoradinha de volta.
— E se... Eu decidir não colaborar? — Perguntei, sacando secretamente a pokébola de Vikavolt por debaixo da mesa.
— Então, teremos de fazer você colaborar.
Ela acenou com a cabeça para o homem encapuzado e eu senti que aquele era o momento. Vikavolt estourou sala a dentro, ardendo em fagulhas. Ao seu lado, Popplio, que estava forte o suficiente para alcançar seu próximo estágio evolutivo.
Black não percebia, mas estava tudo errado. Ele não tinha chances contra Caitlin e seus homens e isso se provou quando o encapuzado lançou Turtonator e Crabrawler ao ataque. De um lado, Vikavolt investia na produção de um canhão de energia elétrico, disparando uma bola de fagulhas que dava arrepios só de olhar. Ele era acompanhado por Popplio, que tentava uma tática de voz, elevando-a a um novo nível.
Mas Black não me dava ouvidos.
— Tem que falar na cabeça dele. — Explicou-me Oliver.
— Como? — Perguntei. — Na cabeça?
— É. Assim.
O garotinho se aproximou do encapuzado e disse, rente ao ouvido:
— Pare o ataque.
O homem fez uma cara de pensativo, mas pediu para seus pokémon pararem. E eles pararam.
A esfera de eletricidade de Vikavolt explodiu em Crabrawler, inundando-o com fagulhas dolorosas por todo o corpo. O único porém é que não tinha funcionado do jeito que eu achava que funcionaria.
— Ele é do tipo Lutador. — Explicou-me Oliver.
— Ah. — E então compreendi.
Popplio, por outro lado, acertava sua voz feérica nos tímpanos de Turtonator, que se contorcia de dor.
— E os pokémon?
Falei, olhando para Vulpix, Rattata, Meowth, Minior e Oricorio, que ali estavam, nos acompanhando.
— Eles podem fazer algumas coisinhas também, mas nada muito grandioso.
— Tipo o que?
— Tipo fazer alguém se desequilibrar, ou deixar o ambiente mais quente ou mais gelado. Coisas assim.
— Ah... — Olhei para os pokémon com decepção. Em vida, teriam sido ótimos combatentes. — Concentre-se, White... Você tem que fazer com que Black dê o fora daqui.
— Não. — Oliver me disse. — Ele.
E apontou para Eclipse, que (enquanto ninguém prestava atenção, roía as cordas para se libertar).
— Ah. Certo. Rattata, acha que consegue ajudá-lo?
Rattata compreendeu e então correu até Eclipse, ajudando-lhe com a árdua tarefa de partir uma corda grossa com os dentes.
"PAH". A primeira volta da corta se soltou e Eclipse já começou a se sentir mais folgado.
— Crunch! — Ordenou Black, no instante em que Vikavolt zarpou pra cima de Turtonator, cravando suas presas no quelônio. Ao mesmo tempo, o encapuzado pedia para que atacasse com seus socos.
— E o que é que nós podemos fazer? — Perguntei e Oliver disse:
— Você quer que ele saia daqui, certo?
— Certo.
— Mas ele está com tudo sob controle! — Observou o garotinho. — Talvez você devesse se preocupar com o que ele NÃO está vendo.
— Hã... Tipo o que?
— Tipo... O que ELA tá pensando...
Oliver apontou para Caitlin.
— Nós... Podemos ler os pensamentos dela?
— Tá vendo algum X-men por aqui? É claro que não. Mas podemos prestar atenção em coisas que ele não consegue enquanto batalha.
— Hmmm... Certo.
Concentrei-me e quando percebi, já havia chegado à Caitlin. Ela estava acompanhada de uma menina muito jovem e as duas liam um livro muito antigo. Elas não estavam com foco na batalha. Confiavam no poder com encapuzado. E enquanto isso, Rattata e Eclipse trabalhavam para desamarrar as cordas.
— Ei, o que que é isso que eles estão lendo?
— Eu não sei ler muito bem. — ele disse.
— Ah. Certo... Vamos ver...
Comecei a ler a linha mais de cima e fiquei abismada com o que estava escrito. Percorri os olhos pela página. Aquele era um inglês muito antigo, meio combinado com a língua aloiana e portanto, de difícil compreensão, mas consegui entender muita, muita coisa. Como não havíamos visto a coisa por esse ângulo antes? Estávamos tão cegos, tão... Errados!
