A Região de Paldea... Um lugar como eu nunca vi antes... Um massa de terra elíptica, praticamente esférica, ligada ao resto do continente por uma estreita faixa de terra... Uma península, em termos técnicos, repleta de ambientes montanhosos, nos quais era possível identificar diversos biomas que certamente abrigavam criaturas únicas e EXCÊNTRICAS... E é isso o que eu busco aqui: Espécies Exóticas. Eu sou um Colecionador e não há lugar melhor para encontrar espécimes raros do que terras estrangeiras.
Sim, você não me ouviu mal. Terras estrangeiras. Falo isso porque venho de um lugarzinho muito distante que você provavelmente jamais ouviu falar: a Região de Holon, mais especificamente de uma cidade com o mesmíssimo nome. E eu estava agora pondo meus pés em Paldea pela primeira vez porque vim em busca de um Pokémon extremamente exótico do qual eu ouvi falar. Seu nome? Bem, isso eu não sei. Mas eu sei o que ele PODE FAZER... Um Pokémon que dá Poder a outros Pokémon... Acho que ESTE é o meu Tesouro particular. E é isto o que eu almejo buscar e foi por isso que eu já me matriculei na Academia Pokémon na Cidade Mesagoza, a maior na Região, com um projeto de jornada pronto, apenas esperando pela assinatura do Diretor Clavell.
A Academia Pokémon era uma das maiores instituições de Ensino do Mundo inteiro. Extremamente renomada, ela era conhecida por seus projetos de estudos independentes e eu sabia que, se eu me matriculasse lá, teria todo o apoio de que precisava para explorar a Região de Paldea em uma jornada, tanto em termos de patrocínio quanto em termos de ter um lugar para regressar à noite e poder, enfim, descansar depois de um árduo dia de caça.
E era lá que eu me encontrava neste exato momento, dentro da Academia, na sala mais importante de todas: a do Diretor.
Clavell era um homem magro, de cabelos verdadeiramente brancos e usava um óculos que o deixava com cara de mau. Mas no fundo, no fundo, era alguém que tinha suas preocupações, seus medos e... Seus PONTOS FRACOS, assim como qualquer outro ser humano.
Após tomar ciência de que eu estava me mudando para a Escola, Clavell arranjou um quarto para mim e logo após, convidou-me para sua sala, onde pôs-se a explicar mais sobre sua instituição. Certamente, ele sabia que eu vinha de uma família rica e como uma boa figura opressora, começou a me tratar com exclusividade, como se eu fosse superior aos demais. Curioso, mas nada inédito... Meu olhar aguçado me permite analisar as pessoas muito, muito bem. E isso faz com que eu me sobressaia em matéria de comunicação, porque eu sempre sei o que falar. Eu sempre sei o que o outro espera ouvir...
O Diretor, então, sentado em sua cadeira, olhou para mim e com um sorriso amarelo de quem estava de olho no meu dinheiro, disse:
— Sr. Violet...
— Por favor, Diretor... Apenas "Julien". — Interrompi, tentando tornar aquela conversa mais casual para me aproximar ainda mais do Diretor. Entenda: você deve manter seus amigos próximos, mas os seus inimigos... Mais próximos ainda.
— Oh. Tudo bem. — disse ele — E você pode me chamar de Clavell, Julien.
— Clavell... Entendi.
Dei um sorrisinho falso de volta para o Diretor. Eu nunca fui um bom estudante. Sabia que as minhas notas seriam as PIORES de qualquer turma em que eu estivesse matriculado, então nada melhor do que puxar o saco do Diretor desde o começo, afinal, mais cedo ou mais tarde, eu pararia naquela sala em momentos dos quais ele me olharia com a cara feia.
— Seja Muito Bem-Vindo à Academia Pokémon. Detemos a maior média de aprovações por 50 anos consecutivos. O nosso diferencial está na inclusão, não havendo um limite de idade para ingressar na escola. Não trabalhamos com a ideia de "série" ou "ano". Várias pessoas, de várias idades, etnias, preferência sexual, religião e lugares do mundo, juntam-se em uma única "turma" e partem por conta própria em uma jornada em busca daquilo que almejam enquanto treinadores Pokémon, coordenadores ou o que preferirem... E isso nos torna a instituição de ensino mais relevante não só em Paldea, como também no Mundo Todo. Entenda que após matricular-se aqui, você sairá OUTRA PESSOA.
