[One-Shot] Pokémon Laços: Orange


Ash Ketchum nunca esteve mais feliz. Um ano se passou desde que ele iniciou sua jornada e formou seu primeiro time de Pokémon, mas suas inocentes e despretensiosas aventuras por Kanto foram só um prólogo, um pontapé inicial do que estava por vir.

Mesmo tendo se passado tão pouco tempo, agora com 11 anos, quase 12, Ash já coleciona muitas histórias para contar... Em suas aventuras iniciais pela sua Região Natal, em busca das famosas Insígnias de Ginásio, o garoto pode enfrentar diversos treinadores formidáveis... Dos mais justos e nobres...




...Até os mais cruéis e perversos, que utilizavam os Pokémon como meras ferramentas para atingirem seus objetivos pessoais e privados.





Ao fim de um ano, ele conseguiu coletar as 8 insígnias de Ginásio da Região, mas ele não fez isso sozinho. Fez com a ajuda de seus amigos, os Pokémon, que agora formavam um vínculo excepcional com o garoto, que tanto se importava com eles. Mesmo os mais rebeldes, como Charizard (que parecia gostar de torrá-lo frequentemente com o Lança-Chamas, assim como fazia com seu antigo treinador), tornaram-se verdadeiros companheiros e NUNCA os deixaram na mão.


Durante doze meses de desafios e peripécias, Ash acompanhou seu time crescer e evoluir, à medida que aprendiam novos movimentos e assumiam novas e mais poderosas formas através da Evolução. Bem... Nem todos. Afinal, seu Bulbasaur havia se recusado a evoluir após uma reunião secreta na floresta com um bando de Ivysaur e Venusaur (mas isso é mero detalhe!)...


E não foram apenas os Pokémon que Ash colecionou em seus primeiros momentos de aventura... Não, ele também fez amigos humanos. Amigos esses que Ash viu amadurecerem e brilharem... Misty, a garota reclamona que odiava Pokémon de tipo Insetos, aprendeu a amá-los após conviver com a Butterfree de Ash, e no fim das contas, acabou se tornando aquilo que sempre quis: A mais sensacional das Irmãs Sensacionais, assumindo o posto de Líder de Ginásio da Cidade de Cerulean.


E Brock, que após participar da Conferência da Liga Índigo daquele ano, conseguiu receber a bênção do pai para retornar para casa e assumir o Ginásio de Pewter, agora com conhecimento novo sobre a arte de ser um Criador, adquirido após tudo o que viveu e aprendeu ao lado de Ash e Misty.


Ash não poderia estar mais feliz pelos seus amigos. Inclusive, ele foi a pessoa que mais vibrou na plateia quando Brock e Misty, que de última hora decidiram que enfrentariam a Liga Índigo daquele ano, após serem aprovados no programa de Admissão na Liga Pokémon, sem que precisassem passar por todos os 8 ginásios necessários para entrar na Conferência do Planalto Índigo. Para isso, eles deveriam passar por uma série de provas e exames, garantindo assim uma única insígnia capaz de substituir todas as outras... Mas Ash ZEROU a prova teórica, sendo esta a única Insígnia de Kanto que ele não conseguiu coletar em sua jornada...


Afinal, quem poderia imaginar que aquilo não era um Electrode, e sim, um Jigglypuff visto de cima, não é mesmo?


Mas havia algo em sua jornada que o estava aborrecendo... O jeito como sua MÃE o tratava!!

Desde que Ash saiu de casa, Delia Ketchum enchia o saco do garoto para que toda vez que ele chegasse a um Centro Pokémon, fizesse uma chamada de vídeo com ela. Coitada, ela estava preocupada, afinal, o garoto era apenas uma criança e estava sozinho se aventurando mundo afora, o que poderia (e com certeza era) muito perigoso! Tudo o que Delia fazia era cuidar de seu pequeno Ash. Mas "pequeno" era uma palavra que nosso treinador de Pallet queria evitar. Para ele, ele já era um adulto e deveria ser tratado como tal. Como o próprio dizia "já estavam crescendo pelos no seu peito"...

Contudo, Ash estava LONGE de ser gente grande. Qualquer um que o visse de fora poderia perceber que a obviedade de que ele recém estava engatinhando para fora do ninho. Mas uma vez fora, ele estava começando a achar que era o dono da verdade e que não precisava ser, em suas próprias palavras, "paparicado toda hora".



Eis que, em um dia qualquer, enquanto Ash estava testando a sorte na Rota 21, após um almoço solitário sem a companhia de seus então companheiros de viagem, Brock e Misty, o garoto tem um ideia...


 Pikachu! Eu acabo de pensar uma coisa...
 Pika?!
 A minha mãe tem se sentido muito só depois que eu saí em jornada, então que tal... SE EU CAPTURASSE UM POKÉMON para fazer companhia a ela?
 Pika, pika!
Pikachu sorri, a ideia lhe parece interesse...
 Yeah! É isso o que eu vou fazer! Se prepare, Pikachu! Vamos encontrar um Pokémon e dar a ela de presente!
Ash se levanta e, ao invés de desmanchar a mesa improvisada sobre um tronco, onde estava realizando seu piquenique, simplesmente sai em direção à grama alta, embrenhando-se ao ponto de não conseguir enxergar mais nada a não ser mato até mesmo acima de sua cabeça.

Então, ele bate em uma parede. Uma parede invisível.
 UGH!
 PIKA!
 Pikachu? O que foi isso?!
Ele tateia o "ar" e percebe que há algo ali, uma espécie de campo de força. Quem quer que tenha feito aquilo, estava agora dando gargalhadas da cara de Ash, como se tirasse uma onda da cara do garoto após inadvertidamente esbarrar de cara na barreira.
 GYA HA HA HA HA HA HA!!!
 Olha ali!
Um Pokémon de expressão um tanto quanto feliz está se fartando de rir. Ash não pensa duas vezes.
 Um Mr. Mime! Ele parece fofo. O que você acha, Pikachu?
 Pika!
 É ELE, então!
Ash puxa a pokébola de Blastoise em seu cinto e então, uma batalha contra o Pokémon brincalhão (para não dizer palhaço) começa. Poucos minutos depois, Ash está com um novo parceiro em mãos, contente por agora ter um presente para oferecer à sua mãe.
 É, depois de tantas aventuras, pegá-lo foi moleza! Vamos voltar para casa, Pikachu?
 Pika, pika!
 Aposto que você está com saudade da comida da mãe tanto quanto eu!
A barriga de Ash ronca com a lembrança dos pratos preparados gentilmente por sua amada mãe, mesmo ele tendo acabado de comer. E assim, com a concordância de Pikachu, o garoto pega suas coisas, arruma sua bagunça (conforme orientado pela vozinha do Brock, sempre ecoando em sua cabeça!) e parte em direção a Pallet, onde tudo começou...


>> Um Dia Depois, na Cidade de Pallet...


Ash chega pé por pé em sua casa, localizada na periferia, afastada do centro da cidade, próximo às grandes plantações de arroz que haviam por ali. Seu objetivo era fazer uma surpresa para sua mãe, que ainda não sabe que ele está retornando.


 *Cochichando* Faça silêncio, Pikachu. Vamos dar um SUSTO nela!
 *Concordando baixinho* Pika!
Então, assim de passa pela porta de entrada utilizando uma cópia da chave de casa (que levou consigo quando saiu em jornada), o menino deixa seus sapatos e caminha descalços, fazendo o mínimo de barulho enquanto se arrasta furtivamente para dentro de seu próprio domicílio.
No entanto, assim que se aproxima das escadas que levam para o seu quarto, localizado no andar de cima, Ash ouve um som estranho... Parecia alguém chorando.
 Mãe?
O garoto corre pelas escadas e abre a porta de seu quarto com força, apenas para encontrar sua mãe em prantos sobre sua cama, arrasada.
 ASH!!!
A mulher leva um susto, não queria ter sido pega naquela situação.
 O que houve, mãe? 😨
O garoto se assusta, ele jamais pensou que encontraria sua mãe assim, com olhos inchados e olheiras profundas.
 Oh, Ash!
Delia se levanta e abraça o filho, apertando-o contra o peito. Poderia ser a cena de reencontro mais belo do mundo, não fosse o fato de ela estar desesperadamente chorando, enquanto o filho, agora extremamente preocupado, tenta entender o que está se passando ali.
 Ash, você está bem?
 VOCÊ está bem?! Mãe, o que aconteceu? 😨
 Eu...
Delia limpa as lágrimas com o braço e força um sorriso nada convincente, tentando desviar do assunto.
 Eu estou ótima! Como você cresceu!
 Mãe! Pare com isso! Não minta para mim! O que aconteceu?!
Ash lança a Delia um olhar de desconfiança e a moça, muito abalada psicologicamente, não faz nada senão desmoronar na frente do filho, tornando a chorar.
 F-f-filho... Ash... Eu estava com tanta saudade...
Delia abraça Ash novamente, mas o menino segue desconfiado. Saudades não a fariam chorar daquele jeito.
 Tem mais alguma coisa aí que você NÃO QUER me contar, não é?
Ash olha fundo nos olhos da mãe e Delia não tem escolha senão se abrir com o garoto. Ela dá umas palminhas ao seu lado, no colchão, para que o garoto se sente com ela, e assim, ele o faz.
 Não faz mais sentido eu mentir para você, não é? Você está se tornando um rapazinho... Precisa saber de toda a verdade...
 Hã? Do que você está falando?
 O seu pai, Ash... Ele... Não saiu em uma jornada para se tornar um Mestre Pokémon, como eu sempre te contei. Ele também não deixou o Pikachu para trás para que você o criasse e cuidasse como um Pokémonzinho de estimação... Na verdade, quem o trouxe para dentro de casa, FUI EU. Eu que o capturei e dei para o seu pai te entregar de presente, porque nem isso ele se prestou a fazer!
 Hã?
 Para que você não se sentisse tão sozinho depois de... Depois de...
Delia mal consegue pronunciar aquilo. Ela precisa reunir toda a coragem do mundo para contar ao filho o que ela vinha escondendo do garoto durante todos esses anos.
 Depois de termos sido ABANDONADOS.
 Abandonados?
Ash arqueia uma sobrancelha, em questionamento. A mãe agora sabe que está pisando em um terreno delicado e busca as melhores palavras para contar a verdade ao garoto, sem machucá-lo, ainda que fosse impossível não fazê-lo.
 Ash... Eu quero que ouça com muita atenção o que eu tenho para dizer agora. Eu preciso que você seja forte. Você já está entrando na pré-adolescência e está começando a entender o mundo como ele realmente é. Então, por favor, me promete que não vai brigar comigo, ok?
 Tudo bem! Eu prometo! Mas fale logo, mãe! O que diabos está acontecendo?!
 O seu pai... Ele... Tem outra família!
 O QUE?!?!?!
Os olhos de Ash se arregalam, mas Delia segue em frente, com medo de tropeçar e não conseguir mais continuar contando.
 Na verdade... Nós é que somos os "outros". Quando seu pai se envolveu comigo e me engravidou, eu não sabia, mas... Ele já tinha outra mulher, com quem ele se casou e teve outro filho. É por isso que você herdou o MEU sobrenome, Ketchum, e não o dele...
Ash está paralisado. Ele não sabe como reagir. Ele não sabe o que falar. Ele não sabe se DEVE falar. Ele está simplesmente boquiaberto...
 ... ...... .... .... ...... .... ..
 Ele nunca te assumiu. No começo, quando você ainda era bem pequeno, ele vinha te visitar e trazia alguns presentes, contava algumas histórias (todas invenções, é claro!) sobre como ele era um treinador incrível que vivia por aí em busca do sonho milenar de se tornar um Mestre Pokémon... Quando na verdade, esse tempo todo, ele esteve trabalhando em um escritório de Contabilidade, em uma cidade próxima daqui, rindo e se divertindo com sua mulher e filho.
Ele sempre mandou dinheiro para ajudar a pagar o gás, a luz, os seus alimentos... E eu sei que isso nunca foi suficiente, ele tinha que ter dado mais, ele tinha que ter te dado AMOR, e é claro, tinha que ter contado a verdade! Mas ele nunca foi um homem honesto, nem comigo, nem com a outra mulher. Ela sequer SABE da sua existência! É por isso que, com o tempo, ele parou de vir, mentindo que estava ocupando viajando o mundo... Porque estava ficando cada vez mais difícil para ele manter uma vida dupla, então ele optou por ficar com ela e esquecer que nós existíamos.
Ash apenas olhava para Delia, sem reação. O garoto estava em choque. Durante todos esses anos, seu pai havia sido sua MAIOR inspiração, o motivo pelo qual ele decidiu sair em uma jornada e se tornar um Mestre Pokémon... Mas agora, essa inspiração havia se dissipado, desaparecido da frente de seus olhos, como em um passe de mágica. Estava tudo arruinado. Tudo destruído. Ash viveu todos esses anos na sombra de uma mentira...
 Por favor, não brigue comigo. Você era pequeno demais para entender, filho... Por isso eu não falei nada...
Delia implora pelo perdão de Ash. O garoto, ainda sem saber o que dizer, abraça a mãe, indicando que estava do lado dela.
 Mas por que... Por que você estava chorando? Já faz bastante tempo que o papai "sumiu"?
 Tem sido assim desde que você saiu em jornada... Eu nunca contei para você porque... Bem, por que eu ESTRAGARIA a sua jornada, não é? Eu fui diagnosticada com depressão. Eu tenho tomado medicamentos para conseguir dormir, eu nunca me senti tão SOZINHA em toda a minha via! E... Sabe... O meu maior medo... É que você me abandone, assim como ele me abandonou.
 Não se preocupe, mãe... Isso jamais vai acontecer.
Ash baixa a cabeça e deixa que o boné encubra suas lágrimas, enquanto ele se abraça à sua mãe, igualmente arrasada.





