Na Academia Lumiose,
Uma Semana depois de descobrir toda a verdade,
Uma Semana depois de descobrir toda a verdade,
Y convocou uma reunião com toda a turma, os professores e também o Diretor Gurkinn no auditório. Ela revelou toda a verdade, de como inventara o nome Calem Xavier, de como usou os poderes psíquicos de Delphox para manipulá-los e que ela veio de outra realidade para impedir que algo muito ruim acontecesse nesse mundo, sendo que ela própria foi usada e que na verdade, ELA é quem deveria cometer algo muito ruim. Ela pediu desculpas, cheia de lágrimas e de sinceridade, embora os mais velhos não tenham se convencido, mas não mencionou nada sobre a estudante Yvonne Gabena ser na verdade Yvette Serena. Não, aquilo poderia (e DEVERIA) ser mantido em segredo para o resto da vida.
Y então se afastou da escola por vontade própria e esperou os últimos dias que faltavam para a Liga Pokémon iniciar...
Neste período, de pouco menos de 60 (sessenta) dias, ela percorreu Kalos no Rhyhorn de montaria que a família de Yvonne Gabena dera para ela quando ainda era pequena, e foi de ginásio em ginásio, conquistando todas as insígnias daquela realidade.
Primeiro, ela deu a revanche que Alexa, a líder do ginásio tipo Normal de Santalune tanto queria. No fim, ela conseguiu vencer de novo.
Em Cyllage, enfrentou o mestre dos tipo aquático, Siebold, garantindo sua segunda medalha.
Depois retornou a Lumiose, marcando um encontro secreto com a líder Bonnie (que soube, através da escola, de tudo o que Y confessara) no alto da Torre Prisma, onde venceu e obteve sua terceira insígnia.
Depois enfrentou AZ em sua recente peripécia de se tornar um especialista em Pokémon do tipo Planta.
Enfrentou o meio-irmão Lysandre, que nesta realidade não tinha nenhum laço sanguíneo com a verdadeiro Yvonne Gabena. Como isso era possível, Y se perguntava. Bem, em universos paralelos.
Foi para Anistar depois disso, onde se reencontrou com Marilyn Flame e recuperou Delphox, são e salvo, com muita energia.
Ela tentou devolver Delphine e também todos os iniciais especiais, agora totalmente evoluídos, mas Merilyn rejeitou. A Bruxa explicou que eles haviam nascido assim, naquele mundo, daquela cor, porque estavam predestinados a conhecer a viajante interdimensional Y e que eles deveriam permanecer com ela. Y então aceitou ficar com os três, que já são mais do que simples amigos, se tornaram família ao seu lado.
Ainda em Anistar, Y conquistou mais uma insígnia e continuou progredindo nos desafios de ginásio, necessários para dar entrada na Liga...
Depois foi para Snowbelle, onde enfrentou Wulfric e se sentiu com muita, mas muita saudade de casa, lembrando-se de todo o conflito que se instaurou exatamente na época em que ela enfrentou o Wulfric de seu mundo.
Mas não parou por aí, ela foi para Kiloude onde enfrentou os Heróis Mascarados, que na verdade eram os professores Sina e Dexio, ganhando assim sua última insígnia de ginásio.
Ela agora tinha oito medalhas que lembravam muito as de seu mundo, mas eram entregues por pessoas diferentes e representavam tipos diferentes, em uma ordem diferente.
E agora, com a equipe completa e devidamente treinada, Y sentia que estava pronta para o desafio FINAL. Faltava um dia para a Liga Kalos começar e, portanto, um dia para tudo ACABAR...
Naquela manhã, Y se acordou determinada. Era o dia de abertura da Conferência Liga Pokémon da Região de Kalos na Cidade Lumiose ou simplesmente "Conferência Lumiose". Embora nunca tenha participado de uma Liga Pokémon em seu mundo natal, na "Terra 6124", Y perdeu o interesse com o passar do tempo em participar, preferindo se ater a missões de maior importância, tal como viajar para outra dimensão para salvá-la de um possível condenamento. Contudo, muito tempo após ter sido enviada para a Terra 1269, ela finalmente descobriu toda a verdade sobre o seu real propósito de ter ido para aquele mundo, e está no momento de confrontar aquela que a enviou: Zinnia, justamente no próprio local de realização do evento, como parte do plano.