Popplio estava perdendo para Crabrawler, mas eu sabia o que fazer. Se era pra terminar aquela batalha, que fosse de uma vez.
— Vikavolt, Spark! Popplio, Hydro Pump!
Os ataques atingiram os alvos com perfeição bem na hora em que senti uma queimação em meu bolso. Coloquei a mão lá dentro e senti a pedra amarela com formato de losango que eu ganhara de Drad brilhar e irradiar um calor que mal dava para tocá-la.
— Eu aceito. — As palavras jorraram de minha boca. Era mesmo eu que as estava dizendo?
Estas palavras foram o suficiente para deixar o encapuzado pasmo e atrair a atenção de Ela Hall e sua assistente.
— Como? — Ela me perguntou.
— Eu aceito os seus termos. Não vou interferir mais, mas por favor... Deixem-me levar a White daqui. E o Eclipse.
— E como teremos sua palavra? — Perguntou o encapuzado.
— Estou partindo para Unova amanhã mesmo. O que mais vocês querem?
— Isso não é suficiente. — disse Caitlin, se levantando. — Prendam-no!
— O QUE?
De repente, senti mãos me segurando por todos os lados. A garota e o encapuzado me encurralaram e eu deixei que isto acontecesse. Eu estava imobilizado, preso na armadilha criada por Caitlin. Uma sensação aterradora atingiu meu coração. E agora? Por que eu havia deixado que aquilo acontecesse? Por que a minha intuição dizia que eu não deveria resistir?
— Você vai para nosso laboratório com a gente e ficará confinado lá até que tudo isso esteja acabado! Agora, se me der licença, tenho que estudar!
E recomeçou a ler o livro antigo, indiferente à minha captura. Mas então uma lâmpada se acendeu eu minha cabeça. Se Caitlin iria me levar a seu "laboratório", então finalmente eu estaria por dentro de seus planos e poderia finalmente compreender essa sua obsessão absurda. Aquele mistério seria resolvido de dentro para fora.
— Puta desgraçada! — Gritei, atuando uma raiva súbita que fechava a garganta, como se eu não estivesse dando graças a Arceus que eu tinha me rendido e agora poderia acabar com eles de uma vez por todas. — E a White? E o Eclipse? O que vai fazer com eles?!
— Ora, ora... Eles não estão em condições de fu--
Ela Hall congelou ao se virar e ver que não havia mais Eclipse por ali, apenas o corpo frio e dormente da mulher que eu amava.
— Onde ele foi?! — Perguntou em desespero e eu me segurava para não rir. Mal esperava a hora de ir para essa tal base secreta, acabar com esses idiotas e vingar o que fizeram com White.
— Como? — Caitlin perguntou.
— Eu aceito os seus termos. Não vou interferir mais, mas por favor... Deixem-me levar a White daqui. E o Eclipse. — Eu sentia o medo na voz de Black. Ele não queria me perder. E também prezava a vida e saúde de Eclipse, por mais que o garoto fosse um pé no saco.
— E como teremos sua palavra? — O encapuzado perguntou.
— Estou partindo para Unova amanhã mesmo. — disse Black com uma cara que eu conhecia muito bem. Estava mentindo. — O que mais vocês querem?
— Isso não é suficiente. — Aquilo não parecia ter convencido Caitlin. Ela se levantou e ordenou: — Prendam-no!
— O QUE?
Black ficou perplexo quando a garota e o homem de rosto conhecido, mas que eu ainda não conseguia me lembrar quem era, o prenderam.
— Não, Black... Você está entendendo tudo errado. — eu disse, lembrando-me do que estava escrito no livro. Remomorei também o momento em que Lunala invadiu minah privacidade, entrando em minha mente e me controlando sem minha permissão. — Você não pode interferir porque Caitlin está tentando parar este holocausto provocado pelos deuses! Sem mais ritos de sangue, sacrifícios e oferendas! Sem mais ajoelhamento, sem mais mortes! Só o que ela quer é acabar com esse sofrimento...
Mas então uma dúvida surgiu em minha cabeça. Se os deuses são verdadeiramente maus... Por que Lunala me poupou e me deu uma segunda chance? Apaguei aquele resquício de pensamento de minha mente e me concentrei no presente. Se as barbaridades contidas naquele livro eram verdade, então Solgaleo e Lunala vinham se abusando dos humanos a muito tempo e Caitlin tinha todo o direito de protestar.