— Uaaau. — Fingi surpresa. Nada que eu já não soubesse. O Diretor... Digo... "Clavell" parecia ter gostado do meu olhar de surpresa.
E ele continuou:
— Aqui na Academia, dividimos os estudantes em duas "casas" ou "equipes". Aqueles que ficam no dormitório da esquerda de quem entra nas instalações, pertencem à Equipe Naranja.
— Os que ficam à direita pertencem à Equipe Uva.
— Cada uma das Equipes possuem uniformes distintos, sendo os da Equipe Naranja, da cor laranja, e os da Equipe Uva, vinho. — Explanou o velho.
— Então presumo que eu esteja na Equipe Uva. — disse eu, que havia ficado no prédio da direita, com um quarto só para mim. Mas não só isso: eu já estava vestindo o uniforme roxo que denunciava em qual equipe eu havia ficado.
— Exatamente. A seleção ocorre de forma totalmente aleatória e você foi sorteado para o lado dos Uvas.
— E por que há essa divisão, Diretor? Digo... Clavell?
— Ao longo do ano letivo, as duas equipes competem entre si no quesito "nota". Ao fim do ano letivo, a Equipe com maior nota total, somando-se as médias de todos os estudantes, vence.
— Então é uma competição? — Perguntei, intrigado. Eu nunca havia visto um método de ensino como aquele antes.
— Sim, mas uma competição saudável. — Explicou-me Clavell. — A Equipe que sai vencedora em um ano, fica em posse de um Tera Orb para cada um de seus membros durante o próximo ano letivo inteiro, mas precisará entregar o Orbe para a Equipe Rival caso perca a competição daquele ano.
— Tera Orb? O que é isto?
— Oh. Eu me esqueci, você veio de outra Região. Permita-me explicar-lhe. Aqui em Paldea, existe uma mecânica de transformação que MUDA o tipo de um Pokémon durante a Batalha. Chama-se Fenômeno Terastal ou simplesmente Terastalização. Para ativar esta mecânica, que muitas vezes pode virar o jogo durante uma partida, é preciso usar um item conhecido como Tera Orb, que poucas pessoas em Paldea têm acesso. Mas aqui na escola, nós os entregamos aos nossos alunos como prova de que confiamos esta responsabilidade a eles. No entanto, eles devem fazer por merecer. Por isso, a equipe que detém os Tera Orbs no ano atual, é a equipe que venceu no ano anterior, com as melhores notas. No entanto, quando este ano chegar ao fim, as duas equipes disputarão de novo entre si para saber quem ficará com os itens no ano que vem. Se a equipe atual manter-se vencedora, ela permanecerá com os Tera Orbs. Mas se ela perder, então todos os alunos deverão devolver os seus Tera Orbs e a escola os entregará à equipe rival para uso no ano seguinte. No momento, a Equipe que detém o Tera Orb é a Naranja...
— Puxa... Bendito dia em que eu fui escolhido para participar da Equipe Uva...
— Ora, não se preocupe. Quiçá no próximo ano, a sua equipe, a Uva, não possa estar em posse destes itens?
— Tem razão. Eu não sei quanto tempo eu ficarei por Paldea, mas imagino que se a minha busca for muito complicada, ano que vem eu continuarei aqui. E puxa... Uma transformação que altera o tipo de um Pokémon... Deve ser... FANTÁSTICO! Como é que funciona, na prática?
— Sobre a Terastalização, não vou me aprofundar. Você aprenderá mais sobre esta mecânica e o que a torna possível com o Professor Jacq. Isto é, se você ficar aqui na escola por tempo o suficiente para isso... Afinal, você mal entrou e já está me apresentando um projeto de jornada individual, é isso mesmo?
— Sim, Diretor... Digo... Sim, Clavell.