Era 7:35h da manhã, a arena estava lotada. A multidão gritava alucinada pelas batalhas que estariam para começar dali a 25 minutos e todos os treinadores participantes já estavam aguardando nos bastidores...
...Enquanto Monsieur Pierre narrava a cerimônia de abertura do evento.
Y estava em um corredor sozinha quando sentiu que estava na hora. Ela e Zinnia haviam combinado que o retorno de Y seria no dia de início da Liga Pokémon, portanto, onde quer que estivesse, ela seria encontrada por Zinnia e seria levada de volta para o grande hiperespaço, onde voltaria sua atenção para uma nova Terra e uma nova missão. Mas...
As coisas não eram tão simples assim. Zinnia mentira sobre a missão que Y deveria cumprir naquela dimensão (a Terra 1269). A draconídea informara para a menina que seu dever era investigar uma suposta "Yvonne Gabena" que seria futuramente a responsável pela reativação da Ultimate Weapon naquele mesmo Universo.
Contudo, após muita briga e troca de farpas, e um joguinho sujo do qual Y já estava perdendo a sanidade tentando compreender, ela descobre que a tal "Yvonne Gabena" daquele mundo já havia falecido e que a impostora em seu lugar era na verdade outra viajante interdimensional também enviada por Zinnia chamada Yvette Serena.
Yvette Serena, que teve sua dimensão natal destruída, ao saber da morte de Yvonne Gabena, resolveu assumir o seu lugar, disfarçando-se da garota morta para poder recomeçar sua vida em uma realidade-espelho da sua, já que todos a quem ela conhecia haviam sido mortos. Zinnia, no entanto, achava que aquilo iria trazer ainda mais problemas e instabilidades para tal dimensão e por isso, manipulou uma nova viajante interdimensional (a Y que conhecemos) para que fizesse de tudo o que fosse preciso para impedir que esta menina ativasse a Ultimate Weapon. Em outras palavras, instigou uma viajante contra a outra para que resultasse na morte de Yvette Serena por ter decidido recomeçar em um mundo que não era seu, sem que jamais Y ficasse descobrindo que esta era a sua real intenção.
Isso era cruel. Pior do que ter sido manipulada era saber que Zinnia queria apagar Yvette por ter recomeçado sua vida em um mundo igual ao que ela veio sendo que a sua dimensão de origem foi aniquilada não restando nenhum sobrevivente. Por que Zinnia simplesmente não deixava Yvette viver como se nada tivesse acontecido? Y reconhecia que aquela situação deveria ter destroçado o coração de Yvette e por isso ela era uma menina tão fria, mas ela estava tentando mudar... Estava tentando começar de novo. E Zinnia simplesmente não queria isso, simplesmente decidindo matar Yvette ao invés de achar alguma solução que lhe fosse mais conveniente. Talvez para aquele trauma jamais houvesse cura e Zinnia não poderia prometer na melhor para Yvette, mas MATAR? Sinceramente, Y estava de saco cheio já. Não queria mais fazer parte daqueles joguinhos.
Então, Y começou a sentir uma vibração cósmica junto ao espírito dela. Havia algo se aproximando cada vez mais rápido, até que em um estampido, surge ela, ZINNIA, atrás da menina.
Zinnia era uma das poucas remanescentes do povo Draconídeo, uma antiga civilização que cultuava os Pokémon do tipo Dragão como deuses, porém, com a queda de um meteoro, seu mundo foi aniquilado e uma pequena porção de pessoas, incluindo ela, se salvou, escapando para o hiperespaço, uma espécie de espaço sideral ampliado que é capaz de conectar diversas dimensões. E foi assim que ela chegou na Terra de Y e depois trouxe a menina para esta realidade onde atualmente se encontra.
Zinnia, até então alheia à situação, olhou para Y de costas e sentiu que algo estava errado. Ela não havia cumprido o acordo.
— Você não completou a sua missão neste mundo. — diz Zinnia, muito perspicaz.
— Eu quero desistir. — Diz Y, ainda sem se virar.
— Você não pode desistir. Eu te falei que algumas viajantes interdimensionais não voltavam de suas missões. — Ameaça Zinnia, dando a entender que não voltavam porque se recusavam a ser meras marionetes do povo draconídeo e por isso, eles próprios as matavam, não por causa da periculosidade de sua missão em si. — Você falhou comigo e com a homeostase do multiverso. Este é o seu fim. Renda-se.
