Caitlin começou a agir de modo estranho. Começou a dar gargalhadas de capiroto, como se estivesse incorporando o próprio demônio. Era uma sensação de felicidade que extravasava seu corpo, mas acima disso: era uma macabra obscuridade, misturada com psicopatia. Aquela mulher estava louca, eu podia ver através dos seus olhos.
Antes de responder a pergunta que Black fizera, ela se abaixou, pegou a bazuca que armazenava a energia de Solgaleo e mirou em si mesma, disparando aquela rajada cósmica contra o próprio peito.
— Mas o que--
Avancei para tentar detê-la, mas Caitlin não morrera. Estava bem, muito bem.
— O que...?
Olhei para meus colegas Juan, Malena e Kilgry, buscando uma explicação para tudo aquilo, mas mesmo eles estavam visivelmente abalados. O que aquela mulher estava fazendo?
Caitlin apontou a arma de fogo para Lunala e absorveu a energia do pokémon lendário derrotado, depois pegou o mesmo revólver e apontou para si, liberando mais uma rajada de energia contra si. Dessa vez, a força foi tanta, que a derrubou de costas no chão, com brutalidade.
— O que você está fazendo? — Kilgry se aproximou da mulher, mas ela revidou com o braço em defesa, escapando das mãos dele.
— O que é que está acontecendo? — Perguntei a Juan, que parecia conhecer Caitlin há muito tempo e consequentemente, parecia saber responder àquela pergunta.
— Ela é mais egoísta do que vocês imaginam. — Ele disse. — Ela pegou Solgaleo e Lunala não para acabar com os deuses, mas para alimentar um vazio interior que a consome há anos.
— Como assim? — Perguntou Black, que também estava horrorizado, enquanto a mulher voltava a mirar em si mesma e energia extraída dos lendários.
— Isso é louca, não tá vendo? — Soltou Kilgry, mas ninguém estava a fim de suas gracinhas.
— Vou lhes contar a verdade por trás de "Caitlin", ou melhor... Ela. — Anunciou Juan, cujo Dragonite (junto de meu Krookodile, do Corte Rápido de Malena e do Jangmo-o de Kilgry) mantinha Black imobilizado, impedindo-o de juntar as outras pokébolas que haviam caído do saco.
O homem pegou o monóculo e começou a limpar com um pedaço de flanela que tirou do bolso, enquanto lentamente começou a falar da história de Ela Hall, I mean, a verdadeira história.
"Ela casou-se muito nova com Blake Hall, o herdeiro de uma empresa muito famosa: a Altru Inc, uma companhia de energia. A princípio, ela o amava, mas com o tempo, foi descobrindo quem o marido era. Ele utilizava a empresa como fachada para obter a "energia da vida", o fluido com princípio ativo que reside no interior de cada um: a aura, a alma, o espírito...
Blake era obcecado por isso. Ele descendia de uma linhagem de alquimistas que acreditavam na criação da pedra filosofal e no elixir da vida eterna, ideia originalmente proposta pelo 8º Kahuna, que por sua vez era o fundador da Altru. A empresa foi crescendo e passando de pai para filho até chegar nas mãos de Blake Hall e mesmo gerações e gerações depois, o objetivo da empresa continuava o mesmo: usar a energia da vida para criar a máquina perfeita, capaz de burlar as leis da morte.
Blake Hall enchia a cara sempre que um obstáculo aparecia na administração da Altru, e ficava muito violento. Certa vez, ele começou a bater em Ela, espancando-a e a violentando sexualmente. Quero dizer... Estupro continua sendo estupro, mesmo que o agressor seja o próprio marido, desde que a mulher não esteja de acordo em ter a relação com ele. Certa vez, ele começou a ter dúvidas cínicas quanto a lealdade de sua esposa. Ele achou que Ela estava o traindo e a prendeu.
Indefesa, Ela foi mantida em cativeiro nos porões da Altru, vigiada dia e noite por seu marido, que era extremamente ciumento, especialmente quando bebia. Durante o tempo em que ficou confinada, Caitlin engravidou pela primeira vez e esse foi o estopim da coisa toda..."
Caitlin começou a tossir enquanto seu corpo absorvia os nutrientes espirituais vindos de Solgaleo e Lunala. Ela se levantou lentamente, manteve-se de pé, tirou o óculos escuros que andavam presos em cima de sua cabeça e jogou desfiladeiro abaixo.
