Aquela era mais uma noite normal na Academia Pokémon, na Cidade Mesagoza, Região de Paldea. Eu havia acabado de tomar um banho escaldante, do jeitinho que eu gosto, após uma tarde intensa de estudos de biologia Pokémon com o Professor Jacq e tudo o que eu queria era afundar na cama e esquecer da minha existência, pois no dia seguinte (uma sexta-feira - finalmente), eu tinha mais dois turnos cheios pela frente. Os últimos da semana, mas ainda assim, puxados.
Eu estava esfregando meu cabelo envolto na toalha de banho na tentativa de deixá-lo seco quando de repente ouço uma batida na porta do dormitório.
Aproximei-me com cautela e perguntei:
"Quem é?"
No mínimo, Nemona devia ter perdido a chave mais uma vez e agora não conseguia entrar. Eu e ela dividíamos o quarto.
"Srta. Flora. Tem um momento?"
A voz que vinha do outro lado não era da minha melhor amiga, no entanto. Era masculina, grave, velha, cansada e acima de tudo, inconfundível. Por sorte, eu já estava vestida quando abri a porta e dei de cara o Mr. Clavell, o Diretor da Academia, que parecia estar me procurando... Naquele momento, mesmo sabendo de minha inocência, eu gelei. Será que eu havia feito alguma coisa? Será que eu estava encrencada?
Capítulo 0
Prólogo
Vermelho. Não havia nada ao meu redor além de uma vastidão de terra vermelha, sob intenso sol escaldante, no rochoso deserto da Região da Paldea. Não havia uma alma viva por perto, mas eu sabia que estava me aproximando de meu destino. O penhasco pedregoso se encontrava a vários metros à minha frente e de acordo com os dados que obtivemos em uma expedição há uma semana atrás, após deixarmos a escola, nosso maior tesouro, a misteriosa Herba Mystica, deveria estar por algum lugar dentre as ranhuras daquelas paredes de rocha seca.
Foi quando senti uma vibração no bolso e meu Rotom Phone saltou para fora, bradando: "Roto-to-to-to-to-to-to-to..."
— É o Arven — disse em tom de alívio, pois estava esperando aquela ligação por horas. Sinceramente, eu não aguentava mais nenhum minuto debaixo daquela bola de fogo e eu só queria que Arven me dissesse que estava tudo bem voltar para o hotel. Imediatamente, dei meu comando de voz e a tela de Rotom mudou e se acendeu, mostrando-me em tempo real a imagem do meu colega da Equipe Naranja, do outro lado da linha.
— Flora... Você não vai acreditar no que eu encontrei... — disse ele, com um olhar indecifrável, que poderia ser tanto de surpresa por algo bom quanto espanto por algo ruim. De qualquer maneira, Arven era um menino charmoso, mais velho, de longos cabelos loiros com mexas mais escuras. Ele tinha um mullet, que apesar de fora de época, lhe caía bem. Seus olhos eram azuis e ele tinha um maxilarde quem fez harmonização facial, só que era de verdade. Digo... Ele nasceu assim, simetricamente perfeito. Não me entenda mal, eu aceitei entrar nesta missão porque eu realmente não sei dizer não. Eu sempre corro para ajudar quando alguém solicita meu auxílio. Mas, poxa... Arven era tão quente que eu diria sim de qualquer maneira. Bem... O que eu estou dizendo? Talvez seja essa maldita puberdade me fazendo ter ideias.
Na verdade, eu estava naquele lugar, longe de casa porque precisava ajudar Arven em sua missão, e eu fui requisitada pelo próprio diretor Clavell, então não havia como escapar. Arven pode ser muito bonito, e muito bom em cozinhar, tanto que ele está pesquisando receitas saudáveis que podem ajudar os Pokémon a se sentirem melhor, mas cá entre nós, ele é PÉSSIMO em Batalhas Pokémon. Quando eu digo péssimo, é péssimo mesmo... Do tipo que usaria um Magikarp contra um Zapdos. Por isso, eu era sua guarda-costas, batalhando contra tudo e todos que eu via pela frente, abrindo caminho enquanto ele procurava por suas preciosas Herbas Mysticas, por todos os cantos da região de Paldea.