De repente, em minha travessia para a cidade, ouço um barulho muito perturbador. O choro de uma criança. Olho para todos os lados, mas nada identifico. Então faço como Drad me instruiu. Olhei com mais atenção, e um menino que não devia ter muito mais do que cinco anos apareceu, em prantos. Era um eco do que um dia fora sua verdadeira aparência. Sua essência estava quase se dissolvendo, quase passando para o outro lado.
Ele era tão transparente, que dava a entender que ele estava perdido, sozinho naquele mundo de transição havia muito tempo e agora estava prestes a ficar por ali para sempre.
— Ei.
Me abaixo, tentando chegar à criança. Quando ele percebe que estou ali, limpa os contorno dos olhos depressa e me encara, perguntando:
— Quem é você?
— O meu nome é Hilda. E o seu?
— Oliver.
— Estou tentando sair daqui, Oliver. Você... Sabe como?
— Não tem como sair. — Disse ele, começando a berrar novamente, desesperado.
— Calma. — Mas a verdade é que nem eu estava calma. Como poderia pedir isso dele?
Aproximei-me do menininho e senti meus braços de perispírito envolver o corpo dele em um acolhedor abraço.
— Vai ficar tudo bem. Vamos sair daqui.
— Não... — Ele soluçou. — Não dá. Eu preciso de terapia. Eu preciso de terapia!
— Terapia? — Perguntei, para que ele me explicasse melhor.
— Minha tia está tentando a terapia, mas não consegue o pokémon que é preciso para fazer o tratamento. Se ela não conseguir, eu vou morrer...
E ele chorou mais intensamente ainda.
Com o eco, algumas formas de vida (ou melhor, formas de quase morte) surgiram e se juntaram em nosso abraço.
Primeiro, foi uma criatura cujo brilho era de um branco muito intenso. Um Vulpix, do tipo gelo. Em seguida, surgiu um Rattata dos tipos Normal e Sombrio. Tinha feições de roedor e espelhava uma luz negra, um completo contraste ao pokémon que aparecera antes. Depois veio um Meowth, um Minior e um lindo pássaro vermelho que eu achava que se chamava Oricorio, mas não tinha certeza.
Em uma situação cotidiana, aqueles pokémon estariam se perseguindo. Meowth correria atrás de Oricorio e Rattata e Vulpix bateria de frente com Meowth. Mas aquele não era um momento comum. Era uma fase ruim pelo qual todos nós estávamos passando. Estávamos todos em um mesmo barco e a qualquer momento, poderíamos todos afundar.
Mas os pokémon não pareciam tristes. Pareciam compreensivos, para falar a verdade. Eles se aproximaram de Oliver e o abraçaram, assim como eu estava fazendo. Em instantes, o garoto parou com as lágrimas e deixou que um leve sorriso brilhasse.
— Quem são eles? — Perguntei ao ver que todos aqueles pokémon de tipos, estilos, tamanhos e cores diferentes poderiam estar com a vida contada.
— São meus amigos! — Rapidamente respondeu Oliver, que começou a correr dos pokémon, brincando de pega-pega.— EI! Pra onde você vai?
O desenho de Oliver e seus pokémon foi desaparecendo conforme eles ficavam longe, até que os perdi de vista completamente.
Então ouvi um assovio baixinho. Olhei para cima, em uma árvore. Lá estava Oliver, empoleirado.
— Como você chegou aí? — Perguntei.
— Eles nunca vão me encontrar aqui em cima. — ele disse.
— Como você subiu...?
— Truques. — Ele respondeu e então desapareceu de novo. Quando olhei para o lado, pulei de susto. Oliver já estava no chão.
— Eu... Posso fazer isso também? — Perguntei, lembrando-me das palavras de Drad. O Tempo e o Espaço são uma vantagem para você. Se o tempo aqui passava mais devagar, então a vantagem do espaço era que... eu podia fazer aquilo?
— É só se concentrar e BOOOM! — disse o menininho, sumindo mais uma vez.
— Oliver! — Mas ele não estava mais ali.