— Bem, quanto a isso... Devo informar-lhe que infelizmente, não será possível que eu aceite o seu projeto. — Clavell fez uma cara triste e eu senti que foi genuína. Ele não gostava de dar más notícias aos alunos, mas este era o seu trabalho.
— O quê? Por quê? — Quem se surpreendeu fui eu.
— Bom, você quer sair em uma jornada por Paldea para encontrar um Pokémon que você nem sequer sabe o nome... Além disso, toda a descrição do mesmo é vaga. Eu não posso liberar recursos financeiros para este projeto. Primeiro, você precisa desenvolver uma boa pesquisa em cima disso.
— Entendi... — Fiz uma carinha triste, e deve ter sido digno de um óscar, porque o Diretor Clavell ficou com pena de mim e disse:
— Mas, ei... Eu tenho uma ideia. Sempre que um aluno tem uma expedição aprovada pela escola, ele pode levar alguém de companhia, para que se ajudem no trajeto. Se você tiver interesse, eu posso encaixá-lo com alguém que não tem nenhum parceiro. O que me diz?
— É sério? O senhor faria isso por mim?
— Mas é lógico. Assim como eu faria para qualquer outro aluno. Obviamente que indo com outra pessoa, você não terá o orçamento para gerir o seu projeto como quando em uma jornada sozinho. Na verdade, você não terá orçamento algum. O dinheiro ficará com a outra pessoa, a responsável pelo projeto. Mas eu penso que ao sair junto de outrem, em um projeto alheio, você poderá conhecer mais sobre a Região de Paldea, a cultura e as tradições daqui e quem sabe até descobrir mais informações sobre o Pokémon que procura... Consequentemente, poderá escrever OUTRO projeto, do zero, o qual eu terei imenso prazer em aprovar, caso cumpra todos os requisitos necessários.
— Tem razão, Diretor... Digo... Clavell. Essa pode ser uma ótima oportunidade para alguém que vem de longe, como eu. — Resolvi concordar com o velho, mesmo que eu estive PISTOLA com a sua decisão de reprovar meu projeto particular, mas concluí que era melhor que eu viajasse com outra pessoa AGORA, para iniciar minhas buscas logo, do que ficar estagnado dentro das paredes centenárias daquela escola até (sabe-se lá quando) eu conseguir um novo projeto que o convencesse a patrocinar minha jornada.
E por concordar com ele, Clavell, sorriu. Levantou-se de sua cadeira estofada e foi em direção à porta, dizendo-me:
— Perfeito, Julien. Perfeito! Acho que eu conheço o projeto IDEAL para te inserir. Por favor, siga-me.
O corredor do bloco central, onde ambas as equipes, Naranja e Uva tinham aulas (em conjunto) estava lotado. Era intervalo e havia tanta conversa rolando, que as vozes iam se sobrepondo. Em ambos os lados, havia armários entre cada sala. Os de coloração amarelo-dourada eram ocupados exclusivamente pelos Naranjas, enquanto os cinza-prateados eram ocupados pelos Uvas. E foi neste corredor que o Diretor Clavell chamou a atenção de uma aluna que aparentava ter entre a minha idade e um ou dois anos a mais. Ela era alta, tinha a pele bronzeada e lisos cabelos pretos amarrados em um rabo de Ponyta. De sua franja, pendiam algumas mexas verdes. Ela exalava confiança e esbanjava superioridade. Era alguém com quem dificilmente eu iria me meter...
— Ei! Nemona! — Chamou o Diretor, o que fez com que a menina parasse de mexer em seu armário de prata e voltasse sua cabeça para o centro do corredor, onde Clavell e eu vínhamos andando.
— Sim? Diretor? Alguma novidade sobre o caso? — Perguntou ela, que parecia preocupada.
— Infelizmente, não. Mas eu tenho boas notícias. É sobre o seu projeto.
— Diga-me agora. Eu estou partindo amanhã mesmo.
— Nemona, eu quero que conheça este jovem: Julien. — Clavell fez um gesto com ambas as mãos, apresentando-me para Nemona.
Ela me olhou de cima abaixo com cara de desdém, mascou o chiclete no canto da boca e soltou:
— Tá, e o que tem?
