Ash Ketchum nunca esteve mais feliz. Um ano se passou desde que ele iniciou sua jornada e formou seu primeiro time de Pokémon, mas suas inocentes e despretensiosas aventuras por Kanto foram só um prólogo, um pontapé inicial do que estava por vir.
Mesmo tendo se passado tão pouco tempo, agora com 11 anos, quase 12, Ash já coleciona muitas histórias para contar... Em suas aventuras iniciais pela sua Região Natal, em busca das famosas Insígnias de Ginásio, o garoto pode enfrentar diversos treinadores formidáveis... Dos mais justos e nobres...
...Até os mais cruéis e perversos, que utilizavam os Pokémon como meras ferramentas para atingirem seus objetivos pessoais e privados.
Ao fim de um ano, ele conseguiu coletar as 8 insígnias de Ginásio da Região, mas ele não fez isso sozinho. Fez com a ajuda de seus amigos, os Pokémon, que agora formavam um vínculo excepcional com o garoto, que tanto se importava com eles. Mesmo os mais rebeldes, como Charizard (que parecia gostar de torrá-lo frequentemente com o Lança-Chamas, assim como fazia com seu antigo treinador), tornaram-se verdadeiros companheiros e NUNCA os deixaram na mão.
Durante doze meses de desafios e peripécias, Ash acompanhou seu time crescer e evoluir, à medida que aprendiam novos movimentos e assumiam novas e mais poderosas formas através da Evolução. Bem... Nem todos. Afinal, seu Bulbasaur havia se recusado a evoluir após uma reunião secreta na floresta com um bando de Ivysaur e Venusaur (mas isso é mero detalhe!)...
E não foram apenas os Pokémon que Ash colecionou em seus primeiros momentos de aventura... Não, ele também fez amigos humanos. Amigos esses que Ash viu amadurecerem e brilharem... Misty, a garota reclamona que odiava Pokémon de tipo Insetos, aprendeu a amá-los após conviver com a Butterfree de Ash, e no fim das contas, acabou se tornando aquilo que sempre quis: A mais sensacional das Irmãs Sensacionais, assumindo o posto de Líder de Ginásio da Cidade de Cerulean.
E Brock, que após participar da Conferência da Liga Índigo daquele ano, conseguiu receber a bênção do pai para retornar para casa e assumir o Ginásio de Pewter, agora com conhecimento novo sobre a arte de ser um Criador, adquirido após tudo o que viveu e aprendeu ao lado de Ash e Misty.
Ash não poderia estar mais feliz pelos seus amigos. Inclusive, ele foi a pessoa que mais vibrou na plateia quando Brock e Misty, que de última hora decidiram que enfrentariam a Liga Índigo daquele ano, após serem aprovados no programa de Admissão na Liga Pokémon, sem que precisassem passar por todos os 8 ginásios necessários para entrar na Conferência do Planalto Índigo. Para isso, eles deveriam passar por uma série de provas e exames, garantindo assim uma única insígnia capaz de substituir todas as outras... Mas Ash ZEROU a prova teórica, sendo esta a única Insígnia de Kanto que ele não conseguiu coletar em sua jornada...
Afinal, quem poderia imaginar que aquilo não era um Electrode, e sim, um Jigglypuff visto de cima, não é mesmo?
Mas havia algo em sua jornada que o estava aborrecendo... O jeito como sua MÃE o tratava!!
Desde que Ash saiu de casa, Delia Ketchum enchia o saco do garoto para que toda vez que ele chegasse a um Centro Pokémon, fizesse uma chamada de vídeo com ela. Coitada, ela estava preocupada, afinal, o garoto era apenas uma criança e estava sozinho se aventurando mundo afora, o que poderia (e com certeza era) muito perigoso! Tudo o que Delia fazia era cuidar de seu pequeno Ash. Mas "pequeno" era uma palavra que nosso treinador de Pallet queria evitar. Para ele, ele já era um adulto e deveria ser tratado como tal. Como o próprio dizia "já estavam crescendo pelos no seu peito"...
Contudo, Ash estava LONGE de ser gente grande. Qualquer um que o visse de fora poderia perceber que a obviedade de que ele recém estava engatinhando para fora do ninho. Mas uma vez fora, ele estava começando a achar que era o dono da verdade e que não precisava ser, em suas próprias palavras, "paparicado toda hora".
Eis que, em um dia qualquer, enquanto Ash estava testando a sorte na Rota 21, após um almoço solitário sem a companhia de seus então companheiros de viagem, Brock e Misty, o garoto tem um ideia...




Pikachu sorri, a ideia lhe parece interesse...

Ash se levanta e, ao invés de desmanchar a mesa improvisada sobre um tronco, onde estava realizando seu piquenique, simplesmente sai em direção à grama alta, embrenhando-se ao ponto de não conseguir enxergar mais nada a não ser mato até mesmo acima de sua cabeça.
Então, ele bate em uma parede. Uma parede invisível.



Ele tateia o "ar" e percebe que há algo ali, uma espécie de campo de força. Quem quer que tenha feito aquilo, estava agora dando gargalhadas da cara de Ash, como se tirasse uma onda da cara do garoto após inadvertidamente esbarrar de cara na barreira.


Um Pokémon de expressão um tanto quanto feliz está se fartando de rir. Ash não pensa duas vezes.



Ash puxa a pokébola de Blastoise em seu cinto e então, uma batalha contra o Pokémon brincalhão (para não dizer palhaço) começa. Poucos minutos depois, Ash está com um novo parceiro em mãos, contente por agora ter um presente para oferecer à sua mãe.



A barriga de Ash ronca com a lembrança dos pratos preparados gentilmente por sua amada mãe, mesmo ele tendo acabado de comer. E assim, com a concordância de Pikachu, o garoto pega suas coisas, arruma sua bagunça (conforme orientado pela vozinha do Brock, sempre ecoando em sua cabeça!) e parte em direção a Pallet, onde tudo começou...
>> Um Dia Depois, na Cidade de Pallet...
Ash chega pé por pé em sua casa, localizada na periferia, afastada do centro da cidade, próximo às grandes plantações de arroz que haviam por ali. Seu objetivo era fazer uma surpresa para sua mãe, que ainda não sabe que ele está retornando.


Então, assim de passa pela porta de entrada utilizando uma cópia da chave de casa (que levou consigo quando saiu em jornada), o menino deixa seus sapatos e caminha descalços, fazendo o mínimo de barulho enquanto se arrasta furtivamente para dentro de seu próprio domicílio.
No entanto, assim que se aproxima das escadas que levam para o seu quarto, localizado no andar de cima, Ash ouve um som estranho... Parecia alguém chorando.

O garoto corre pelas escadas e abre a porta de seu quarto com força, apenas para encontrar sua mãe em prantos sobre sua cama, arrasada.

A mulher leva um susto, não queria ter sido pega naquela situação.

O garoto se assusta, ele jamais pensou que encontraria sua mãe assim, com olhos inchados e olheiras profundas.

Delia se levanta e abraça o filho, apertando-o contra o peito. Poderia ser a cena de reencontro mais belo do mundo, não fosse o fato de ela estar desesperadamente chorando, enquanto o filho, agora extremamente preocupado, tenta entender o que está se passando ali.



Delia limpa as lágrimas com o braço e força um sorriso nada convincente, tentando desviar do assunto.


Ash lança a Delia um olhar de desconfiança e a moça, muito abalada psicologicamente, não faz nada senão desmoronar na frente do filho, tornando a chorar.

Delia abraça Ash novamente, mas o menino segue desconfiado. Saudades não a fariam chorar daquele jeito.

Ash olha fundo nos olhos da mãe e Delia não tem escolha senão se abrir com o garoto. Ela dá umas palminhas ao seu lado, no colchão, para que o garoto se sente com ela, e assim, ele o faz.





Delia mal consegue pronunciar aquilo. Ela precisa reunir toda a coragem do mundo para contar ao filho o que ela vinha escondendo do garoto durante todos esses anos.


Ash arqueia uma sobrancelha, em questionamento. A mãe agora sabe que está pisando em um terreno delicado e busca as melhores palavras para contar a verdade ao garoto, sem machucá-lo, ainda que fosse impossível não fazê-lo.




Os olhos de Ash se arregalam, mas Delia segue em frente, com medo de tropeçar e não conseguir mais continuar contando.

Ash está paralisado. Ele não sabe como reagir. Ele não sabe o que falar. Ele não sabe se DEVE falar. Ele está simplesmente boquiaberto...


