Pokémon Laços — Capítulo 06: VS Ghost



Capítulo VI - VS Ghost



Glitch City era uma cidade sombria. O céu tinha um tom laranja, as águas eram vermelhas como sangue, e o cheiro era diferente. Todas as sensações eram diferentes. O ar era mais pesado, mas mais rarefeito ao mesmo tempo. O clima era mais quente, andar por lá era mais leve, propagar sons como a fala, por exemplo, era mais pesado e mais difícil. Estávamos (literalmente) em outra dimensão. E tudo o que enxergávamos era como se estivesse sendo tratado por um filtro de fotografia em um tom sépia antiquado.

— O-onde estamos? — Perguntou Yellow.

Mas esta não era a pergunta que ela deveria fazer. Olhei para todos os lados e só havia três de nós por ali. Green, Yellow e eu. Perdidos em uma cidade fantasma, com os pés mal encostando no chão, quase flutuando, como espíritos.

— Onde está Red? — Por fim, ela perguntou. — E o Pika?

— Nossos Pokémon também não estão aqui! — disse Green, procurando nos bolsos por suas pokébolas.

— Estamos sozinhos! — Constatei, desejando que aquilo não fosse verdade, mesmo sabendo que provavelmente estávamos presos em uma realidade defeituosa, onde Pokémon disformes, os Glitches, poderiam aparecer e nos atacar a qualquer momento.

— Vocês NÃO estão sozinhos! — disse uma quarta voz, se aproximando do alto. Um homem descia dos céus, flutuando lentamente, como se dominasse a atmosfera e gravidade menos densas daquele local.

— GIOVANNI! — Exclamamos eu, Green e Yellow ao mesmo tempo.
O líder, ou melhor, ex-líder da Equipe Rocket, Giovanni, descia como um anjo que deixa o paraíso para visitar sofredores no inferno (que era o lugar onde nós estávamos presos).

— O que é isso aqui? — Perguntei, temendo a resposta. Mesmo sendo um membro da Equipe Rocket por oito anos, eu sabia da existência da Glitch City, mas nunca pude obter mais informações. Mesmo nós, membros, temos acesso limitado ao que diz respeito à produção das Glitch-joias

— Nós não estamos em um Universo Paralelo. — disse Giovanni. — Estamos no meio do caminho. Esta aqui é a pontinha do iceberg para uma descoberta que poderá revolucionar completamente o campo da ciência!

Como assim? Ficamos todos sem entender. Então, ele começou a explicar, com uma voz calma e tranquila, como se aquilo tudo fosse completamente normal para ele. Para nós, contudo, estava sendo difícil de engolir e o pior: dava medo acreditar. Era horripilante.

— Glitch City é uma cidade-fantasma. — Nós meio que percebemos. — Ela fica no meio de duas dimensões. A de onde viemos e muito, muito provavelmente, uma outra, onde Red está agora. Este lugar é uma brecha no espaço-tempo, como que fosse uma "respirada" do Universo. Aqui, toda a energia que advém do núcleo dos Pokémon é descarregada, e como há energias conflitantes, vindas de duas dimensões diferentes: a de lá, e a de cá, tudo aqui parece um limbo, inclusive para os seus habitantes. — explicou Giovanni, apontando para algumas criaturas vivas que se mexiam lá longe. Pareciam-se com Pokémon, mas não eram. Eram deformados. Disformes. Destorcidos. Glitches.

— Hã? — Olhei, sem entender direito o que meus olhos estavam enxergando.


Primeiro, havia um grupo de esqueletos Pokémon. Um muito semelhante a um Kabutops, e o outro, muito semelhante a um Aerodactyl. E eles estavam vivos. Se mexendo.

— Aqueles ali vêm do Safari Zone. Aliás, o portal que Articuno, Zapdos e Moltres abriram foi exatamente por lá... Onde poucos humanos têm acesso. — Explicou Giovanni.

Mais adiante, havia uma criatura em formato de escudo, com um ponto de interrogação em seu centro.


Parecia-se com a antiga escrita Unown, mas não era. Girava como uma moeda. De cima para baixo, de baixo para cima, produzindo sons estridentes e de certa forma, não convencionais.


Havia também um pequeno Pokémon semelhante a um dinossauro, feito de pano e com entranhas de estufa. Era um Boneco de Substituição. E estava comendo adivinhe o que: estufas de almofada.

— Credo! — Exclamou Yellow.