— Julien está interessado em conhecer melhor a cultura de Paldea. Ele não é daqui. Então, eu tomei a liberdade de adicioná-lo como acompanhante em seu projeto. Afinal, você é a única estudante que não requisitou nenhum desde que...
— O QUE?! EU NÃO ACREDITO!!! — Ela surtou, cortando o Diretor no meio da frase. — E você nem me consultou antes, Clavell?
— Nemona, você precisa fazer amigos. A conselheira estudantil já lhe alertou quanto a isso. Desde que chegou aqui, aos sete anos, você não formou amizades. Pelo contrário, você conseguiu fazer metade da Escola te odiar e a outra metade, te temer — Cochichou Clavell, para não tornar aquela algazarra uma cena maior do que já havia se tornado. Mas eu gostei da sinceridade do velhão. Não sei como ele foi capaz de jogar na cara dela daquele jeito, mas bem feito.
— Mas eu TENHO uma amiga, esqueceu disso? — Revidou Nemona, furiosa, como se a minha companhia houvesse acabado de estragar todos os seus planos.
— É, mas a Srta. Flora não está presente, no momento. — disse Clavell, em um tom pesaroso...
— Obrigada por me lembrar. — Retrucou Nemona, que aparentemente não tinha nenhum medo de brincar com o perigo. Gostei dela.
— É justamente ESSE o ponto, Nemona. O perigo de uma dama como você viajar sozinha...
— O que o senhor está insinuando, Diretor? Que só porque eu sou mulher eu não sou capaz de me defender? O senhor se esqueceu que eu mesma já lhe derrotei não uma, não duas, mas TRÊS vezes em batalha?
— Aquilo foi só um treinamento. E não. Não, senhorita Nemona. Eu não estou a julgando mal. Sei que és uma excelente aluna e que tem batalhado selvagemente desde que chegou aqui, derrotando até mesmo os mais talentosos professores. Mas veja bem... Flora também era ótima em batalhas e ela não voltou. Nem mesmo Arven, que estava ela.
— Arven é um zero à esquerda... Se Flora não voltou, ele é que iria retornar?
— Psiu! Não fale assim do seu colega, mocinha! Quer que eu suspenda a sua jornada de uma vez? O que eu estou tentando dizer é que eu não permitirei mais que projetos individuais sejam aprovados. É muito perigoso. Aprovarei apenas duplas a partir de agora, para prevenir que maiores imprevistos venham a acontecer.
— Mas o meu projeto já havia sido aprovado comigo SOZINHA! — Nemona tinha um ponto.
— Eu mudei de ideia. — Respondeu Clavell, rigidamente, para mostrar sua posição hierárquica em relação à rebelde — Ou você sai da Escola acompanhada, ou você não sai. Esta é a minha Palavra Final.
— Aff... — Bufou Nemona, murchando os ombros ao ver que não conseguiria ganhar na argumentação contra o Diretor.
— O que você disse? — Perguntou o Diretor.
— Nada, esquece. — Nemona estava fervilhando por dentro. Dava para perceber o quão inconformada com a derrota ela estava. E eu não a julgava. Por alguma razão, eu gostava de vê-la assim. Era prazeroso.
— Enfim, como eu ia dizendo... Julien fará parte de sua expedição por Paldea. Trate-o bem e não o faça ter más impressões sobre o nosso País. — Clavell então simplesmente me empurrou para a frente, como que me entregando nas mãos de Nemona. Foi tipo assim: "Toma aí. Se vira" — Eu vou deixá-los a sós para conhecerem-se melhor. Ah, se não esqueça de fazer um tour com ele pela escola! Eu não aceito um não como resposta.
E assim, o Diretor marchou de volta à sua sala, deixando-me para trás com a demônia. Digo, Nemona, que logo fechou a cara e se emburrou.
— Prazer. — Estendi minha mão para Nemona, que agora estava de costas, focando única e exclusivamente em seu armário. Eu já fiz isso sabendo que ela iria ODIAR. — Meu nome é Julien.
— Eu sei quem você é. — Retrucou a garota. — É o garoto que ficou com um quarto só para si.