Mais tarde, naquela noite, Ash realiza uma web conferência com seus amigos, Brock e Misty, para contar-lhes tudo o que ele havia ouvido da mãe. Afinal, em um momento triste como esse, tudo o que o garoto precisava era desabafar e nada melhor do que contar com o conselho dos amigos em uma situação como essa...
 ASH! Eu... ESTOU CHOCADA!
 Que situação, cara... Que situação!
 É, não é? E agora... Eu tenho que conviver com a notícia de que eu tenho um irmão por aí... Um irmão ao qual o meu pai ESCOLHEU ao invés de mim...
Brock e Misty lançam olhares de pena sobre Ash. Eles próprios não parecem encontrar palavras para confortá-lo, até porque NADA nesse momento poderia fazê-lo.
 Deem uma olhada nisso...
Ash clica em seu computador e abre um perfil da Liga Pokémon daquele mesmo ano, compartilhando a tela com os demais, e mostrando um garoto de aproximadamente a mesma idade que ele a seus amigos.
 É ELE?!?!?!
 Sim.
 Puxa, ele é IGUALZINHO a você, Ash!
 Igual, porém MELHOR. O desgraçado é uma CÓPIA minha! Porém, até o nome de rico ele tem... Ritchie!
Ash está possesso, ele nunca sentiu tanta raiva na vida. Raiva do pai, raiva do garoto que era seu meio-irmão e nem sequer sabia da sua existência... Raiva do mundo, Raiva da VIDA. Tudo o que ele queria nesse momento era botar para fora toda a destruição que esta BOMBA havia causado em sua cabeça.
 Ele tem os mesmos sonhos, os mesmos objetivos que eu... De acordo com o site da Liga Índigo, ele quer se tornar um Mestre Pokémon e está coletando insígnias para conseguir a obediência de monstrinhos. E vejam isso...
Ash dá um clique e compartilha outra tela com Brock e Misty. Desta vez, a tela mostrava o time de Ritchie.
 Aqui diz que o Pikachu "que o pai deu a ele como Pokémon de estimação" se chama Sparky.
 Já o Pokémon que ele escolheu como inicial é "Zippo", um Charmeleon.
 E ainda de acordo com a Liga, o primeiro Pokémon que ele teve a atingir o terceiro estágio foi nada mais nada menos que Happy, seu Butterfree!
 Até o time dele... É igualzinho ao SEU!
 Isso não pode ser verdade... Ash, você não está tentando nos aplicar com uma brincadeira, está?
 Bem que eu gostaria que estivesse... 😔 Mas não. É verdade. Eu também não acreditei assim que eu vi... O desgraçado até usa roupas parecidas com as minhas! Ele usa o mesmo TOM de azul que eu! Essa ERA a minha cor favorita! Fiquei com tanto nojo quando vi isso que até troquei para o vermelho!
 E agora, a cada minuto que passa e eu fico encarando essa tela, mais raiva eu sinto. Eu... Não sei o que fazer... Eu acho que eu NUNCA vou superar isso!
 Eu sinto muito por tudo, Ash. Eu queria estar aí agora para te dar um abraço!
 Eu digo o mesmo, camarada. Até quando você vai ficar em Pallet? Eu posso dar um pulinho aí se precisar de um ombro amigo!
 É! Eu sei que não podemos fazer nada em relação ao que você descobriu, mas ao menos podemos passar um bom tempo juntos, pelo menos até você se sentir melhor com tudo isso!
 Não se preocupem comigo. Vocês dois têm muitas obrigações agora, como Líderes de Ginásio... Eu só precisava colocar para fora mesmo, por isso eu liguei para vocês. Eu... Estou bem. Estranhamente bem. Eu não me sinto triste, eu só me sinto... Com Raiva. Só. O que é estranho... Eu não sei como eu devo reagir diante de uma situação como essa... Eu só espero que passe logo.
 Oh, Ash!
Misty e Brock estão genuinamente com pena do garoto, mas não há muito o que eles possam fazer a não ser estender a mão para o que o amigo precisasse.
 Pode me ligar SEMPRE que você precisar, tá bom? Eu estou aqui, nos momentos bons e nos momentos ruins.
 Por favor, Ash, não faça nenhuma besteira. Como a Misty bem disse, estamos aqui para te ajudar a passar por essa situação. Você não está sozinho!
 Obrigado, pessoal! Eu me sinto mais calmo agora, só de poder conversar com vocês... Mas eu tomei uma decisão e quero que vocês me ouçam antes de julgar...
  Hã??
 Eu não quero mais viajar. Quero ficar em casa e cuidar da minha mãe. Ela precisa de mim. Ela ficou muito, mas muito triste depois que eu saí em jornada. Eu não suportaria perder ela também...


Na manhã seguinte, porém... Ash se acorda com o barulho de talheres. Sua mãe vinha trazendo café da manhã na cama, com um sorriso renovado no rosto. Apesar de permanecer destruída por dentro, Delia Ketchum se sentia um pouco mais aliviada após ter divido o peso que carregava sozinha por todos esses anos com o filho e como uma boa mãe, ela não poderia ver o garoto desistindo de tudo só para 
 Hã? Mãe...? Que horas são?
 Hora de acordar!
Delia deixa um delicioso omelete de Chansey, do jeitinho que Ash gostava, no bidê, ao lado da cama, e com um ânimo em acordar cedo que só as mães têm, ela puxa as cortinas e a arregaça a janela, deixando o sol entrar no rosto do sonolento garoto que, para falar a verdade, nem tinha conseguido dormir aquela noite.
 A sua mochila está pronta? Eu a recheei com TUDO o que você vai precisar, incluindo cuecas novas e LIMPAS.
 Mochila? Cuecas? Mãe, do que você está falando?
 Eu falei com o Professor Carvalho. Ele quer ver você. Ele tem uma nova missão para você, uma nova jornada!
 Jornada? Não, eu não quero. Pode agradecer para ele, eu vou ficar aqui, com você!
 Aaaash! Nananinanão! Você vai escovar esses dentes, tomar o seu café da manhã, tomar um banho, pegar a mochila que eu já deixei PRONTA e sair por aquela porta ali em busca dos seus SONHOS. Você não pode desistir de tudo para ficar comigo e além do mais... Eu não vou aceitar.
 M-m-mãe?
Ash olha para sua mãe e percebe que ela está falando sério. Delia Ketchum nunca esteve tão convicta em toda a sua vida. Ela queria o melhor para o filho e sabia que o melhor jamais chegaria se ele continuasse ali, enfurnado naquela cidadezinha de 5000 habitantes, a maioria aposentados cuja vida já estava feita.
 A-GO-RA!
Aquilo era uma ordem. Ash entendeu. Ele assentiu com a cabeça e decidiu fazer o que a mãe pediu, mesmo que seu coração estivesse doendo por dentro por ter que deixá-la sozinha... Ele não queria mais vê-la sofrendo daquele jeito. Mas as coisas amenizaram, ao menos um pouquinho (uma coisica de nada) quando Delia, observando o menino passando creme dental na escova, disse em um tom alegre e animado:
 Além disso, você não precisa se preocupar comigo! Eu estou sendo medicada, indo à terapia, e estou me sentindo BEM MELHOR agora que eu tenho o "Mimey" para me fazer companhia!
 Mimey?
 É! Ele não é uma graça?
Delia indica com o braço e Ash olha na direção apontada e avista o Mr. Mime que ele havia dado à mãe com avental e uma vassoura nas mãos, orgulhosamente ajudando nas tarefas domésticas.
O garoto se permitiu abrir um sorriso ao perceber o quão grata a mãe estava. Pela primeira vez, ele sentia que havia acertado no presente!


>> Chegando ao Laboratório do Professor Carvalho...

