Foi um alívio quando a Professora Marina Crystal finalmente admitiu ter se convencido de que a minha história era verdade. Ela retirou as malditas algemas que me apertavam os punhos e eu pude suspirar abonançada por alguns segundos antes de me lembrar que eu ainda estava perdida em uma dimensão a qual eu não pertencia, cheia de pessoas estranhamente familiares e completamente desconhecidas ao mesmo tempo, enganada por um Pokémon que me jurou levar até Celebi, o único capaz de desfazer toda a cagada que acometeu a minha vida e a de meus colegas de Associação.
— Então não vamos botar fogo nela? — Perguntou Satoshi, decepcionado.
— Nem vendê-la para pegar a recompensa? — Agora foi a vez de Jimmy.
— Não. — Defendeu-me Marina, antes de dirigir-se a mim. — Eu estou te soltando, morena, com a condição de que você conte a nós tudo o que aconteceu até você parar aqui, em nosso mundo...
— Feito! — Concordei, afinal, era justo que eles soubessem de toda a verdade.
Fomos para dentro e lá, finalmente me sentindo um pouco melhor. Rasguei o verbo mesmo: falei de toda a merda que estava acontecendo em minha vida, desde a morte dos nossos Pokémon Iniciais que se sacrificaram para selar Hoopa na Prison Bottle, em Pasio, aos acontecimentos que levaram à sua ressurreição, a prisão de Red e sua incapacidade de falar, a morte de Blue, do Professor Carvalho, e por fim, de Yellow e Emerald. O afastamento de Green e Silver da Associação e a mudança de setor de Gold, Moonstar e Gray dentro da Polícia Internacional. A descoberta das profecias sobre o fim do mundo e a separação da Associação em três grupos distintos, liderados por Diamond, Pearl e Platinum...
Eles ficaram chocados. A quantidade de informações e detalhes que eu expus enquanto falava era tamanha que eu não podia estar inventando nada daquilo, disse-me Marina.
Depois de me ouvir, no entanto, eles se acalmaram e perceberam que haviam cometido um erro. Mas agora que eu havia contado a minha versão da história, estava na hora de eles me falarem o que estava havendo ali, no mundo deles.
— Shinjuku Jack é um androide.
— Androide? — Perguntei.
— Um robô, mais precisamente. Uma forma de Inteligência Artificial que foi originalmente criada para combater o crime, mas que atingiu a singularidade, o ponto em que se torna consciente de sua própria existência e passa a renegar qualquer comando que lhe for dado. Em outras palavras, Shinjuku Jack se rebelou contra a humanidade.
— Isso é terrível! — Exclamei.
— Exatamente. Quando o país parecia estar em paz logo após termos finalmente nos livrado da ameaça da Equipe Rocket, e Giovanni ter tido sua redenção, tornando-se um membro da Elite dos 4, apareceu Shinjuku Jack, para tacar o terror nas pessoas...
— Espera aí! Giovanni é um membro da Elite dos 4? Tipo... "Aquele" Giovanni, o Líder da Equipe Rocket?
— Exatamente. — Confirmou Marina. — A Elite 4, o grupo de treinadores mais fortes de todo o país, Nihon, é composta por Prima, Bruno, Misty e Giovanni.
— Prima? Misty? Uaaau! — Eu estava chocada. Como as coisas eram diferentes naquele lugar!
— Mas voltando ao assunto... Shinjuku Jack é um contrabandista. Ele compra e vende Pokémon, negociando-os como se fossem mercadorias. Mas não são Pokémon quaisquer... Ele não vai te vender uma Kokana, um Ninten ou um Tsubotsubo...
— Não... Ele não pega presas fáceis. Shinjuku Jack vai atrás somente dos mais poderosos treinadores de Nihon e do mundo, como Líderes de Ginásio, Cérebros da Fronteira, Elite 4, Campeões, Top Coordenadores, e ROUBA seus ases, negociando-os por valores que ultrapassam os 7 dígitos.
Fiquei surpresa. Como um robô poderia roubar personalidades tão importantes do Mundo Pokémon? De onde ele havia tirado tanto poder? E além do mais, sendo ele um androide, não seria só jogar água e causar um curto em seu circuito? Ou a questão ia muito além disso e ele estava VIVO de verdade? Seria assassinato se fizessem seu sistema fritar com uma descarga elétrica? Bom, todas essas questões me intrigavam. Então, comecei a perguntar:
— C-c-como...?
Mas Marina nem me deixou terminar de formular a frase, ela já previa o que eu estava prestes a perguntar.
— Como eu havia dito anteriormente, Shinjuku Jack foi criado para combater a criminalidade, então ele trabalhava para a Polícia Internacional antes de se revoltar. Estando na Interpol, ele conseguiu acesso a arquivos ultra confidenciais e conseguiu invocou um Pokémon muito, mas muito antigo, que era venerado como um deus pelos povos ameríndios. O chamado deus "Kokopelli" era uma criatura que representava a fertilidade, mas como uma deidade de carne e osso, você deve imaginar que também possui poderes extraordinários... Ele se disfarça de uma criatura doce e aparentemente inocente e utiliza seus poderes para rasgar o tecido do espaço-tempo, viajando para diferentes dimensões e atraindo criaturas poderosas demais para que os Líderes de Ginásio ou qualquer tipo de treinador Pokémon seja capaz de derrotar.