Ele sempre mandou dinheiro para ajudar a pagar o gás, a luz, os seus alimentos... E eu sei que isso nunca foi suficiente, ele tinha que ter dado mais, ele tinha que ter te dado AMOR, e é claro, tinha que ter contado a verdade! Mas ele nunca foi um homem honesto, nem comigo, nem com a outra mulher. Ela sequer SABE da sua existência! É por isso que, com o tempo, ele parou de vir, mentindo que estava ocupando viajando o mundo... Porque estava ficando cada vez mais difícil para ele manter uma vida dupla, então ele optou por ficar com ela e esquecer que nós existíamos.
Ash apenas olhava para Delia, sem reação. O garoto estava em choque. Durante todos esses anos, seu pai havia sido sua MAIOR inspiração, o motivo pelo qual ele decidiu sair em uma jornada e se tornar um Mestre Pokémon... Mas agora, essa inspiração havia se dissipado, desaparecido da frente de seus olhos, como em um passe de mágica. Estava tudo arruinado. Tudo destruído. Ash viveu todos esses anos na sombra de uma mentira...

Delia implora pelo perdão de Ash. O garoto, ainda sem saber o que dizer, abraça a mãe, indicando que estava do lado dela.



Ash baixa a cabeça e deixa que o boné encubra suas lágrimas, enquanto ele se abraça à sua mãe, igualmente arrasada.
Mais tarde, naquela noite, Ash realiza uma web conferência com seus amigos, Brock e Misty, para contar-lhes tudo o que ele havia ouvido da mãe. Afinal, em um momento triste como esse, tudo o que o garoto precisava era desabafar e nada melhor do que contar com o conselho dos amigos em uma situação como essa...



Brock e Misty lançam olhares de pena sobre Ash. Eles próprios não parecem encontrar palavras para confortá-lo, até porque NADA nesse momento poderia fazê-lo.

Ash clica em seu computador e abre um perfil da Liga Pokémon daquele mesmo ano, compartilhando a tela com os demais, e mostrando um garoto de aproximadamente a mesma idade que ele a seus amigos.




Ash está possesso, ele nunca sentiu tanta raiva na vida. Raiva do pai, raiva do garoto que era seu meio-irmão e nem sequer sabia da sua existência... Raiva do mundo, Raiva da VIDA. Tudo o que ele queria nesse momento era botar para fora toda a destruição que esta BOMBA havia causado em sua cabeça.

Ash dá um clique e compartilha outra tela com Brock e Misty. Desta vez, a tela mostrava o time de Ritchie.












Misty e Brock estão genuinamente com pena do garoto, mas não há muito o que eles possam fazer a não ser estender a mão para o que o amigo precisasse.






Na manhã seguinte, porém... Ash se acorda com o barulho de talheres. Sua mãe vinha trazendo café da manhã na cama, com um sorriso renovado no rosto. Apesar de permanecer destruída por dentro, Delia Ketchum se sentia um pouco mais aliviada após ter divido o peso que carregava sozinha por todos esses anos com o filho e como uma boa mãe, ela não poderia ver o garoto desistindo de tudo só para


Delia deixa um delicioso omelete de Chansey, do jeitinho que Ash gostava, no bidê, ao lado da cama, e com um ânimo em acordar cedo que só as mães têm, ela puxa as cortinas e a arregaça a janela, deixando o sol entrar no rosto do sonolento garoto que, para falar a verdade, nem tinha conseguido dormir aquela noite.






Ash olha para sua mãe e percebe que ela está falando sério. Delia Ketchum nunca esteve tão convicta em toda a sua vida. Ela queria o melhor para o filho e sabia que o melhor jamais chegaria se ele continuasse ali, enfurnado naquela cidadezinha de 5000 habitantes, a maioria aposentados cuja vida já estava feita.

Aquilo era uma ordem. Ash entendeu. Ele assentiu com a cabeça e decidiu fazer o que a mãe pediu, mesmo que seu coração estivesse doendo por dentro por ter que deixá-la sozinha... Ele não queria mais vê-la sofrendo daquele jeito. Mas as coisas amenizaram, ao menos um pouquinho (uma coisica de nada) quando Delia, observando o menino passando creme dental na escova, disse em um tom alegre e animado:



Delia indica com o braço e Ash olha na direção apontada e avista o Mr. Mime que ele havia dado à mãe com avental e uma vassoura nas mãos, orgulhosamente ajudando nas tarefas domésticas.
O garoto se permitiu abrir um sorriso ao perceber o quão grata a mãe estava. Pela primeira vez, ele sentia que havia acertado no presente!
>> Chegando ao Laboratório do Professor Carvalho...


O velho Carvalho já estava começando a demonstrar sinais de Alzheimer, a doença de todo mundo sabe que ele viria a ser oficialmente diagnosticado anos depois.


O Professor, finalmente reconhecendo Ash, se aproxima do garoto...




Ash abre o casaco e mostra sua coleção de insígnias, presas como broches, para o Professor.






>> Em Casa...






Os olhos de Ash enchem-se d'água. Ele quer muito ir nessa jornada, mas ele sabe que sua mãe está vivendo um momento extremamente delicado e que seria prudente da parte dele, ficar com ela, ao menos até tudo se estabilizar. Nesse momento, o garoto está extremamente dividido e ele não sabe o que faz, se vai ou se fica.
Delia, percebendo a indecisão do filho, se aproxima e o abraça. Então, ela complementa sua fala, dizendo:

Delia coloca a mão sobre o coração e então, o garoto perde todas as estribeiras e não se contém: ele finalmente cede diante do caos que está vivendo e se permite chorar.
>> Dois Dias Depois...
Ash finalmente chega ao Arquipélago Laranja, uma Região formada por inúmeras ilhas de clima tropical, mais ao sul de Kanto, onde o clima era leve e extremamente agradável. O sol brilhava forte e as plantas eram coloridas e cheias de vida, como Ash nunca antes havia visto.
O barco atracou na Ilha Tangelo, apenas uma das muitas ilhas que compunha o desenho da geografia local.



Pikachu jamais sairia do lado de Ash, ainda mais com tudo o que o garoto estava vivendo ultimamente. Mas o Professor Carvalho precisava estudar os espécimes que Ash coletou em sua jornada anterior como parte do projeto de desenvolvimento da Pokédex e então, o garoto precisou deixar todos eles com o pesquisador antes de partir.




E assim, os dois partem no dia de sol rumo à praia, aspirando novos ares e, sobretudo, buscando conforto com tudo o que estava acontecendo.
Ash tirou os calçados e foi caminhar no limite entre a água e a areia. Ele deslumbrava a paisagem magnífica, de palmeiras que se estendiam até os céus e areia branquinha que se desprendia suavemente dos dedos conforme nosso treinador dava cada passo. No trajeto, a única coisa que ele conseguia pensar era em como a sua mãe merecia um passeio daqueles e como ele poderia juntar dinheiro para trazê-la para cá.
Mas conforme divagava sobre a necessidade de ajudar sua progenitora, Ash se depara com um Pokémon em apuros. Um monstrinho de corpo gigantesco, com nadadeiras compridas no lugar de patas e um casco de tartaruga nas costas. Tinha um pescoço comprido, orelhas gogas e um único chifre que apontava para o céu bem no meio de sua testa.

Ash observa a enorme criatura tentar se locomover de volta ao mar e não conseguindo, dado sua mobilidade extremamente reduzida em terra e o problema de não possuir patas, mas nadadeiras que o impedem de erguer seu corpo pesado em busca de uma saída. A primeira coisa que Ash faz é pegar sua pokédex para analisar o ser, que se debatia na areia, agonizado.

Então, enquanto está guardando sua pokéagenda de volta no bolso, uma voz chama a atenção de Ash:

É só então que Ash percebe que do outro lado do Pokémon, havia um treinador acocado, avaliando a situação. A enorme concha que se projetava das costas de Lapras impedia que Ash tivesse a visão desse garoto.



Ash pega o item em seu bolso, um pequeno frasco para aplicar a solução líquida diretamente na boca do Pokémon, a fim de fazê-lo recuperar energia para pelo menos ter forças para se arrastar um pouco mais em direção ao mar. Desde que Ash aprendeu a utilidade desses itens com Misty, ele nunca mais se esqueceu e sempre carrega consigo pelo menos uma meia dúzia de fracos. O garoto então se aproxima com cuidado e aplica a medicação no Pokémon que parecia bastante fraco e ferido.





O Pokémon encalhado geme de felicidade, mas mesmo a poção que ele acabou de ingerir inteira não parece ser o suficiente para animá-lo.





Ash então pega uma de suas pokébolas vazias no cinto e se aproxima de Lapras com ela. A pokédex dizia que Lapras era um Pokémon inteligente, capaz de compreender bem a fala humana, então não custava tentar...


O Pokémon parecia compreender a fala e concordar com Ash, mas ele estava tão cansado e tão torrado por conta do sol forte, que ele mal conseguia emitir qualquer som.

Então, com a permissão do Pokémon, Ash encosta a pokébola sobre a cabeça de Lapras, sugando-o para dentro da mesma. A captura se conclui na hora, afinal, o Pokémon exausto de tanto se debater não oferece nenhuma resistência. Uma captura crítica!


O garoto aponta em uma determinada direção.



Ash e Tracey se cumprimentam. Mal sabiam eles que a partir daquele momento, os dois se tornariam ótimos amigos.