 C-c-com licença! Professor? Sou eu, Ash!
 Hã? Ash? Eu não me lembro de nenhum Ash...
O velho Carvalho já estava começando a demonstrar sinais de Alzheimer, a doença de todo mundo sabe que ele viria a ser oficialmente diagnosticado anos depois.
 A minha mãe falou que o senhor queria falar comigo.
 A sua mãe? Ooh, sim! Delia Ketchum! Claro! Como eu pude ter me esquecido? Onde eu ando com a cabeça?
O Professor, finalmente reconhecendo Ash, se aproxima do garoto...
 Puxa, você já está um rapazinho! Cresceu bastante desde a última vez que eu o vi! Está enorme!
 O-o-obrigado, eu acho...
 Então, Ash... Eu ouvi dizer que você é um Colecionador de Insígnias, estou certo?
 É isso aí. Eu já tenho TODAS as insígnias de Kanto.
Ash abre o casaco e mostra sua coleção de insígnias, presas como broches, para o Professor.
 Uau! Você realmente esteve EMPENHADO nesses últimos meses, garoto! Mas talvez você devesse expandir seus horizontes, buscar um desafio ainda mais complexo que os Líderes de Ginásio de Kanto!
 Hã?
 Talvez esteja na hora de você enfrentar o Líder de Ginásio SUPREMO.
 Líder de Ginásio Supremo?
 Isso mesmo! Ele é o ÚLTIMO de um grupo de 5 líderes de ginásio de uma Região próxima, pequena, mas paradisíaca, perfeita para tirar umas férias e relaxar.
 E que Região seria essa, Professor?


>> Em Casa...

 Ilhas Laranja?! Para mim, parece PERFEITO, Ash!
 É, o Professor me disse que lá eu poderia encontrar batalhas ainda mais difíceis do que em Kanto e que os ginásios de lá, apesar de menores em número, ofereciam verdadeiros desafios muito mais elaborados e complexos, que eu poderia me desenvolver melhor como um treinador por lá...
 "Mas..."?
 Mas eu me sinto muito mal por deixá-la aqui. Você sabe... Eu não fazia ideia de que você estava sofrendo tanto... E eu aqui, te julgando por ficar insistentemente querendo falar comigo ao telefone.
 Ash, não se sinta mal! Você tem um futuro brilhante pela frente, não pode deixar de lado os seus sonhos POR MIM. Eu quero te ver FELIZ, filho. Eu não quero que você fique aqui e ADOEÇA, como eu. Eu quero que você vá para frente e se torne bem sucedido. Quero que você alcance todos os lugares que você deseja ocupar. E isso só se faz saindo de casa... Você PRECISA seguir em frente. E não se preocupe comigo, eu sei me cuidar. Além do mais, eu ainda sou sua mãe, eu ainda MANDO em você.
 Mãe...
Os olhos de Ash enchem-se d'água. Ele quer muito ir nessa jornada, mas ele sabe que sua mãe está vivendo um momento extremamente delicado e que seria prudente da parte dele, ficar com ela, ao menos até tudo se estabilizar. Nesse momento, o garoto está extremamente dividido e ele não sabe o que faz, se vai ou se fica.
Delia, percebendo a indecisão do filho, se aproxima e o abraça. Então, ela complementa sua fala, dizendo:
 Não importa onde você esteja, Ash. Você sempre estará aqui comigo.
Delia coloca a mão sobre o coração e então, o garoto perde todas as estribeiras e não se contém: ele finalmente cede diante do caos que está vivendo e se permite chorar.




>> Dois Dias Depois...

Ash finalmente chega ao Arquipélago Laranja, uma Região formada por inúmeras ilhas de clima tropical, mais ao sul de Kanto, onde o clima era leve e extremamente agradável. O sol brilhava forte e as plantas eram coloridas e cheias de vida, como Ash nunca antes havia visto.
O barco atracou na Ilha Tangelo, apenas uma das muitas ilhas que compunha o desenho da geografia local.
 Pikachu, eu consigo sentir o cheirinho do verão! E tem cheiro de areia molhada e protetor solar!
 Pika, pi!
 Então, é isso... Aqui estamos, só eu e você. Obrigado por ter se voluntariado a vir comigo depois que eu ter deixado o Mr. Mime com a mãe e os meus demais Pokémon com o Professor Carvalho.
Pikachu jamais sairia do lado de Ash, ainda mais com tudo o que o garoto estava vivendo ultimamente. Mas o Professor Carvalho precisava estudar os espécimes que Ash coletou em sua jornada anterior como parte do projeto de desenvolvimento da Pokédex e então, o garoto precisou deixar todos eles com o pesquisador antes de partir.
 Quer saber, Pikachu? Esta é a ótima oportunidade...
 Pika?
 Para fazermos novos amigos! Vamos! Vamos agora mesmo encontrar mais um montão de Pokémon para capturar!
 PIKAAAH!
E assim, os dois partem no dia de sol rumo à praia, aspirando novos ares e, sobretudo, buscando conforto com tudo o que estava acontecendo.



Ash tirou os calçados e foi caminhar no limite entre a água e a areia. Ele deslumbrava a paisagem magnífica, de palmeiras que se estendiam até os céus e areia branquinha que se desprendia suavemente dos dedos conforme nosso treinador dava cada passo. No trajeto, a única coisa que ele conseguia pensar era em como a sua mãe merecia um passeio daqueles e como ele poderia juntar dinheiro para trazê-la para cá.
Mas conforme divagava sobre a necessidade de ajudar sua progenitora, Ash se depara com um Pokémon em apuros. Um monstrinho de corpo gigantesco, com nadadeiras compridas no lugar de patas e um casco de tartaruga nas costas. Tinha um pescoço comprido, orelhas gogas e um único chifre que apontava para o céu bem no meio de sua testa.
 Aquele Pokémon... Está encalhado!!!
Ash observa a enorme criatura tentar se locomover de volta ao mar e não conseguindo, dado sua mobilidade extremamente reduzida em terra e o problema de não possuir patas, mas nadadeiras que o impedem de erguer seu corpo pesado em busca de uma saída. A primeira coisa que Ash faz é pegar sua pokédex para analisar o ser, que se debatia na areia, agonizado.
 Lapras, o Pokémon Transporte. Adora atravessar os mares carregando pessoas e pokémon em suas costas. Lapras é capaz de entender a fala humana. Ele é gentil e tem o hábito de cantar graciosamente quando está de bom humor.
Então, enquanto está guardando sua pokéagenda de volta no bolso, uma voz chama a atenção de Ash:
 Ei, você! Vai ficar aí parado ou vai me ajudar aqui?
É só então que Ash percebe que do outro lado do Pokémon, havia um treinador acocado, avaliando a situação. A enorme concha que se projetava das costas de Lapras impedia que Ash tivesse a visão desse garoto.
 
 Oh! Eu tenho aqui uma Super Poção!
Ash pega o item em seu bolso, um pequeno frasco para aplicar a solução líquida diretamente na boca do Pokémon, a fim de fazê-lo recuperar energia para pelo menos ter forças para se arrastar um pouco mais em direção ao mar. Desde que Ash aprendeu a utilidade desses itens com Misty, ele nunca mais se esqueceu e sempre carrega consigo pelo menos uma meia dúzia de fracos. O garoto então se aproxima com cuidado e aplica a medicação no Pokémon que parecia bastante fraco e ferido.
 Aqui Lapras. Tome isso. Você vai se sentir melhor!
 Ooooh!
O Pokémon encalhado geme de felicidade, mas mesmo a poção que ele acabou de ingerir inteira não parece ser o suficiente para animá-lo.
 Esse Lapras ainda é um bebê... Ele está desidratado por ficar aqui exposto ao sol! Precisamos levá-lo a um Centro Pokémon depressa!
 Ótimo, mas como faremos isso?
 Podemos transportá-lo da maneira mais óbvia... Em uma Pokébola.
 Oh, tem razão! Eu ou você?
 Fique à vontade.
Ash então pega uma de suas pokébolas vazias no cinto e se aproxima de Lapras com ela. A pokédex dizia que Lapras era um Pokémon inteligente, capaz de compreender bem a fala humana, então não custava tentar...
 Lapras, por favor, precisamos levar você para ser tratado por especialistas no Centro Pokémon. Mas para que possamos fazer isso, precisamos que você entre nesta pokébola. Então, por favor, eu peço que confie na gente. Queremos o melhor para você!
 Oooh--
O Pokémon parecia compreender a fala e concordar com Ash, mas ele estava tão cansado e tão torrado por conta do sol forte, que ele mal conseguia emitir qualquer som.
 Não se preocupe. Isso não vai doer. Já já você estará livre para navegar pelos mares novamente.
Então, com a permissão do Pokémon, Ash encosta a pokébola sobre a cabeça de Lapras, sugando-o para dentro da mesma. A captura se conclui na hora, afinal, o Pokémon exausto de tanto se debater não oferece nenhuma resistência. Uma captura crítica!
 Você sabe onde tem um Centro Pokémon por perto? É que eu não sou daqui.
 Oh, claro! É por aqui!
O garoto aponta em uma determinada direção.
 A propósito, como você se chama?
 Tracey Sketchit, da Ilha Tangelo, e você?
 Ash Ketchum, da Cidade de Pallet.
Ash e Tracey se cumprimentam. Mal sabiam eles que a partir daquele momento, os dois se tornariam ótimos amigos.
 Vamos depressa para o Centro Pokémon! Precisamos curar Lapras o quanto antes!
 Tem razão! O pobrezinho estava sofrendo...

