2005, Laboratório Zero, na Área Zero de Paldea...
Roy se acordou com um barulho estranho invadindo as muralhas mortalmente silenciosas da Área Zero no meio da noite.
Alguma coisa estava acontecendo. Alguma coisa ERRADA.
Ele invade o quarto das mulheres e as cutuca de leve, para não assustá-las.
"Mollie, Acorde. Orla, Tem alguma coisa errada."
"Hã?"
Os três então correm para o laboratório, de onde toda aquela fuzarca ressoava, apenas para encontrarem Murdock e Ludlow já de pé, ambos igualmente assustados.
"Onde está Friede?" Pergunta Orla, com seu senso de perigo a todo vapor.
"Ele havia ficado bebendo com Turo após o jantar." Afirma Mollie, revirando os olhos.
"Aquele canalha deve estar tão bêbado que não consegue sequer abrir os olhos." Diz Murdock, já inferindo que o Professor Friede não estaria nada bem, dado o tanto que ele conhecia o orgulhoso dono do Brave Asagi.
"Não temos tempo de procurá-los. Vamos ver o que é isso." Ordena Mollie, que parecia estar muito de mau humor neste momento, enquanto o misterioso barulho só aumentava.
Roy, Orla, Mollie, Ludlow e Murdock deixam os dormitórios às pressas e correm em direção ao reator da máquina do tempo, apenas para encontrarem Friede lá, segurando um debilitado Professor Turo por cima do ombro. Bêbado era uma plavra que já não poderia defini-lo. Enxaguado, Manguaçado. Para lá de Bagdá. Estes eram termos que melhor se encaixavam na descrição do esposo da Professora Sada e pai do pequeno Arven.
"Afestem-se!" Grita Friede, enquanto carregava Turo.
"O que é isso? Que barulho é esse? O que está acontecendo?" Pergunta Roy aos gritos para fazer-se ser ouvido.
Então, o Professor Turo, que não poderia estar se sentindo pior, mesmo com uma forte ânsia de vômito causada pelo abuso de álcool no cérebro, balbucia, desesperado:
"Sada entrou na Máquina do Tempo e levou Liko junto!"
"O que?!" Roy olha ao redor e até se sente mal. Só agora ele foi perceber que Liko não estava ali. O que quer que estivesse acontecendo, era culpa da máquina do tempo. Ou melhor... De Sada, por tê-la ativado.
"Ajudem-me a pará-la." Fala o Professor, entre um soluço e uma gorfada de bile.
"Por aqui!" Grita Friede, encaminhando os confusos Trovonautas por uma porta que levava à sala da máquina do tempo. Chegando lá, todos ficam de queixo caído. O que eles viam era surreal.
O que havia por detrás do portal era assustador. Uma dezena de Pokémon selvagens advindos de todos os cantos de Paldea haviam invadido o laboratório e estavam destruindo tudo. Kilowattrel, Baxcalibur, Rabsca, Tauros, Lokix e Kingambit. Para treinadores, esta visão era rotineira. O que assustava mesmo era o modo como estavam agindo. Enlouquecidos, atacando tudo e todos que entrassem em seu caminho.
"Aaaaaiii" Gritou Roy ao entrar sem querer na linha de frente de Paldean Tauros Blaze Breed.
"Cuidado, Roy!" Alerta Murdock, já sacando a Pokébola de Rockruff para proteger o membro menor dos Trovonautas.
"O que está acontecendo?" Questiona Mollie, Enfermeira Especialista em comportamento Pokémon, que nunca havia visto nada parecido antes.
"Eles responderam ao chamado." Balbucia Turo, enquanto Friede o depositava em um canto da sala para poder entrar em batalha.
"Chamado? Que chamado?"
"O colar... Sada tem um colar... Que chama os Pokémon selvagens da área quando sente perigo." Turo se segura para não vomitar nesta última frase, mas ele completa a informação dizendo: "Estes Pokémon vieram de toda Paldea, não apenas da Área Zero. Isso significa que o Amuleto Terastal identificou um perigo sem precedentes."