— Eu assumo daqui, Juan. — Ela disse, finalmente recobrando o juízo.
O homem assentiu, e então Caitlin continuou a contar a história, agora partindo de seu ponto de vista, o que tornava tudo mais assustador e aterrorizante.
"Tudo o que ele falou é verdade. Blake me batia. Blake me fazia de gato e sapato, mas o que eu, uma doce e frágil garota do sul podia fazer? Quando engravidei de meu primeiro filho... John... Blake estava estudando os momentos em que a energia líquida, o fluido espiritual se tornava mais intenso — Lágrimas começaram a escorrer pela cara de cínica dela enquanto contava esta parte da história — e ele acabou descobrindo que no momento do parto, o fluido da vida da mulher se torna mais perceptível e consequentemente, mais fácil de ser capturado.
Ele me fez de cobaia para seu experimento. Utilizou o conhecimento que tinha e fabricou armas, exatamente iguais a estas que estamos portando, capazes de absorver e redirecionar o fluido vital. Quando eu entrei em trabalho de parto, o inferno começou. Blake absorveu parte de minha alma e levou consigo a vida de meu filho...
Extasiado com seu sucesso científico, ele imediatamente tratou de me engravidar de novo. Dessa vez era Kyle. Ele queria obter mais da energia da vida e me usou novamente. Eu estava fraca, com a alma mutilada, literalmente. Um pedaço de mim havia se perdido e eu não tinha forças para evitar que isso acontecesse de novo. Mas eu podia pedir ajuda. E pedi. Implorei para que Juan, que na época era assistente de Blake em suas experiências, me libertasse.
E assim, antes de ele realizar a cirurgia que corromperia minha alma para sempre, Juan me ajudou a fugir. Eu concebi a Kyle e fiquei vivendo um tempo escondida, em uma cabana, longe de tudo e de todos.
Mas Blake me achou de novo, e desta vez, estando sóbrio, disse estar muito arrependido, que se sentia culpado pela morte de nosso filho, que não faria isso novamente e que eu tinha que voltar para ele. Voltei. Foi a coisa mais estúpida que eu já fiz na minha vida. A partir do primeiro gole, as agressões voltaram, e eu continuei presa dentro de minha própria casa.
Kyle era grande já e eu havia perdido muito mais de mim do que ele jamais poderia compreender. Ele me via sofrendo e eu não podia contar para ele o que me deixava tão triste e tão fraca. Eu só o queria ver feliz. Fazia de tudo para ver um sorriso no rosto de meu filho.
Então, Juan não aguentou mais me ver naquela situação e armou um golpe: roubou cerca de um terço (veja bem: um terço) da fortuna de Blake e só com isso, já se tornou o homem mais rico de todo um país. E não só isso, ele fez muito mais. Juan fez uma ligação anônima para os Rangers e a Altru Inc foi destruída. Ou melhor... A Team Dim Sun foi destruída e Blake Hall foi preso. Juan fugiu comigo e com Kyle ainda criança. Viemos para Alola, onde buscamos reconstruir nossas vidas do zero. Outras pessoas acabaram entrando na história, como o Kilgry, que era fiel a Blake, mas quando ficou sabendo dos abusos que ele fazia com a própria mulher, resolveu nos ajudar a fugir. Mas mesmo assim, o único que sabia de toda a história era Juan. E foi nele quem confiei minha vida naquele tempo e até hoje.
Nós éramos todos fugitivos, pois estávamos diretamente ligados aos experimentos de Blake. Mesmo que eu fosse a vítima, eu havia assinado os documentos: eu era a esposa daquele canalha. Então, nos transformamos em Alola. Juan fundou uma Escola de Treinadores e eu, um ginásio. Resolvemos fingir que não nos conhecíamos, para que não levantassem suspeitas e ficamos anos sem nos falar. Até que eu tive uma ideia.
Eu comecei a ler um livro muito antigo que falava sobre as lendas da região de Alola e seu poder de conceder poderes aos outros. As lendas dos deuses e deusas que transferiam seu fluido espiritual para os outros. Aquilo parecia ser a cura para o buraco dentro de mim. Parecia ser o jeito de consertar minha alma, que havia sido dilacerada em anos e anos de experimentos que removiam pedaço por pedaço de minha psiquê, deixando-me cada vez mais fraca e debilitada. Mas com o poder dos lendários, eu teria o que foi tirado de mim outra vez..."