— Hã? Como é que você sabe? — Fiquei curioso.
— Você sabe... Esses anos todos sendo ODIADA neste lugar me fez aprender a ouvir sussurros. Não se fala de outra coisa pelos corredores senão da chegada de um engomadinho que está numa suíte particular, ao contrário de todo mundo. Agora me diga, nanico: Como é que você mal chegou na Academia e já está morando sozinho?! — Questionou-me Nemona, curiosa sobre o fato de eu ser praticamente a única pessoa na academia que não tinha o título de "sênior" e que tinha um quarto só para si no dormitório da Equipe Uva.
— Digamos que o Diretor Clavell aceita qualquer migalha em troca de favores... — Respondi casualmente, revelando meu segredo.
— O QUE?! Você COMPROU o Mr. Clavell?! — Nemona arregalou os olhos, perplexa. Não pude deixar de notar um pequeno traço de inveja em sua voz.
— Ei, mas você também está morando sozinha, não está? — Perguntei, baseado em rumores que eu também havia ouvido no corredor. Talvez fosse porque ninguém a suportava, mas acho que não...
— Não, eu divido um quarto com uma garota da Equipe Naranja, mesmo eu sendo da Equipe Uva (porque por alguma razão, a maldita conselheira acha que eu devo fazer amigos, então ela me colocou com a única pessoa nessa espelunca com quem eu me dou bem). Mas enfim... Eu estou esperando minha AMIGA voltar de viagem. — Respondeu ela, sem muito se aprofundar.
— Você quer dizer... Aquela garota que está DESAPARECIDA?! — Continuei a questionar, o que obviamente deixou Nemona desconfortável.
— Fique quieto! Você NÃO SABE do que está falando! A Flora VAI voltar. Ela só deve ter perdido o contato com a gente! — Dava para ver que Nemona tinha esperanças disso, mas a garota já estava desaparecida há tanto tempo, que as chances de a polícia encontrá-la viva já eram praticamente nulas... Aliás, nem era preciso muito para que isso acontecesse... Acho que umas 48 horas já eram suficientes... Então, com sua fúria indomável entrando em jogo e um fogo em seus olhos alaranjados, Nemona pôs-se a me ameaçar. — Além do mais, você não deveria falar assim com a sua veterana. Um deslize que você cometer, e eu conto para todo mundo que você subornou o nosso diretor para obter um privilégio. Vai ser uma questão de tempo até vocês dois serem expulsos e acredite... Eu já fiz alguém ser expulso da Academia. Mais de uma pessoa, para falar a verdade. Basta perguntar pelos corredores...
— Se você não contar, eu também não espalho por aí que a relação que você e a sua irmã têm diante das câmeras é inteiramente forjada.
Nemona me olhou como se quisesse me trucidar. Ela deve ter ficado pensando de onde eu tirei essa informação, afinal, ela própria lutava diariamente para esconder o ranço que tinha por Geeta, a presidenta da Liga Pokémon de Paldea e sua IRMÃ MAIS VELHA. Então, dei-me ao luxo de contar-lhe antes sequer que ela perguntasse:
— Eu sei tudo sobre você, Nemona. Desde antes de vir para cá, eu já havia ouvido falar sobre uma treinadora que DESTRÓI a todos contra quem ela luta (o que faz com que todos tenham ranço dela). E eu me interessei. Acompanho seu treinamento nas redes sociais desde então. Fico feliz em finalmente poder te encontrar.
Nemona ficou quieta. Ela me avaliou com os olhos e por fim, não falou nada. Preferiu abster-se. Em todo caso, eu sabia que aquelas tinham sido as palavras certas a se dizer. Eu sei amansar pessoas.
— Não se preocupe. — Continuei. — Eu estou em busca de aliados, não de inimigos. — E estendi a mão para ela, que me lançou um olhar para lá de desconfiado depois do que eu disse. Então, ela deu um tapa na minha mão, empurrando-a para longe e disse:
— Não é assim que se cumprimenta. É ASSIM!
