Digimon Laços — Parte A: Fraude no Grand Prix (VS V-mon)

Desde o Incidente em Roswell, ocorrido em julho de 1947, no Estado do Novo México, Estados Unidos, a humanidade tem voltado seus olhos para os céus, à procura da existência de vida extraterrena. "Estamos Sozinhos no Universo?", eles se perguntam. Mal sabem os humanos que para encontrar um novo tipo de vida, eles não precisavam olhar necessariamente para cima, mas quiçá para baixo, mais especificamente para a tela de seus computadores...

Parte A: Fraude no Grand Prix (VS V-mon)

1997

Ao final da década de noventa, a humanidade acompanhou um boom tecnológico nunca antes visto. As telas estavam em alta e no Japão, o mundo virtual tomou conta das prateleiras. Uma nova febre virou o consumismo do momento por parte das crianças: um bichinho de estimação pixelado, feito inteiramente de dados virtuais: o V-Pet. Filas e filas se formavam nas lojas para comprar os famosos tamagotchis, mas não foi dessa forma que Taichi Yagami conseguiu o seu primeiro Virtual Pet... Isto é, ele não comprou o dele.

Era um dia como outro qualquer. Taichi estava deixando o campo após o treino de futebol ao lado de sua colega Sora Takenouchi...

 

 Foi um ótimo treino, não foi?

 Foi sim! Você está cada vez melhor, Sora! Eu mal consegui acompanhá-la!

 Valeu, Tai. Mas eu ainda não estou 100%.

 Mas o joelho está melhor, não está?

 Está sim, mas desde que eu quebrei, não é a mesma coisa.

 Poxa...

 Ah, mas não se preocupe! Eu estou muito bem! E como você disse, eu estou melhorando, não estou?

 É, tem razão! Imagina quando estiver 100% recuperada? Você vai me deixar para trás!

 Hahaha! Assim espero! Nos vemos amanhã, Yagami?!

 Com certeza, Takenouchi!

E assim, eles se despedem com um aperto de mãos. E é justamente neste momento, enquanto o garoto observa sua colega saindo do pátio da escola e indo em direção à sua casa, que Tai é abordado por um sujeito estranho.

Um homem assustador de pele morbidamente cinza e que deveria ter uns dois metros de altura o chama pelo lado de fora das grades que separavam o campo de futebol da rua.

 Psiu! Garoto, venha cá!

 Quem? Eu?

 É! Você!

Taichi sentiu neste momento, um arrepio da cabeça aos pés. O que aquele homem queria com ele? O medo automaticamente tomou conta do garoto, mas a sensação logo foi cortada por uma súbita coragem que transbordava o peito de Tai, como se ela lhe dissesse que ele deveria dar ouvidos àquele sujeito. Taichi tinha receio de certas coisas, mas não deixava o medo o abalar, isso porque ele era muito seguro de si. Então, ergueu a cabeça e foi confiante na direção do desconhecido, sem nem saber no que poderia estar se metendo.

 Eu estou me desfazendo de algumas coisas e tenho algo aqui que pode te interessar. Você quer?

 O que é?

 Toma.

O homem estende a mão e mostra um relógio para Taichi. Ele era novinho. Como alguém poderia se desfazer de algo assim?

 Puxa vida! O que eu tenho que fazer para ganhar?

 Nada! Se você quiser, ele todo é seu! De graça!

 Quero sim!

Taichi corre para o outro lado da grade e, chegando lá, ele adquire o relógio com o homem misterioso. Tai pega o item nas mãos e o fica admirando. Estava em perfeito estado, como se nunca tivesse sido usado.

 Muito Obrigado, Senh--

Mas quando Taichi vai agradecer, o homem já não estava mais ali. O garoto estava sozinho na calçada, enquanto o trânsito fluía de forma lenta, como geralmente acontecia em dia de semana em horário de pico.

Taichi então olha para todos os lados, mas não vê mais o homem em lugar nenhum. O cara havia simplesmente desaparecido sem deixar rastros.

 Que estranho...

O garoto ficou atordoado com o sumiço repentino do homem, mas mesmo assim, resolveu ficar com o relógio, afinal, o objeto lhe foi dado, e dado não é roubado!