E assim, os dois se unem com o único propósito de salvar o Lapras bebê, dirigindo-se ao Centro Pokémon mais próximo. Chegando lá...
 Com licença? Enfermeira, precisamos de ajuda.
 Vieram ao lugar certo, garotos. Como podemos ajudá-los?
As Enfermeiras Joy das Ilhas Laranja utilizavam um avental diferente das demais: era verde e ornado por um padrão floral próximo à barra. Elas também aparentavam ser mais bronzeadas, muito por causa do clima local. E o Pokémon que as ajudavam em sua missão de resgatar e socorrer Pokémon que necessitam de cuidados médicos era um Slowbro.
 Slooooow!
 Nós encontramos esse Lapras bebê *Ash entrega a pokébola* encalhado na praia. O pobrezinho está muito ferido.
 Oh, deixe-me ver!
A Enfermeira pega a pokébola de Ash e imediatamente a leva para a máquina de reparos, um aparato moderno que envia energia para Pokémon debilitados mesmo dentro de suas pokébolas.
 Pobrezinho. Nesta época do ano, é comum isso acontecer... Os Lapras que andam sozinhos normalmente são órfãos e acabam falecendo encalhados nas praias...
 Órfãos?
Ash rapidamente lembrou de sua própria situação. Ele tinha um pai vivo, mas podia-se dizer que era órfão por parte de pai.
 É. Os Lapras são Pokémon raros que costumam andar em bandos. Eles jamais se separam, a menos que... Algo tenha acontecido aos pais deste bebê.
 Poxa, isso é muito triste!
 É mesmo. Mas vocês agiram correto rapazes. Agora deixem comigo e o meu parceiro Slowbro que nós tomaremos conta do caso!
A Enfermeira então se afasta e vai para o interior do Centro, onde poderá atender o Lapras melhor fora de sua pokébola. Ash e Tracey então se dirigem para a sala de espera, onde Ash se vê na obrigação de puxar assunto para quebrar o gelo.
 Então, o que você fazia na praia? Você sabe... Quando avistou o Lapras e tal?
 Eu estava buscando alguns Pokémon para desenhar.
 Desenhar?
 É. Eu sou um Observador Pokémon, eu faço desenhos de toda e qualquer espécie que eu encontro pelo caminho, observando sua anatomia. No entanto, quando eu vi que Lapras estava precisando de ajuda, eu não pude ficar apenas observando, precisei entrar em ação. Uma pena que meus remédios e pokébolas haviam se esgotado.
 Então eu cheguei na hora certa!
 Chegou mesmo! Obrigado por se compadecer com a situação.
 Ora, não precisa agradecer. Eu fiz isso porque tenho amor aos Pokémon. Sabe, eu quero ser um Mestre Pokémon!
 Um Mestre? Que incrível! E o que faz por aqui nas Ilhas Laranja? Está tirando umas férias?
 Não, não. Eu vim para cá com o objetivo de desafiar o Líder de Ginásio Supremo.
 Oh, então você pretende participar da Liga Laranja?
 Não necessariamente. Eu gosto de colecionar insígnias, porque elas demonstram aos meus Pokémon que eu sou digno de ser respeitado como um treinador.
 É, mas o Líder de Ginásio Supremo das Ilhas Laranja é como se fosse um Campeão Regional. Se você derrotá-lo, então se tornará o próximo Campeão da Liga Laranja, entrando para o Hall da Fama da Região!
 Hall da Fama? É sério?! O Professor Carvalho não me falou nada disso... Deve ter se esquecido, está ficando velho e caduco!
 Professor Carvalho?! Não me diga que você conhece A LENDA?!
 Bem... Sim, eu trabalho para ele, juntando informações para a Pokédex!
 QUE INCRÍVEL! Meu sonho seria trabalhar para o Professor Carvalho! Ele é o cara que mais entende de Pokémon em todo País! Você é um cara de sorte!!
 Não sei, não.
Ash continua se lembrando de sua situação deplorável. "Sorte" não era uma palavra boa para designar-lhe. Talvez "morte" fosse mais propício...
 Caaaara! Eu sempre quis conhecer o Professor Carvalho! Eu sou o maior fã dele! Se você me apresentasse a ele e eu pudesse mostrar os meus desenhos de anatomia Pokémon... Talvez, mas só TALVEZ, ele pudesse me conceder uma bolsa de estágio! E assim, eu finalmente poderia explorar outros lugares  que não apenas a Região das Ilhas Laranja!
 Eu não posso lhe prometer nada, mas podemos tentar!
 EEEEEEEEEEEEE!!!
Tracey parecia genuinamente feliz com a proposta que ele mesmo havia feito. Ele estava bastante empolgado e isso reverberou na forma de um grito, mas o grito não pareceu agradar muita gente.
 Vocês poderiam ficar em silêncio por favor?
Um menino de camiseta listrada que também estava sentado na sala de espera revira os olhos para Ash e Tracey. Ele estava de braços E pernas cruzados, em uma posição extremamente desconfortável.
 Oh, me desculpe! Você também está esperando algum Pokémon que entrou para ser curado?
 Pokémon, nada! Estou esperando consertarem minha câmera.
 Câmera?
 É isso aí. Eu sem querer, deixei que ela caísse na praia e a lente deslocou de lugar.
 Ora, menos mal que é só uma câmera...
 NÃO É SÓ UMA CÂMERA! É uma TekPoké 3000!
 TekPoké Três Mil?
 Isso mesmo! Ela funciona como uma filmadora digital, câmera fotográfica, MP3 Player, MP4 Player, gravador de voz, disquete, webcam, câmera de segurança e conexão VGA! Tudo em um!
O garoto parecia verdadeiramente feliz em falar da própria câmera, quase como Ash fala sobre seus Pokémon.
 E não é essa daí que você está segurando?
 Não, essa daqui é uma Pokékodak 1500 com zoom óptico de 25 x e ângulo de 24 mm de largura, Vídeo Full HD 1080p, 16 MegaPixels!
 Uau, você parece gostar mesmo de câmeras!
 Se eu gosto? Eu AMO câmeras! Minha paixão é fotografar, afinal, eu sou um Fotógrafo Pokémon!
 Fotógrafo Pokémon? O que é isso?
 Eu tenho o objetivo de fotografar todos os Pokémon do mundo em um projeto chamado "Photodex", que é bem parecido com o projeto da Pokédex.
 Uau. Essa é nova para mim!
 Veja só, que coincidência incrível do destino colocar nós três nessa sala reunidos.
  Hã?
 Eu sou um desenhista, adoro capturar a anatomia dos Pokémon através do desenho. Você gosta de capturar os Pokémon em fotografias e o Ash aqui gosta de fazer amizade para compreender melhor todos os tipos de Pokémon! Em resumo, todos nós AMAMOS Pokémon!
 Suponho que quem quer que esteja em um Centro Pokémon, só possa AMAR Pokémon, não é mesmo?
 É, suponho que sim, mas o fato é que cada um de nós ama de um jeito único. E cada um de nós poderia se ajudar em sua missão.
 Se ajudar?
 É. Ash, você quer fazer amizade com diferentes Pokémon certo? Você ATRAI o Pokémon para nós. Aí, você... Err... Qual o seu nome, mesmo?
 O meu nome é Todd Snap e vocês?
Ash e Tracey então se apresentam para o menino, que rapidamente se torna seu amigo.
 Enfim, Ash, você atrai o Pokémon, o Todd tira uma foto dele e depois, a partir da fotografia revelada, eu posso desenhar a anatomia! Formamos um time perfeito, não acham?
 Ei, ei, ei! Time? Eu estou aqui por tempo limitado!
 Eu também!
 Eu vim para as Ilhas Laranja por engano. Eu queria pegar um barco para a Pokémon Island, onde eu iria iniciar minha jornada como Fotógrafo Pokémon, mas sem querer, comprei uma passagem carérrima para as Orange Islands e fiquei sem dinheiro para voltar. Agora eu estou aqui, com uma câmera quebrada e sem saber para onde ir...
 Então por que você não viaja pelas Ilhas Laranja com a gente, aproveitando que já está por aqui? Afinal, nas Ilhas Laranja existem formas ÚNICAS de Pokémon que vocês jamais poderão encontrar em qualquer outro lugar do mundo... Estão chamando esse fenômeno único de "Variações Regionais".
 Olha... Sabe que eu acho uma boa ideia? Ter uns amigos andando comigo não faria mal.
 Eu vou pensar no assunto!
Todd Snap empina o nariz e cruza os braços novamente, fingindo ser difícil, mas a verdade, é que ele havia AMADO a ideia. Na verdade, se alguém atraísse os Pokémon selvagens para ele, facilitaria demais o processo de fotografar. E no caso de Tracey, se Snap tirasse fotografias dos Pokémon que eles encontrassem, isso facilitaria o desenho de observação. Então, antes que Todd e Ash pudessem dar uma resposta definitiva para a proposição de Tracey, a Enfermeira Joy retorna.
 O Lapras está bem. Ele só precisava de umas vitaminas e um bom remédio para queimaduras. Ele já foi medicado, agora vocês só precisam dar bastante água para ele.
Ash e Tracey se olham.
 O que foi?
 Está decidido!!!
 O que? O que está decidido?
 Vamos trilhar nossa jornada juntos, e nas costas do Lapras! Do que a pokédex o chamou, mesmo? De Pokémon Transporte? Podemos utilizá-lo para navegar entre uma Ilha e outra! Além do mais, se o Lapras é mesmo órfão, ele vai precisar de uma nova família, e eu estou disposto a cuidar bem dele!
 É perfeito! Eu topo! EU TOPO!
 É claro que topa, foi você quem deu a ideia!
 Ah, qual é, Todd? Vai ser divertido!
 É, pode ser que sim... Eu também topo.
 É sério? Que incrível!
 Meu dia não poderia estar sendo melhor!
 Ei, ei, ei! Parem já de gritar, os dois, ou eu desisto agora mesmo dessa ideia maluca!
 Oh, desculpe!
 Tá bom, tá bom...
 Agora... Enfermeira Joy, será que a minha câmera já está pronta?
 Oh, isso é com a minha irmã. Eu posso verificar para você, mas você vai ter que aguardar mais um pouco.
 Tudo bem, eu espero. Quer dizer... Se o pessoal quiser esperar...
 É claro que nós esperamos!
 Afinal, agora somos um time! Não somos?

Ash sorriu pela primeira vez em um bom tempo. Ele até havia se esquecido de suas preocupações recentes. Era sempre bom fazer amigos, fossem eles Pokémon, fossem eles humanos. E desde que Brock e Misty estavam tendo responsabilidades como Líderes de Ginásio em Kanto, a jornada pelas Ilhas Laranja sozinho seria triste e solitária, mas com Tracey e Snap ao seu lado, não mais!

De ilha em ilha, o grupo foi se envolvendo em uma série de aventuras enquanto curtiam o clima tropical e deixavam os problemas da vida cada vez mais para trás. A incursão parecia mais com uma grande viagem de férias do que com qualquer outra coisa, pois ao mesmo tempo em que se divertiam conhecendo e estudando diversas espécies Pokémon, eles aproveitavam da culinária local, dos pratos típicos, da cultura rica e acolhedora da Região e, é claro, nas horas vagas, tostavam um pouquinho na a praia...


Ao chegarem à Ilha Valência, a primeira Ilha importante no mapa, o grupo se deparou com uma Butterfree que lhe chamou muito a atenção...


Ela tinha asas amarelas com padrões diferentes daquelas que a própria Butterfree do Ash tinha...


Foi então que eles conheceram a Professora Ivy e aprenderam sobre o que ela chama de "Variações Regionais", uma série de mudanças fisiológicas nos Pokémon das Ilhas Laranja devido ao clima tropical, tal como o sol mais intenso que nas demais regiões, disponibilidade de alimentos, abundância de água, etc. Não demorou muito e os três garotos que viajavam alegremente montados em Lapras já estavam aceitando um convite para ajudar a Professora a estudar tais variantes...


Snap tirou umas mil fotos enquanto estava na Ilha, e Tracey não perdeu tempo, extraindo o máximo potencial de sua paleta de aquarela para tentar reproduzir os tons vívidos dos Pokémon que viviam na Ilha. Aqui, os Paras eram mais vermelhos, tão rubros quanto os cogumelos que cresciam às suas costas... Nidoran (macho e fêmea), Weepinbell e Raticate também pareciam mais saturados que o habitual, mas talvez a variante que mais chamou a atenção foram os Vileplume que por ali viviam: Eles tinham pétalas laranja com um padrão totalmente diferenciado, atraindo olhares de quem quer que os avistasse. Estes, no entanto, só saíam à noite, então o grupo precisou fazer uma expedição noturna para ajudar a Professora Ivy a estudá-los...


E esta foi só a primeira de muitas aventuras que preencheram os ânimos de nossos heróis de tal modo, que eles nem perceberam o tempo passar, enquanto pulavam de ilha em ilha, aprendiam mais sobre Pokémon e se deliciavam com a paisagem paradisíaca que os envolviam, em um clima de sossego e despreocupação...


Na Ilha Mikan, Ash enfrentou a primeira Líder de Ginásio diferenciada de toda a sua jornada: Cissy parecia à primeira vista, só mais uma especialista em Pokémon de Tipo Água, mas seu repertório incluía muito mais do que "batalhar" utilizando Pokémon desse tipo...