Giovanni apontou mais adiante, para o céu, e por fim, tivemos a visão de uma criatura feita de vapor: um fantasma. Parecia-se muito com um Gastly, mas era muito mais etéreo, e seus olhos cintilavam em sintonia, como vagalumes.

— Este é o Ghost, responsável pelo cristal que deu origem à evolução contraditória de Marowak em Kangaskhan! — disse Giovanni.


— Ah, eu não posso me esquecer desse aqui! — disse Giovanni, tirando um ovo podre de dentro do casaco. Aquilo cheirava a enxofre. Degradante. — Um Ovo Estragado! Diferente dos Ovos Pokémon normais, este aqui pode ser usado em batalhas! Vejam como se mexe, não é adorável?

E o ovo praticamente pulava das mãos dele. Só não caía, porque Giovanni segurava firmemente.
— Como eu disse, Glitch City é lar das energias de duas diferentes dimensões... Os Pokémon, ou melhor, os Glitches, que aqui vivem, são só sombras dessas duas dimensões... Descargas vibratórias que se materializaram e criaram vida. Por isso, seus efeitos são tão... diferentes. Como a capacidade de devoluir, ou fazer coisas que normalmente seriam consideradas "trapaça" em nosso mundo. É por isso que, condensando a energia deles nestes cristais, obtemos efeitos tão... Adversos.

E vendo que estávamos todos quietinhos, prestando atenção, Giovanni seguiu explicando:

— Mas Glitch City tem um pequeno grande problema... Está "colidindo" com a nossa dimensão. Está muito próxima da nossa realidade e muito distante da outra ao qual também está ligada. Prestem atenção. Se vocês olharem bem, conseguirão enxergar seus corpos petrificados, do lado de lá.

E era verdade. Era só apertar bem os olhos, que podíamos enxergar por detrás das paredes. E assim, conseguíamos ver o que estava acontecendo do outro lado. Estávamos paralisados, corpos vazios, só a casca, sem consciência, mas ainda assim, vivos.

— Por que ficamos assim? — Perguntei, referindo-me à pose de estátua com o qual havíamos ficado na outra dimensão, a de onde viemos.

— Hmm... Como vou explicar? Vocês... Costumam jogar videogames? — Perguntou Giovanni. — Bem, o que tende a acontecer quando vocês usam métodos ilegais para alcançarem progressões durante o jogo? Erros, correto? Crashes! Você deram um crash do lado de lá. Travaram por causa dos glitches, exatamente como na programação de um jogo. Talvez esta seja a real realidade... Estamos todos dentro de uma simulação de computador e às vezes... Ela falha.

Caramba! O que havia de mais assustador naquelas palavras de Giovanni era que aquilo fazia mesmo sentido.

— E como a Equipe Rocket descobriu este lugar? — Perguntou Green, que estava arrepiada da cabeça aos pés, segurando Yellow, que não parava de chorar.

— Ah, para isso precisamos voltar no tempo... Lá na época em que minha mãe, a Madame Boss, formou esta equipe. O objetivo era conseguirmos encontrar o Pokémon Lendário Mew, o mais raro de todos os Pokémon. Textos antigos de vários locais isolados do mundo revelavam que Mew habitava um mesmo lugar denominado Guyana... O problema é que nenhum Mew jamais foi encontrado na Guyana que existe nos nossos mapas! Foi então que percebemos tratar-se de outra dimensão acessada a partir da Guyana.
"A Equipe Rocket começou a trabalhar no contexto de clonagem do Pokémon Mew, para descobrirmos essa tal dimensão e acabou não dando certo pela primeira vez... Criamos Ditto. Um monte deles. Depois disso, veio nossa versão selvagem e feroz: Mewtwo. Deu errado de novo. Nunca conseguimos reproduzir um Mew com sucesso. Nunca. E então, nunca conseguimos atingir a dimensão de Mew na Guyana.

Usamos assim, o poder combinado das aves lendárias Moltres, Zapdos e Articuno para abrirem um portal e voilà! Descobrimos a Glitch City! Tivemos essa ideia devido ao fato de que mais de um Pokémon lendário junto em um mesmo local, começa a afetar o espaço-tempo, gerando ondas gravitacionais e rápidas explosões de rádio de alta-frequência, até então, fato inexplicado pela ciência. Isso certamente tinha algum significado cosmológico. E o meu palpite era de que lendários são Pokémon capazes de viajar por dimensões. E não é que eu estava certo? Eles conseguem coser e descoser os tecidos do espaço-tempo, assim como podem criar as Leis da Física e basicamente tudo o que há.