E assim, os dois se unem com o único propósito de salvar o Lapras bebê, dirigindo-se ao Centro Pokémon mais próximo. Chegando lá...


As Enfermeiras Joy das Ilhas Laranja utilizavam um avental diferente das demais: era verde e ornado por um padrão floral próximo à barra. Elas também aparentavam ser mais bronzeadas, muito por causa do clima local. E o Pokémon que as ajudavam em sua missão de resgatar e socorrer Pokémon que necessitam de cuidados médicos era um Slowbro.



A Enfermeira pega a pokébola de Ash e imediatamente a leva para a máquina de reparos, um aparato moderno que envia energia para Pokémon debilitados mesmo dentro de suas pokébolas.


Ash rapidamente lembrou de sua própria situação. Ele tinha um pai vivo, mas podia-se dizer que era órfão por parte de pai.



A Enfermeira então se afasta e vai para o interior do Centro, onde poderá atender o Lapras melhor fora de sua pokébola. Ash e Tracey então se dirigem para a sala de espera, onde Ash se vê na obrigação de puxar assunto para quebrar o gelo.

















Ash continua se lembrando de sua situação deplorável. "Sorte" não era uma palavra boa para designar-lhe. Talvez "morte" fosse mais propício...



Tracey parecia genuinamente feliz com a proposta que ele mesmo havia feito. Ele estava bastante empolgado e isso reverberou na forma de um grito, mas o grito não pareceu agradar muita gente.

Um menino de camiseta listrada que também estava sentado na sala de espera revira os olhos para Ash e Tracey. Ele estava de braços E pernas cruzados, em uma posição extremamente desconfortável.








O garoto parecia verdadeiramente feliz em falar da própria câmera, quase como Ash fala sobre seus Pokémon.
















Ash e Tracey então se apresentam para o menino, que rapidamente se torna seu amigo.







Todd Snap empina o nariz e cruza os braços novamente, fingindo ser difícil, mas a verdade, é que ele havia AMADO a ideia. Na verdade, se alguém atraísse os Pokémon selvagens para ele, facilitaria demais o processo de fotografar. E no caso de Tracey, se Snap tirasse fotografias dos Pokémon que eles encontrassem, isso facilitaria o desenho de observação. Então, antes que Todd e Ash pudessem dar uma resposta definitiva para a proposição de Tracey, a Enfermeira Joy retorna.

Ash e Tracey se olham.


















Ash sorriu pela primeira vez em um bom tempo. Ele até havia se esquecido de suas preocupações recentes. Era sempre bom fazer amigos, fossem eles Pokémon, fossem eles humanos. E desde que Brock e Misty estavam tendo responsabilidades como Líderes de Ginásio em Kanto, a jornada pelas Ilhas Laranja sozinho seria triste e solitária, mas com Tracey e Snap ao seu lado, não mais!
De ilha em ilha, o grupo foi se envolvendo em uma série de aventuras enquanto curtiam o clima tropical e deixavam os problemas da vida cada vez mais para trás. A incursão parecia mais com uma grande viagem de férias do que com qualquer outra coisa, pois ao mesmo tempo em que se divertiam conhecendo e estudando diversas espécies Pokémon, eles aproveitavam da culinária local, dos pratos típicos, da cultura rica e acolhedora da Região e, é claro, nas horas vagas, tostavam um pouquinho na a praia...
Ao chegarem à Ilha Valência, a primeira Ilha importante no mapa, o grupo se deparou com uma Butterfree que lhe chamou muito a atenção...


Ela tinha asas amarelas com padrões diferentes daquelas que a própria Butterfree do Ash tinha...
Foi então que eles conheceram a Professora Ivy e aprenderam sobre o que ela chama de "Variações Regionais", uma série de mudanças fisiológicas nos Pokémon das Ilhas Laranja devido ao clima tropical, tal como o sol mais intenso que nas demais regiões, disponibilidade de alimentos, abundância de água, etc. Não demorou muito e os três garotos que viajavam alegremente montados em Lapras já estavam aceitando um convite para ajudar a Professora a estudar tais variantes...
Snap tirou umas mil fotos enquanto estava na Ilha, e Tracey não perdeu tempo, extraindo o máximo potencial de sua paleta de aquarela para tentar reproduzir os tons vívidos dos Pokémon que viviam na Ilha. Aqui, os Paras eram mais vermelhos, tão rubros quanto os cogumelos que cresciam às suas costas... Nidoran (macho e fêmea), Weepinbell e Raticate também pareciam mais saturados que o habitual, mas talvez a variante que mais chamou a atenção foram os Vileplume que por ali viviam: Eles tinham pétalas laranja com um padrão totalmente diferenciado, atraindo olhares de quem quer que os avistasse. Estes, no entanto, só saíam à noite, então o grupo precisou fazer uma expedição noturna para ajudar a Professora Ivy a estudá-los...
E esta foi só a primeira de muitas aventuras que preencheram os ânimos de nossos heróis de tal modo, que eles nem perceberam o tempo passar, enquanto pulavam de ilha em ilha, aprendiam mais sobre Pokémon e se deliciavam com a paisagem paradisíaca que os envolviam, em um clima de sossego e despreocupação...
Na Ilha Mikan, Ash enfrentou a primeira Líder de Ginásio diferenciada de toda a sua jornada: Cissy parecia à primeira vista, só mais uma especialista em Pokémon de Tipo Água, mas seu repertório incluía muito mais do que "batalhar" utilizando Pokémon desse tipo...
Seu desafio consistia em duas etapas distintas: a primeira, era uma competição de tiro ao alvo com Pokémon de tipo Água na qual a Líder utilizou sua Seadra (muito bem desenhada por Tracey, diga-se de passagem) para derrubar uma fileira de latinhas de refrigerante posicionadas a uma longa distância de onde os treinadores e seus Pokémon deveriam ficar.
Enquanto Seadra espirrava múltiplos tiros certeiros de seu Revolver d'Água, Ash utilizou o Krabby que havia conhecido ali mesmo, na costa da ilha algumas horas antes para derrubar todas as latinhas de uma só vez com seu incessante Jato de Bolhas.
Uma vez superada a primeira etapa, Ash viu seu Krabby evoluir para Kingler (sorte de principiante!) e então pode prosseguir para o segundo duelo, que era uma corrida de Surf no mar. Enquanto Cissy montava de pé concha de seu Blastoise, pegando velocidade pelas ondas, Ash surfava nas costas de seu Lapras.
O Tipo Gelo não era nem de perto tão veloz quanto Blastoise, mas Ash fez do seu jeitinho e conseguiu a vitória após criar uma pista de gelo pela qual Lapras pudesse deslizar ao invés de nadar, ganhando maior impulso e vencendo a corrida.
Com o desafio encerrado e a Insígnia do Olho de Coral em mãos, a Ilha Mikan não oferecia mais grandes atrativos, então grupo partiu para a próxima expedição, desta vez na Ilha Sunburst...
Lá, eles conheceram o cintilante Onix de Cristal, que como o próprio nome indica, era um Onix cujo corpo, ao invés de ser feito de rocha como todos os demais, era feito de uma formação cristalina única que o fazia reluzir como uma pedra preciosa.
O grupo ficou tão admirado com a beleza da criatura, que não pode capturá-la... Mas uma batalha contra o mesmo já foi o suficiente para deixar todos fascinados...
Foi nesta partida que Ash e os demais descobriram que as variações regionais também podem ter tipos diferentes, já que o Onix de Cristal não parecia sofrer muito dano de golpes de água, mas em compensação, sofria muito ao receber ataques de fogo.
Muito embora a batalha não tenha sido longa e eles não possam ter esclarecido de que tipo, de fato, o Onix de Cristal era, já que o mesmo fugiu e desapareceu nas águas da caverna em que se encontrava, foi um encontro que com certeza ficará guardado para sempre na memória dos três, que agora estão cada vez mais entrosados, compartilhando risos e momentos de descontração, enquanto se conhecem cada vez melhor com o passar dos dias...
Partindo da Ilha Sunburst, então, nossos heróis visitam agora a Ilha Rosado, o único local no mundo em que uma floresce uma Berry capaz de dar aos Pokémon que a consomem, uma coloração cor-de-rosa. Até mesmo Pikachu não resistiu ao doce sabor da frutinha e ficou (temporariamente) com as bochechas e a cauda estilo Barbie.
Após conhecerem e registrarem inúmeras espécies de Pokémon afetadas pelo pigmento rosado encontrado na fruta...
Tracey e Snap testemunharam Ash capturar o que a princípio parecia ser um Primeape cor-de-rosa, mas que após alguns dias sem comer a fruta, longe da Ilha, voltou à sua coloração normal...
Já na Ilha Navel, dando sequência ao desafio das ilhas, Ash se encontra com Danny, o Líder de Ginásio que, assim como Cissy, também propõe um desafio muito PECULIAR ao invés de uma batalha como Ash estava acostumado com os Líderes de Kanto.
Enquanto Tracey e Snap subiram ao topo da montanha de teleférico, Ash e Danny se desafiaram em uma corrida, para ver quem chegava primeiro ao cume do pico. Com uma ajudinha dos músculos de Primeape, foi fácil para Ash pegar impulso e escalar mesmo as paredes mais íngremes e desafiadoras. Uma vez no topo do monte, eles deveriam congelar gêiseres e utilizar esses enormes blocos de gelo para descer montanha abaixo acompanhados de seus Pokémon.
Danny foi o mais veloz nesse quesito, afinal, ele estava acostumado a construir tobogãs de gelo com seus parceiros Pokémon: Geodude, Nidoqueen, Electrode e Machoke.
Mas com a ajuda com Raio Congelante de Lapras, das pinças retaliadoras de Kingler e dos muques vigorosos de Primeape, Ash deu um jeito de construir o seu próprio meio de transporte e descer a ladeira, cruzando a linha de chegada antes que Danny. E isso não só fez com que o garoto de Pallet conquistasse a Insígnia Rubi do Mar, como também conquistasse a vitória em metade dos ginásios da Região, ganhando reconhecimento não apenas entre os Líderes, como também pelo povo das Ilhas Laranja.
E foi logo após esta conquista que Ash encontrou mais um parceiro para seu time... Um Pokémon particularmente problemático, que estava DEVASTANDO a vegetação das chamadas "Sete Ilhas da Toranja":
Um Snorlax que se empenhava de nadar de Ilha em Ilha para obter alimento. Mas a quantidade de frutas que esse monstrão ingeria era absurda e estava preocupando os moradores locais. ESTAVA, no passado, porque Ash decidiu trazer o Pokémon consigo, adquirindo seu mais resistente Pokémon até o momento (e também o que mais dava prejuízo, em termos de estoque).