Seu desafio consistia em duas etapas distintas: a primeira, era uma competição de tiro ao alvo com Pokémon de tipo Água na qual a Líder utilizou sua Seadra (muito bem desenhada por Tracey, diga-se de passagem) para derrubar uma fileira de latinhas de refrigerante posicionadas a uma longa distância de onde os treinadores e seus Pokémon deveriam ficar.


Enquanto Seadra espirrava múltiplos tiros certeiros de seu Revolver d'Água, Ash utilizou o Krabby que havia conhecido ali mesmo, na costa da ilha algumas horas antes para derrubar todas as latinhas de uma só vez com seu incessante Jato de Bolhas.


Uma vez superada a primeira etapa, Ash viu seu Krabby evoluir para Kingler (sorte de principiante!) e então pode prosseguir para o segundo duelo, que era uma corrida de Surf no mar. Enquanto Cissy montava de pé concha de seu Blastoise, pegando velocidade pelas ondas, Ash surfava nas costas de seu Lapras.


O Tipo Gelo não era nem de perto tão veloz quanto Blastoise, mas Ash fez do seu jeitinho e conseguiu a vitória após criar uma pista de gelo pela qual Lapras pudesse deslizar ao invés de nadar, ganhando maior impulso e vencendo a corrida.


Com o desafio encerrado e a Insígnia do Olho de Coral em mãos, a Ilha Mikan não oferecia mais grandes atrativos, então grupo partiu para a próxima expedição, desta vez na Ilha Sunburst...


Lá, eles conheceram o cintilante Onix de Cristal, que como o próprio nome indica, era um Onix cujo corpo, ao invés de ser feito de rocha como todos os demais, era feito de uma formação cristalina única que o fazia reluzir como uma pedra preciosa.


O grupo ficou tão admirado com a beleza da criatura, que não pode capturá-la... Mas uma batalha contra o mesmo já foi o suficiente para deixar todos fascinados...


Foi nesta partida que Ash e os demais descobriram que as variações regionais também podem ter tipos diferentes, já que o Onix de Cristal não parecia sofrer muito dano de golpes de água, mas em compensação, sofria muito ao receber ataques de fogo.


Muito embora a batalha não tenha sido longa e eles não possam ter esclarecido de que tipo, de fato, o Onix de Cristal era, já que o mesmo fugiu e desapareceu nas águas da caverna em que se encontrava, foi um encontro que com certeza ficará guardado para sempre na memória dos três, que agora estão cada vez mais entrosados, compartilhando risos e momentos de descontração, enquanto se conhecem cada vez melhor com o passar dos dias...

Partindo da Ilha Sunburst, então, nossos heróis visitam agora a Ilha Rosado, o único local no mundo em que uma floresce uma Berry capaz de dar aos Pokémon que a consomem, uma coloração cor-de-rosa. Até mesmo Pikachu não resistiu ao doce sabor da frutinha e ficou (temporariamente) com as bochechas e a cauda estilo Barbie.


Após conhecerem e registrarem inúmeras espécies de Pokémon afetadas pelo pigmento rosado encontrado na fruta...


Tracey e Snap testemunharam Ash capturar o que a princípio parecia ser um Primeape cor-de-rosa, mas que após alguns dias sem comer a fruta, longe da Ilha, voltou à sua coloração normal...


Já na Ilha Navel, dando sequência ao desafio das ilhas, Ash se encontra com Danny, o Líder de Ginásio que, assim como Cissy, também propõe um desafio muito PECULIAR ao invés de uma batalha como Ash estava acostumado com os Líderes de Kanto.


Enquanto Tracey e Snap subiram ao topo da montanha de teleférico, Ash e Danny se desafiaram em uma corrida, para ver quem chegava primeiro ao cume do pico. Com uma ajudinha dos músculos de Primeape, foi fácil para Ash pegar impulso e escalar mesmo as paredes mais íngremes e desafiadoras. Uma vez no topo do monte, eles deveriam congelar gêiseres e utilizar esses enormes blocos de gelo para descer montanha abaixo acompanhados de seus Pokémon. 


Danny foi o mais veloz nesse quesito, afinal, ele estava acostumado a construir tobogãs de gelo com seus parceiros Pokémon: Geodude, Nidoqueen, Electrode e Machoke.


Mas com a ajuda com Raio Congelante de Lapras, das pinças retaliadoras de Kingler e dos muques vigorosos de Primeape, Ash deu um jeito de construir o seu próprio meio de transporte e descer a ladeira, cruzando a linha de chegada antes que Danny. E isso não só fez com que o garoto de Pallet conquistasse a Insígnia Rubi do Mar, como também conquistasse a vitória em metade dos ginásios da Região, ganhando reconhecimento não apenas entre os Líderes, como também pelo povo das Ilhas Laranja.


E foi logo após esta conquista que Ash encontrou mais um parceiro para seu time... Um Pokémon particularmente problemático, que estava DEVASTANDO a vegetação das chamadas "Sete Ilhas da Toranja":


Um Snorlax que se empenhava de nadar de Ilha em Ilha para obter alimento. Mas a quantidade de frutas que esse monstrão ingeria era absurda e estava preocupando os moradores locais. ESTAVA, no passado, porque Ash decidiu trazer o Pokémon consigo, adquirindo seu mais resistente Pokémon até o momento (e também o que mais dava prejuízo, em termos de estoque).


Mas as aventuras pelo arquipélago não foram protagonizadas apenas por Ash e seu time Pokémon em expansão... Enquanto Snap só queria saber de tirar fotos dos Pokémon, Tracey os estudava com afinco, desenhando milimetricamente cada contorno, delimitando com precisão a anatomia e a proporção dos corpos das inúmeras espécies que cruzaram o seu caminho, até que um dia... Uma espécie era furiosa demais para se deixar ser observada... Um orgulhoso e colérico Scyther na Ilha Murcott chamou a atenção do Observador Pokémon e ele não pode ficar parado!


Com o auxílio de seus fiéis parceiros Marill e Venonat, Tracey registrou a captura do Tipo Inseto, trazendo-o para sua equipe.


Enquanto Tracey estava particularmente empenhado em estudar Scyther, Todd Snap parecia mais interessado em fotografar o Marill de seu companheiro de jornada, pois ele não sabia que Tracey tinha um Pokémon tão incomum, ao menos em Kanto e nas Ilhas Laranja, em seu arsenal.


Após atravessarem um extenso e infindável deserto no centro da Ilha Mandarin, nossos heróis se deram por conta de que seria bom ter um Pokémon para se locomover por terra além de Lapras, para se locomover pelo mar. Então Ash corajosamente enfrentou uma manada de trinta apopléticos Tauros, capturando um para si.


 Nananinanão! Podem esquecer! Eu não vou MONTAR nessa criatura raivosa!
 Então deixa comigo...


Tracey então captura seu quarto Pokémon, um Dodrio. Ele era tão furioso e visceral quanto Tauros, mas a diferença é que as três cabeças ficavam brigando entre si, ao invés de atacarem aos outros, então Snap topou subir na ave para continuar sua aventura...


Já na Ilha Trovita, Ash desafiou Rudy, o primeiro Líder de Ginásio das Ilhas Laranja a batalhar DE VERDADE contra os adversários. Ao invés de gerir um desafio que fugia completamente dos moldes tradicionais das Ligas Pokémon, Rudy exigia que seus desafiantes batalhassem contra ele três partidas de 1x1, mas com um diferencial: Rudy sempre utilizaria um Pokémon de MESMO tipo que o adversário. Não importa qual tipo de Pokémon o desafiante enviasse, Rudy sempre tinha outro Pokémon de mesmo tipagem para enviar ao campo.


A partida inicial foi um empate entre o Electabuzz de Rudy e o Pikachu de Ash.


Na segunda, a Starmie de Rudy retaliou o Kingler de Ash por saber movimentos do Tipo Elétrico, supereficazes contra o Tipo Água, algo com que o jovem treinador de Pallet não estava contando.


Mas na última partida, de Snorlax contra Pidgeot, não houve jeito: Rudy não aguentou a pressão e foi esmagado (literalmente) até entregar a Ash sua terceira insígnia...


...A Insígnia da Concha de Espinhos!


Agora com 3 insígnias em mãos, Ash estava um passo mais próximo de enfrentar o Líder de Ginásio Supremo no que seria como uma batalha contra o Campeão Regional das Ilhas Laranja.

Ash estava tão envolvidos em sua jornada, que cada treinador que ele enfrentava o parabenizava pelo entusiasmo com que ele levava as partidas. Mas não é que Ash estivesse genuinamente feliz... Ele estava tentando esconder as coisas que o faziam ficar triste. Agora, em um ambiente totalmente favorável à diversão, um arquipélago repleto de ilhas celestiais, era fácil esquecer-se de tudo, e Ash realmente conseguiu manter o alto astral por muito tempo, mesmo se sujando todo com o abraço de lodo de seu Muk carente, capturado a fim de ajudar no combate à poluição das Ilhas.


Até aí, estava tudo indo muito bem...

Mas como tudo na vida, sempre aparece algo ou alguém para atormentar. As pessoas não gostam de histórias que são muito bobinhas e felizes, porque suas vidas são tão miseráveis que não conseguem se identificar e relacionar com personagens que não estejam SOFRENDO. As pessoas querem ver sangue! Enquanto não houver guerra, elas não se sentem saciadas... Então aí vai: o sofrimento de Ash Ketchum! (e tudo que se desenrolou a partir disso)!


Quando o grupo chegou ao último ginásio convencional das Ilhas Laranja, localizado na Ilha Kumquat, ele enfrentou e venceu a Líder Luana em uma batalha dupla (o que era novidade, na época, visto que a Liga Hoenn foi a primeira a oficializar o formato).


O Marowak e o Alakazam da Líder foram simplesmente obliterados por uma combinação entre o Ataque de Chifre de Tauros e o Choque do Trovão de Pikachu.

 
 

Com a vitória, Ash adquiriu a quarta e última insígnia antes de enfrentar o Líder de Ginásio Supremo, a Insígnia Estrela de Jade.


Mas toda a alegria que ele havia adquirido após conquistar tal feito se foi por água abaixo quando a líder, Luana, lhe disse algo que o deixou verdadeiramente encafifado... Algo que fez seu cérebro de adolescente, ainda em formação, cheio de paranoias e inseguranças.
 Você batalhou muito bem, Ash! Parabéns pela vitória!
 Obrigado! Eu agora estou cada vez mais perto de enfrentar o Líder de Ginásio Supremo!
 Quando você chegou aqui, eu o achei muito parecido com um desafiante que veio outro dia... Até estranhei. Eu me perguntei... "Ué, por que ele voltou, se já ganhou a Insígnia?" Mas no fim, era outra pessoa!
 *Brincando* Ele era bonito que nem eu?!
 Pior! Ele era IDÊNTICO a você, só que tinha o cabelo castanho e não tinha essas marquinhas de nascença no rosto. O Estilo de batalha de vocês é muito parecido, e acredite: ele conseguiu me derrotar com a mesma facilidade que você! Em todos esses anos como Líder de Ginásio, isso nunca tinha me acontecido! Acho que estou precisando me aposentar...
 Uau! Quem será esse treinador?
 Eu não me lembro o nome dele, exatamente... Eu sou péssima com nomes... Mas parece que começava com a Letra "-R".
 R de Red...?
 Não, não. Não era Red... Acho que... Acho que era Ritchie!
 RITCHIE?! Não pode ser!
Assim que Ash ouviu o nome de seu meio irmão, seu mundo caiu. Todas as lembranças voltaram à tona, como se um gatilho mental tivesse disparado em seu subconsciente, desenterrando todas as coisas que ele havia se empenhado para esquecer ao longo de sua breve jornada pelas Ilhas Laranja.