Eu não consigo me esquecer do momento em que o Diretor Clavell me pegou de surpresa em meu quarto no dormitório da Academia Pokémon, em Mesagoza, perguntando-me se eu não teria disponibilidade em ajudar um despreparado Arven a sair em uma digressão por Paldea, já que as minhas notas eram (cof, cof) melhores que a da maioria.
— Quem é?
— Srta. Flora. Tem um momento? — Perguntou-me o diretor.
Abri a porta depressa, temendo a desavisada visita do velho, jogando a toalha que eu estava secando meus cabelos rapidamente sobre o sofá (que ficou molhado por conta disso) e me ajeitando para não parecer tão desleixada.
— Desculpe-me procurá-la tão tarde, mocinha. — Começou Mr. Clavell — Este foi o único momento que eu encontrei em que ambos estávamos livres.
— É, eu tive aula o dia todo... — disse eu, um pouco desconfortável com o velho em meu quarto. — Ahn... Mr. Clavell, o que foi que eu fiz?
— Ah, não se preocupe. Não é nada disso. Eu vim aqui porque preciso lhe pedir um favor...
— Um favor?
Estranhei. O que um velho como aquele com os bolsos recheados de Bolas Prêmio poderia querer de uma mera estudante como eu?
— A srta. conhece o Sr. Arven--
Nem deixei o Mr. Clavell terminar a frase. Eu prontamente respondi:
— Está brincando?! Claro que sim!!!
Quando eu percebi, já tinha dito. Não consegui disfarçar minha animação pelo assunto "Arven". Acho que neste momento, minhas bochechas devem ter ficado vermelhas, mas não quero me lembrar muito disso. É meio... cringe.
— Arven está partindo da escola neste domingo. — disse-me o diretor, felizmente ignorando o maldito fato de que eu parecia mais uma daquelas garotas loucamente apaixonadas pelo cara popular e gostoso da escola.
— O que? Por quê?
— Você sabe que aqui na Academia Pokémon, nós presamos pelo desenvolvimento pessoal e particular de cada aluno, para que cada um invista nos seus sonhos, certo?
— Claro. "Encontre o seu Tesouro". Este é o lema da escola.
— Exato. — Clavell concordou verbal e fisicamente, balançando a cabeça de cima para baixo. Acho que ele havia ficado feliz que uma aluna reconhecia o lema. Mas não tinha como não reconhecer. Afinal, Clavell vivia com aquela frase na boca, sempre incentivando que nós, estudantes, deixássemos a escola em uma caça ao tesouro por toda a Região de Paldea, em uma jornada de estudos independentes, na qual nós próprios decidiríamos o que tinha VALOR para nós, e partiríamos em busca deste objetivo ao longo do ano letivo. Em outras palavras, o "tesouro" era único para cada um e talvez fosse isso o que Clavell queria me lembrar, pois continuou dizendo: — Arven projetou uma busca pela Herba Mystica, ingrediente raro que cresce somente aqui em Paldea, e está partindo para encontrá-lo. Mas fazer isso não será nada fácil, especialmente se ele for sozinho... E é aí que você entra.
— Hã? O senhor está me dizendo... Que quer que eu vá junto com o Arven?
— Digamos que as habilidades em batalha do seu colega Arven não são das melhores e eu sei que você gosta de ajudar aqueles que estão precisando, então pensei por que não convidá-la a juntar-se a Arven nesta expedição? Afinal, as suas notas são fantásticas. E então... O que me diz?
Eu não sabia o que falar. Era muito para eu processar.
Todos os anos, diversos alunos da Academia Pokémon ofereciam ao diretor um projeto detalhado de uma jornada por Paldea, em busco de algo que de acordo com cada um fosse valoroso. Clavell ficava encarregado de aprovar/desaprovar os projetos. E uma vez que os projetos submetidos eram aprovados, os estudantes poderiam deixar a escola e se aventurar por Paldea, obtendo subsídios como bolsas e auxílios para manter-se em movimento. Em outras palavras, a escola patrocinava, desde que o projeto fosse bom o suficiente para passar pela inspeção do Diretor e os demais professores do conselho.