Fiquei me perguntando se só de imaginar Black, eu conseguiria ir até ele. Comecei a pensar nele. Seu cabelo rebelde que o acompanhava desde a adolescência, a cara que ele fazia quando eu fazia alguma piada ruim e sua respiração ofegante ao cantar suas músicas favoritas no chuveiro. Ele podia ser um chato, mas eu o amava mais do que tudo nesse mundo. Ele era o MEU idiota e eu faria tudo por ele.
Abri meus olhos psíquicos novamente, quando ouvi a voz de Black gritar: "Vai, vai, vai."
De repente, eu estava junto a ele, em alta velocidade floresta a fora. Ele tentava telefonar desesperado. Percebi então que era pra mim. Ele tentava falar comigo.
Quando estava chegando na saída da cidade, o telefone finalmente pegou sinal e começou a tocar. Ele atendeu.
— Oi. Desculpa não ter atendido antes, amor. Eu-- — E então a expressão dele mudou de nervosismo para medo intenso.
"O seu amor está com a gente", pude ouvir a voz dizer. Mas não no telefone, em minha própria cabeça. Black então ficou sem saber o que fazer. Ele andava de um lado para o outro.
— Onde? — Perguntou e o cara do outro lado da linha deu uma risada fria.
— Não é só ele que está com a gente. — disse o homem, de repente se afastando. Ouvi o barulho de socos do outro lado da linha e um grito de desespero que não formava nenhuma palavra conhecida, mas uma interjeição de dor. E eu sabia de quem era aquela voz. Eclipse. — Venha ao bosque à meia-noite ou será o fim deles. Se é que já não foi o fim de sua princesinha.
Senti o coração de Black bater muito, muito mais rápido. Não sei como isso era possível, mas eu escutava. Black pegou o celular e perguntou novamente:
— Onde?
— Dê meia volta e nós encontrará. Mas venha sozinho. — disse o homem no momento em que desligou, deixando Black a falar sozinho.
— Alô? Alô? DROGA!
Ele começou a chorar em desespero. E agora? O que ele faria? Chamaria o Detetive Pawssum e seus amigos Detetive Kale e Juiz Kana ou iria sozinho, como a voz ordenara?
Eu gritei e gritei, mas ele não podia me ouvir. Black não podia me ouvir. Eu queria dizer que aquilo era uma grande enrascada, uma armadilha que estavam preparando para que o pegassem, mas de nada adiantou. Black correu e foi para a delegacia montar seu plano de ataque.
— Pegaram meu tio. — Uma voz disse ao meu lado.
— Eclipse é seu tio? — Perguntei a Oliver, que agora estava triste de novo.
— Bem, mais ou menos.
— Você está aqui há muito tempo, não é? — Perguntei.
— Sim.
— Então pode me dizer como que eu faço para falar com ele?
— É seu namorado, tia?
Em outra ocasião, eu ficaria irritada com aquela criança, mas eu não tinha tempo para isso.
— É. E ele está correndo um grande perigo, assim como seu tio. Acha que você e seus pokémon conseguem me ajudar a chegar até ele? Acha que consigo estabelecer contato?
— Você não pode falar com ele. — Oliver enfiou o dedo no nariz para limpar o salão. — Mas pode dar sinais.
Sinais? Eu precisava que Oliver me ajudasse. Eu estava quase morta, mas minha consciência estava ali, lutando para alertar Black do perigo. Eu faria tudo o que fosse possível para ajudá-lo, mesmo que isso significasse minha morte.
— E você... Vai me ajudar?
— Posso tentar, mas tem um preço.
Que absurdo! Mas que criança abusada!
— Se você sair daqui... Por favor, diz pra minha tia... Que não foi culpa dela.
Aquilo me doeu.
— Fechado.
Apertei a mão de Oliver e então todos os pokémon se reuniram ao nosso redor. Teríamos trabalho a fazer. Muito trabalho.
~Sun
Onze e cinquenta da noite. nunca estive tão pontual em toda a minha vida. Detetive Pawssum, Kale, Kana, mais dois policiais e eu entramos no bosque escuro que ecoava o menor ruído, fosse o zumbido de insetos fosse o triturar das folhas sob nossos pés.
— Não vai ser tão fácil assim. — Falei, mas Detetive Pawssum repreendeu-me:— Eles querem que você vá sozinho, mas sempre é bom ter uma carta na manga. — disse o detetive.
— Se eles os virem, vão matá-los. — Adverti.