— Ai, ai.. Cara Zinnia... — Y começa a rir em um ar debochado e então se vira para poder encarar a mulher que estava às suas costas, face a face. — Eu demorei muito para ficar sabendo, mas quando eu soube... Tudo se encaixou direitinho... Não dá mesmo para CONFIAR em quem te manipula para fazer todo o trabalho sujo. A sua sorte, é que eu não sou como você!
— ARGH! O que você fez? — Zinnia não conseguia mexer o corpo, estava se sentindo paralisada.
Quando pronunciou a palavra "confiar" com bastante força, o Delphox de Y, que estava atrás de Zinnia, escondido, esperando pela sua chegada, utilizou a sua magia psíquica para prender a carrasca em um vórtice energético impossível de escapar, imobilizando-a por completo. Esta é a mesma técnica que Y utilizou contra a Professora Viola, o Monitor Grant e o Diretor Gurkinn quando entrou na Academia Lumiose, para fazerem-nos acreditar que ela era uma nova estudante e, posteriormente, quando a casa caiu, para fazerem-nos acreditar que ela era na verdade uma estagiária que só de disfarçou de estudante para que os alunos obtivessem confiança no potencial dela, por terem todos (ela e eles) a mesma idade.
— Yvette, por sair. — Diz Y, chamando Yvette Serena para o corredor. Ela também estava escondida junto a Delphox, só esperando o momento de Zinnia aparecer.
— O que você está fazendo? — Grita Zinnia. — As duas são TRAIDORAS! Estão violando as leis do multiverso!
— E você também não está? — Pergunta Y. — Você também não foi praticamente a única sobrevivente da sua dimensão? Por que você pode continuar a sua vida normalmente e a Yvette não?
— É diferente! Eu fico no hiperespaço a maior parte do tempo, eu não tomei uma dimensão alienígena para mim! — Defende-se Zinnia, como se aquilo fosse mudar alguma coisa. Na realidade, ela estava tão indiferente aos sentimentos de Yvette quanto ao de Y, o que quer dizer que ela não dava a mínima para as pessoas que recrutava para supostamente "salvar mundos". Ela só estava pensando nela mesma naquele momento. Mesmo que tivesse motivos para ter se tornado egoísta daquele jeito e tenha medo que catástrofes interdimensionais aconteçam por Yvette estar vivendo em uma dimensão que não é dela, aquilo ainda era hipocrisia pura, e Y estava cheia de hipócritas.
— Desculpas e mais desculpas. — Diz Yvette, visivelmente chateada com Zinnia. — A verdade é que você quer me eliminar porque eu não posso mais ser controlada por você ou pelo povo Draconídeo.
— Vocês não sabem o que estão fazendo! Está errado! É antiético fazer o que você fez! — Diz Zinnia referindo-se ao fato de Yvette ter assumido o lugar de Yvonne Gabena sem ninguém saber.
— Sabe... Quando eu entrei na Academia Lumiose, eu comecei a desfazer uma por uma as amizades que a verdadeira Yvonne Gabena tinha. — Diz Yvette com lágrimas nos olhos.
Yvette estava visivelmente emocionada e o seu "ego" falsificado que ela projetava para afastar a todos não se fazia presente naquele momento, afinal, era só uma atuação. Sentia muita angústia, mas finalmente estava cara a cara com Zinnia depois de mandar Y para matá-la e sabia que este era o momento para falar tudo o que precisava ser dito, enquanto Delphox ainda conseguia contê-la.
— Eu fiz isso porque eu tinha medo que amigos tão próximos como eles eram fossem capazes de descobrir toda a verdade e me condenar. Inclusive, o Xavier descobriu enquanto me ouviu conversando com AZ e foi então que eu armei todo um rolo, inventando para o Diretor Gurkinn que ele tinha vazado fotos íntimas minha para toda a escola. No final, ele foi expulso, mas eu o procurei depois disso. Procurei e contei toda a minha história. Ele sabe que o que eu fiz foi "errado", mas resolveu me perdoar porque teve empatia e compaixão para entender o MEU lado da história e assim, ele acabou se tornando o meu melhor amigo mesmo depois de eu ter feito tudo isso para ele... O Alain, que era namorado do Xavier na época, nunca ficou sabendo de nada sobre eu ser uma viajante interdimensional, portanto nunca me perdoou por ter armado para cima dele. Mas o que eu quero dizer é que... As pessoas erram, as pessoas caem, as pessoas sofrem derrotas, mas as pessoas podem recomeçar e é INJUSTO você tentar tirar a minha única chance de viver de novo como se nada tivesse acontecido.