Com o auxílio de seus fiéis parceiros Marill e Venonat, Tracey registrou a captura do Tipo Inseto, trazendo-o para sua equipe.
Enquanto Tracey estava particularmente empenhado em estudar Scyther, Todd Snap parecia mais interessado em fotografar o Marill de seu companheiro de jornada, pois ele não sabia que Tracey tinha um Pokémon tão incomum, ao menos em Kanto e nas Ilhas Laranja, em seu arsenal.
Após atravessarem um extenso e infindável deserto no centro da Ilha Mandarin, nossos heróis se deram por conta de que seria bom ter um Pokémon para se locomover por terra além de Lapras, para se locomover pelo mar. Então Ash corajosamente enfrentou uma manada de trinta apopléticos Tauros, capturando um para si.


Tracey então captura seu quarto Pokémon, um Dodrio. Ele era tão furioso e visceral quanto Tauros, mas a diferença é que as três cabeças ficavam brigando entre si, ao invés de atacarem aos outros, então Snap topou subir na ave para continuar sua aventura...

A partida inicial foi um empate entre o Electabuzz de Rudy e o Pikachu de Ash.
Na segunda, a Starmie de Rudy retaliou o Kingler de Ash por saber movimentos do Tipo Elétrico, supereficazes contra o Tipo Água, algo com que o jovem treinador de Pallet não estava contando.
Mas na última partida, de Snorlax contra Pidgeot, não houve jeito: Rudy não aguentou a pressão e foi esmagado (literalmente) até entregar a Ash sua terceira insígnia...
...A Insígnia da Concha de Espinhos!
Agora com 3 insígnias em mãos, Ash estava um passo mais próximo de enfrentar o Líder de Ginásio Supremo no que seria como uma batalha contra o Campeão Regional das Ilhas Laranja.
Ash estava tão envolvidos em sua jornada, que cada treinador que ele enfrentava o parabenizava pelo entusiasmo com que ele levava as partidas. Mas não é que Ash estivesse genuinamente feliz... Ele estava tentando esconder as coisas que o faziam ficar triste. Agora, em um ambiente totalmente favorável à diversão, um arquipélago repleto de ilhas celestiais, era fácil esquecer-se de tudo, e Ash realmente conseguiu manter o alto astral por muito tempo, mesmo se sujando todo com o abraço de lodo de seu Muk carente, capturado a fim de ajudar no combate à poluição das Ilhas.
Até aí, estava tudo indo muito bem...
Mas como tudo na vida, sempre aparece algo ou alguém para atormentar. As pessoas não gostam de histórias que são muito bobinhas e felizes, porque suas vidas são tão miseráveis que não conseguem se identificar e relacionar com personagens que não estejam SOFRENDO. As pessoas querem ver sangue! Enquanto não houver guerra, elas não se sentem saciadas... Então aí vai: o sofrimento de Ash Ketchum! (e tudo que se desenrolou a partir disso)!
Quando o grupo chegou ao último ginásio convencional das Ilhas Laranja, localizado na Ilha Kumquat, ele enfrentou e venceu a Líder Luana em uma batalha dupla (o que era novidade, na época, visto que a Liga Hoenn foi a primeira a oficializar o formato).
O Marowak e o Alakazam da Líder foram simplesmente obliterados por uma combinação entre o Ataque de Chifre de Tauros e o Choque do Trovão de Pikachu.
Com a vitória, Ash adquiriu a quarta e última insígnia antes de enfrentar o Líder de Ginásio Supremo, a Insígnia Estrela de Jade.
Mas toda a alegria que ele havia adquirido após conquistar tal feito se foi por água abaixo quando a líder, Luana, lhe disse algo que o deixou verdadeiramente encafifado... Algo que fez seu cérebro de adolescente, ainda em formação, cheio de paranoias e inseguranças.










Assim que Ash ouviu o nome de seu meio irmão, seu mundo caiu. Todas as lembranças voltaram à tona, como se um gatilho mental tivesse disparado em seu subconsciente, desenterrando todas as coisas que ele havia se empenhado para esquecer ao longo de sua breve jornada pelas Ilhas Laranja.
Ash ficou em choque. Tracey e Snap não entenderam o por quê... Quando Luana disse que Ritchie a havia derrotado alguns dias antes, tudo o que se passou na cabeça foi:
"Ritchie está nas Ilhas Laranja, assim como eu" e "Ritchie está na minha frente! Ele é melhor do que eu!"

Luana pergunta ao observar a reação estranha de Ash ao ouvir tal nome, mas o garoto (sem conseguir disfarçar muito), simplesmente responde:

Luana achou tratar-se de bobagem de adolescente, então, deixou passar. Imediatamente, Ash pegou suas coisas, agradeceu uma vez mais pela insígnia e foi embora, mas ao sair do ginásio, ele levou uma coisa extra consigo: preocupação.
Agindo de forma incoerente, Ash pegou suas coisas e imediatamente partiu da Ilha Kumquat, não trocando uma palavra sequer com Tracey e Snap no caminho todo, o que obviamente chamou a atenção de seus dois acompanhantes de viagem.
A próxima Ilha se chamava Ilha Rind. Não havia muita coisa por lá, exceto um Centro Pokémon extremamente aconchegante no qual eles podiam passar a noite.
Depois de Tracey fazer uma reserva em um dos quartos disponíveis para aluguel no CP, ele e Snap foram para a área de convivência, onde os treinadores normalmente interagem uns com os outros e trocam dicas de batalha, bem como propõem trocas de monstrinhos.
Mas pela primeira vez desde que Ash iniciou aquela jornada, ele estava calado, em um canto, sem interagir com ninguém. O garoto de Pallet tinha um olhar distante e vazio, que parecia irradiar uma tristeza absurda de dentro do treinador. Pikachu, seu fiel companheiro, estava preocupado e não saía de perto dele, mas nem mesmo as constantes trocas de carinho entre Ash e seu parceiro Elétrico, que o acompanhava muito antes de Ash ter o seu verdadeiro Pokémon Inicial institucionalizado e oficializado pela Liga Pokémon, agindo mais como um pet para o garoto, estavam acontecendo.
Diante de tamanho estranhamento, Todd Snap se viu obrigado a puxar seu amigo Tracey pelo braço e chamá-lo para uma conversa:


Tracey imediatamente para o rascunho que estava fazendo de seu próprio Marill e se levanta do puff no qual estava confortavelmente atirado, indo para um cantinho com Todd Snap para que pudessem ter privacidade.
















De repente, Ash aparece atrás dos dois amigos. Ele havia ouvido tudinho e tinha ciência de que seus novos companheiros de viagem, que compartilharam muitos momentos felizes ao seu lado, estavam preocupados com ele. Então ele achou justo que eles soubessem a razão pela qual o humor de Ash foi aniquilado quando soube da presença de Ritchie nas Ilhas Laranja.
Ash tomou coragem e começou a contar tudo, tintim por tintim, despejando todas as suas inseguranças e receios diante do turbilhão que estava sua vida ultimamente, e como ele tinha usado sua viagem nas Ilhas Laranja para se esquecer de todos esses traumas, mas que foram acidentalmente revividos com a menção do nome do irmão.








Ash força um sorriso, mas era nítido que ele estava extremamente triste por dentro, devastado.