Ao chegar em casa, Taichi vai para seu quarto, senta-se na cama e segura o relógio com as duas mãos, analisando-o de pertinho. Era gelado, feito de metal e tinha vários símbolos estranhos em torno da tela. Símbolos esses que não eram os kanjis normalmente utilizados no Japão. Pareciam-se com riscos que se entrecruzavam em formatos geométricos. Apesar de estar em perfeito estado, o acessório estava desligado.

 Será que tem pilha?

Tai então percebe a presença de três botões na parte inferior do relógio. O garoto amarra o aparelho no pulso e decide apertar aleatoriamente um daqueles botões para ver se conseguia ligá-lo.

E foi com o brilho de inicialização que ele descobriu que aquilo não era um relógio e sim, um tamagotchi, uma espécie de brinquedo dos anos 90 em que se cria um animal de estimação virtual. E lá estava o novo bicho de estimação de Tai, um dragãozinho extremamente simples, feito de pixels, pulsando na tela.

Abaixo dele, estava escrito em letras igualmente pixeladas que aquele era um Digital Monster, ou Digimon, para encurtar.

 Puxa vida! Eu sempre quis ter um desses!

É claro. Ter um tamagotchi era febre naquela época. Quem não queria ter?

 Esse tal "Digimon" parece um cachorro-dinossauro! O que será que eu tenho de fazer?

Muita, muita coisa. A partir desse dia, Taichi Yagami aprendeu que alimentar, limpar o cocô, treinar e batalhar com um dragão domesticado não era uma tarefa muito fácil. De hora em hora, o aparelhinho apitava. Era o dragão, querendo alguma coisa. E lá ia o garoto atender as necessidades de um monstrinho virtual, mesmo que isso significasse se acordar de madrugada ou levar uma advertência da escola por estar jogando no meio da aula. O que Taichi tinha de corajoso, ele tinha de imprudente.

Em um dia qualquer, Tai está novamente no treino conversando com sua amiga Sora, quando lhe ocorre uma ideia...

 Oh, Tai! Você anda tão desligado ultimamente! O treinador notou que você está desatento e cá entre nós, eu também! Está acontecendo alguma coisa?

 Ahn... É que eu não tenho dormido direito...

 É esse V-Pet, não é?

 Credo, Sora! Você parece a minha mãe falando!

 Isso ainda vai te fazer reprovar, Taichi!

 Não se preocupe, Sora! As minhas notas vão bem!

 Bem? Aham, sei... De mal a pior! Taichi, você precisa se concentrar! O que esse tamagotchi tem de tão especial? Não vejo nada demais nisso aí!

 Ei! Não fala assim! Desse jeito você vai ferir os sentimentos do Zero!

Taichi tapa o relógio, para ele não ouvir.

 Zero?

 É! Zeromaru! Ele é o meu dragão de estimação!

 Um dragão? Fala sério?!

 Sério! Esse jogo é muito legal!

 Mais legal que futebol?

 Bem... Eu gosto de futebol, mas eu também amo criar um filhote de dragão! Eu estou treinando esse bichinho sem parar desde que eu ganhei este relógio, e ele está ficando cada dia mais forte!

 É, ao passo em que VOCÊ fica cada vez mais fraco! É só um conselho que eu te dou, Tai... Toma cuidado!

Mas Tai não estava nem aí. Tanto que enquanto Sora dava sermão, ele estava pensando em outra coisa...

 Sabe de uma coisa, Sora? Eu acabo de ter uma ideia!

 Hum? Que foi?

 Você já ouviu falar no D-1 Grand Prix?

 Grand Prix?

 É, uma competição de Monstros Digitais que tem aqui no bairro. Acho que vou me inscrever!

 Tá, e com isso, você vai passar ainda mais tempo grudado a esse relógio?

 Ah, fazer o que? Pelo menos no V-Pet eu sei que tenho chances de vencer! Já no futebol, se eu estiver jogando contra você, acho que nós dois sabemos que eu não tenho como me sair vitorioso!

 Taichi, Taichi, Taichi... Isso foi uma cantada?

 O que? NÃOOOO! Foi um elogio!

Taichi cora na hora.