— Vocês não sabem! Vocês não têm o direito de invadir este mundo! — Diz Zinnia, cheia de raiva.
— Invadir? Foi você que nos largou aqui! E agora... Agora é tudo o que eu tenho! — Devolve Yvette. — Você não pode tirá-lo de mim!
Então, Y percebe que Zinnia estava tentando se desacorrentar do poder psíquico de Delphox. Ela estava pegando suas pokébolas com uma mão e segurando a Key Stone com a outra. Ela iria atacar.
— Delphox, AGORA!!! "Confiar".
Delphox começa a sussurrar palavras místicas no ouvido de Zinnia e os olhos da mesma embranquecem e o corpo da draconídea amolece, deixando cair tanto a sua Key Stone quanto suas pokébolas... Y então repara que aquela são as suas pokébolas. Ela aproveita que Zinnia está em transe para abrir a bolsa de Zinnia e lá estão várias pokébolas, incluindo todos os Pokémon que Y levou consigo para o hiperespaço.
Y recupera rapidamente o controle sobre seus Pokémon e pega a Key Stone que deveria ser a sua (já que Zinnia tinha outra atrelada a uma tornozeleira em espiral em sua perna direita.
— Zinnia? — Chama Y, enquanto a mesma se encontrava em um estado hipnótico profundo. — Você irá me mandar de volta para o meu Universo assim que tudo isso acabar... E vai apagar do seu cérebro qualquer vestígio sobre Yvette Serena, inclusive se esquecendo permanentemente em qual Terra ela está vivendo, para nunca mais atormentá-la ou mandar novas viajantes interdimensionais para caçá-la em nome da sua hipocrisia. Entendeu?
Zinnia não responde nada, mas Y sabia que estava tudo sob controle. Ela confiava em seu parceiro Delphox.
— Você acha que vai funcionar? — Pergunta Yvette, realmente incerta sobre aquilo.
— Já funcionou. — Diz Y com confiança. — Funcionou porque Merilyn Flame conseguiu aperfeiçoar completamente os poderes psíquicos de Delphox, mesmo ele não estando em seu universo de origem, fazendo com que ele se tornasse o xamã dos xamãs, agora conseguindo eliminar memórias e informações completas do cérebro de uma pessoa sob seu controle de modo que ela nunca mais volte a se lembrar do que foi esquecido... Você está segura, Yvette. "Pode Confiar".
— Obrigada, Natalie. Obrigada! — E as duas se abraçam, enquanto Yvette Serena derrama mais lágrimas.
Y se lembra do momento em que Yvette estava no banheiro da escola, chorando e não queria ajuda. Ela também chorou em vários outros momentos... Coitada. Mesmo que ainda sinta um pouquinho de ranço por ela ter se comportado mal o ano todo, Y consegue sentir a verdade por trás daqueles olhos que fluem sem parar.
Y jamais entenderá o que Yvette passou e o que aquilo significava para ela. A dor de perder todo mundo que ama de uma só vez. A dor de ver o seu planeta ser destruído e você ser o único sobrevivente... Mas agora, com Zinnia fora do caminho graças à telepatia de Delphox, Yvette teria uma chance novamente, mesmo que fazendo algo considerado imoral por muitos. Y conseguia ter empatia o suficiente para saber que alguns males valiam a pena. A Yvonne Gabena original morrera, mas Yvette Serena era igualzinha a ela, até no DNA. Os mesmos pais, os mesmos tios, os mesmos avós, até os mesmos amigos. Elas vinham de universos espelhados. Por que não deixar a garota viver, ainda que seja para sempre escondendo uma mentira, no lugar de sua outra versão? Por que insistir em dar um fim quando tudo o que ela queria era uma nova chance para continuar? Por que pintar Yvette Serena como uma vilã se nada do que aconteceu foi culpa dela e tudo o que ela quer neste momento é fugir e viver sem olhar para trás?
AZ entendia isso porque talvez seja a única pessoa viva há mais de 3000 anos na face da Terra. Y entendia porque era, sobretudo, também uma contraparte de outra dimensão de Yvette e também da própria Yvonne original. Zinnia deveria entender, ela também é uma sobrevivente de uma catástrofe global em sua dimensão-natal, mas parece que ao invés de buscar os sentimentos dos outros, ela optou apenas por se tornar uma casca vazia e sem qualquer tipo de consideração.