Mas desde que eu entrei na Academia, eu não havia apresentado projeto algum ao Mr. Clavell e isso, para a maioria das pessoas, era um problema. Uma garota com notas tão boas não se interessar por algo além dos muros parecia um tanto improvável. Ele sabia que havia algo de errado comigo. EU sei que há algo errado comigo. A verdade é que eu ainda não me decidi... Não sei o que tem valor para mim. Não sei que tesouro devo me empenhar em procurar. E por isso, nunca submeti nenhum projeto à escola. Então não havia sentido sair em uma jornada sem rumo... Era desperdício de tempo e recursos.
Clavell, no entanto, estava me pedindo pessoalmente para acompanhar Arven em seu projeto independente. Eu seria apenas uma guarda-costas, alguém que batalharia por Arven enquanto ele ia atrás daquilo que mais lhe era importante, que no caso, eram as Herbas Mysticas, que eu nem sabia o que eram direito, mas só podiam ter a ver com o fato de ele querer ser um cozinheiro Pokémon.
— Hmmm... E-e-eu... Não sei... — Limitei-me a dizer isso. Com a proposta de Clavell, a primeira coisa que eu pensei foi: "Mas e as minhas aulas aqui na Academia? Eu não posso abandonar tudo". Mas Clavell, que parecia ler meus pensamentos, logo disse:
— Vamos, esta será uma ótima experiência. Uma jornada de autodescoberta. Pode ser que, após passar um tempo fora, você consiga encontrar motivos para criar o seu próprio projeto de estudos, afinal, eu ouvi dizer que você está tendo dificuldades em definir o seu tesouro.
— Mas... E as aulas?
— Ora, não se preocupe com isso. A expedição de Arven deve durar, no máximo, 30 dias longe da escola. Durante esse tempo, a única coisa que você deverá fazer é ajudá-lo em sua pesquisa e aproveitar o passeio. Paldea é uma região enorme, rica em biomas. Talvez entrando em contato com a natureza e conhecendo novos ambientes, você possa de alguma forma entender o que está buscando. Sem contar que a experiência vai pesar bastante no seu currículo. Pode e com certeza será útil no futuro.
Eu ainda estava na dúvida. Então Clavell continuou, dizendo:
— As Herbas Mysticas são plantas guardadas pelos poderosos Pokémon Titãs, que são maiores e mais fortes que os Pokémon comuns, tornando essas ervas ainda mais difíceis de obter. Além disso, vários desses Pokémon Titan já foram avistados na região e Arven precisará de uma mãozinha para enfrentá-los. Além disso... Vários Pokémon selvagens poderão aparecer e enfrentá-los, por isso, seria ótimo que você o protegesse.
Estranho. Uma nanica novata como eu "protegendo" um cara de quase dois metros de alturas como Arven... De repente, eu me senti gigante.
— E mais: você é uma das únicas estudantes do seu ano com acesso à Terastalização. Isso poderá virar o jogo em caso de--
Mas eu interrompi Clavell no meio da frase (outra vez).
— Não precisa dizer mais nada, diretor. Eu topo.
— Ora, ora! Que ótimo!
Clavell abriu um sorriso e bateu palmas. Estava obviamente feliz por eu topar ajudar seu discípulo Arven.
— A jornada de Arven começa neste domingo. Entre em contato com ele o mais rápido o possível. Enquanto isso, eu vou incluir o seu nome no projeto e preparar toda a papelada para que você possa ir com ele.
Falar com o Arven? Huh... Isso eu queria muito, eu só não tinha coragem de fazê-lo...
Mas eu o fiz, porque agora, no presente, Arven estava me telefonando, em meio ao deserto escaldante de Paldea, dizendo-me que havia encontrado alguma coisa... Estávamos em plena jornada fora da escola e após quase um mês sem nenhuma pista de onde procurarmos, finalmente estávamos perto de encontrar as tais ervas de Pokémon...