— Você é o Campeão da Região de Unova. Se entrar lá sozinho, matarão você. — disse Juiz Kana.
Fiquei quieto. A verdade é que estávamos todos com o risco de morrer.
Depois de alguns minutos de caminhada, paramos em uma clareira no pé das montanhas cujos topos eram cobertos por gelo. Ali, bem rente à parede de pedras havia um chalezinho bem ajeitadinho com uma luz que vinha de seu interior que eu só pude presumir ser de uma lareira, pois havia fogo em sua chaminé e o barulho do crepitar de chamas era audível.
— Fiquem aqui. — pedi. — Eu vou entrar.
— De maneira alguma. — Detetive Pawssum rugiu, tomando a frente. Ele não me deixaria ir sozinho.
— Detetive, eu preciso ir sozinho! — Implorei.
Foi quando um estalo preencheu o campo auditivo de todos nós e a voz doce, sedutora, mas perigosa de uma mulher falou, apontando uma arma para a cabeça de Kana e outra para a cabeça de Kale, disse:
— Mais um passo, gordão, e eles morrem!
Detetive ficou branco. Com certeza, em todos os seus anos nessa indústria vital, era a primeira vez que isso acontecia: seus dois melhores amigos estavam sendo feitos de reféns. Os outros dois policiais que vinham a gente também haviam sido rendidos. Um velho com bigode branco, monóculo e um terno à la mordomo segurava um fuzil militar, apontando para o primeiro e um homem moreno e risonho (PSICOPATA! PSICOPATA!) prendia o segundo com uma faca na garganta.
Pawssum olhou para a mim para os seus colegas, avaliando a situação. De onde aqueles caras surgiram?
— Ele vai sozinho. — disse o velho que parecia um mordomo em um tom autoritário.
— Eu vou sozinho. — Por fim falei, deixando Pawssum para trás com os capangas, que haviam brotado da floresta sem nenhum aviso prévio.
— Você nem sabe se ela está mesmo lá. — Gritou-me Pawssum de longe.
— Se não estiver, tem outra pessoa lá dentro que pode ser salva esta noite. — Falei, entrando no chalé e deixando aquele confusão toda para trás.
— Sente-se. — O homem encapuzado ordenou. Estava sentado na ponta de uma mesa comprida, onde dois pokémon enormes estavam em posição de "sentido" ao seu lado. O primeiro era particularmente enorme. Uma tartaruga cheia de espinhos e formas pontudas por todo o seu corpo. Já o segundo tinha um olho inchado e pinças gigantes que lembravam luvas de boxe azuis.
— Eu vou ter que falar duas vezes? — Perguntou o homem.
— N-não. — Que droga. Minha voz vacilou. Isso não podia acontecer. Eu não podia demonstrar que estava com medo.
— Eles estão ali, se é o que quer saber.
O homem apontou para um moirão de madeira onde Eclipse estava amarrado de um lado e do outro... Meu coração parou. White. Ela estava inconsciente, toda cortada e havia derramado muito sangue. Era mesmo ela. Eles estavam certos. Eu estava certo. Aquele sentimento que havia me dominado, no fundo me dizia a verdade. White estava mesmo com eles. E poderia estar morta.
— O que vocês fizeram com ela? — Perguntei, cerrando os dentes.
— Calma, garotão. Bu**ta tem de monte por aí pra roçar o piu piu. — O homem piscou, preenchendo-me com um ódio que eu jamais imaginei possuir. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa estúpida, ele se levantou e disse: — Ela está esperando por você.
O homem abriu uma porta à sua direita e de lá de dentro, aproximaram-se passos que eu logo identifiquei serem de mais de uma pessoa.
Ela Hall entrou na sala acompanhado por uma adolescente de pele morena e lindos cabelos encaracolados.
— Até que enfim. Eu já estava ficando entediada. — Ela debochou, sentando-se no lugar onde o homem estava.
— Liberte-a! Agora! — Eu gritei.
— Infelizmente, isso não será possível, a menos que você colabore! — interveio a garota.
Ela riu, mas era uma risada em um tom gélido de desprezo e até mesmo... nojo.
— Se você quer vê-los libertos, sente-se primeiro e vamos conversar.
Eu nem havia percebido, mas já estava de pé. Sentei-me de novo.