Então, como que para despertá-las daquela conexão em que as duas versões de uma mesma pessoa se encontravam ao se abraçar, a voz de Monsieur Pierre anunciou o início da Liga e chamou para o palco ninguém menos que Natalie Serena Yvelgress, a Y.
— Essa não! Eu me esqueci da liga completamente! — Diz Y, assustada. — E agora, o que eu faço?
— Vem comigo. — Diz Yvette, piscando o olho para Y e segurando sua mão. — Você vai entrar naquele palco e brilhar. Depois de tanto trabalho e sufoco que eu sei que você passou com aquele Yveltal, ainda por cima comendo na mão da Zinnia... O mínimo que você merece é se divertir com os amigos. Vai. Sobe no palco e depois você volta com essa daqui para casa.
— Mas eu... Não posso... — Y sabia que não havia participado de nenhuma Liga Pokémon antes por pura interrupção humana, mas ela também sabia que Yvette estava certa. Depois de tudo aquilo que viveu ao lado de seus "alunos", sair sem dar satisfação lhe parecia errado, sem falar que ela havia criado laço com eles e agora, todos estavam reunidos naquela arena para batalhar. Y deveria mesmo seguir em direção ao palco? Ela vacilou por um momento... Então olhou para Delphox...
...e o Pokémon lhe disse mentalmente, agora com seus novos poderes telepáticos...
— Vá. Você merece!
— E-ele... falou! — Constata Y, totalmente surpresa, finalmente compreendendo o seu papel naquilo tudo. Finalmente as cartas faziam sentido. Ela se aliou ao que pensara ser o seu lado escuro. Y não salvara um mundo como imaginara que precisaria salvar, mas salvara uma pessoa e isso já era o suficiente. Agora, ela poderia tirar um tempinho para salvar a si mesma da loucura que estava sua mente. Confiou em Yvette Serena, confiou em Delphox e subiu orgulhosa no palco da Liga Kalos para sua primeira batalha oficial, seguindo o conselho da própria Yvette de tentar recomeçar e deixar o que é passado exatamente aonde isso pertence: no passado. E assim, deu um fim de uma vez por todas naquele pesadelo que estava vivendo, para começar tudo outra vez, confiante de que tendo a si mesma como amiga, tinha tudo o que precisava.
Era 7:35h da manhã, a arena estava lotada. A multidão gritava alucinada pelas batalhas que estariam para começar dali a 25 minutos e todos os treinadores participantes já estavam aguardando nos bastidores...
...Enquanto Monsieur Pierre narrava a cerimônia de abertura do evento.
Y estava em um corredor sozinha quando sentiu que estava na hora. Ela e Zinnia haviam combinado que o retorno de Y seria no dia de início da Liga Pokémon, portanto, onde quer que estivesse, ela seria encontrada por Zinnia e seria levada de volta para o grande hiperespaço, onde voltaria sua atenção para uma nova Terra e uma nova missão. Mas...
As coisas não eram tão simples assim. Zinnia mentira sobre a missão que Y deveria cumprir naquela dimensão (a Terra 1269). A draconídea informara para a menina que seu dever era investigar uma suposta "Yvonne Gabena" que seria futuramente a responsável pela reativação da Ultimate Weapon naquele mesmo Universo.
Contudo, após muita briga e troca de farpas, e um joguinho sujo do qual Y já estava perdendo a sanidade tentando compreender, ela descobre que a tal "Yvonne Gabena" daquele mundo já havia falecido e que a impostora em seu lugar era na verdade outra viajante interdimensional também enviada por Zinnia chamada Yvette Serena.
Yvette Serena, que teve sua dimensão natal destruída, ao saber da morte de Yvonne Gabena, resolveu assumir o seu lugar, disfarçando-se da garota morta para poder recomeçar sua vida em uma realidade-espelho da sua, já que todos a quem ela conhecia haviam sido mortos. Zinnia, no entanto, achava que aquilo iria trazer ainda mais problemas e instabilidades para tal dimensão e por isso, manipulou uma nova viajante interdimensional (a Y que conhecemos) para que fizesse de tudo o que fosse preciso para impedir que esta menina ativasse a Ultimate Weapon. Em outras palavras, instigou uma viajante contra a outra para que resultasse na morte de Yvette Serena por ter decidido recomeçar em um mundo que não era seu, sem que jamais Y ficasse descobrindo que esta era a sua real intenção.