— MITEI! — Exclamei, percebendo que o tal Kokopelli era na verdade, o ser que me enganou!
— Exatamente. — Marina confirmou minhas suspeitas. — Mitei juuni pode parecer gracioso à primeira vista, mas não se esqueça jamais que esta não é sua verdadeira forma! É apenas um disfarce que ele usa para atrair presas.
— Então eles... Digo, Shinjuku Jack e Mitei juuni trazem Ultra Beasts para o seu Mundo e as usa para derrotar os Líderes de Ginásio, roubar seus Pokémon e depois os vende no mercado negro?
— Ultra Beasts? O que é isso? — Pergunta-me Marina, que aparentemente não estava familiarizada com o termo.
— Pokémon de outra dimensão. — disse eu.
— Não. Não é isso o que Mitei juuni costuma trazer de outros mundos. Ele captura o que chamamos de "Capumon", monstruosidades de uma dimensão paralela que até podem se parecer com Pokémon à primeira vista, mas são muito, mas muito mais brutais e selvagens. Para você ter uma ideia, eles não podem ser comandados em batalha... Shinjuku Jack usa um CHICOTE para poder instigá-los a atacarem. Além disso, nenhum Capumon possui Tipo, como os Pokémon normalmente possuem, então as regras de efetividade não se aplicam a eles.
— E como eles se parecem, esses "Capumon"? — Perguntei, curiosa.
— Eles são exatamente como alguns Pokémon que conhecemos, só que maiores e mais monstruosos. Alguns até mesmo gigantes... Suas faces geralmente são desprovidas de carisma e eles não parecem capazes de demonstrar qualquer tipo de sentimento. São criaturas extremamente selvagens e que não compreendem a fala dos humanos ou dos Pokémon... Totalmente impossível de serem capturadas com Pokébolas normais, apenas "cápsulas" que o próprio Shinjuku Jack parece ter desenvolvido, daí o nome "Capumon", Monstro de Cápsula.
— Além de que, para piorar, os Capumon parecem ter estatísticas diferentes da que os Pokémon possuem. Em outras palavras, seu esquema de batalha não se baseia nos tradicionais HP, Ataque, Defesa, Ataque Especial, Defesa Especial e Velocidade, então ainda não sabemos como combatê-los propriamente, por isso, muitos Líderes de Ginásio e membros Importantes das Ligas Pokémon de Nihon e de outros países foram DEVASTADOS quanto atacados por essas criaturas trazidas para cá por Shinjuku Jack e Mitei juuni.
— Isso é terrível! — Exclamei.
— Exato. Por isso a Interpol está oferecendo um prêmio milionário para quem o capturar, morto ou vivo. Por esta razão, eu e um grupo de amigos treinadores formamos o grupo que veio a se chamar "Sociedade Pokémon", com o intuito de não apenas combater todo o tipo de crime, mas em especial, de parar o maldito Shinjuku Jack e restaurar a paz em Nihon e no mundo, já que todos os melhores treinadores estão sendo ameaçados com a presença desta IA.
— Eu gostaria de ajudar! — disse eu, de repente tomando coragem. — Quero ajudar a capturar esse tal de Shinjuku Jack! (Até porque eu preciso fazer com que Mitei juuni me envie de volta para o meu mundo!)
— Então seja bem-vinda à Associação Pokémon, morena! — Marina sorriu pela primeira vez desde que eu a conheci. Ela estava muito contente por ter cada vez mais treinadores se unindo à causa. — Mas tem mais uma coisa que você precisa saber... — continuou ela.
— O que?
— Shinjuku Jack simplesmente é irrastreável. Não há como prever onde ele vai atacar e nem onde fica a sua base. Acreditamos que ele utilize os poderes de Mitei juuni para manter-se seguro em outra dimensão, a qual ninguém mais além dele tem acesso, muito provavelmente o mundo de onde ele tira os Capumon!
— Oh, oh! Isso é mau...
— Meus colegas que me ajudaram a fundar a Sociedade estão agora fazendo uma ronda por todo Nihon. Eles estão seguindo uma pista que pode nos levar até o esconderijo de Shinjuku Jack, mas nós não sabemos quanto tempo isso pode demorar... Um dia, uma semana, um mês, um ano? É impossível dizer com certeza.