Todd Snap e Tracey Sketchit ficam perplexos com a atitude de Ash, mas o garoto de Pallet estava 100% decidido. Nada do que seus amigos falaram para Ash logo em seguida pôde fazê-lo mudar de ideia. Ele faria aquilo, de uma forma ou de outra. Ele só precisava encontrar esse tal Ritchie, e uma vez que o fizesse... Bom, as coisas não seriam nada belas.
Na manhã seguinte, Ash foi o primeiro a se levantar. Ele não havia dormido direito. Afinal, quem conseguiria pregar os olhos vivendo sob tamanha pressão? A cabeça de Ash estava fervendo com pensamentos intrusivos que o faziam ter ÓDIO de Ritchie, mesmo sem nem ao menos conhecê-lo pessoalmente.
Toda a confiança que o garoto de Pallet havia adquirido em sua jornada anterior, ao lado de Pikachu, Misty e Brock, se foi por água abaixo. Todos os seus sonhos de reencontrar o pai, que está viajando o mundo em uma jornada supostamente interminável, foram destruídos de uma hora para a outra, e sua mãe... Oh, sua pobre mãe!
Ash estava tão obstinado em sua jornada, que achava um SACO ter que ficar falando com ela no telefone todo santo dia (e em alguns dias, mais de uma vez!). Mas agora... Agora Ash sentia REMORSO por destratá-la, pois ele não sabia o que ela estava enfrentando sozinha por, bem, todos esses anos!
O garoto era tão inocente, mas tão inocente, que ele jamais percebeu o peso que a coitada arduamente carregava em suas costas, praticamente a esmagando. Mas em todos esses anos, ela havia se segurado para não deixar que essa pedra caísse sobre seu precioso filho. Ela ficou em silêncio para PROTEGER Ash e agora... Bem, agora toda a sua inocência tinha sido arrancada de si com força, e nada poderia doer mais do que isso.
Ash se achava praticamente um adulto por já correr o mundo sozinho em suas jornadas Pokémon... Bem, AGORA ele tinha problemas de Adulto! E adivinha só: Ele se deu por conta que não era bem assim... Ele não estava pronto para superá-los.
Era tipo 07:30h quando Ash se escovou e se vestiu, descendo dos dormitórios que ficavam no segundo andar e indo em direção ao hall do Centro Pokémon. Tracey, Snap e até mesmo Pikachu, continuavam dormindo. Usualmente, ninguém se acordava antes das 09:00h da manhã, então ainda era bastante cedo para eles.
Mas se Ash não tivesse se levantado naquele momento, talvez ele não tivesse tido a chance de encarar os seus problemas de frente! Ali mesmo, parado diante da Enfermeira Joy, que curava seus Pokémon, estava ele: Ritchie, o menino que Ash mais odiava no mundo, com todas as suas forças, por fazer sua mãe (e agora ele) sofrerem.
Assim que o viu, um misto de nervosismo com sangue quente tomou conta do sistema de Ash. Suas mãos tremiam e ele tinha vontade de chorar, mas se conteve. Ele sabia que se começasse agora, não iria mais parar. Então reuniu toda a sua força e coragem, que a estas alturas, já eram quase inexistentes, e se aproximou do menino de costas, cada passo parecendo uma marcha rumo ao inferno. Ele não queria ir, mas se obrigava.
Então, quando chegou próximo o suficiente, tocou sobre o ombro do garoto de cabelos castanhos e de boné azul (o mesmo azul das roupas anteriores de Ash). Ritchie se virou e, para a surpresa de Ash, estava com um sorriso enorme no rosto. Ash se viu naquele sorriso. Aquele era ele ANTES de saber de tudo o que sua mãe o contou. Até mesmo a posição do Pikachu de cabelinho espetado no ombro do garoto era IGUAL a como o próprio Ash costumava ser antes de ter sua inocência destruída.

Ash permaneceu em silêncio. Sua cabeça estava a mil, os pensamentos indo para lá e para cá em um turbilhão. Ele tinha tanta coisa para dizer, mas naquele momento, não conseguia se decidir sobre o que falar primeiro. Ele até se esqueceu como falar.


De repente, Ritchie pegou Ash de surpresa! Ele não esperava que o garoto dissesse aquilo.


Aquilo desestabilizou Ash de uma maneira, que ele sentiu suas pernas tremerem. Ele não estava preparado para ouvir o que acabara de ouvir.




Ash ficou sem reação. Não era aquilo que ele esperava de Ritchie. Ash estava "pronto" para despejar toda a história que vinha amargurando seu coração esse tempo todo, mas ao ser confrontado com um sorriso gentil e carismático, talvez até meigo, mas principalmente INOCENTE, por parte de Ritchie, ele ficou sem saber o que fazer.

Essa foi a primeira coisa que veio à cabeça de Ash naquele momento. Uma batalha. Talvez ele pudesse compreender melhor quem Ritchie era e como as coisas haviam chegado a esse ponto por meio de uma partida. Batalhas Pokémon são um esporte como outro qualquer, e através dos esportes, as pessoas demonstram mais sobre elas mesmas do que jamais imaginariam... O corpo fala mais do que a boca. E talvez assim, Ash pudesse resolver este impasse com o garoto, que para falar a verdade, NEM SABIA que o Ash tinha um impasse com ele...
E isso elevava o problema para um proporção ainda mais extrema, tornando-se ainda mais difícil de lidar: Ritchie NÃO SABIA quem Ash verdadeiramente era. Seu meio-irmão, por parte de pai. Então Ash pensou que durante a batalha, ele conseguisse se soltar e contar o que PRECISAVA contar a Ritchie, só não sabia como.

Assim, Ash e Ritchie dirigiram-se aos fundos do Centro Pokémon, onde uma arena de batalha se estendia diante deles, ao ar livre, como uma quadra de vôlei de praia, só que sem a rede. A areia era branquinha e as ondas do mar iam e vinham em sua direção, criando uma ambientação totalmente oposta à paisagem mental na qual Ash se encontrava no momento.
Nosso protagonista respirou fundo enquanto segurava a pokébola de seu primeiro Pokémon, ponderando se deveria lançá-lo mesmo ou não.


Não parecia nada ótimo. Ash queria vazar dali. Deixar o país, se pá, escapulir do Planeta Terra. Mas ele aguentou firme e por mais que sua barriga doesse, as entranhas se contorcendo de tensão, ele seguiu em frente, determinado a fazer o que tinha que quer feito.



Ritchie então pega a sua própria Pokédex para analisar Kingler. Até isso ele tinha igual a Ash! Mais um motivo para nosso herói sentir ciúmes.



Veepy era o nome do Eevee de Ritchie, que emergiu da Pokébola tão sorridente quanto seu treinador. Ash, por outro lado, estava agoniado. Normalmente, as batalhas Pokémon lhe eram prazerosas, mas aquela ali, embora ainda nem tivesse começado, estava sendo penosa.



Ash apenas assentiu com a cabeça. Ele gostava de pensar que estava sendo cauteloso com as palavras, mas no fundo, no fundo, ele estava com medo.


Então, a batalha teve início com a primeira movimentação de Eevee, que começou a correr pelo campo de batalhas em disparada, criando duplicatas perfeitas de si e deixando Kingler sem saber onde mirar.



Kingler, por sua vez, tentou soprar as mesmas bolhas que deram a Ash a vitória no desafio de Cissy, mas diferentemente das latinhas de refrigerante, que estavam paradas em uma posição fixa, Eevee estava correndo, e para piorar, havia muitos deles. O golpe falhou...

O verdadeiro Veepy então corre para cima de Kingler e o derruba com um jogo de corpo amplificado pela gravidade, causando mais danos que o habitual, mas o próprio Eevee parece sentir os efeitos colaterais do golpe no processo.

O Rei dos Siris então projeta sua pinça gigantesca na direção do Eevee que havia acabado de derrubá-lo e ataca, mas Eevee rapidamente escapa do ataque correndo.






Além de sorridente e confiante, Ritchie parecia ser um cara legal, o que deixa Ash em maus, ou melhor, PÉSSIMOS lençóis. Como Ash poderia acabar com a alegria de um jovem assim? E foi nesse momento, enquanto nosso treinador favorito estava distraído em seus próprios pensamentos, que Eevee acertou mais um golpe, derrubando Kingler novamente. O crustáceo era pesado e seu exoesqueleto era rígido, o que tornava difícil para ele se desvirar. Ash soube que tinha que acabar com aquilo de uma vez por todas.


Kingler ergue-se novamente com a ajuda de sua pinça grandiosa e a fecha em torno do pescoço do pequeno Eevee, levando à derrota instantaneamente. Parece que Ash já começou em vantagem, embora de uma maneira forçada, que não era o seu estilo preferido de luta.






Kingler segue apontando perigosamente suas pinças na direção do oponente, mas ao se aproximar o suficiente de Tentacruel, o crustáceo percebe que não consegue fechá-las em torno da pele esponjosa e fofa de seu adversário.