Isso era cruel. Pior do que ter sido manipulada era saber que Zinnia queria apagar Yvette por ter recomeçado sua vida em um mundo igual ao que ela veio sendo que a sua dimensão de origem foi aniquilada não restando nenhum sobrevivente. Por que Zinnia simplesmente não deixava Yvette viver como se nada tivesse acontecido? Y reconhecia que aquela situação deveria ter destroçado o coração de Yvette e por isso ela era uma menina tão fria, mas ela estava tentando mudar... Estava tentando começar de novo. E Zinnia simplesmente não queria isso, simplesmente decidindo matar Yvette ao invés de achar alguma solução que lhe fosse mais conveniente. Talvez para aquele trauma jamais houvesse cura e Zinnia não poderia prometer na melhor para Yvette, mas MATAR? Sinceramente, Y estava de saco cheio já. Não queria mais fazer parte daqueles joguinhos.
Então, Y começou a sentir uma vibração cósmica junto ao espírito dela. Havia algo se aproximando cada vez mais rápido, até que em um estampido, surge ela, ZINNIA, atrás da menina.
Zinnia, até então alheia à situação, olhou para Y de costas e sentiu que algo estava errado. Ela não havia cumprido o acordo.
— Você não completou a sua missão neste mundo. — diz Zinnia, muito perspicaz.
— Eu quero desistir. — Diz Y, ainda sem se virar.
— Você não pode desistir. Eu te falei que algumas viajantes interdimensionais não voltavam de suas missões. — Ameaça Zinnia, dando a entender que não voltavam porque se recusavam a ser meras marionetes do povo draconídeo e por isso, eles próprios as matavam, não por causa da periculosidade de sua missão em si. — Você falhou comigo e com a homeostase do multiverso. Este é o seu fim. Renda-se.
— Ai, ai.. Cara Zinnia... — Y começa a rir em um ar debochado e então se vira para poder encarar a mulher que estava às suas costas, face a face. — Eu demorei muito para ficar sabendo, mas quando eu soube... Tudo se encaixou direitinho... Não dá mesmo para CONFIAR em quem te manipula para fazer todo o trabalho sujo. A sua sorte, é que eu não sou como você!
— ARGH! O que você fez? — Zinnia não conseguia mexer o corpo, estava se sentindo paralisada.
Quando pronunciou a palavra "confiar" com bastante força, o Delphox de Y, que estava atrás de Zinnia, escondido, esperando pela sua chegada, utilizou a sua magia psíquica para prender a carrasca em um vórtice energético impossível de escapar, imobilizando-a por completo. Esta é a mesma técnica que Y utilizou contra a Professora Viola, o Monitor Grant e o Diretor Gurkinn quando entrou na Academia Lumiose, para fazerem-nos acreditar que ela era uma nova estudante e, posteriormente, quando a casa caiu, para fazerem-nos acreditar que ela era na verdade uma estagiária que só de disfarçou de estudante para que os alunos obtivessem confiança no potencial dela, por terem todos (ela e eles) a mesma idade.
— Yvette, por sair. — Diz Y, chamando Yvette Serena para o corredor. Ela também estava escondida junto a Delphox, só esperando o momento de Zinnia aparecer.
— O que você está fazendo? — Grita Zinnia. — As duas são TRAIDORAS! Estão violando as leis do multiverso!
— E você também não está? — Pergunta Y. — Você também não foi praticamente a única sobrevivente da sua dimensão? Por que você pode continuar a sua vida normalmente e a Yvette não?
— É diferente! Eu fico no hiperespaço a maior parte do tempo, eu não tomei uma dimensão alienígena para mim! — Defende-se Zinnia, como se aquilo fosse mudar alguma coisa. Na realidade, ela estava tão indiferente aos sentimentos de Yvette quanto ao de Y, o que quer dizer que ela não dava a mínima para as pessoas que recrutava para supostamente "salvar mundos". Ela só estava pensando nela mesma naquele momento. Mesmo que tivesse motivos para ter se tornado egoísta daquele jeito e tenha medo que catástrofes interdimensionais aconteçam por Yvette estar vivendo em uma dimensão que não é dela, aquilo ainda era hipocrisia pura, e Y estava cheia de hipócritas.