— É o seguinte: Você fica longe da gente e você tem a sua namoradinha de volta.
— E se... Eu decidir não colaborar? — Perguntei, sacando secretamente a pokébola de Vikavolt por debaixo da mesa.
— Então, teremos de fazer você colaborar.
Ela acenou com a cabeça para o homem encapuzado e eu senti que aquele era o momento. Vikavolt estourou sala a dentro, ardendo em fagulhas. Ao seu lado, Popplio, que estava forte o suficiente para alcançar seu próximo estágio evolutivo.
~Moon
Black não percebia, mas estava tudo errado. Ele não tinha chances contra Caitlin e seus homens e isso se provou quando o encapuzado lançou Turtonator e Crabrawler ao ataque. De um lado, Vikavolt investia na produção de um canhão de energia elétrico, disparando uma bola de fagulhas que dava arrepios só de olhar. Ele era acompanhado por Popplio, que tentava uma tática de voz, elevando-a a um novo nível.
Do outro Lado, Crabrawler tentava uma aproximação física, enquanto Turtonator explodia sua carapaça espinhenta, lançando perigosos raios de fogo pelo chalé.
Eu tentava dizer: Black, não faça isso. Você está sendo enganado, você está sendo usado. Eles querem que você pare de investigar para que possam por um fim nos lendários deuses.Mas Black não me dava ouvidos.
— Tem que falar na cabeça dele. — Explicou-me Oliver.
— Como? — Perguntei. — Na cabeça?
— É. Assim.
O garotinho se aproximou do encapuzado e disse, rente ao ouvido:
— Pare o ataque.
O homem fez uma cara de pensativo, mas pediu para seus pokémon pararem. E eles pararam.
A esfera de eletricidade de Vikavolt explodiu em Crabrawler, inundando-o com fagulhas dolorosas por todo o corpo. O único porém é que não tinha funcionado do jeito que eu achava que funcionaria.
— Ele é do tipo Lutador. — Explicou-me Oliver.
— Ah. — E então compreendi.
Popplio, por outro lado, acertava sua voz feérica nos tímpanos de Turtonator, que se contorcia de dor.
— E os pokémon?
Falei, olhando para Vulpix, Rattata, Meowth, Minior e Oricorio, que ali estavam, nos acompanhando.
— Eles podem fazer algumas coisinhas também, mas nada muito grandioso.
— Tipo o que?
— Tipo fazer alguém se desequilibrar, ou deixar o ambiente mais quente ou mais gelado. Coisas assim.
— Ah... — Olhei para os pokémon com decepção. Em vida, teriam sido ótimos combatentes. — Concentre-se, White... Você tem que fazer com que Black dê o fora daqui.
— Não. — Oliver me disse. — Ele.
E apontou para Eclipse, que (enquanto ninguém prestava atenção, roía as cordas para se libertar).
— Ah. Certo. Rattata, acha que consegue ajudá-lo?
Rattata compreendeu e então correu até Eclipse, ajudando-lhe com a árdua tarefa de partir uma corda grossa com os dentes.
"PAH". A primeira volta da corta se soltou e Eclipse já começou a se sentir mais folgado.
— Crunch! — Ordenou Black, no instante em que Vikavolt zarpou pra cima de Turtonator, cravando suas presas no quelônio. Ao mesmo tempo, o encapuzado pedia para que atacasse com seus socos.
— Vamos, meu amor. Eu estou aqui. Por favor, saia deste lugar. É uma armadilha. — Eu disse no ouvido de Black, mas ele estava muito concentrado com a batalha e não parece ter ouvido. — Será que... Será que eu preciso de mais prática?
— Não, não é isso. — Respondeu-me Oliver. — Às vezes, quando o espírito de uma pessoa é muito forte, não funciona.
— Você quer que ele saia daqui, certo?
— Certo.
— Mas ele está com tudo sob controle! — Observou o garotinho. — Talvez você devesse se preocupar com o que ele NÃO está vendo.
— Hã... Tipo o que?
— Tipo... O que ELA tá pensando...
Oliver apontou para Caitlin.
— Nós... Podemos ler os pensamentos dela?
— Tá vendo algum X-men por aqui? É claro que não. Mas podemos prestar atenção em coisas que ele não consegue enquanto batalha.
— Hmmm... Certo.