— Flora... Você não vai acreditar no que eu encontrei... — disse-me Arven, através da videochamada pelo Rotom Phone, com um olhar indecifrável, que poderia ser tanto de surpresa por algo bom quanto espanto por algo ruim.
— O que? A Herba Mystica?
— Quase isso. Eu acabo de encontrar o Pokémon Titã que guarda a erva. — respondeu ele, ainda parecendo espantado.
— Mande-me suas coordenadas. Eu estou indo para aí.
— Certo. Mas venha logo, porque eu estou com medo dessa criatura... — disse ele, encerrando a ligação. Esbocei um pequeno sorriso. Eu estava muito, muito contente em poder ajudar Arven a encontrar seu próprio tesouro. Eu só queria que algum dia, alguém me ajudasse a encontrar o meu também...
***
Cerca de meio quilômetro depois, cada vez mais próxima do paredão de rochas, eu encontro Arven, que arfava, tremendo detrás de uma enorme pedra, escondendo-se dos Pokémon selvagens da região para evitar entrar em uma batalha, na qual obviamente ele sairia perdendo.
— Arven. — Chamei-o.
— Psiu! — Disse ele, com o dedo indicador em frente à boca. — Não faça barulho. Ele pode nos ver...
— Hã?
Eu não havia percebido a presença de mais ninguém ao redor, mas quando Arven disse aquilo, eu pensei "Poxa vida, com é que eu não vi essa COISA antes?!".
Anexo ao penhasco pedregoso, exatamente na mesma cor avermelhada que a rocha árida, encontrava-se uma criatura cheia de pernas, do tamanho de uma casa. Klawf, o Pokémon Titã que guardava a Herba Mystica, de repente, ao perceber minha aproximação, girou seus globos oculares que lhe permitiam uma visão em 360 graus, e me fitou com uma expressão vazia, assustadoramente perigosa. E na sequência, ele dá um salto mortal de costas, que me faz recuar, caindo bem a minha frente em um estrondo, que levanta poeira e cria fendas e rachaduras no solo, devido ao seu peso.
Aquele bicho deveria ter uma tonelada (ou mais). Eu não era boa com proporções, mas acredito que o Titã deveria ser cerca de 10 vezes maior que um Klawf normal. E isso, por si só, já era suficiente para me dar arrepios.
Klawf era um Pokémon artrópode, do tipo Pedra puro, típico de Paldea. Tinha pinças em suas mãos e vários tufos de pelo preto nas articulações. Suas bochechas eram vermelhas como se ele tivesse passado blush como as de um Pikachu e os olhos esbugalhados podiam se mover em qualquer direção, o que era sinistro.
— AAAAAAAAAHHHHHH!!!
Arven estava surtando ao meu lado, mas apesar do meu espanto ao encontrar o gigante, eu estava relativamente calma.
— Ele nos viu! Ele nos viu! — Acho que este era o motivo de meu colega bonitão ser tão ruim em batalhas... Ele era, no fundo, no fundo, um cagão. Acho que tamanho realmente não é documento e isso se prova pelo fato de haver um homem maior que uma porta escondido atrás de uma pedra, horrorizado, com medo de uma batalha Pokémon. Eu esperava, no entanto, que este ditado popular também valesse em relação a Klawf, afinal, eu nunca havia lutado contra um monstrengo tão grande daquele jeito.
Mas nesse sentido, eu sabia o que fazer e, para não piorar a situação, eu precisava deixar Arven ciente disso:
— Fique calmo. Eu sei como lidar com ele.
Arven suspirou, tendo uma leve pausa em seu surto quando eu peguei uma pokébola muito, muito especial em minha mochila. Tirei de dentro dela, o meu Pokémon inicial, que estava comigo desde que eu ingressei na Academia. Sprigatito, o caprichoso e exigente Pokémon Gato de Grama, e que nesta batalha, tinha vantagem.
Eu sabia que Sprigatito podia lidar com aquela situação. Sendo um tipo Planta, ele poderia facilmente subjugar um tipo Pedra, ainda que Klawf fosse trinta vezes maior que ele. Mas, em último caso, caso isso desse errado, tínhamos uma arma secreta na manga...