Ash ficou em choque. Tracey e Snap não entenderam o por quê... Quando Luana disse que Ritchie a havia derrotado alguns dias antes, tudo o que se passou na cabeça foi:

"Ritchie está nas Ilhas Laranja, assim como eu" e "Ritchie está na minha frente! Ele é melhor do que eu!"
 Você o conhece?!
Luana pergunta ao observar a reação estranha de Ash ao ouvir tal nome, mas o garoto (sem conseguir disfarçar muito), simplesmente responde:
 Não! Nunca ouvi falar...
Luana achou tratar-se de bobagem de adolescente, então, deixou passar. Imediatamente, Ash pegou suas coisas, agradeceu uma vez mais pela insígnia e foi embora, mas ao sair do ginásio, ele levou uma coisa extra consigo: preocupação.

Agindo de forma incoerente, Ash pegou suas coisas e imediatamente partiu da Ilha Kumquat, não trocando uma palavra sequer com Tracey e Snap no caminho todo, o que obviamente chamou a atenção de seus dois acompanhantes de viagem.

A próxima Ilha se chamava Ilha Rind. Não havia muita coisa por lá, exceto um Centro Pokémon extremamente aconchegante no qual eles podiam passar a noite.


Depois de Tracey fazer uma reserva em um dos quartos disponíveis para aluguel no CP, ele e Snap foram para a área de convivência, onde os treinadores normalmente interagem uns com os outros e trocam dicas de batalha, bem como propõem trocas de monstrinhos.

Mas pela primeira vez desde que Ash iniciou aquela jornada, ele estava calado, em um canto, sem interagir com ninguém. O garoto de Pallet tinha um olhar distante e vazio, que parecia irradiar uma tristeza absurda de dentro do treinador. Pikachu, seu fiel companheiro, estava preocupado e não saía de perto dele, mas nem mesmo as constantes trocas de carinho entre Ash e seu parceiro Elétrico, que o acompanhava muito antes de Ash ter o seu verdadeiro Pokémon Inicial institucionalizado e oficializado pela Liga Pokémon, agindo mais como um pet para o garoto, estavam acontecendo.

Diante de tamanho estranhamento, Todd Snap se viu obrigado a puxar seu amigo Tracey pelo braço e chamá-lo para uma conversa:
 Ei, Tracey! Você tem um minuto? Quero dar uma palavrinha com você.
 Oh, é claro.
Tracey imediatamente para o rascunho que estava fazendo de seu próprio Marill e se levanta do puff no qual estava confortavelmente atirado, indo para um cantinho com Todd Snap para que pudessem ter privacidade.
 O que está acontecendo com o Ash? Eu estou preocupado!
 Eu não sei. Ele parece não querer falar com ninguém!
 É, eu tenho tentado respeitá-lo e dar um espaço para ele, mas você tem que concordar comigo que isso está muito, mas MUITO estranho...
 É, ele estava todo sorridente e do nada, parece que... MORREU por dentro!
 Isso tem a ver com aquele tal de Ritchie, que ele disse não conhecer. Mas está na CARA que ele o conhece sim!
 Talvez algo muito grave tenha acontecido entre os dois e ele não esteja se sentindo pronto para se abrir conosco.
 É, mas sabe o que me preocupa?
 O que?
 Ash irá enfrentar Drake, o Líder de Ginásio Supremo, na Ilha Pummelo, em dois dias! Se ele continuar desmotivado assim, você acha que ele terá alguma chance contra aquele que é considerado o Campeão das Ilhas Laranja?!
 É, tem razão... Essa situação é mesmo preocupante. Falando nisso, você conseguiu agendar a Batalha contra o Drake no Ginásio Pummelo?
 Sim, ela acontecerá depois de amanhã, na Ilha Pummelo. Quando eu telefonei para o Estádio, foi o próprio Drake quem atendeu. E adivinha: Ele disse que tinha dois tipos de desafios para propor e que o desafiante podia escolher qual gostaria de participar. O primeiro é uma batalha completa de 6 contra 6, o outro, é um novo tipo de batalha que ele chama de "Batalha de Reide", contra um suposto Pokémon Legendário Gigante... Qual dessas duas opções você acha que o Ash escolheu?
 Creio-em-Deus-Pai! O Ash JAMAIS vai conseguir derrotar um Pokémon Legendário se continuar cabisbaixo desse jeito! Ele não está treinando nem se alimentando direito desde que saímos da Ilha Kumquat!
 É por isso que eu digo, Tracey: Temos que fazer alguma coisa!
 Que tal quando o assunto for eu, vocês me incluírem na conversa?
  ASH!!!!!!!!
De repente, Ash aparece atrás dos dois amigos. Ele havia ouvido tudinho e tinha ciência de que seus novos companheiros de viagem, que compartilharam muitos momentos felizes ao seu lado, estavam preocupados com ele. Então ele achou justo que eles soubessem a razão pela qual o humor de Ash foi aniquilado quando soube da presença de Ritchie nas Ilhas Laranja.

Ash tomou coragem e começou a contar tudo, tintim por tintim, despejando todas as suas inseguranças e receios diante do turbilhão que estava sua vida ultimamente, e como ele tinha usado sua viagem nas Ilhas Laranja para se esquecer de todos esses traumas, mas que foram acidentalmente revividos com a menção do nome do irmão.
 Poxa, Ash... E-e-eu... Não sabia!! Me desculpa.
 Eu sinto muito, Ash. Muito mesmo. Eu queria que houvesse alguma forma de te ajudar, mas... Eu acho que isso não está no meu alcance.
 No alcance de ninguém, para falar a verdade. Esta é uma batalha que eu tenho de travar sozinho, comigo para comigo mesmo!
 Tem razão. Mas não é porque esta é uma luta só SUA que você deve se afastar de todos. Nós estamos aqui para te apoiar, cara!
 É. Se o peso da sua bagagem emocional está muito difícil de suportar, divida ele com a gente, para que possamos ajudá-lo a carregar.
 Valeu, pessoal. Eu também lhes devo desculpas. Eu deveria ter sido honesto sobre o que estava acontecendo.
 Não, Ash. De maneira alguma! Você tinha o direito de ficar na sua! Nós é que não deveríamos estar nos metendo!
 Seja como for, não importa mais agora. Eu fico extremamente feliz por saber que tenho vocês ao meu lado e me apoiando!
Ash força um sorriso, mas era nítido que ele estava extremamente triste por dentro, devastado.
 Você quer que eu remarque a batalha contra o Drake? Eu posso ligar para o Estádio e cancelar, pelo menos até você se estabilizar novamente!
 É, Ash! Você não precisa fazer isso se não está se sentindo bem! Dar um tempo às vezes é a melhor coisa a se fazer...
 Não precisa, gente! Não precisa porque eu vou resolver isso ANTES de ir para o Estádio Pummelo.
 Hã?
 Como assim "resolver isso"?
 O Ritchie... Ele está aqui, na Ilha Rind. A Enfermeira Joy me contou... Eu vou enfrentá-lo em uma batalha, e vou confrontá-lo sobre o meu... Quer dizer... Sobre o NOSSO pai.
 Ash!!!
Todd Snap e Tracey Sketchit ficam perplexos com a atitude de Ash, mas o garoto de Pallet estava 100% decidido. Nada do que seus amigos falaram para Ash logo em seguida pôde fazê-lo mudar de ideia. Ele faria aquilo, de uma forma ou de outra. Ele só precisava encontrar esse tal Ritchie, e uma vez que o fizesse... Bom, as coisas não seriam nada belas.





Na manhã seguinte, Ash foi o primeiro a se levantar. Ele não havia dormido direito. Afinal, quem conseguiria pregar os olhos vivendo sob tamanha pressão? A cabeça de Ash estava fervendo com pensamentos intrusivos que o faziam ter ÓDIO de Ritchie, mesmo sem nem ao menos conhecê-lo pessoalmente.

Toda a confiança que o garoto de Pallet havia adquirido em sua jornada anterior, ao lado de Pikachu, Misty e Brock, se foi por água abaixo. Todos os seus sonhos de reencontrar o pai, que está viajando o mundo em uma jornada supostamente interminável, foram destruídos de uma hora para a outra, e sua mãe... Oh, sua pobre mãe!

Ash estava tão obstinado em sua jornada, que achava um SACO ter que ficar falando com ela no telefone todo santo dia (e em alguns dias, mais de uma vez!). Mas agora... Agora Ash sentia REMORSO por destratá-la, pois ele não sabia o que ela estava enfrentando sozinha por, bem, todos esses anos!

O garoto era tão inocente, mas tão inocente, que ele jamais percebeu o peso que a coitada arduamente carregava em suas costas, praticamente a esmagando. Mas em todos esses anos, ela havia se segurado para não deixar que essa pedra caísse sobre seu precioso filho. Ela ficou em silêncio para PROTEGER Ash e agora... Bem, agora toda a sua inocência tinha sido arrancada de si com força, e nada poderia doer mais do que isso.

Ash se achava praticamente um adulto por já correr o mundo sozinho em suas jornadas Pokémon... Bem, AGORA ele tinha problemas de Adulto! E adivinha só: Ele se deu por conta que não era bem assim... Ele não estava pronto para superá-los.

Era tipo 07:30h quando Ash se escovou e se vestiu, descendo dos dormitórios que ficavam no segundo andar e indo em direção ao hall do Centro Pokémon. Tracey, Snap e até mesmo Pikachu, continuavam dormindo. Usualmente, ninguém se acordava antes das 09:00h da manhã, então ainda era bastante cedo para eles.

Mas se Ash não tivesse se levantado naquele momento, talvez ele não tivesse tido a chance de encarar os seus problemas de frente! Ali mesmo, parado diante da Enfermeira Joy, que curava seus Pokémon, estava ele: Ritchie, o menino que Ash mais odiava no mundo, com todas as suas forças, por fazer sua mãe (e agora ele) sofrerem.

Assim que o viu, um misto de nervosismo com sangue quente tomou conta do sistema de Ash. Suas mãos tremiam e ele tinha vontade de chorar, mas se conteve. Ele sabia que se começasse agora, não iria mais parar. Então reuniu toda a sua força e coragem, que a estas alturas, já eram quase inexistentes, e se aproximou do menino de costas, cada passo parecendo uma marcha rumo ao inferno. Ele não queria ir, mas se obrigava.