— Então você capturou os lendários para obter a sua energia vital de volta? — Perguntou Black, horrorizado. — Você destruiu milhares de vidas por causa da sua própria e insignificante vida? Egoísta!
O garoto cuspiu no chão em frente a Caitlin, enojado. E com razão. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Ela Hall nos usou para obter um benefício próprio, uma ideia tão egoísta, tão hipócrita, tão... Primitiva.
— Mas é claro! — Falei, finalmente compreendendo. — Caitlin está sem um pedaço da alma, por isso está agindo fora da razão. Por isso ela está fazendo tudo isso: Porque com o fluido da vida retirado de dentro de si, não consegue distinguir a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado.
— Exatamente. — Concordou Juan. — Sem alma, uma pessoa não passa de um corpo andando e Caitlin está quase neste estado. O pouco que sobrava da alma dela se foi quando Kyle morreu. Ela está devastada. O pouco que sobrou dela desapareceu por completo...
— E você não podia simplesmente ter feito uma oferenda aos lendários como fizeram os kahunas? Não podia simplesmente ter pedido a eles para que preenchessem seu corpo com sua alma de volta? — Perguntei diretamente a Caitlin, mas foi então que me toquei que se eu estivesse sem um pedaço de mim, eu também faria de tudo para tentar recuperá-lo.
— Eu tentei. — Falou Caitlin. — Fui atrás desses velhos ingratos para que me colocassem em contato com Solgaleo e Lunala. Mas eles não quiseram. Disseram que o dom dos deuses era uma maldição e não uma dádiva. Disseram que se eles me preenchessem com seu fluido vital, eu nunca mais morreria e nunca mais descansaria em paz.
"Foi então que comecei a prender os velhos. Um por um. E comecei a torturá-los para que falassem a verdade, para que me levassem até os lendários. E eu consegui. Encontrei as pessoas certas e as treinei para que viessem comigo e formassem a Team Dim Moon, um esquadrão só com os melhores treinadores pokémon... E foi assim que prendemos Solgaleo. E agora, Lunala...
Mas não pensem que isso é ruim. Não mesmo. Esses lendários... A história deles é sangrenta. Foram anos de sacrifícios de sangue para eles... Tão fúteis e cruéis, creem que os humanos estão abaixo deles, que somos seres desprezíveis.
Pois agora, matei dois com uma cajadada só: recuperarei minha alma e também livrarei os humanos do controle das divindades, que lhes fizeram mal por tanto tempo..."
— Não dá pra acreditar! — disse Black, incrédulo. — Você está tentando se fazer de vítima! Só porque os deuses são maus, não quer dizer que é certo usar a energia deles, muito menos prendê-los, espancá-los ou seja lá o que for! E mais: para que esse seu objetivo fosse alcançado, você destruiu casas, fez milhares de vítimas por toda a região de Alola! Você matou gente, Caitlin! Deixou pessoas desabrigadas, ativou a fúria da natureza: vulcões, maremotos, tsunamis, tremores de terra e sabe-se-lá mais o que!
— Não existe revolução sem morte! — Foi tudo o que ela me respondeu antes de pegar outro revólver e absorver mais do fluido vital de Lunala.
— B-Black... — Falei, a voz falhando ao perceber minha ingenuidade em acreditar que Caitlin era só mais uma visionária querendo um mundo melhor. — Você... Está certo. Esteve certo esse tempo todo. Caitlin... Ela tinha um bom propósito, mas a falta de alma a fez perder a razão. Eu não quero que mais ninguém se machuca por causa disso. Eu me entrego.
Quando falei aquilo, Krookodile se moveu e veio para perto de mim.
— O que está fazendo? Você não entende, garota? — Pergunta Kilgry horrorizado ao perceber que eu estava mudando de lado. — Caitlin foi violentada! Ela merece ter sua alma de volta!
— E quanto aos deuses? Quem se importa? Eles são estúpidos, são sangrentos! A vida das pessoas será muito melhor sem eles! — Defendeu Malena.