"Que colar é esse? Do que você está falando?" Friede tinha mil e uma razões para desacreditar no amigo bêbado, mas resolveu levar a sério, porque apesar do Professor Turo estar praticamente entrando em coma alcoólico, ele não estava mais sorridente como antes. Ele agora suava frio e sua expressão era de medo. O que quer que fosse que Turo soubesse e a tripulação do Brave Asagi desconhecia, deveria ser algo muito, muito sério.
Friede vira as costas para o Professor Turo e volta-se para seus colegas, que aguardavam as instruções de seu líder :
"Trovonautas, preparar! Precisamos acalmar esta horda!"
Friede então saca uma pokébola do bolso e a arremessa para o alto, liberando seu maior companheiro de todos. E não, não estamos falando de Charizard, mas sim do Capitão Pikachu, aquele que ocupava a posição de controlar o volante do Brave Asagi. Trajando um chapéu de capitão e equilibrando-se apenas na ponta da cauda, o Pokémon Elétrico especializado em ataques físicos, ruge para fora de sua cápsula como o som de um aparelho eletrônico entrando em curto circuito.
"PIKA!" Sua voz era mais grossa que a de outros membros de sua espécie.
Assim que o Capitão se encontrava do lado de fora, os demais membros do Trovonautas também colocaram-se em posição ofensiva, sacando seus parceiros Pokémon para o combate.
Roy saca a Nidoqueen que herdara de seu Avô.
Orla tinha um Metagross ao seu lado.
Mollie lutava com Chansey.
Ludlow com Drampa.
E Murdock com Rockruff.
"Atacaaaar!" Ordena Friede.
E todos os Trovonautas atacaram ao mesmo tempo, no que os Pokémon selvagens em cólera responderam atacando e volta.
O choque dos ataques vindos de direções opostas ecoa pelas paredes do Laboratório, que visivelmente sofriam com os danos da batalha.
E os Pokémon que furtivamente haviam entrado nas dependências da Área Zero não deram descanso. Eles estavam afiados. Perigosamente em polvorosa. A Nidoqueen de Roy foi a primeira a cair, e olha que ela não era uma Pokémon fraca. De maneira alguma, era uma das mais fortes nas mãos do avô de Roy quando ele era um treinador Pokémon, há muito tempo atrás.
Seu algoz era aquele que baforava gelo. Baxcalibur, uma das mais poderosas espécies registradas pela primeira vez na Região de Paldea.
"Orla, troque com o Roy. Baxcalibur é da Ordem do Clube dos 600, assim como Metagross. Roy... Skeledirge, agora!" Ordena Friede, que ao mesmo tempo em que tentava combater um furioso Kilowattrel, ainda habilidosamente coordenava as batalhas dos Trovonautas.
E assim como Friede, seu líder, ordenava, os bravos tripulantes do Brave Asagi se trocavam para que a batalha fosse mais justa.
O Clube dos 600, também conhecido como Pokémon Pseudo-Lendários, é um grupo de Pokémon cujas estatísticas de base era exatamente 600 em sua evolução final, aproximando-sr muito do poder de vários Pokémon Lendários. Por isso, Metagross era uma melhor escolha na batalha contra o Dragão de vela do que a pobre Nidoqueen de Roy. E com a troca, o garoto de apenas 14 anos agora deveria enfrentar um oponente mais fácil: Rabsca, contra quem seu Skeledirge tinha total vantagem.
"Canção da Tocha! Vai!"