Então ela cerrou o punho e eu pensei que nesse momento, ela fosse me dar um soco no olho, mas a garota simplesmente esticou o braço para mim fazendo um "brofist" e me cumprimentou, talvez até contra seu próprio desejo. No fundo, eu sabia que ela estava morrendo de vontade de me mergulhar minha cabeça na privada, ou talvez até pior: me esganar. Seus olhos a denunciavam. Não vou negar, eu até que gosto disso.
— Julien, não é? — Perguntou-me ela.
— Sim.
Então ela se aproximou do meu ouvido e cochichou bem baixinho, para que ninguém mais pudesse ouvir:
— Deixa eu te dar um conselho... Fique fora do meu caminho. Eu estou planejando a minha jornada Pokémon há ANOS. Eu vou derrotar a Elite 4 e tomar o título de Campeã para mim, entendeu? Não há o que eu possa fazer senão levá-lo junto comigo, mas eu não quero NEM UM PIO. Se você interferir nos meus planos, eu corto sua cabeça fora.
Dei uma risadinha, o que tirou Nemona ainda mais do sério. Ela viu que eu não estava engolindo aquela personalidade brigona que ela fazia questão de mostrar que tinha.
— Você está planejando sair da Escola há anos para visitar Paldea, mas de repente, resolveu apurar as coisas, sabendo que está correndo perigo... Diga-me que isso não tem a ver com o desaparecimento da Flora... Diga-me que você mesma não quer encontrá-la?
Nemona ficou sem reação. Meus olhos haviam a lido direitinho.
— Não fale o nome dela como se a conhecesse. — Advertiu-me Nemona, mas desta vez, seu tom de voz estava mais controlado. — E sim... Eu quero procurar pela minha melhor amiga. Algum problema nisso?
— Não. Nenhum. — Dei de ombros. — Eu só quero te dizer que eu posso ajudar na procura. Uma trégua?
Estendi minha mão novamente para a menina e aquilo desestabilizou Nemona de vez. Ela não esperava que eu me oferecesse para isto.
— Uma trégua.
Nemona apertou minha mão com força, selando nosso pacto. E foi assim que eu ganhei meu primeiro debate contra a Rainha da Academia Pokémon. Ela agora estava explodindo por perder duas vezes seguidas, e eu não poderia estar mais contente.
Após um tour feito de muita má vontade por todo o complexo de apartamentos que incluía a escola mais os dormitórios e laboratórios externos, Nemona do nada parou de caminhar e me disse:
— Encontre-me amanhã, às 9h da manhã AQUI. Neste Ponto. Saiba que eu não tolero atrasos. Se você não aparecer às nove em ponto, eu saio sem você (mesmo sem poder).
Então, ela me deu as costas sem sequer se despedir.
— Espere! Nemona, aonde você vai? — Perguntei.
— Eu vou me preparar para a viagem, é lógico.
— Vai fazer as malas? — Perguntei.
— Não, nanico. As malas já estão prontas há muito tempo. Eu vou... Bem, quer saber? Isso não é da sua conta!
E Nemona me deu as costas de novo.
— Ah, é? — Provoquei. — Se não me contar, eu vou te seguir até descobrir.
— Desgruda do meu pé. — Ela revirou os olhos e fez uma cara de nojo.
— Não, não vou não. Não até você me dizer o que vai fazer...
— Eu vou me encontrar com a Professora Sada!
— Professora Sada?
— Aff... Não me faça explicar mais uma coisa para essa sua cabeça vazia de informações... O tour já se encerrou, lembra?
— Então me leva com você. — Pedi só para irritá-la.
— E eu tenho alguma outra opção?
A sala da Professora Sada era impecável, assim como a beleza da docente em questão. Fala sério... Eu nunca havia vido uma professora como aquela antes. Sada tinha um side cut maneiro do lado direito e seus cabelos louros eram grossos e volumosos. Tinha um olhar penetrante, caracterizado por sobrancelhas realmente finas e olhos profundamente azuis, em contraste com a boca, que usava um batom clarinho, porém brilhoso, dando um charme à mais para o que já era sublime naturalmente.