 Hahahaah! Eu tô brincando, seu bobo! Boa Sorte no seu Grand Prix! Nos vemos amanhã, Yagami?

Sora estende a mão, Taichi a cumprimenta e dá a resposta de sempre:

 Com Certeza, Takenouchi.

Só que ele não sabia que o envolvimento com aquele V-Pet o faria se afastar de Sora, e muito, muito em breve...

Taichi dava pulinhos de alegria. Ele havia dado duro para treinar Zeromaru, o seu Digimon-dragão. Inscreveu-se no Grand Prix, como havia dito para Sora e, em detrimento de suas notas, passou dia e noite alimentando aquele bichinho, que parecia lhe fazer companhia a todo momento, fosse bom ou ruim. E com isso, chegamos ao momento atual...

Logo no primeiro Dia de Grand-Prix, após tanto esforço e dedicação cuidando de seu Monstro Digital de estimação, Taichi Yagami tem uma surpresa nada agradável...

Ele estava vestido para a vitória, com capa e tudo, quando o comitê da competição lhe dá a terrível notícia...

 O QUE?! COMO POSSO ESTAR DESCLASSIFICADO?!

 Você tem um Monstro "não-programado" no jogo! Me desculpe, isso é contra as regras!

 O QUE?! Meu Zero?!

Em outras palavras, aquele produto havia sido adulterado. "Zero" era um Monstro Digital hackeado, logo, não podia participar do Grand Prix de Domadores de Monstros Digitais, deixando Taichi arrasado.

 Você não pode batalhar usando um monstro de truque, garoto!

 Isso não é verdade! Eu mesmo o criei!

 Está admitindo que adulterou o jogo?

 Não foi isso o que eu quis dizer!

Taichi sai do lobby da convenção de Domadores sentindo-se injustiçado. O garoto estava PISTOLA com aquela acusação. Como alguém poderia chamá-lo de trapaceiro?

 Droga! Vou ver se quebrou algo!

Mas Taichi analisa o seu Tamagotchi e o aparelho continuava impecável como sempre. O Seu Monstro Digital estava 100% seguro. O que havia de errado, então?

 Ora... Por isso que estavam dando essa porcaria de graça!

Neste momento, Taichi se sente extremamente prejudicado e todo o tempo que ele gastou com aquele dragão ordinário havia sido em vão. Ele joga o V-Pet no chão e começa a pisoteá-lo com força, enfurecido.

 Eeeei! Seu mané, o que pensa que está fazendo?
 Hã? E quem é você?

 Pare de pisotear o seu V-Pet! Vai danificá-lo, demente!

 E daí se estragar? Isso aqui não vale nada mesmo! Tentei me inscrever no Grand Prix com esse V-Pet que eu ganhei, mas aparentemente, é falsificado!

 Então quer dizer que nós não fomos os únicos que fomos enganados?
 Hã?

Quando Taichi percebe, ele está rodeado de pessoas que também tentaram entrar no Grand Prix, mas não conseguiram. Eram meninos de todas as idades e uma garota aparentemente mais velha, esta em uma cadeira de rodas.

 Todos vocês também foram desclassificados pela mesma razão?

 S-sim!

 Não quiseram aceitar nossos V-Pets! Disseram que nós os forjamos de alguma forma para obtermos vantagem no torneio!

 Mas isso é uma mentira!

 Poxa, mas isso está errado! Como pode ter acontecido o mesmo a todos nós?

 Não sei, mas isso me deixa furioso! Qual o seu nome, garoto?

 Eu sou Taichi Yagami, mas podem me chamar de Tai. E vocês?

 Eu sou Akira Mamoru, e estou com 12 anos!

Akira era um garoto aventureiro que havia entrado no personagem do "Domador Digimon". Assim como Taichi, ele tinha um óculos de proteção sobre a cabeça e usava também um lenço e luvas.

 O meu nome é Hiro Mameo, mas todos me conhecem como o "Cara de Touca Preta" no Mundo dos V-Pets! 13 anos.

Hiro era baixinho. "Curto e grosso" por assim dizer, mas era mais velho e tinha mãos enormes, de homem. A alcunha de "Cara de Touca Preta" não era à toa. Ele realmente usava uma.