Quando Sprigatito amassa e esfrega com suas patas dianteiras, um aroma doce é liberado que pode hipnotizar aqueles ao seu redor. Este aroma tem qualidades terapêuticas e faz com que os adversários percam a vontade de lutar. Eu esperava não precisar apelar a isto, mas se Klawf fosse forte demais para a gente, era algo a se considerar. Afinal, não queríamos nada de Klawf, senão que ele nos deixasse passar para pegarmos algumas folhinhas de Herba Mystica.
— Flora. — Então chamou-me Arven. Eu olhei para trás de relance, já em minha pose de batalha, então desejou-me: — Boa Sorte.
— Obrigada. Eu acho que temos tudo sob controle. Sprigatito, Bola de Energia! Vá!
Então, sob meu comando, meu leal Sprigatito começar a atacar, dando início à batalha contra nosso gigantesco obstáculo, o Titã Klawf. O Poké-felino lança então uma bolha igualmente grande de energia, causando um superefetivo amplificado pelo poder do item Óculos de Escolha, que aumenta 50% do Ataque Especial do Pokémon que o segura, sob a pena de permitir que ele possa usar apenas o primeiro movimento selecionado em batalha pelo resto da partida.
E parece que o desejo de boa sorte de Arven havia nos beneficiado. Eu já havia ouvido falar que quando um treinador torce por você em batalha, as coisas podem realmente saírem a seu favor, mas eu nunca tinha presenciado isso pessoalmente. Além do STAB (bônus que se recebe ao utilizar um ataque de mesmo tipo que o Pokémon atacante), da Vantagem de tipo de Sprigatito sobre Klawf, e do boost causado pelo Óculos de Escolha, aquele havia sido um acerto crítico, o que significava que nós havíamos atingido o máximo de nosso potencial logo na primeira tentativa.
O Gigante Klawf se inclinou de lado, contorcendo-se após receber tamanho dano, e sua energia despencou de primeira para menos da metade...
— Isso! Isso! — Comemorei, feliz pelo sucesso de Sprigatito. Mas parece que Klawf também tinha seus truques...
De repente, uma aura azul começa a circundar o Titã, com partículas carregadas que faziam um movimento descendente do topo de sua cabeça ao seus múltiplos pés, que só podia indicar uma coisa: uma diminuição de stats. Inicialmente, eu pensei que isso se devia ao efeito secundário da Bola de Energia, que apresenta 10% de chances de reduzir a Defesa Especial do alvo. Mas logo em seguida, uma nova aura surge em torno de Klawf, da cor vermelha, desta vez traçando um movimento ascendente, dos pés à cabeça, indiciando justamente o contrário: agora era um AUMENTO de stats.
— É a Habilidade Única de Klawf: Concha de Fúria. — Explicou-me Arven.
Eu nunca havia visto aquela habilidade em ação antes, então perguntei ao meu parceiro de expedição, que parecia conhecê-la melhor do que eu:
— Rápido! O que ela faz?!
— Quando o HP de Klawf cai para metade ou menos, ele fica com raiva. Isso diminui sua Defesa e Defesa Especial, mas aumenta seu Ataque, Ataque Especial e Velocidade.
— Ótimo... — ironia — Ele teve TRÊS stats acrescidos em troca de dois decrescidos... Eu estou lascada!
E estava mesmo, porque Klawf era um ótimo atacante físico. Ele desferiu um soco categoricamente destruidor contra Sprigatito, o Esmagamento de Pedras, utilizando-se de sua garra direita, que sozinha, era maior que todo o corpo do meu Pokémon inicial. Mas não parou por aí. Como a velocidade de Klawf aumentou graças à sua Concha de Fúria, ele conseguiu atacar novamente, utilizando o mesmo ataque duas vezes seguidas, só que agora com a outra garra, e isso foi o suficiente para queimar toda a energia de meu pobre Sprigatito, obliterando-o sem sequer lhe dar uma chance de vingança.