Concentrei-me e quando percebi, já havia chegado à Caitlin. Ela estava acompanhada de uma menina muito jovem e as duas liam um livro muito antigo. Elas não estavam com foco na batalha. Confiavam no poder com encapuzado. E enquanto isso, Rattata e Eclipse trabalhavam para desamarrar as cordas.
— Ei, o que que é isso que eles estão lendo?
— Eu não sei ler muito bem. — ele disse.
— Ah. Certo... Vamos ver...
Comecei a ler a linha mais de cima e fiquei abismada com o que estava escrito. Percorri os olhos pela página. Aquele era um inglês muito antigo, meio combinado com a língua aloiana e portanto, de difícil compreensão, mas consegui entender muita, muita coisa. Como não havíamos visto a coisa por esse ângulo antes? Estávamos tão cegos, tão... Errados!
~Sun
Popplio estava perdendo para Crabrawler, mas eu sabia o que fazer. Se era pra terminar aquela batalha, que fosse de uma vez.
— Vikavolt, Spark! Popplio, Hydro Pump!
Os ataques atingiram os alvos com perfeição bem na hora em que senti uma queimação em meu bolso. Coloquei a mão lá dentro e senti a pedra amarela com formato de losango que eu ganhara de Drad brilhar e irradiar um calor que mal dava para tocá-la.
Foi quando olhei para o corpo caído de White. Eclipse estava solto, de pé, tentando carregá-la. A luz da pedra dela (que era azul) também brilhava intensamente. Será que era isso? Será que essas pedras tinham a ver com os tipos elétrico (Vikavolt) e Água (Popplio)?
Mas então percebi quanto aquilo poderia ser incômodo. Se Caitlin e a garota vissem o brilho azul atrás delas, avistariam Eclipse e tentariam prendê-lo de novo. Fiz um gesto com a cabeça para ele e o garoto compreendeu. Tirou a pedra das roupas de White e escondeu-a em sua camiseta preta, que bloqueava os raios de luz.
Enquanto isso, eu lidava para que o Encapuzado prestasse atenção única e exclusivamente em mim.
— Turtonator: Dragon Pulse! Crabrawler, Comet Punch!
"Evasiva", pensei. Mas então senti algo, de súbito. Um arrepio percorreu o lado direito de meu corpo e eu fiquei parado. Deixei que Popplio e Vikavolt fossem atingidos pelos ataques, sendo nocauteados. Eu sentia uma presença, uma coisa que não podia ser explicada. Era como se algo ou... ALGUÉM estivesse me dizendo para parar e fazer tudo o que eles estavam propondo.
Será que... Será que era isso mesmo o que eu deveria fazer?
Assisti Turtonator e Crabrawler massacrarem meus pokémon, sem fazer nada. O encapuzado ria em alto e bom som e Caitlin e a garota folhavam aquele livro embolorado, sem nem se preocuparem com minha presença ou com aquela batalha que estava acontecendo.Será que... Será que era isso mesmo o que eu deveria fazer?
— Eu aceito. — As palavras jorraram de minha boca. Era mesmo eu que as estava dizendo?
Estas palavras foram o suficiente para deixar o encapuzado pasmo e atrair a atenção de Ela Hall e sua assistente.
— Como? — Ela me perguntou.
— Eu aceito os seus termos. Não vou interferir mais, mas por favor... Deixem-me levar a White daqui. E o Eclipse.
— E como teremos sua palavra? — Perguntou o encapuzado.
— Estou partindo para Unova amanhã mesmo. O que mais vocês querem?
— Isso não é suficiente. — disse Caitlin, se levantando. — Prendam-no!
— O QUE?
De repente, senti mãos me segurando por todos os lados. A garota e o encapuzado me encurralaram e eu deixei que isto acontecesse. Eu estava imobilizado, preso na armadilha criada por Caitlin. Uma sensação aterradora atingiu meu coração. E agora? Por que eu havia deixado que aquilo acontecesse? Por que a minha intuição dizia que eu não deveria resistir?
— Você vai para nosso laboratório com a gente e ficará confinado lá até que tudo isso esteja acabado! Agora, se me der licença, tenho que estudar!
E recomeçou a ler o livro antigo, indiferente à minha captura. Mas então uma lâmpada se acendeu eu minha cabeça. Se Caitlin iria me levar a seu "laboratório", então finalmente eu estaria por dentro de seus planos e poderia finalmente compreender essa sua obsessão absurda. Aquele mistério seria resolvido de dentro para fora.