Eu fiquei fascinado com a existência desse lugar. A Glitch City me atraía todos os dias. Mas nós nunca pisamos aqui. Poderia ser perigoso demais para a frágil vida humana. Bem, hoje eu descobri que não é. Começamos a capturar as energias dos glitches que aqui viviam através de máquinas e trancafiando estas energias em pequenos cristais lapidados artesanalmente. Começamos a estudar os efeitos destas energias nos Pokémon do lado de lá. E para isso, precisamos de muitas cobaias. Ao todo, 100 (cem) treinadores de toda a região de Kanto, Sevii e Ilhas Laranja participaram do estudo. E ao todo, até hoje, foram criados mais de 100 (cem) cristais únicos, com propriedades distintas um dos outros e consequências um tanto... Perigosas, por assim dizer.

Mas como eu havia lhes dito, aqui não é uma nova dimensão em si, é só uma respirada do Universo, uma descarga de energias. Estamos em um limbo cósmico. A minha ambição então passou a ser descobrir a outra dimensão ao qual esse limbo nos conecta e provar a teoria do Multiverso: a de que várias dimensões existem e de que é possível viajar entre elas. Uma descoberta científica sem precedentes... Mas eu nunca consegui chegar lá!

De qualquer forma, os experimentos com os cristais foram muito rentáveis, durante muito tempo. E ainda assim, experimentos científicos maravilhosamente bem sucedidos! Embora eles tenham trazido muitos... 'Crashes' e efeitos colaterais para os Pokémon que deles provaram.

Mas eu decidi... Fugir. Decidi que a Equipe Rocket em si, não vai conseguir fazer isso. E mesmo que o façam, não podem tirar o crédito de mim. Eu decidi abandonar tudo. O ginásio, Blue... A Equipe Rocket, Green... Tudo. Eu abandonei tudo, porque eu quis vir para cá, para Glitch City para estudar isso aqui de pertinho. E agora, parece que eu não serei o primeiro a comprovar a existência do multiverso, mas um fedelho que nem sequer é maior de idade, ainda! Ou talvez já seja, mas não importa! Não sabe nem se limpar sozinho!

Red está do outro lado. Ele conseguiu ultrapassar a barreira que nem eu e nem a Equipe Rocket fomos capazes de perfurar! E a minha Teoria do Multiverso, que eu sonho em comprovar, está sendo arrancada de mim!"

Giovanni fervia de raiva. Ele acreditava que Red não estava ali conosco, porque a consciência dele havia se distanciado bastante o suficiente para se conectar com o outro lado do limbo astral que era Glitch City.

— Então existem outros mundos? — Perguntou Yellow, contando nos dedos e de repente percebendo que as possibilidades eram infinitas. Se existia mais de um mundo, mais um de um universo, deveria haver milhões, bilhões, trilhões... Zilhões deles.

— Mas como... Como chegou aqui? — Perguntei a Giovanni.

— Eu vim através do portal de Zapmolcuno. — Respondeu o homem que, apesar de estar com muita raiva, não podia fazer nada naquele momento. Nem quanto ao seu desejo de provar a existência de uma outra dimensão, nem com relação à nossa presença ali. — E vocês? Como chegaram aqui? 

— Viemos pela fenda causada pelo Cristal da Consciência! — Explicou Green. — Como se você não soubesse! Foi você que começou a usar partes dos corpos dos glitches para criar aqueles cristais!

— AH! — E de repente, Giovanni interrompeu o raciocínio de Green, acometido por uma súbita lembrança. — Green! Blue! E até você, senhorita Yellow! Eu, como (ex) líder da Equipe Rocket, aceito vosso pedido de demissão. Vocês estão livres. A Equipe Rocket nunca mais vai procurar por vocês! Sabe como é, né? Eu consigo mexer os pauzinhos... Contanto que me deixem prosseguir com os meus planos de provar a existência das múltiplas dimensões, é claro! Sem interferirem. Jamais. E está acordado! Vocês me deixam em paz e eu peço para pararem de persegui-los!

Aquela parecia ser uma proposta encantadora. Se ver livre do domínio da Equipe Rocket depois de tantos anos. Ter o nome limpo depois de passar oito revoluções trancafiados em laboratórios sob a pena de sermos expulsos da Liga Pokémon por trapaça e sabotagem, por uso de itens e métodos ilegais para obtermos vantagem em competições oficiais.