Tentacruel rapidamente esguicha um líquido verde corrosivo que atinge o exoesqueleto de Kingler, enfraquecendo-o de tal maneira, que a Defesa Especial do Pokémon de Ash foi imediatamente prejudicada.

Na sequência, Tentacruel muda o fluido que está esguichando: de ácido, ele passa para água, e o golpe atinge Kingler com uma força além da esperada, levando o Pokémon caranguejo a nocaute e trazendo aquela disputa ao primeiro empate.
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Ash recolhe Kingler de volta à pokébola enquanto sua cabeça não para de martelar a seguinte frase: "Ele me derrotou, ele é melhor do que eu. Ele me derrotou, ele é melhor do que eu. Ele me derrotou, ele é melhor do que eu." Claro que Ash sabia que aquilo era irracional e que todo aquele drama havia começado por conta de um gatilho que ele tinha, mas não havia razão que freasse o turbilhão de emoções que o garoto de Pallet estava sentindo nesse momento.
Ash encarou Ritchie nos olhos e abriu a boca para falar tudo o que ele tanto queria falar, mas nesse mesmo momento, Ritchie perguntou:


O segundo combatente de Ketchum era nada mais nada menos o Pokémon que outrora fora cor-de-rosa, um importante lembrete de que cor não define gênero, muito menos personalidade. Afinal, Primeape estava longe de ser uma patricinha de Beverly Hills, ele era um Pokémon astuto, de músculos rijos e temperamento explosivo.

Ritchie pega instantaneamente a sua pokédex, que era igualzinha à de Ash, para analisar:

Ash, sabendo que Ritchie era de Kanto, se perguntou se Ritchie havia conseguido aquela pokédex com o Professor Carvalho e se, para fazer isso, o garoto teve de ir até a Cidade de Pallet, sem saber que a algumas quadras de distância, o meio-irmão estava morando sozinho com a mãe, abandonado por um pai imaturo e irresponsável.

Primeape salta e avança na direção de Tentacruel, desferindo um poderoso murro na cara do Pokémon água-viva, que não tem para onde escapar. O golpe é um acerto crítico e o Pokémon de Ritchie fica automaticamente fora de combate...



Como Ash poderia ficar com raiva de Ritchie se o menino continuava o elogiando? Nesse momento, Ketchum enfrentava uma mistura de sentimentos conflitantes em seu peito que estavam prestes a fazê-lo explodir.




Por mais que Ash desejasse se concentrar única e exclusivamente na batalha, sua mente acabava vagando entre o desejo de contar toda a verdade para Ritchie, que parecia alheio à situação, e o medo de fazê-lo.
Em contrapartida, assim como Ash pensava que uma batalha podia revelar os sentimentos de Ritchie a ele, o contrário também era verdadeiro. Ritchie sentia como a áurea de Ash estava pesada e como seus Pokémon estavam reagindo com raiva e rancor, sincronizados ao pensamento de Ketchum.


Ash é pego de surpresa. Ele não esperava aquela pergunta.

Ash está com a resposta na ponta da língua, mas não consegue se soltar e contar a verdade para o meio-irmão. E isso se torna cada vez mais difícil conforme Ash fica mais e mais exposto ao sorriso inocente de Ritchie. Ash não queria estragar a felicidade dele, assim como foi estragada, a sua.


Ash fica ainda mais paralisado diante da declaração de Ritchie. Como Ash poderia ir contra alguém tão delicado, tão gentil, tão... PERFEITO?!

Primeape, submerso em uma fúria palpável, irrompe em direção a Spearow, pronto para um ataque múltiplo de socos e pontapés imparáveis, mas...

Imediatamente, Spearow voa para o alto e se esquiva habilmente do ataque.

Corajosamente, Spearow abre as asas e plana na direção de Primeape, desferindo poderosas estocadas com o bico, causando dano superefetivo contra o macaco-porco.




Primeape sacode a cabeça e se levanta novamente, ainda mais furioso do que antes, pronto para dar um direto no queixo em Spearow.

Ash nem precisava ter dito aquilo, pois mesmo que não desse nenhum comando ao seu Pokémon, ele seguiria tentando esmurrar Spearow. Primeape era do tipo que jamais pararia até ver seu oponente no chão.


Tal e qual a enciclopédia eletrônica havia anunciado, aconteceu. Spearow se cansou de fugir voando e Primeape conseguiu lhe atingir um, dois, três... cinquenta golpes consecutivos, esmurrando a ave que atendia aos comandos de Ritchie e levando-a ao extremo.



Spearow cai no chão, deveras ferido, e naquele instante, quando tudo parecia estar acabado, um facho de luz branca atingiu seu corpo, que instantaneamente começou a passar por uma metamorfose. As asas, que outrora não podiam alçar voo por muito tempo por serem curtas demais, agora impressionavam em sua envergadura. O bico, antes pequeno e curvado para baixo, agora era comprido e fino, uma saliência pontiaguda que se assemelhava a uma agulha projetando-se de sua face. As garras nos pés ficaram mais afiadas e a crista sobre sua cabeça, que agora lembrava um moicano, servia-lhe de coroa.
Fearow bradou furioso, com sede de vingança pela surra que tomou de Primeape.


Ketchum encara o Pokémon sem piscar. Ele jamais poderia pensar que seria o responsável por engatilhar a evolução de um Pokémon do seu maior rival, aquele que tinha do mesmo sangue que ele, mas uma vida totalmente diferente. Uma vida que Ash queria ter tido, mas nunca pôde...


Fearow desce dos céus em um rasante, mirando seu bico em direção a Primeape. Mas desta vez, a protuberância aguçada girava em alta velocidade, como uma furadeira, indicando que não apenas Spearow havia evoluído, como também o seu movimento, que agora era chamado de Bico-Broca!
Bastou um golpe do superefetivo Bico-Broca para varrer Primeape da partida, levando-o a nocaute. Ash arregalou os olhos, ainda incrédulo que ele havia causado a evolução do próprio adversário, e em sequência, já sacou sua próxima pokébola, percebendo estar diante de uma ameaça maior do que ele pensava inicialmente...


A próxima escolha de Ash é o lodoso Muk, cujo corpo fétido consistia em resíduos poluentes derretidos.

Ritchie pega sua pokédex para analisar Muk.



Apesar de parecer uma grande gosma mole e derretida, Muk consegue ter certa agilidade em abrir sua bocarra e expelir bombinhas de lodo tóxico, atingindo e contaminando Fearow com sua peçonha.

Em contrapartida, Fearow se aproxima com seu novo e alongado bico e o mira contra o corpo lamacento de seu adversário. No entanto... Como Muk é extremamente mole e, portanto, maleável, era como tentar furar água. Os golpes de contato direto eram totalmente amortecidos pelo Pokémon de Ash, ao passo que o bico de Fearow agora estava todo sujo e fedendo. Imagine esfregar o seu nariz na maior pilha de lixo do mundo! Fearow estava em apuros!

O Pokémon de Ritchie se contorcia e retorcia com a reviravolta inesperada. Esse era o momento perfeito para Ash atacar.

Aproveitando-se que Fearow estava momentaneamente incapacitado de atacar, por conta do agonizante "aroma" impregnado em suas narinas, Muk atinge o pássaro com um punho extremamente enrijecido, contrariando todas as expectativas.


Fearow rapidamente transforma seu bico em uma furadeira e o mira justamente no punho energizado de Muk. Como o punho estava rijo, Feappo pôde acertá-lo com êxito!

Ash agora estava começando a se concentrar de verdade na batalha, esquecendo-se por um breve momento de sua angústia.





Muk solta tiros de lama, desta vez sem veneno. O golpe não causa dano algum em seu alvo, mas Muk expele uma quantidade tão grande de barro que pesa Fearow e faz com que o Pokémon caia, perdendo completamente a estabilidade do voo.

Muk então salta e se atira sobre o corpo estirado de Fearow, esmagando-o como uma prensa.

Fearow cria um redemoinho de lâminas em formato estelar que avançam e geram uma força para cima, libertando-o do apertão mortal de Muk. O golpe é um acerto crítico...

...e não há escapatória para Muk, senão entregar-se.
Esta é a segunda vitória consecutiva de Fearow. Ash precisa ser cauteloso, pois está lidando com um oponente difícil. Somado à preocupação da batalha em si, após um breve momento de esquecimento, Ash torna a se afligir por conta de seu terrível objetivo de contar a Ritchie toda a verdade, algo que ele não tinha a menor ideia de como iria fazer.
Nisso, Ash começou a sentir uma dor no peito. Literalmente. Ele sentia como se seu coração estivesse disparado e toda essa angústia estivesse fazendo uma pressão sobre o peito do garoto, causando ainda mais aflição.


Ash começa a ofegar, mas ele precisa manter a calma e a concentração. Ele está no meio de uma disputa, muito mais do que contra Ritchie, mas contra si mesmo.