— Puta desgraçada! — Gritei, atuando uma raiva súbita que fechava a garganta, como se eu não estivesse dando graças a Arceus que eu tinha me rendido e agora poderia acabar com eles de uma vez por todas. — E a White? E o Eclipse? O que vai fazer com eles?!
— Ora, ora... Eles não estão em condições de fu--
Ela Hall congelou ao se virar e ver que não havia mais Eclipse por ali, apenas o corpo frio e dormente da mulher que eu amava.
— Onde ele foi?! — Perguntou em desespero e eu me segurava para não rir. Mal esperava a hora de ir para essa tal base secreta, acabar com esses idiotas e vingar o que fizeram com White.
~White
— Como? — Caitlin perguntou.
— Eu aceito os seus termos. Não vou interferir mais, mas por favor... Deixem-me levar a White daqui. E o Eclipse. — Eu sentia o medo na voz de Black. Ele não queria me perder. E também prezava a vida e saúde de Eclipse, por mais que o garoto fosse um pé no saco.
— E como teremos sua palavra? — O encapuzado perguntou.
— Estou partindo para Unova amanhã mesmo. — disse Black com uma cara que eu conhecia muito bem. Estava mentindo. — O que mais vocês querem?
— Isso não é suficiente. — Aquilo não parecia ter convencido Caitlin. Ela se levantou e ordenou: — Prendam-no!
— O QUE?
Black ficou perplexo quando a garota e o homem de rosto conhecido, mas que eu ainda não conseguia me lembrar quem era, o prenderam.
— Não, Black... Você está entendendo tudo errado. — eu disse, lembrando-me do que estava escrito no livro. Remomorei também o momento em que Lunala invadiu minah privacidade, entrando em minha mente e me controlando sem minha permissão. — Você não pode interferir porque Caitlin está tentando parar este holocausto provocado pelos deuses! Sem mais ritos de sangue, sacrifícios e oferendas! Sem mais ajoelhamento, sem mais mortes! Só o que ela quer é acabar com esse sofrimento...
Mas então uma dúvida surgiu em minha cabeça. Se os deuses são verdadeiramente maus... Por que Lunala me poupou e me deu uma segunda chance? Apaguei aquele resquício de pensamento de minha mente e me concentrei no presente. Se as barbaridades contidas naquele livro eram verdade, então Solgaleo e Lunala vinham se abusando dos humanos a muito tempo e Caitlin tinha todo o direito de protestar.
Pokémon Sol & Lua Adventures – Escrito originalmente em Setembro de 2016 – A cópia, venda ou redistribuição desse material é totalmente proibida. Pokémon e todos os respectivos nomes aqui contidos pertencem à Nintendo.
Ao escrever a fanfic, os autores não estão recebendo absolutamente nada, ou seja, esta é uma produção artística sem absolutamente nenhum fim lucrativo. A fanfic foi projetada apenas como uma forma de diversão, de entretenimento e passatempo para outros fãs de Pokémon. ~
Capítulo escrito por #Kevin_
4 Comentários
eu não acho q são os deuses q são maus e sim os fanaticos religiosos q criaram essas formas para agradar os deuses, amei o capitulo, a white podia capturar um alola vulpix
ResponderExcluirObrigado pelo comentário. Nada indica até então que os deuses são verdadeiramente maus e a intenção do capítulo foi justamente essa: deixar tudo confuso. Quem é do bem? Quem é do mal? Às vezes, uma história pode "inverter" de uma hora para a outra...
ExcluirParabéns Kevin, você conseguiu me bugar kkk.
ResponderExcluirE essa luta, meu arceus esse popplio divoso. E amei a ligação entre este capítulo.
Muito bom o capítulo, parabéns( parabeins) Kevin.
Bye <3
Obrigado pelo comentário, só não entendi o "Parabeins" kkkkk
ExcluirGostou do nosso conteúdo? Deixe um comentário abaixo! É de graça! Caso você tenha interesse em nos ajudar a manter o blog atualizado, considere apoiar-nos financeiramente. Você pode doar qualquer valor, até centavos, para a seguinte chave PIX: contato.pokemonster.dex@gmail.com. Toda a ajuda é bem-vinda!