— Desculpas e mais desculpas. — Diz Yvette, visivelmente chateada com Zinnia. — A verdade é que você quer me eliminar porque eu não posso mais ser controlada por você ou pelo povo Draconídeo.
— Vocês não sabem o que estão fazendo! Está errado! É antiético fazer o que você fez! — Diz Zinnia referindo-se ao fato de Yvette ter assumido o lugar de Yvonne Gabena sem ninguém saber.
— Sabe... Quando eu entrei na Academia Lumiose, eu comecei a desfazer uma por uma as amizades que a verdadeira Yvonne Gabena tinha. — Diz Yvette com lágrimas nos olhos.
Yvette estava visivelmente emocionada e o seu "ego" falsificado que ela projetava para afastar a todos não se fazia presente naquele momento, afinal, era só uma atuação. Sentia muita angústia, mas finalmente estava cara a cara com Zinnia depois de mandar Y para matá-la e sabia que este era o momento para falar tudo o que precisava ser dito, enquanto Delphox ainda conseguia contê-la.
— Eu fiz isso porque eu tinha medo que amigos tão próximos como eles eram fossem capazes de descobrir toda a verdade e me condenar. Inclusive, o Xavier descobriu enquanto me ouviu conversando com AZ e foi então que eu armei todo um rolo, inventando para o Diretor Gurkinn que ele tinha vazado fotos íntimas minha para toda a escola. No final, ele foi expulso, mas eu o procurei depois disso. Procurei e contei toda a minha história. Ele sabe que o que eu fiz foi "errado", mas resolveu me perdoar porque teve empatia e compaixão para entender o MEU lado da história e assim, ele acabou se tornando o meu melhor amigo mesmo depois de eu ter feito tudo isso para ele... O Alain, que era namorado do Xavier na época, nunca ficou sabendo de nada sobre eu ser uma viajante interdimensional, portanto nunca me perdoou por ter armado para cima dele. Mas o que eu quero dizer é que... As pessoas erram, as pessoas caem, as pessoas sofrem derrotas, mas as pessoas podem recomeçar e é INJUSTO você tentar tirar a minha única chance de viver de novo como se nada tivesse acontecido.
— Vocês não sabem! Vocês não têm o direito de invadir este mundo! — Diz Zinnia, cheia de raiva.
— Invadir? Foi você que nos largou aqui! E agora... Agora é tudo o que eu tenho! — Devolve Yvette. — Você não pode tirá-lo de mim!
Então, Y percebe que Zinnia estava tentando se desacorrentar do poder psíquico de Delphox. Ela estava pegando suas pokébolas com uma mão e segurando a Key Stone com a outra. Ela iria atacar.
— Delphox, AGORA!!! "Confiar".
Delphox começa a sussurrar palavras místicas no ouvido de Zinnia e os olhos da mesma embranquecem e o corpo da draconídea amolece, deixando cair tanto a sua Key Stone quanto suas pokébolas... Y então repara que aquela são as suas pokébolas. Ela aproveita que Zinnia está em transe para abrir a bolsa de Zinnia e lá estão várias pokébolas, incluindo todos os Pokémon que Y levou consigo para o hiperespaço.
Y recupera rapidamente o controle sobre seus Pokémon e pega a Key Stone que deveria ser a sua (já que Zinnia tinha outra atrelada a uma tornozeleira em espiral em sua perna direita.
— Zinnia? — Chama Y, enquanto a mesma se encontrava em um estado hipnótico profundo. — Você irá me mandar de volta para o meu Universo assim que tudo isso acabar... E vai apagar do seu cérebro qualquer vestígio sobre Yvette Serena, inclusive se esquecendo permanentemente em qual Terra ela está vivendo, para nunca mais atormentá-la ou mandar novas viajantes interdimensionais para caçá-la em nome da sua hipocrisia. Entendeu?
Zinnia não responde nada, mas Y sabia que estava tudo sob controle. Ela confiava em seu parceiro Delphox.
— Você acha que vai funcionar? — Pergunta Yvette, realmente incerta sobre aquilo.
— Já funcionou. — Diz Y com confiança. — Funcionou porque Merilyn Flame conseguiu aperfeiçoar completamente os poderes psíquicos de Delphox, mesmo ele não estando em seu universo de origem, fazendo com que ele se tornasse o xamã dos xamãs, agora conseguindo eliminar memórias e informações completas do cérebro de uma pessoa sob seu controle de modo que ela nunca mais volte a se lembrar do que foi esquecido... Você está segura, Yvette. "Pode Confiar".