— Ah, não! Eu sabia! Eu sabia! Ele é forte demais, até mesmo para você, Flora! — Desesperou-se Arven, que continuava acocado atrás da pedra, com medo dos olhões esbugalhados de Klawf.
Mas eu me limitei a dar-lhe um sorrisinho de canto. Regressei Sprigatito e meti a mão na mochila, trazendo de lá mais uma pokébola. Ao arremessá-la no alto, solto então meu Pokémon, que pertencia a dois dos meus tipos favoritos: Normal e Fada. Eu estava falando de Jigglypuff, é claro.
O pequeno Pokémon de corpo arredondado e gigantes olhos esmeralda tinha passos leves e andava pela terra assim como o homem anda pela lua: dando pequenos saltos suaves, como se a gravidade tivesse pouco efeito sobre ele.
Arven arregalou os olhos, como quem diz "você espera vencer o Klawf com ISSO DAÍ?"
Mas eu mantive a postura firme com a confiança que Nemona me ensinou a ter e peguei mais um item dentro da bolsa. Desta vez, com sorte, o último. Era uma esfera preta extremamente semelhante a uma pokébola, mas se você olhasse de perto, veria que tinha algumas diferenças, como um "anel de saturno" em torno dela e um grande pingente em formato hexagonal no lugar do botão da pokébola. De dentro da esfera, emanava uma energia poderosa, que a fazia vibrar em minha mão. Estava na hora de eu descarregar esta energia de uma vez só sobre meu Pokémon e virar aquela batalha. Afinal, como o próprio Mr. Clavell mencionara no dia em que me recrutou para esta missão, eu era uma das poucas alunas da minha classe que tinha em mãos um "Tera Orb" e se havia a possibilidade de eu usar esta mecânica, nada melhor que este momento para pô-la em prática, na luta contra um Titã.
Ergui o Tera Orb acima de minha cabeça e a energia que estava guardada no interior da esfera começou a pulsar para fora, soltando uma chuva de brilho que, por um momento, foi tão forte, que todo o deserto de Paldea parecia ter ficado escuro em comparação à tremenda luz emitida por aquele objeto. E assim, em poucos segundos, a energia foi se acumulando, passando de um leve bruxulear de brilho a uma intensa espiral cintilante, momento em que a energia Terastal estava definitivamente pronta para ser usada.
Arremessei o Tera Orb sobre Jigglypuff e voilà. O pequeno Pokémon balão transformou-se. Seu corpo que antes era fofo e macio, agora estava rígido, porém radiante, como uma pedra preciosa lapidada. Jigglypuff agora estava brilhando, mas muito além do teor estético da transformação, ele estava mais forte, especialmente contra Klawf, isso porque ele havia assumido um novo tipo: o seu Tera Type, e a fonte azul cristalizada sobre sua cabeça indicava a vantagem que havíamos acabado de obter.
Meu Tera-Jigglypuff era do Tera Tipo Água, e isso nos colocava na dianteira novamente.
— Uaaaaau. — Os olhos de Arven brilharam igual ao fenômeno Terastal neste momento, surpreso com a evolução de Jigglypuff. Parece que havíamos virado o jogo. — Eu já havia visto você Terastalizando antes, mas sempre que eu vejo o brilho emanando de um Pokémon durante a aplicação desta mecânica... Cara, eu fico deslumbrado.
— Calminha aí, Arven. Guarde o seu deslumbre para depois que eu ACABAR com esse Klawf! Tera-Jigglypuff, agora: Pulso d'Água!
Com a mudança dos tipos Normal e Fada para o Tera Tipo Água, Jigglypuff agora podia obter um grande poder ao utilizar movimentos do tipo água, que normalmente já eram superefetivos contra um Pokémon como Klawf. E desta vez, não tive misericórdia. Vinguei Sprigatito. Ao meu comando, Tera-Jigglypuff jorrou uma fortaleza de água que envolveu todo o corpo do gigante oponente contra o qual estávamos lutando, terminando em uma explosão de brilho azul, que assemelhava-se a uma chuva de fogos de artifícios, porém com uma poluição visual ainda maior e mais fantástica.