A próxima escolha de Ash é seu Lapras-bebê, que emerge da pokébola com um sorriso simpático no rosto, tal como o de Ritchie. Pensar que Lapras e Ritchie poderiam ser bons amigos só deixou Ash ainda mais mal.

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Então, com uma baforada criogênica, Lapras solta rajadas de automaticamente transformam Fearow em pedra sólida, finalmente derrubando o poderoso "ás aéreo" de Ritchie.

E estavam mesmo. Ash suava frio, seu corpo estava em chamas. Ele sentia uma angústia extrema que agora se projetava em sua garganta, como se uma bola de preocupação houvesse se alojado fisicamente abaixo de seu maxilar, no pescoço, causando uma sensação de peso e náuseas.
Ash virou-se para o canto e vomitou. Ele ainda não tinha tomado o café da manhã, então tudo o que expeliu foi água.

Ritchie corre para o outro lado do campo de batalhas, para acudir Ash, o que só fez o garoto de Pallet sentir-se ainda pior. Por que Ritchie era um cara tão legal? Talvez fosse por isso que o seu pai o havia escolhido ao invés de Ash...
Não. Isso era só mais um pensamento invasivo tomando conta da mente de Ash, tomando se apossar de seu juízo. Ash precisava manter-se firme. Ele precisava seguir adiante com o seu objetivo.

Ash se levanta e coloca-se em posição novamente. Ritchie fica desconfiado.



Ritchie retoma sua posição no campo e a batalha continua.

A próxima Pokémon de Ritchie era Happy, uma Butterfree, e Ash nem precisava olhar na Pokédex, pois ele próprio tinha uma, então era uma espécie que ele conhecia como a própria palma. A Ritchie, no entanto, era fêmea, e o de Ash, era macho.


Butterfree então balança suas asas, deixando escamas microscópicas caírem na direção de Lapras...

O Pokémon de Ash então se arrasta pela areia da praia e vai em direção ao mar. Ele entra e desaparece na água, e os esporos de Happy não podem alcançá-lo, sendo totalmente inutilizados.



Lapras emerge a cabeça para fora e sopra novamente suas rajadas criogênicas contra o oponente. Mas Ritchie foi rápido no contra-ataque.

Butterfree ergue uma barreira protetora, um campo de força que anula toda e qualquer tentativa de Lapras de causar danos.

Com a falha do Raio Congelante, a barreira protetiva de Butterfree se desfaz, então Lapras pode acertá-la com um golpe direto. O Revólver d'água causa um esguicho potente que encharca as asas de Butterfree de tal modo, que elas ficam pesadas demais para voar.

Ash permite se levar pela batalha e pela primeira vez desde que tudo isso começou, ele se deixa sentir-se empolgado. Agora com Butterfree no chão, a batalha estava ainda mais fácil. Isso se Ritchie não tivesse um plano na manga...

Butterfree ataca e ao mesmo tempo se liberta até mesmo das gotículas mais microscópicas d'água que a estavam aturdindo. Mas Lapras não fica parado, esperando sofrer danos...

Lapras combate a ventania de Butterfree com outro ataque que produz uma rajada de vento, a Nevasca.
Ambos os golpes colidem no ar e anulam um ao outro. Nenhum dos Pokémon sofre danos. Ash e Ritchie então preparam seus combatentes para a investida final!


Ao mesmo tempo, Lapras e Happy atacam. Enquanto Lapras sopra uma rajada de chamas dracônicas azuis que serpenteiam perigosamente em torno das asas de Butterfree, Happy envolve o Pokémon de Ash com uma pressão telecinética que o aperta e o estrangula.


Com ambos os Pokémon ficando fora de combate ao mesmo tempo, os treinadores sacam suas pokébolas e os fazem retornar. O desafio da batalha está ficando cada vez mais intenso, ao passo que Ash parece prestes a explodir.
Há tanta pressão em sua cabeça nesse momento, que se colocassem um ovo em uma panela sobre ela, sairia frito.
Nosso treinador de Pallet está suando, vertendo água. Sua testa pinga, escorrendo em direção aos seus olhos, mas ele mantém o olhar fixo em seu oponente e na batalha que se desenrolava à sua frente, muito embora com esforço e dificuldade, já que tudo o que ele queria naquele momento, era fugir para bem longe dali, enfiar-se em um buraco e de lá nunca mais sair.
Mas era um mal necessário.
Ash PRECISAVA falar com Ritchie. Entrar em contato com o seu irmão e contar toda a verdade. A questão era COMO fazer isso.




A próxima disputa esta prestes a ocorrer entre Charizard e Tauros. Ambos os Pokémon eram movidos por uma força ardente, preenchendo completamente o campo de batalhas com sua presença.



Da boca de Charizard, uma bola de fogo se projeta e voa em direção a Tauros. O golpe, que era o mesmo utilizado por Lapras para nocautear Happy, a Butterfree, tinha uma aparência diferente da do Pokémon de Ash. Aqui, ele era amarelo e alaranjado, da cor de fogo mesmo, refletindo a afinidade de Charizard com o tipo Fogo, enquanto o de Lapras era azul. Os efeitos, entretanto, eram os mesmos!
A bola explode no rosto de Tauros, que fica irritado, conforme seu HP despenca em 40 pontos de uma só vez.




Ambos os Pokémon, furiosos, investem um contra o outro e o esperado acontece: uma colisão frontal de proporções sísmicas! Vence, no entanto, Tauros, cuja força nos chifres supera a de Charizard e empurra o falso dragão para longe, fazendo-o desabar.




Com destreza, o ferido Charizard ergue a cabeça e sopra uma rajada de chamas violenta em espiral contra Tauros, prendendo o Pokémon de Ash em um ciclo vicioso. Agora, toda vez que Tauros se mover e atacar, ele será consumido pelas chamas do Redemoinho, que crescem ao seu redor e o consomem lentamente.





Ash deixa escapar. Quando percebeu, ele já havia falado. Bem, não havia sido tão difícil quanto ele pensava que seria, certo?
Errado.


Ash amarelou. Quando colocado contra a parede, ele não conseguiu dar o passo necessário... Ash precisava de um empurrãozinho ou talvez um pontapé... E essa era a palavra perfeita para o momento, considerando que Zippo, o Charizard, vinha aí com um golpe físico frontal contra Tauros, envolvendo seus pés em energia ardente!

Charizard parte para cima de Tauros, ainda cercado pelas chamas espirais do Redemoinho de Fogo, acertando um chute diretamente na testa com três pontos do bovino endiabrado. Tauros não gostou nadinha da recepção calorosa de Charizard e devolveu com um chute traseiro, apenas para ser pego pelas chamas novamente e levar ainda mais dano...



Tauros muge, contrariado, enquanto Charizard dá risada. Mas as coisas não estavam indo tão bem para o seu lado quanto ele pensa...


Os três pontos na testa de Tauros se iluminam com um brilho laranja vivo, e tão rápido quanto o bater de asas de Charizard para tentar se esquivar, lançou-se uma rajada de plasma quente e altamente energética.
O impacto, contra as costas do lagarto de fogo, resulta em uma explosão que levanta poeira pela praia, e com certeza depois dessa, ninguém mais estava dormindo no Centro Pokémon ao lado. Charizard é nocauteado.





Não estava nada bem. Isso era óbvio. Nítido. Mas Ash não queria se abrir com Ritchie. Toda vez que o garoto perguntava, percebendo o que estava acontecendo com seu adversário, Ketchum desviava do assunto e voltava a focar na batalha.
Desta vez, Ash não respondeu diretamente ao questionamento de Ritchie, mas também não se absteve de dar uma resposta.

Ritchie, sem conseguir desvendar os mistérios por trás das falas de Ash, crê que se ele vencer aquela partida, poderá arrancar do garoto de Pallet tudo o que ele estava escondendo. Nessas alturas, já não dava mais para disfarçar, Ash claramente estava passando por alguma situação, mas não queria falar para Ritchie. Estava explícito na cara de Ash, não havia como negar.
Então, preparando-se para a última rodada deste confronto, Ritchie convoca seu último Pokémon...


Sparky, o Pikachu de Ritchie, que tinha um penteado maneiro, desce de seu ombro e se coloca em campo, em posição de batalha.


Não, não podia ser!







Ash não podia acreditar no que havia acabado de ouvir. Seu pai havia mesmo dado um Pikachu para ambos os filhos... E por ideia DA MÃE DELE!!!
Ash sentia-se enojado, mais do que quando vomitou. Que homem desprezível! Como ele podia ter feito aquilo com Ash? Como ele podia tê-lo abandonado e depois tentado "reiniciar do zero" com a família de Ritchie? Como Ash podia ter sido colocado de escanteio? Como ele podia ter sido completamente negligenciado dessa maneira, e o outro filho não?
O que dava mais nojo ainda era saber que seu pai o estava "acompanhando" à distância enquanto Ash se aventurava em suas jornadas Pokémon, mas sequer apareceu para lhe parabenizar por uma vitória que fosse, ou para, ao menos, lhe dar algumas explicações... Pelo contrário, o homem ficava agindo pelas sombras, com medo de encarar as consequências dos próprios atos e só tornando isso ainda pior.
Agora, uma única palavra ecoava na mente de Ketchum: "Covarde". E não era porque Ash não encontrava coragem para dizer o que sentia a Ritchie, mas porque ele finalmente se deu conta de quem seu pai verdadeiramente era...
Um imbecil CAGÃO.