Depois de tanto tempo... Eu queria mesmo era fazer isso. Mas e Red? Como poderíamos deixar a Equipe Rocket se Red continuaria a ser imortunado, ainda mais agora, que se suspeitava que ele estaria em outra dimensão?

— Vocês precisam ir. — Pressionou Giovanni. — O tempo passa diferente aqui. A cada 5 (cinco) minutos, 1 (um) ano se passa na dimensão em que vivemos. Vocês precisam ir.

Aquilo pegou a todos nós de surpresa, com um baque no peito. Se estávamos ali a aproximadamente 1 (uma) hora... Poderiam ter se passado... 12 (doze) anos do outro lado!

— VÃO! — Mandou Giovanni, que agora não parecia tão maldoso, preocupando-se com a nossa vitalidade. Ele nos empurrou contra um buraco negro, no alto de sua cabeça. Era de onde ele tinha vindo, flutuando graciosamente até o chão. E como a gravidade ali era baixa, sentimo-nos como se estivéssemos sendo engolidos por aquele portal, que começou a nos puxar para cima, tirando-nos do contato com o solo, e tragando-nos para uma escuridão definitiva.

— Eu espero que tenha sido melhor assim, Persian... Espero que tenha sido melhor assim...

E então tudo se apagou.

Fim do Blue Chapter
A Seguir: Epílogo

2 comentários:

  1. Meuuuu Deeeeuuus, essa história. Agora faz sentido o porquê de sua mãe ter aparecido, Giovanni estava na verdade no Glitch, eu me pergunto, se ele possui por uns 30 anos imagina quantos anos ele deve estar possuindo agora. Ele ter contando tudo para os garotos mostra que ainda sobra um pouco de humanidade num vilão tão icónico quanto ele e adoro quando você demonstra isso, que até o pior dos vilões possui sentimentos e isso deixa a trama bem mais rica e o personagem mais credível.

    E o que mais me chocou foi ele ainda falar do seu pokémon, Persian, o que mostra que é a criatura que ele mais ama no mundo ( não vou citar o seu filho porque né ), simplesmente incrível, a ligação entre universos diferentes, o outro universo poderia ser o de Zannia ( De XY? ) ou de USUM? Assim como no games ? Nossos protagonistas foram completamente ofuscados por esta história rica, o que mostra que ainda não perdeu o seu jeitinho de contar histórias ~rs

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    1. Confesso que nunca senti nada pelo Giovanni. Nunca achei graça nele como personagem. Porém, tenho visto que o fandom realmente é apaixonado por sua história... Até hoje, nunca vi nada demais. Então decidi dar um toque de personalidade pra ele. Fazer com que ele se abrisse me deu um leque de possibilidades, moldando a personalidade dele através de acontecimentos da história (como a relação dele com a mãe, a venda do seu primeiro pokémon, as experiências que a Equipe Rocket fazia com lendários, especialmente Mew e a descoberta do tão famigerado "multiverso".

      Se você reparar, dos Pokémon de Giovanni (que usou no Ginásio), quase todos ficaram com Blue, exceto Persian e Marowak/Kangaskhan. 1) Porque Persian realmente é tem valor sentimental para ele; 2) Porque Kangaskhan é um experimento científico revolucionário do qual Giovanni ainda quer ter créditos. Os outros todos foram deixados com Blue para ele cuidar do ginásio de Viridian City.

      A Relação de Giovanni com o filho veremos em GS Adventures (prometo). Acalma o coração e deixa as teorias pro final, porque eu juro que não deixarei pontas soltas. RBG Adventures será toda "fechadinha", ou seja, todos os seus fatos serão comprovados ou explicados na história, seja agora ou seja em fanfics posteriores. Por exemplo, Yellow aparece pela primeira vez em RBG na Liga Pokémon, onde Green explica que Red a conheceu nas Ilhas Laranja. Se você ler (a poesia) Yellow Adventures, perceberá que eles realmente se conheceram desta maneira. Assim, podemos traçar uma linha do tempo e ver que o Green Chapter e Yellow Adventures se passam ao mesmo tempo. O mesmo vale para o Blue Chapter e Emerald Adventures, por exemplo. Tudo isso será melhor alinhado e compreendido com o passar dos episódios.

      Muito obrigado, mais uma vez, pelos múltiplos comentários! E que bom ter você aqui! Muito obrigado pelo apoio, isso me deixa muito feliz!!!

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