 Meu nome é Rei Saiba, tenho 14.

Rei era a única garota ali. Ela estava em uma cadeira rodas, mas para sua sorte, ninguém parecia julgá-la por ser diferente. Era ruiva naturalmente e a mais velha de todos. Ela tinha não apenas um, mas dois V-Pets consigo.

 O meu nome é Ryo Akiyama e eu tenho 10 anos.

Ryo era outro garoto mais novo que Taichi, de cabelo arrepiado e roupas comuns. 

 O-o meu nome... O meu nome é...

 Tá tudo bem, Ken. Ele é um pouco envergonhado... Este é Ken Ichijouji, ele tem 8 anos e é meu vizinho. Eu o trouxe para o campeonato, mas tanto ele quanto eu tivemos o mesmo problema com os V-Pets.

Dava para ver no rosto de Ken que ele era muito, muito tímido. O garoto ficava de canto, com vergonha de falar em voz alta com os outros mais velhos.

 E você, quantos anos tem, Taichi... Quer dizer... "Tai"?

 Doze também. Onde vocês compraram o V-Pet de vocês?

 Eu não comprei. Ganhei.

 E-eu também!

 E eu!

 Mameo... Não me diga que você também ganhou o seu?

 Sim, ganhei!

 Isso não pode ser uma coincidência! Quer dizer que todo mundo aqui ganhou o seu V-Pet?

 É o que parece!

 De quem vocês ganharam?

 Eu ganhei de um cara muito estranho que estava passando na rua!

 Eu t-t-tava com muito medo, mas um tio esquisito me deu o V-Pet, aí eu fiquei feliz!

 Comigo foi a mesma coisa!

 Espera! Era um cara de pele pálida demais usando um sobretudo roxo?

 Isso! E ele tinha cabelos pretos escorridos!

 Não pode ser! Esse foi o mesmo sujeito que me deu o Virtual Pet!

 Será que nós caímos num golpe desse cara?

 Receio que sim... Mas qual o propósito de nos entregar esses aparelhos de graça? Se ele ainda tivesse nos vendido por algum valor, para tirar proveito... Mas não... Foi dado!

 É verdade... Mas e agora? O que podemos fazer? Não podemos participar do torneio!

 Não há o que fazer... Mas já que todos fomos sacaneados mesmo, podemos jogar entre nós, o que acham?

 Ótima ideia!

 Isto é, se o Virtual Pet do Tai ainda funcionar depois de tantos chutes!

 Ahn... Quanto a isso... Ainda tá funcionando! Você me chamou a atenção no momento certo. Não danificou. (Por pouco!)

 Então é isso! Vamos ser AMIGOS!

Ao falar isso, entretanto, o V-Pet de Akira começa a brilhar de uma maneira muito misteriosa, e assim, todos os aparelhinhos de todas aquelas crianças prejudicadas também começam a brilhar, exatamente como quando Tai iniciou o seu, lá em seu quarto, no dia em que ganhou o aparelho.

 O-o que está acontecendo?

 Tá dando choque?!

De repente, todos começam a se sentir muito estranhos, como se seus corpos se contorcessem e mudassem, de alguma forma, célula a célula, molécula a molécula...

 Aaargh! Que sensação estranha é essa?

 BUAAAAAAH! 😭

Ken, o mais novo, começa a chorar. Estavam todos muito assustados. Eles sentiam como se fosse um vento subindo do chão, arrepiando-os de dentro para fora.

 N-não tô gostando nada disso... Vai explodir!

E assim, com um estampido altíssimo, rasgando os ouvidos, o chão desaparece sobre os pés de todos e uma luz inunda o saguão do Grand-Prix.

Todos gritavam em uníssono, temendo por suas vidas. Eles começam a cair em um túnel cilíndrico de paredes vivas na cor verde, e cujo fundo não estava visível.
      AAAAAH!!!!

Tai, Rei, Ryo, Ken, Hiro e Akira, todos eles estavam assustados. Não sabiam o que estava acontecendo, só sabiam que caíam em uma espécie de túnel quase que infinito. Eles suavam, seus corações saltavam do peito, a pulsação em níveis perigosamente altos. Mas que diabos de pegadinha era aquela?

Continua...

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