Klawf urrou e caiu derrotado aos nossos pés, encerrando-se enfim aquela batalha... A Terastalização havia amplificado o ataque d'água de Jigglypuff, mas é claro que a própria Concha de Fúria de Klawf também nos ajudou, afinal, a habilidade até poderia ter aumentado seus stats ofensivos, mas havia reduzido os defensivos, e isso sem sombra de dúvidas era um grande revés em uma batalha contra alguém capaz de usar a Terastalização a seu favor...
— Conseguimos! Conseguimos! — Comemorou Arven, que finalmente saiu de detrás da pedra, saltitando feliz da vida. Eu apenas o olhei, então ele se tocou e se corrigiu. — Q-q-quer dizer... VOCÊS conseguiram! Muito Obrigado, Flora. Sem você e a ajuda dos seus Pokémon, eu jamais poderia ter chegado tão longe! Eu te devo uma!
"Me deve um beijo", eu pensei, mas mantive para mim.
Com Klawf fora do caminho, agora podíamos nos aproximar em paz do rochedo para colher a igualmente brilhante Herba Mystica e Arven, que não estava mais terrificado de pânico, saiu na frente, em busca de seu precioso tesouro pessoal. Ele pegou um pote de vidro que certamente um dia contivera pepino em conserva e uma pinça, e foi até o pedregulho, catando pequenos ramos da planta que Klawf protegia com garras e dentes (e em seu caso, principalmente GARRAS).
Coloquei Jigglypuff de volta na pokébola, o que desfez a Terastalização e juntei-me a meu colega. Mas enquanto eu baixei a cabeça e fiquei observando Arven arrancar pedaços da erva, eu cometi um erro: Baixei a guarda.
Se Nemona estivesse lá, naquele momento, ela teria me repreendido. Ela jamais cometeria um erro tão banal quanto esse. Eu deveria ter me certificado que Arven e eu estávamos sozinhos no rochedo antes de partir para a coleta da Herba Mystica. Mas era tarde demais. Eu estava ali para ser uma guarda-costas, mas acabei me saindo péssima nessa missão. Por mais que eu houvesse conseguido proteger Arven do Pokémon Titã e dos demais espécimes selvagens que apareceram por aí durante todo esse tempo atravessando Paldea em busca de informações sobre a erva, eu não havia sido esperta o suficiente para olhar aos arredores e seu tivesse o feito, talvez tivesse evitado o que aconteceu a seguir.
Arven e eu ouvimos passos atrás de nós. Mas não eram pesados como os de Klawf. Eram macios, sorrateiros, praticamente silenciosos. Viramos nossas cabeças ao mesmo tempo e demos de cara com alguém que inicialmente eu pensei estar atrás da Herba Mystica também. Agora que derrotamos o Titã, essa pessoa vai querer a erva, imaginei. Mas no fim das contas, ela era bem mais CRUEL do que eu imaginei.
— Q-q-quem é você? — Perguntei, mas não obtive resposta. Eu jamais havia visto aquele rosto anteriormente, mas por outro lado, aquelas roupas...
Ah, como eu queria que Clavell estivesse certo... Como eu queria que aquela missão tivesse durado no máximo 30 dias... Mas um mês se passou, dois, e nós não retornamos. Eles devem logo ter percebido que algo estava errado quando não retornamos mais suas ligações e devem até ter chamado a polícia, mas depois do que nos acontecera, eles jamais iriam nos encontrar, vivos ou mortos... E foi assim que Arven e eu viramos manchete em todos os jornais da Região de Paldea: "Alunos da Academia desaparecem em expedição em busca de tesouro". Arceus! Eu sempre quis ser famosa, mas não desse jeito... Se eu tivesse contido minha obsessão em ajudar aos outros ao invés de pensar a mim mesma, se eu tivesse sabido dizer NÃO, talvez eu não tivesse tido esse destino... Talvez eu tivesse retornado à Escola e retomado minha movimentada agenda, mas eu falhei e agora estava pagando o preço.
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