— Obrigada, Natalie. Obrigada! — E as duas se abraçam, enquanto Yvette Serena derrama mais lágrimas.
Y se lembra do momento em que Yvette estava no banheiro da escola, chorando e não queria ajuda. Ela também chorou em vários outros momentos... Coitada. Mesmo que ainda sinta um pouquinho de ranço por ela ter se comportado mal o ano todo, Y consegue sentir a verdade por trás daqueles olhos que fluem sem parar.
Y jamais entenderá o que Yvette passou e o que aquilo significava para ela. A dor de perder todo mundo que ama de uma só vez. A dor de ver o seu planeta ser destruído e você ser o único sobrevivente... Mas agora, com Zinnia fora do caminho graças à telepatia de Delphox, Yvette teria uma chance novamente, mesmo que fazendo algo considerado imoral por muitos. Y conseguia ter empatia o suficiente para saber que alguns males valiam a pena. A Yvonne Gabena original morrera, mas Yvette Serena era igualzinha a ela, até no DNA. Os mesmos pais, os mesmos tios, os mesmos avós, até os mesmos amigos. Elas vinham de universos espelhados. Por que não deixar a garota viver, ainda que seja para sempre escondendo uma mentira, no lugar de sua outra versão? Por que insistir em dar um fim quando tudo o que ela queria era uma nova chance para continuar? Por que pintar Yvette Serena como uma vilã se nada do que aconteceu foi culpa dela e tudo o que ela quer neste momento é fugir e viver sem olhar para trás?
AZ entendia isso porque talvez seja a única pessoa viva há mais de 3000 anos na face da Terra. Y entendia porque era, sobretudo, também uma contraparte de outra dimensão de Yvette e também da própria Yvonne original. Zinnia deveria entender, ela também é uma sobrevivente de uma catástrofe global em sua dimensão-natal, mas parece que ao invés de buscar os sentimentos dos outros, ela optou apenas por se tornar uma casca vazia e sem qualquer tipo de consideração.
Então, como que para despertá-las daquela conexão em que as duas versões de uma mesma pessoa se encontravam ao se abraçar, a voz de Monsieur Pierre anunciou o início da Liga e chamou para o palco ninguém menos que Natalie Serena Yvelgress, a Y.
— Essa não! Eu me esqueci da liga completamente! — Diz Y, assustada. — E agora, o que eu faço?
— Vem comigo. — Diz Yvette, piscando o olho para Y e segurando sua mão. — Você vai entrar naquele palco e brilhar. Depois de tanto trabalho e sufoco que eu sei que você passou com aquele Yveltal, ainda por cima comendo na mão da Zinnia... O mínimo que você merece é se divertir com os amigos. Vai. Sobe no palco e depois você volta com essa daqui para casa.
— Mas eu... Não posso... — Y sabia que não havia participado de nenhuma Liga Pokémon antes por pura interrupção humana, mas ela também sabia que Yvette estava certa. Depois de tudo aquilo que viveu ao lado de seus "alunos", sair sem dar satisfação lhe parecia errado, sem falar que ela havia criado laço com eles e agora, todos estavam reunidos naquela arena para batalhar. Y deveria mesmo seguir em direção ao palco? Ela vacilou por um momento... Então olhou para Delphox...
...e o Pokémon lhe disse mentalmente, agora com seus novos poderes telepáticos...
— Vá. Você merece!
— E-ele... falou! — Constata Y, totalmente surpresa, finalmente compreendendo o seu papel naquilo tudo. Finalmente as cartas faziam sentido. Ela se aliou ao que pensara ser o seu lado escuro. Y não salvara um mundo como imaginara que precisaria salvar, mas salvara uma pessoa e isso já era o suficiente. Agora, ela poderia tirar um tempinho para salvar a si mesma da loucura que estava sua mente. Confiou em Yvette Serena, confiou em Delphox e subiu orgulhosa no palco da Liga Kalos para sua primeira batalha oficial, seguindo o conselho da própria Yvette de tentar recomeçar e deixar o que é passado exatamente aonde isso pertence: no passado. E assim, deu um fim de uma vez por todas naquele pesadelo que estava vivendo, para começar tudo outra vez, confiante de que tendo a si mesma como amiga, tinha tudo o que precisava.
A Seguir: Epílogo
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