Então, quando chegou próximo o suficiente, tocou sobre o ombro do garoto de cabelos castanhos e de boné azul (o mesmo azul das roupas anteriores de Ash). Ritchie se virou e, para a surpresa de Ash, estava com um sorriso enorme no rosto. Ash se viu naquele sorriso. Aquele era ele ANTES de saber de tudo o que sua mãe o contou. Até mesmo a posição do Pikachu de cabelinho espetado no ombro do garoto era IGUAL a como o próprio Ash costumava ser antes de ter sua inocência destruída.
 Oi, tudo bem?
Ash permaneceu em silêncio. Sua cabeça estava a mil, os pensamentos indo para lá e para cá em um turbilhão. Ele tinha tanta coisa para dizer, mas naquele momento, não conseguia se decidir sobre o que falar primeiro. Ele até se esqueceu como falar.
 E-e-eu...
 Ah, eu te conheço!
De repente, Ritchie pegou Ash de surpresa! Ele não esperava que o garoto dissesse aquilo.
 Você é Ash Ketchum, certo? Meu pai gosta MUITO de você...
 O-o-o que?!
Aquilo desestabilizou Ash de uma maneira, que ele sentiu suas pernas tremerem. Ele não estava preparado para ouvir o que acabara de ouvir.
 É, ele é seu fã. Ele acompanha a sua jornada há bastante tempo. Sabe exatamente COMO você conquistou cada uma das insígnias de Kanto!
 E-e-ele sabe...?
 É! Você poderia me dar um autógrafo? Digo... Para eu levar para o meu pai e dizer que eu te encontrei na minha jornada!
 ... ...... .... ....
Ash ficou sem reação. Não era aquilo que ele esperava de Ritchie. Ash estava "pronto" para despejar toda a história que vinha amargurando seu coração esse tempo todo, mas ao ser confrontado com um sorriso gentil e carismático, talvez até meigo, mas principalmente INOCENTE, por parte de Ritchie, ele ficou sem saber o que fazer.
 Q-q-quer batalhar?
Essa foi a primeira coisa que veio à cabeça de Ash naquele momento. Uma batalha. Talvez ele pudesse compreender melhor quem Ritchie era e como as coisas haviam chegado a esse ponto por meio de uma partida. Batalhas Pokémon são um esporte como outro qualquer, e através dos esportes, as pessoas demonstram mais sobre elas mesmas do que jamais imaginariam... O corpo fala mais do que a boca. E talvez assim, Ash pudesse resolver este impasse com o garoto, que para falar a verdade, NEM SABIA que o Ash tinha um impasse com ele...

E isso elevava o problema para um proporção ainda mais extrema, tornando-se ainda mais difícil de lidar: Ritchie NÃO SABIA quem Ash verdadeiramente era. Seu meio-irmão, por parte de pai. Então Ash pensou que durante a batalha, ele conseguisse se soltar e contar o que PRECISAVA contar a Ritchie, só não sabia como.
 Eu aceito!





Assim, Ash e Ritchie dirigiram-se aos fundos do Centro Pokémon, onde uma arena de batalha se estendia diante deles, ao ar livre, como uma quadra de vôlei de praia, só que sem a rede. A areia era branquinha e as ondas do mar iam e vinham em sua direção, criando uma ambientação totalmente oposta à paisagem mental na qual Ash se encontrava no momento.
Nosso protagonista respirou fundo enquanto segurava a pokébola de seu primeiro Pokémon, ponderando se deveria lançá-lo mesmo ou não.
 O que acha de uma Batalha Completa, de 6x6?
 Por mim parece ótimo.
Não parecia nada ótimo. Ash queria vazar dali. Deixar o país, se pá, escapulir do Planeta Terra. Mas ele aguentou firme e por mais que sua barriga doesse, as entranhas se contorcendo de tensão, ele seguiu em frente, determinado a fazer o que tinha que quer feito.
 Kingler, eu escolho você!
 Koki-koki!
 Puxa vida! Você tem um Kingler! Que legal!
Ritchie então pega a sua própria Pokédex para analisar Kingler. Até isso ele tinha igual a Ash! Mais um motivo para nosso herói sentir ciúmes.
 Kingler, o Pokémon Pinça. Sua garra cresceu maciçamente e é tão dura quanto aço. Porém, por ser muito pesada, é difícil manuseá-la. Ela tem uma potência de dez mil cavalos.
 O meu Pokémon será... Veepy! Vai!
 "Veepy"?
Veepy era o nome do Eevee de Ritchie, que emergiu da Pokébola tão sorridente quanto seu treinador. Ash, por outro lado, estava agoniado. Normalmente, as batalhas Pokémon lhe eram prazerosas, mas aquela ali, embora ainda nem tivesse começado, estava sendo penosa.
 Vui, vui!
 Eevee, o Pokémon Evolução. Um Pokémon raro com um código genético irregular e instável, então pode evoluir de várias maneiras. Ele pode sofrer mutação se for exposto à radiação das pedras de evolução, sendo capaz de se tornar para qualquer uma de várias formas avançadas altamente distintas.
 Podemos começar?
Ash apenas assentiu com a cabeça. Ele gostava de pensar que estava sendo cauteloso com as palavras, mas no fundo, no fundo, ele estava com medo.
 ...
 Time Duplo, vai!
Então, a batalha teve início com a primeira movimentação de Eevee, que começou a correr pelo campo de batalhas em disparada, criando duplicatas perfeitas de si e deixando Kingler sem saber onde mirar.
 Jato de Bolhas!
 
Kingler, por sua vez, tentou soprar as mesmas bolhas que deram a Ash a vitória no desafio de Cissy, mas diferentemente das latinhas de refrigerante, que estavam paradas em uma posição fixa, Eevee estava correndo, e para piorar, havia muitos deles. O golpe falhou...
 Veepy, eu estou contando com você! Desmantelar!
O verdadeiro Veepy então corre para cima de Kingler e o derruba com um jogo de corpo amplificado pela gravidade, causando mais danos que o habitual, mas o próprio Eevee parece sentir os efeitos colaterais do golpe no processo.
 Agora que sabemos qual é o verdadeiro... Kingler, Martelo-Caranguejo!
O Rei dos Siris então projeta sua pinça gigantesca na direção do Eevee que havia acabado de derrubá-lo e ataca, mas Eevee rapidamente escapa do ataque correndo.
 
 O Time Duplo não cria apenas cópias do Pokémon como também aumenta sua capacidade de evasão. Em outras palavras, a esquiva de Eevee foi aprimorada! Agora, Veepy, Investida Furiosa!
 Vuuuuuuiii!
 Investida Furiosa?
 É um ataque que Veepy e eu inventamos!
Além de sorridente e confiante, Ritchie parecia ser um cara legal, o que deixa Ash em maus, ou melhor, PÉSSIMOS lençóis. Como Ash poderia acabar com a alegria de um jovem assim? E foi nesse momento, enquanto nosso treinador favorito estava distraído em seus próprios pensamentos, que Eevee acertou mais um golpe, derrubando Kingler novamente. O crustáceo era pesado e seu exoesqueleto era rígido, o que tornava difícil para ele se desvirar. Ash soube que tinha que acabar com aquilo de uma vez por todas.
 O próximo golpe será o último que seu "Veepy" verá! Guilhotina, vai!
 O QUE?!?!?!
 
Kingler ergue-se novamente com a ajuda de sua pinça grandiosa e a fecha em torno do pescoço do pequeno Eevee, levando à derrota instantaneamente. Parece que Ash já começou em vantagem, embora de uma maneira forçada, que não era o seu estilo preferido de luta.
 Retorne, Veepy! Meu próximo Pokémon vai acabar com o seu Kingler! Tenppa, vai!
 Tenppa?
 É, esse é o nome do meu Tentacruel.
 Tenta!
 Tentacruel, o Pokémon Água-Viva. Ele estende seus 80 tentáculos para formar redes de cerco venenoso que é difícil escapar. Seus tentáculos absorvem a água e esticam quase infinitamente para prender suas presas e inimigos.
 Outro tipo Água. Isso será moleza. Kingler, continue com a Guilhotina!
Kingler segue apontando perigosamente suas pinças na direção do oponente, mas ao se aproximar o suficiente de Tentacruel, o crustáceo percebe que não consegue fechá-las em torno da pele esponjosa e fofa de seu adversário.
 Parece que o nível do meu Tenppa é maior que o do seu Kingler! E tem mais: Ele não é apenas um tipo água, mas também um tipo Venenoso, então parece que temos uma certa vantagem, pois água não é nosso único STAB! Depressa, Tenppa! Use Ácido!
 
Tentacruel rapidamente esguicha um líquido verde corrosivo que atinge o exoesqueleto de Kingler, enfraquecendo-o de tal maneira, que a Defesa Especial do Pokémon de Ash foi imediatamente prejudicada.
 Agora troque para o Hidro Bomba!
Na sequência, Tentacruel muda o fluido que está esguichando: de ácido, ele passa para água, e o golpe atinge Kingler com uma força além da esperada, levando o Pokémon caranguejo a nocaute e trazendo aquela disputa ao primeiro empate.
 
 Koooki-- @-@!
Ash recolhe Kingler de volta à pokébola enquanto sua cabeça não para de martelar a seguinte frase: "Ele me derrotou, ele é melhor do que eu. Ele me derrotou, ele é melhor do que eu. Ele me derrotou, ele é melhor do que eu." Claro que Ash sabia que aquilo era irracional e que todo aquele drama havia começado por conta de um gatilho que ele tinha, mas não havia razão que freasse o turbilhão de emoções que o garoto de Pallet estava sentindo nesse momento.
Ash encarou Ritchie nos olhos e abriu a boca para falar tudo o que ele tanto queria falar, mas nesse mesmo momento, Ritchie perguntou:
 Por que está demorando tanto? Mande logo o seu próximo Pokémon!
 Oh! Sim! Claro! Primeape, eu escolho você!
O segundo combatente de Ketchum era nada mais nada menos o Pokémon que outrora fora cor-de-rosa, um importante lembrete de que cor não define gênero, muito menos personalidade. Afinal, Primeape estava longe de ser uma patricinha de Beverly Hills, ele era um Pokémon astuto, de músculos rijos e temperamento explosivo.
 Pra-prai, meipei! 😡
Ritchie pega instantaneamente a sua pokédex, que era igualzinha à de Ash, para analisar:
 Primeape, o Pokémon Macaco-Porco. Se você se aproximar enquanto ele dorme você pode acabar acordando-o, começando assim uma furiosa caçada com esse primata bêbado de sono. Ele persegue qualquer um que faça contato visual.
Ash, sabendo que Ritchie era de Kanto, se perguntou se Ritchie havia conseguido aquela pokédex com o Professor Carvalho e se, para fazer isso, o garoto teve de ir até a Cidade de Pallet, sem saber que a algumas quadras de distância, o meio-irmão estava morando sozinho com a mãe, abandonado por um pai imaturo e irresponsável.
 Primeape, acabe com ele! Soco Dinâmico!
Primeape salta e avança na direção de Tentacruel, desferindo um poderoso murro na cara do Pokémon água-viva, que não tem para onde escapar. O golpe é um acerto crítico e o Pokémon de Ritchie fica automaticamente fora de combate...
 