— Seja como for — Eu disse —, eu sei que Caitlin merece ter sua alma de volta. E sei que os deuses são maus. Mas aquelas pessoas... Todos aqueles que se foram antes do tempo... Eles não estavam envolvidos com isso e sofreram mesmo assim. E a culpa não é de ninguém mais ninguém menos do que a Team Dim Moon. É por isso que estou deixando a equipe e estou fazendo isso.
Peguei todas as minhas pokébolas e lancei-as ao ar, deixando que meu time de seis pokémon entrasse em campo.
Das três pokébolas de Malena, juntam-se a Corte Rápido, a Cauda-Quente (Salandit), o Petrificado (Minior) e por fim o Desmembrado (Mimikyu). Agora eram oito contra seis. Eles estavam na vantagem sem nem ao menos terem pedido ajuda a Juan.
— Esta luta não é pra mim! — O velho com cara de mordomo então toma uma decisão inesperada. Monta em seu Dragonite e vai embora, voando e fugindo da batalha...
— WHAT THE HELL! O que há com vocês? Será que não há lealdade em seus corações? — Pergunta Malena.
— Há lealdade sim! Lealdade à vida, à justiça e às boas causas! — Respondi, já entrando no clima da batalha — Krookodile, Crunch! Metagross, Take Down!
— Lurantis, Solar Blade! Tsareena, Trop Kick!
Enquanto Lurantis carregava sua lâmina de energia solar, um ataque de longa distância, Tsareena também aproveitou a deixa para um ataque físico, preparando-se para desferir um chute floral em seus adversários.
— Oricorio, Teeter Dance! Hakamo-o, Sky Uppercut!
Oricorio começou a executar sua dança da confusão, um ataque de status, encobrindo Hakamo-o que também lançou um golpe físico, utilizando de seus punhos para causar danos.
— Muk: Gunk Shot! Ninetales, Ice Shard! Togedemaru, Thunder!
— Cauda-Quente: Sludge Bomb! Petrificado: Power Gem! Desmembrado: Slash!
— Jangmo-o: Headbutt!
— Corte-Rápido: Icicle Crash!
Com a adição dos dois outros que faltavam, a confusão rolou solta. Uma troca de ataques sem fim, repleta de explosões, luzes, socos e pontapés tomou conta do lugar. E isso me dava tempo para trocar uma ideia com Black.
— Pegue. — Joguei para ele um item que poderia ajudá-lo (e com certeza o faria).
Black apanhou a bala conhecida por Rare Candy e voltou sua atenção para Caitlin, que estava alheia à batalha, sugando e tomando o fluido de Solgaleo e Lunala como criança comendo doce.
— Derrote-a! Eu cuido deles! — Avisei e então voltei o foco para meus pokémon, que estavam tendo sérios problemas. De qualquer modo, eu havia garantido um tempinho extra a Black. Agora estava tudo nas mãos dele.
Para esta história, eu me inspirei em Illyana Rasputin, a Magia, dos Novos Mutantes/X-men, que foi para o inferno e perdeu um pedaço da alma e agora ela faz de tudo para recuperar a alma que perdeu, ganhando inclusive uma forma diabólica por estar sem parte do seu espírito.
Novamente, eu gostaria de deixar bem claro que não haverá um "lado do bem" e um "lado do mal". Todos ali têm uma parcela de culpa e todos estiveram envolvidos nos acontecimentos, incluindo os pokémon lendários. Agora cabe a cada um de vocês, leitores, interpretarem quem tem a real culpa ou não na história. Deixem nos comentários o que vocês acham: quem está certo e quem está errado e o que vocês esperam do próximo episódio da série, que fechará a história em três diferentes partes (como foi com o número 05).
Os loucos que cometem crimes devem ir para a prisão ou para o hospício? É esse o questionamento que fica no ar...
QUE CAPÍTULO FOI ESSE?!!!Eu to é morto!Amei o capitulo,e sinceramente eu acho q os vilões são tanto os deuses quanto a Ela\Caitlin,to muito ansioso pelo próximo capítulo e ainda esperando Popplio evoluir kkk Até o próximo,to botando muita expectativa pros próximos capitulos!
ResponderExcluirALELUIA, Alguém comentou! Hahaha Eu nem comecei a escrever o 15.1 ainda porque até então, ninguém havia se pronunciado sobre o 14... Já estava pensando até em deixar em aberto mesmo, mas que bom que você apareceu. Começarei escrever o mais breve o possível. :D
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