Roy comanda o ataque de seu Pokémon Inicial, um crocodilo horizontal flamejante, cuja ponta do contra nariz abrigava o espírito de uma Fênix bebê. Mas Rabsca, o Pokémon adversário, era extremamente habilidoso. Ele protegia a bola flutuante que carregava acima de sua cabeça e se protegia com o corpo de inseto que ficava abaixo, segurando a esfera. Roy logo percebeu que atacar aquele corpo era como atacar uma casca vazia. O verdadeiro Rabsca encontrava-se dentro da bola psíquica, e atacar o corpo vazio não traria nenhum prejuízo em batalha ao HP do oponente.
Enquanto isso, Baxcalibur se emborcava de cabeça para baixo e utilizava a afiada vela em suas costas para golpear fisicamente Metagross. A pele do pseudo de Hoenn era de metal puro e quando eu contato, gerando atrito com a espada traseira do pseudo de Paldea, causava um rangido insuportável, como um garfo riscando o fundo de um prato de aço inoxidável. Era alto. Chato. Estressante.
Ludlow e Murdock apoiavam um ao outro em sua batalha contra o Tauros Paldeano e Kingambit. Rockruff tentava apagar as chamas do bovino lançando uma Tumba de Rochas para cada foco de incêndio causado pelo Pokémon enraivecido. Este, porém, com golpes lutadores, atingia o dragão ancião, enquanto Kingambit reinava, dando as ordens ao touro. Ludlow era um velho de poucas palavras, mas suas ordens para Murdock haviam sido claras: "Não proteja Drampa de qualquer ataque." Ele planejava usar a habilidade do dragão-vovô, "Furioso", que aumentava seu Ataque Especial quando o mesmo atingia uma determinada porcentagem de dano tomado em batalha.
Por outro lado, a Chansey de Mollie parecia estar tendo dificuldades para lutar contra Lokix, um oponente capaz de dar saltos enormes e desviar-se facilmente de seus golpes. Afinal, Chansey era reconchuda e não tinha muita agilidade para correr. Ela não tinha pernas, apenas pezinhos que não davam conta de saltarem atrás do inseto sombrio enquanto ele se esquivava.
Friede, por outro lado, jogava com tudo o que tinha.
"Capitão, Investida Trovão!"
Aquele era um movimento arriscado, porque o próprio usuário também se feria ao utilizá-lo, tomando uma determinada quantidade de dano residual. Mas aquele era o golpe assinatura do Capitão Pikachu, e Friede estava sincronizado com ele de tal maneira, que pediu para o Pokémon utilizasse o ataque mesmo contra um oponente de mesmo tipo.
O Capitão então envolveu seu corpo com eletricidade da cabeça aos pés e meteu um jogo de corpo em Kilowattrel, que foi empurrado com força contra a porta da sala da máquina do tempo, a qual os Pokémon selvagens estavam tentando arrombar.
"Oh, oh!" Foi o que disse o jovem Professor de cabelos brancos ao perceber que havia feito cagada. O impacto da Investida Trovão havia aberto a porta que até então estava selada.
Kilowattrel se reergue e, ao perceber que a porta estava aberta, invade o ambiente interno que compunha a máquina do tempo.
"O que está fazendo? Volte aqui!" Grita Friede, percebendo que o Pokémon contra quem estava lutando acabara de fugir.
"Não! Volte!"
Murdock começa a correr atrás do Paldean Tauros, que há um minuto atrás, parecia que jamais desistiria da batalha, mas agora estava correndo em direção oposta, na direção da sala do aparato de viagem espaço-temporal.
Um instante depois, os Trovonautas perceberam que era impossível contê-los. Todos os Pokémon selvagens haviam entrado na máquina e desaparecido, deixando o Laboratório uma vez mais assombrosamente silencioso.
"A máquina... Estava ligada! Eles foram teletransportados!" Constatou Friede, cujo queixo encontrava-se no chão.
"Aqueles Pokémon... Puff... Não lembram nada, pessoal?" Comenta Orla, ofegante devido à intensidade da batalha que estava travando, entregando tudo de si até alguns segundos atrás. "Eles se parecem com os Pokémon que lutamos no dia em que nos conhecemos!"