De repente, Ash dá a volta por cima. Ele limpa o suor da testa com a luva e volta sua concentração para a batalha, com um novo ânimo e a energia renovada. Ele chegou à conclusão por si só, depois de muito sofrer, que o responsável por essa cagada toda não era ele. Então, não era responsabilidade DELE contar ao Ritchie... A responsabilidade era do covarde do pai deles, que não tinha coragem de assumi-lo como filho legítimo. Ele que tinha que passar por essa humilhação, e não Ash.



Como Tauros havia derrotado Charizard com o Hiper Raio, ele não precisava ficar parado para recarregar (1ª geração, guys), então o bovino rapidamente emendou um segundo movimento e começou a replicar sua própria imagem diversas vezes, preenchendo a quadra em instantes. Mas aquela era uma disputa entre dois treinadores, e não um confronto entre dois Pokémon selvagens... Vencia quem tinha as melhores ideias e a melhor imaginação.

Sparky começa a correr e sua velocidade se amplia drasticamente conforme ele vai investindo contra cada uma das cópias de Tauros e, ao colidir com elas, desfazendo-as em um borrão que logo se apaga, como se nunca tivesse existido. Leva pouco menos de 5 segundos para Pikachu ter anulado toda a tática esquiva de Tauros e o campo de batalhas retornar à sua ocupação normal.


Pikachu desprende uma descarga elétrica a partir de seus pelos, enviando um raio através do ar que rasga o campo de batalhas e a certa Tauros, levando-o ao último mugido...




Ash retorna Tauros à sua cápsula e começa a refletir... Ele queria usar o seu Pikachu agora, mas ele estava dormindo com Snap e Tracey lá no Centro Pokémon... Seria uma batalha de proporções épicas. Pikachu contra Pikachu... Ambos os "pets" que foram dados aos seus filhos, em um confronto único. Mas Ash se perguntou se usar um Pokémon Elétrico contra outro de mesmo tipo, seria uma boa ideia... Pela primeira vez, ele decidiu refletir sobre as tipagens e, por alguma razão, achou melhor lutar com o que tinha em mãos, afinal, quanto mais DIFERENTE ele fosse de Ritchie, melhor. Ele só queria se distanciar de toda essa confusão, e se os times dos dois eram parecidos, que essa coincidência ficasse no passado!






Pela primeira vez desde que aquele INFERNO de partida começou, Ash se permitiu soltar um leve um sorriso. Ele finalmente estava SOLTO.

As bochechinhas elétricas de Sparky começam a fagulhar, soltando faíscas que correm pelo campo de batalhas em velocidades impressionantes, na tentativa de paralisar o adversário. Snorlax, no entanto, absorve as ondas muito bem com sua camada espessa de gordura e as evita completamente.

Com um rugido gutural parecendo um ronco, o Pokémon ursídeo salta e energiza o punho com temperaturas criogênicas, voando para cima de Pikachu e espancando-o com um golpe gelado.
Ao ser atingido pelo murro, com o menor contato com a pele resfriada de Snorlax, Pikachu começa a congelar e, de repente, se vê preso em um bloco de gelo, seu próprio corpo transformado em um picolé amarelo.



Snorlax salta e, com a ajuda da própria gravidade, utiliza seu peso corporal para prensar o agora imóvel Pikachu contra o chão, aniquilando toda e qualquer esperança de Ritchie em vencer aquela partida.




Ritchie recolhe seu Sparky de volta à pokébola e se aproxima de Ash, para congratulá-lo pela vitória.


Ash cria coragem e, diante do sorriso desarmante do irmão, estende a mão para Ritchie, algo que ele jamais pensou que faria, ainda mais odiando-o tanto por dentro.
Quando Ritchie aperta a mão de Ash e o treinador de Pallet sente o calor do irmão entrando em contato com o corpo dele pela primeira vez, ele finalmente percebe que não é Ritchie a quem ele deve odiar... Ritchie também não tem culpa de nada, assim como ele... Ash estava direcionando seu ódio para a pessoa errada, um inocente.
E por falar em inocente, Ash agora tinha convicção de que ele deveria permanecer assim... Contente, sorridente, sem saber das atrocidades que envolvem a sua família. Talvez fosse melhor assim... Melhor ficar no escuro, sem saber da verdade, e viver feliz, do que saber de tudo, mas andar se arrastando por aí, mergulhado em infelicidade, derrotado, como Ash vinha fazendo...
Mas por alguma razão, algo dizia a Ash que o silêncio absoluto também não era a resposta. Ele precisava dar um sinal. Precisava mostrar que estava ciente dos fatos e que agora seria tarde demais para tentar reverter qualquer injustiça causada contra ele...


Como quem não quer nada, Ash fala do autógrafo, uma maneira que sua mente sábia encontrou de mandar uma mensagem para o vagabundo do seu pai.

Ash entrega o papel e a caneta para Ritchie, que lê o bilhete, com atenção, sem entender nada...
Eu já sei de tudo,
Com carinho e consideração,
Ash Ketchum!



Deu certo.




Dez minutos depois, quando Ritchie já havia ido embora, Ash foi encontrado por Pikachu, Tracey e Snap, contemplando a imensidão do mar, sentado com as pernas cruzadas na areia da praia. Ele estava tranquilo e sossegado, pela primeira vez em muito tempo.




Ao dizer aquilo, o rosto de Ash se iluminou e seus amigos perceberam que algo havia mudado. Seu amigo estava de volta!
O Estádio Pummelo estava lotado. Os insulanos haviam vindo de todos os cantos das Ilhas Laranja prestigiarem a grande batalha contra Drake, o Líder de Ginásio Supremo e Campeão da Liga.





Drake assopra um apito em formato de pokébola no colar que ele tinha ao redor do pescoço. Então, invocada pelo som que se amplificou com os microfones, a criatura descrita como "legendária" começou a surgir do oceano, que misteriosamente ficou encoberto por uma névoa sinistra. De dentro da água, o ser colossal emergiu, cada passo ecoando e formando ondas em direção à praia. Conforme se aproximava do Estádio, dava para perceber que seus olhos brilhavam, enchendo o coração de Ash de excitação.
Tão grande que sua cabeça alcança a altura do farol da Ilha, um Gigante Dragonite se pôs de frente a todos, em meio à multidão de expectadores e rugiu ao chegar, marcando o início daquela batalha.

E como se o desafio de enfrentar um Pokémon gigantesco não bastasse, logo no início, Dragonite convoca dois Rhyhorn que viviam por ali para lutarem ao seu lado.
Ash olhou para os TRÊS Pokémon que tinha que enfrentar de uma só vez e se perguntou se seu pai o estava assistindo, onde quer que estivesse. Ele só queria ter visto a CARA que o homem certamente fez quando recebeu o bilhetinho junto ao autógrafo entregue por Ritchie.
Então, antes que voltasse a se preocupar com o que não deveria, Ash balançou a cabeça e disse para si mesmo para deixar para lá. Não era mais problema dele! Nunca foi, na verdade. O único problema estava à frente de Ketchum neste exato momento e ele sabia que precisaria manter a mente limpa e tranquila, longe de qualquer turbulência, se quisesse vencer. E assim, nosso herói ergueu a cabeça e foi à luta!
[Fim]
Disclaimer: Oi, o meu nome é Kevin e eu sou um homem adulto que gasta horas e horas de seu precioso tempo escrevendo e editando fanfictions de Pokémon por pura diversão! Eu não recebo um centavo por isso! Nunca recebi uma doação sequer para apoiar minha produção! Todo o meu trabalho é movido puramente por amor à franquia e eu o faço para me sentir feliz, o que geralmente acontece toda vez que eu termino um capítulo, e mais ainda, quando eu termino uma história. Então, se você chegou até aqui, não esqueça de deixar um comentário abaixo, caso contrário, não tem como eu saber se estão gostando ou não, nem receber sugestões de melhoria. Vamos lá, comente! Assim como eu escrevo sem receber nada por isso, comentar também é de graça e ajuda o autor a entender melhor os seus erros e aprimorar a escrita.
2 Comentários
Amigo, esse capitulo ficou sensacional, eu achei maneiro vc por a ideia do Richter ser irmão do ash ja que são parecidos kkkkk, entendi algumas referencias e outras eu devo ter perdido, mas a batalha pra mim ficou bem interessante. Ficou foda mano, parabéns :D
ResponderExcluirObrigado pelo apoio! Fico muito feliz que tenha gostado!!! Só tenho a agradecer!!!!
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