— Puta que pariu! — Deixei escapar. Eu não podia ficar todo esse tempo ali, naquele mundo. Afinal, eu tinha responsabilidades no meu próprio universo! E o pior de tudo é que eu havia saído de casa sem contar nada a ninguém! Eles notariam meu desaparecimento e começariam a me procurar desesperados, até chegar o ponto em que se cansariam das buscas e me dariam por MORTA! Não. Eu não podia deixar que isso acontecesse! Não podia! Mas como eu faria para me encontrar com Shinjuku Jack e Mitei juuni? E por que eles haviam me trazido para cá, afinal? Eram tantas perguntas sem resposta que eu nem sabia como ou por onde começar. Por alguma razão, no entanto, eu gostava de pensar positivo e que o cosmos conspirava a meu favor.
Naquele exato momento, Marina recebeu uma ligação. Uma chamada de vídeo em seu computador. Assim que ela se aproximou do monitor e deu o ok para atender à chamada, a tela se dividiu em quatro e quatro rostos se fizeram visíveis através da câmera de seus dispositivos. Era uma chamada de vídeo coletiva que mostrava ninguém mais ninguém menos que aqueles que eu mais podia chamar de amigos, só que... Eles não me conheciam! Claro que não... Porque não eram meus amigos de verdade, eram suas versões alternativas, deste mundo.
Lucas Diamond e Dawn Platinum foram os primeiros a aparecerem, no canto superior da tela. Eles eram praticamente iguais aos meus colegas de Associação, com um detalhe ou outro de diferença, mas o que mais me chamou a atenção foram seus Pokémon. Diamond, que aqui se chamava "Plat", tinha um Torterra, só que muito diferente do que eu me lembrava. Com um casco achatado e face e unhas de um amarelo vivo, aquele só podia ser um Torterra, mas aqui, nesta realidade, era chamado de "Morigame".
Já Platinum, aqui conhecida como "Tina", tinha um Prinplup ou ao menos o que parecia ser uma fusão entre o estágio inicial e o estágio final da linha de Piplup, um Pokémon chamado simplesmente de "Whotta", o que me lembrava a forma como Sword e Shield, meus amigos britânicos, pronunciavam "Water", a palavra em inglês para água, o que querendo ou não, condizia com a tipagem do Pokémon.
Mas sem sombra de dúvidas o que mais me surpreendeu foi o quadrante debaixo. Um homem de óculos e cabelinho de tigela que à primeira vista, não pude reconhecer, começou a falar. E quando a voz dele saiu, eu fiquei impressionada. Não, mais do que isso... CHOCADA. Aquele era Water Blue Oak, o neto do Professor Carvalho, que estava MORTO na minha realidade, mas aqui estava bem vivo e atendendo pelo nome de "Shigeru", com uma personalidade nerd que eu jamais pensaria combinar com ele.
O que mais me deixou pasma, no entanto, foi a última das quatro pessoas que estava realizando a chamada com Marina. Seu nome era "Yellow". E, bem, você pode pensar... "É só uma coincidência", mas não era! O Yellow daqui era um HOMEM. Sim, minha melhor amiga que recém havia perdido a vida, estava aqui, bem à minha frente, na chamada de vídeo, só que com uma voz mais grossa e trejeitos que denunciavam um reconhecimento com o gênero masculino, que não por acaso, era também seu sexo biológico.
Fiquei perplexa! Eu não conseguia falar nada ou esboçar qualquer outra reação que não fosse abismo.
Blue tinha um "Kamex", que era como eles chamavam aquele Wartortle gigantesco, a forma final de Squirtle nesse mundo, ao invés de Blastoise. E Yellow tinha um Pikachu (também macho), que era muito parecido aos espécimes de nosso mundo, mas ainda assim, tinha suas dissemelhanças, como uma cauda mais fina e com mais ziguezagues que o normal, bochechas menores e uma pelagem branca na região da barriga.
Por mais que eu já houvesse encontrado as contrapartes de Red, Green, Gold, Sunstar, Moonstar e Shield nesse mundo, além da minha própria versão, é claro, nada me chocou mais do que ver Yellow viva, ou melhor... VIVO! Eu não sabia como reagir. O corpo era outro, mas pela voz e pela própria linguagem corporal, dava para notar que era ela. De alguma forma, ainda era ela! Só que... Totalmente diferente!
— NÃO ACREDITO!!! — Disse então Marina, dando um berro, o que rapidamente me tirou do estupor no qual eu me encontrava, totalmente incrédula.
— O que foi? — Perguntei, preocupada.
— Morena, hoje é o seu dia de sorte, ou melhor, o NOSSO dia de sorte! — Falou ela, com uma excitação repentina em sua voz e olhar. — Meus amigos descobriram onde fica a base de Shinjuku Jack!
— QUÊ?!?!?! Sério?! Onde?
— Fica no Monte Fuji. — disse então Marina. Lembrei-me de que quando eu havia acordado atordoada no laboratório, amarrada e sendo feita de prisioneira, eu havia observado esse nome no mapa "Mt. Fuji", mas agora eu não conseguia me lembrar exatamente que lugar do meu mundo era esse. — Estamos indo para lá imediatamente. Você vem ou não?
— E por acaso não é óbvio?
Continua...
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