Ela vestia roupas laranjas por baixo do jaleco e tinha acessórios rústicos, como um colar de contas em formato de losango que lembrava dentes e até mesmo protuberâncias ósseas no cabelo e no restante das roupas. Pela cor de seu traje, logo presumi que ela deveria ser a chefa da Equipe Naranja, mas ela não parecia se importar em conversar a sós com Nemona, aluna da Equipe Rival.
— Você está pronta, Nemona? — Perguntou ela.
— Eu vim aqui para isso. — Respondeu a garota, sem perceber que estava sendo grossa.
— Por favor... Faça o seu melhor para encontrar Arven. — Pediu a Professor, cochichando como se aquilo fosse um segredo das duas. E foi então que eu percebi que ela deveria se importar com o tal garoto que havia desaparecido junto à menina Flora.
— Pode deixar. — Prometeu Nemona. Recém Arven era um zero à esquerda, agora Nemona estava jurando que iria encontrá-lo. Poxa, acho que eu e ela temos mais em comum do que eu pensei.
Então, Sada abriu uma gaveta que até então escava chaveada, de sua escrivaninha, e retirou de lá uma pequena maleta, a qual ela abriu com um estalo, revelando em seu interior, três pokébolas...
— Qualquer um que você escolher será útil tanto em sua jornada quanto na missão de resgatar o meu filho. — disse Sada, revelando o porquê de ela se importar tanto com Arven. — O primeiro é Pikachu, do tipo Elétrico. Certamente o mais forte dos três desde o início. O segundo é Eevee, do tipo Normal. O único dentre os demais que não possui uma forma bebê, mas que pode tomar diferentes rotas evolutivas e mudar para o tipo que melhor se adapte às suas necessidades. E por fim, Clefairy, do tipo Fada, o melhor tipo ofensivamente, na minha opinião, sendo ela capaz de aprender o raríssimo movimento Metrônomo, que invoca aleatoriamente qualquer ataque, de qualquer tipo, algo que pode lhe tirar de um aperto, mas também pode ser o motivo de sua derrota, caso não seja o seu dia de sorte.
— Hmmm... — Nemona olhou atentamente através do vidro das pokébolas, tentando enxergar os Pokémon em seu interior e, por fim, resolveu tentar a sorte e escolheu a randomicidade da loteria: — Clefairy, por favor.
— Tem certeza de sua decisão? — Perguntou Sada.
— Tenho. — A confiança de Nemona era algo invejável.
— Então muito bem, Nemona. Clefairy é oficialmente sua.
Sada então retira a pokébola do Pokémon de tipo Fada de dentro da maleta e a entrega nas mãos de Nemona, que está bastante feliz por conseguir este auxílio extra em sua jornada, além do patrocínio cedido por Clavell através dos recursos financeiros da própria Escola.
— Muito Obrigada, Professora.
Nemona esboçou um sorriso e eu logo percebi que era genuíno. Ela estava faceira de ter encontrado uma nova amiga. Então, enquanto Sada admirava a raríssima expressão amena no rosto de uma sempre furiosa Nemona, eu pergunto:
— Mas e eu, não ganho nada?
Ambas as mulheres no recinto, que estavam de frente uma para a outra, viraram o rosto para mim em sincronia.
— Mas e quem é você? — Perguntou-me Sada, e eu logo percebi o porquê de ela se dar bem com Nemona. Ela também era "selvagem", por assim dizer.
— Eu sou o companheiro de viagem de Nemona. Ela não te disse?
— Aff. Não liga para ele não, Sada. Ele só vai comigo nesta viagem porque o Clavell realmente insistiu. — Justificou Nemona, que realmente preferia ter vindo ali sozinha.
— Desculpe-me, garoto. — Então disse-me Sada. — Mas os que sobraram estão reservados para missões muito especiais, para projetos individuais, e não para acompanhantes.
Então, dei meu sorrisinho endiabrado novamente e fiz uma nova pergunta:
— Professora Sada... Quanto é que a senhora ganha como Professora, mesmo?
E assim, eu saí de lá com um Pikachu em mãos e com uma Nemona furiosa ao meu lado, sabendo que teria de me aguentar pelo resto de sua jornada.
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