"É mesmo! Tem algo muito estranho nisso!" Comenta Mollie, cuja expressão agora não era mais de tédio, mas de preocupação.
"Pra onde será que foram?" Pergunta Roy, curioso.
"N-n-não há como saber!" Responde então o Professor Turo, que agora estava de pé, mas só o fazia porque seu Pokémon-parceiro, Quaquaval, o segurava. Caso contrário, ele trocaria os pés e daria de cara no chão, já que sua percepção ébria de mundo parecia girar numa constante universal.
"Como assim não há como saber? A viagem do tempo é aleatória???" Questiona Murdock, agora com medo, pois se ele era um voluntário da viagem no tempo, o mínimo que ele gostaria de saber era para que época estaria se lançando. Uma viagem randômica seria um tiro no escuro. Já pensou viajar para o Hadeano, quando a Terra era apenas uma bola de lava em formação? Não havia condições para a vida se sustentar desta forma.
"Não." O Professor Turo tranquiliza Murdock, pelo menos por um segundo, porque ele continua, dizendo: "Os dados foram apagados. Sada deletou as credenciais do sistema para que nós não soubéssemos para quando ela se lançou."
Turo pega um notebook e mostra para os Trovonautas a mesmíssima mensagem que Liko lera no laptop de Sada centenas de milhões de anos atrás: Missing Number (Número Faltante).
Sada havia saltando no tempo e não deixou nenhum vestígio para que fosse rastreada.
"Temos que trazê-las de volta!" Comenta Friede, percebendo que nada daquilo estava certo. O plano não era esse. O plano era que Sada e Liko viajassem sozinhas. O plano era que os Trovonautas seriam os primeiros humanos a testarem a máquina do tempo, juntos.
"E fazer o que? Entrar nessa sala, que tem um portal sabe-se-lá para onde, dentro?" Questiona seriamente Mollie, e com toda razão. Poderia ser uma armadilha. Eles estavam cegos. Não sabiam onde estavam pisando.
Turo então começa a chorar.
"Perdemos a Liko." Ele comenta, aos prantos.
"O que?" Roy entra em desespero.
Os Trovonautas espiam para dentro da sala da máquina do tempo. Haviam portais, escuros como um buraco negro, mas estáveis e funcionais como um buraco de minhoca. Não dava para saber por qual portal Sada havia entrado com Liko e o dirigível.
"Não podemos ir atrás dela. É impossível determinar a direção a qual tomaram..." explica Turo. "Sada sequestrou Liko e levou consigo o colar e também o dirigível ".
"O que?" Orla se indigna. Como assim Sada roubou o dirigível que no qual a engenheira havia trabalhado noite e dia para reformar e aprimorar?
"O que ela fez?" Questiona Roy, sem entender o que realmente estava acontecendo. Ninguém ali estava.
"O colar que ela levou... É um amuleto que parece estar correlacionado com a Terastalização, mas nós ainda não temos conhecimento de como ele se encaixa neste quebra-cabeças, pelo menos não até o momento. Até onde se sabe, ele reage a estímulos externos e pressente o perigo. E só. É um ser vivo de origem desconhecida, no formato de cristal, em um sono profundo, que só desperta quando algo o coloca em risco. Presumo que tenha sido ele quem atraiu todos estes Pokémon, provavelmente para defender-se de algo que o está ameaçando." Explica Turo, que agora estava se curando do porre na marra.
"E por que ela faria isso?" Pergunta Friede.
Turo fica quieto.
"Por que a sua esposa fez o que fez?"
Insiste Friede ao perceber que Turo não responderia.
Por fim, após um momento de silêncio, Turo se pronuncia em um tom de voz quase inaudível, de cabeça baixa, desviando os olhos de todos, como que sentindo muita vergonha. "Sada teve uma hemorragia grave e morreu no parto do pequeno Arven. Aquela lá não é minha esposa."
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