 Puxa, você é muito bom!
Como Ash poderia ficar com raiva de Ritchie se o menino continuava o elogiando? Nesse momento, Ketchum enfrentava uma mistura de sentimentos conflitantes em seu peito que estavam prestes a fazê-lo explodir.
 Feappo, eu escolho você!
 Um Spearow...
 Spiiiih!
 Spearow, o Pokémon Pássaro Pequeno. Ele bate suas asas sobre a grama para encontrar insetos. Quando encontra, puxa-os do chão com o seu bico. Suas asas são curtas, por isso não pode voar por longas distâncias.
Por mais que Ash desejasse se concentrar única e exclusivamente na batalha, sua mente acabava vagando entre o desejo de contar toda a verdade para Ritchie, que parecia alheio à situação, e o medo de fazê-lo.
Em contrapartida, assim como Ash pensava que uma batalha podia revelar os sentimentos de Ritchie a ele, o contrário também era verdadeiro. Ritchie sentia como a áurea de Ash estava pesada e como seus Pokémon estavam reagindo com raiva e rancor, sincronizados ao pensamento de Ketchum.
 Por que você está tão bravo?
 Hã?
Ash é pego de surpresa. Ele não esperava aquela pergunta.
 É que... É que...
Ash está com a resposta na ponta da língua, mas não consegue se soltar e contar a verdade para o meio-irmão. E isso se torna cada vez mais difícil conforme Ash fica mais e mais exposto ao sorriso inocente de Ritchie. Ash não queria estragar a felicidade dele, assim como foi estragada, a sua.
 Não dá... É muito difícil...
 Você está passando por tempos difíceis, não está? Mas vai ficar tudo bem, eu lhe garanto. Se você precisar de um ombro amigo, depois desta batalha, eu posso te escutar. Não sou muito bom em dar conselhos, mas pelo menos eu posso te ouvir.
Ash fica ainda mais paralisado diante da declaração de Ritchie. Como Ash poderia ir contra alguém tão delicado, tão gentil, tão... PERFEITO?!
 Me desculpa, Ritchie. Eu não posso! Primeape, Castigar!
Primeape, submerso em uma fúria palpável, irrompe em direção a Spearow, pronto para um ataque múltiplo de socos e pontapés imparáveis, mas...
 Feappo, voe para o alto e escape!
Imediatamente, Spearow voa para o alto e se esquiva habilmente do ataque.
 Agora, Feappo! Use a Bicada!
Corajosamente, Spearow abre as asas e plana na direção de Primeape, desferindo poderosas estocadas com o bico, causando dano superefetivo contra o macaco-porco.
 
 Primeape!
 Pra-prai!
Primeape sacode a cabeça e se levanta novamente, ainda mais furioso do que antes, pronto para dar um direto no queixo em Spearow.
 Continue!
Ash nem precisava ter dito aquilo, pois mesmo que não desse nenhum comando ao seu Pokémon, ele seguiria tentando esmurrar Spearow. Primeape era do tipo que jamais pararia até ver seu oponente no chão.
 Spearow, voe para longe de novo!
 Primeape, continue perseguindo! A Pokédex disse que Spearow não consegue voar por muito tempo!
Tal e qual a enciclopédia eletrônica havia anunciado, aconteceu. Spearow se cansou de fugir voando e Primeape conseguiu lhe atingir um, dois, três... cinquenta golpes consecutivos, esmurrando a ave que atendia aos comandos de Ritchie e levando-a ao extremo.
 FEAPPO!!!
 
Spearow cai no chão, deveras ferido, e naquele instante, quando tudo parecia estar acabado, um facho de luz branca atingiu seu corpo, que instantaneamente começou a passar por uma metamorfose. As asas, que outrora não podiam alçar voo por muito tempo por serem curtas demais, agora impressionavam em sua envergadura. O bico, antes pequeno e curvado para baixo, agora era comprido e fino, uma saliência pontiaguda que se assemelhava a uma agulha projetando-se de sua face. As garras nos pés ficaram mais afiadas e a crista sobre sua cabeça, que agora lembrava um moicano, servia-lhe de coroa.

Fearow bradou furioso, com sede de vingança pela surra que tomou de Primeape.
 Fiiiiii!
 E-e-ele evoluiu!!
Ketchum encara o Pokémon sem piscar. Ele jamais poderia pensar que seria o responsável por engatilhar a evolução de um Pokémon do seu maior rival, aquele que tinha do mesmo sangue que ele, mas uma vida totalmente diferente. Uma vida que Ash queria ter tido, mas nunca pôde...
 Fearow, o Pokémon Bico. Fearow é famoso por seu pescoço longo e bico comprido. Eles foram desenvolvidos especialmente para ajudá-lo a apanhar presas no solo ou na água. Consegue manter-se voando no céu por bastante tempo sem pousar.
 Vá, Feappo! Use a Bicada novamente!
Fearow desce dos céus em um rasante, mirando seu bico em direção a Primeape. Mas desta vez, a protuberância aguçada girava em alta velocidade, como uma furadeira, indicando que não apenas Spearow havia evoluído, como também o seu movimento, que agora era chamado de Bico-Broca!
 
Bastou um golpe do superefetivo Bico-Broca para varrer Primeape da partida, levando-o a nocaute. Ash arregalou os olhos, ainda incrédulo que ele havia causado a evolução do próprio adversário, e em sequência, já sacou sua próxima pokébola, percebendo estar diante de uma ameaça maior do que ele pensava inicialmente...
 Muito bem, Primeape! Volte! Você foi incrível. Agora, eu escolho... Muk! Vá!
 Mã-mã-mãc!
A próxima escolha de Ash é o lodoso Muk, cujo corpo fétido consistia em resíduos poluentes derretidos.
 Deixe-me ver...
Ritchie pega sua pokédex para analisar Muk.
 Muk, o Pokémon Lodo. Um pokémon sujo e feito de lama. É tão tóxico que mesmo suas pegadas contém veneno. Seu cheiro é tão horrível que pode causar desmaios.
 Ugh! Percebe-se!
 Não dê bola para o que ele fala, Muk! Use Bomba de Lodo!
Apesar de parecer uma grande gosma mole e derretida, Muk consegue ter certa agilidade em abrir sua bocarra e expelir bombinhas de lodo tóxico, atingindo e contaminando Fearow com sua peçonha.
 Ah, não! Feappo! Use seu Ataque de Fúria!
Em contrapartida, Fearow se aproxima com seu novo e alongado bico e o mira contra o corpo lamacento de seu adversário. No entanto... Como Muk é extremamente mole e, portanto, maleável, era como tentar furar água. Os golpes de contato direto eram totalmente amortecidos pelo Pokémon de Ash, ao passo que o bico de Fearow agora estava todo sujo e fedendo. Imagine esfregar o seu nariz na maior pilha de lixo do mundo! Fearow estava em apuros!
 
O Pokémon de Ritchie se contorcia e retorcia com a reviravolta inesperada. Esse era o momento perfeito para Ash atacar.
 Soco Concentrado!
Aproveitando-se que Fearow estava momentaneamente incapacitado de atacar, por conta do agonizante "aroma" impregnado em suas narinas, Muk atinge o pássaro com um punho extremamente enrijecido, contrariando todas as expectativas.
 Fiiiiii! >.<
 Feappo, use Bico-Broca mais uma vez!
Fearow rapidamente transforma seu bico em uma furadeira e o mira justamente no punho energizado de Muk. Como o punho estava rijo, Feappo pôde acertá-lo com êxito!
 
Ash agora estava começando a se concentrar de verdade na batalha, esquecendo-se por um breve momento de sua angústia.
 *Pensando* Precisamos achar um jeito de pará-lo! Ei, Já sei!
 *Pensando* O que ele está tramando...?
 Agora, Bomba de Lama!
 Bomba de Lama? Mas ataques do tipo Terrestre não são eficazes contra Pokémon do tipo Voador!
 Quem disse que nós queremos causar danos?
Muk solta tiros de lama, desta vez sem veneno. O golpe não causa dano algum em seu alvo, mas Muk expele uma quantidade tão grande de barro que pesa Fearow e faz com que o Pokémon caia, perdendo completamente a estabilidade do voo.
 
 Agora sim! Pancada Corporal!
Muk então salta e se atira sobre o corpo estirado de Fearow, esmagando-o como uma prensa.
 
 Essa não! Feappo, crie pressão para sair daí! Ataque Veloz!
Fearow cria um redemoinho de lâminas em formato estelar que avançam e geram uma força para cima, libertando-o do apertão mortal de Muk. O golpe é um acerto crítico...
 
...e não há escapatória para Muk, senão entregar-se.
Esta é a segunda vitória consecutiva de Fearow. Ash precisa ser cauteloso, pois está lidando com um oponente difícil. Somado à preocupação da batalha em si, após um breve momento de esquecimento, Ash torna a se afligir por conta de seu terrível objetivo de contar a Ritchie toda a verdade, algo que ele não tinha a menor ideia de como iria fazer.
Nisso, Ash começou a sentir uma dor no peito. Literalmente. Ele sentia como se seu coração estivesse disparado e toda essa angústia estivesse fazendo uma pressão sobre o peito do garoto, causando ainda mais aflição.
 *Percebendo o óbvio* Está tudo bem?
 E-eu...
Ash começa a ofegar, mas ele precisa manter a calma e a concentração. Ele está no meio de uma disputa, muito mais do que contra Ritchie, mas contra si mesmo.
 Lapras, eu escolho você!
 Oooooh!
A próxima escolha de Ash é seu Lapras-bebê, que emerge da pokébola com um sorriso simpático no rosto, tal como o de Ritchie. Pensar que Lapras e Ritchie poderiam ser bons amigos só deixou Ash ainda mais mal.
 Raio Congelante!
  
Então, com uma baforada criogênica, Lapras solta rajadas de automaticamente transformam Fearow em pedra sólida, finalmente derrubando o poderoso "ás aéreo" de Ritchie.
 Feappo, você foi muito bem. As coisas estão esquentando!
E estavam mesmo. Ash suava frio, seu corpo estava em chamas. Ele sentia uma angústia extrema que agora se projetava em sua garganta, como se uma bola de preocupação houvesse se alojado fisicamente abaixo de seu maxilar, no pescoço, causando uma sensação de peso e náuseas.
Ash virou-se para o canto e vomitou. Ele ainda não tinha tomado o café da manhã, então tudo o que expeliu foi água.
 Ash! Você está bem?!
Ritchie corre para o outro lado do campo de batalhas, para acudir Ash, o que só fez o garoto de Pallet sentir-se ainda pior. Por que Ritchie era um cara tão legal? Talvez fosse por isso que o seu pai o havia escolhido ao invés de Ash...
Não. Isso era só mais um pensamento invasivo tomando conta da mente de Ash, tomando se apossar de seu juízo. Ash precisava manter-se firme. Ele precisava seguir adiante com o seu objetivo.
 Eu... Só estou um pouco enjoado... Não se preocupe!
Ash se levanta e coloca-se em posição novamente. Ritchie fica desconfiado.
 Tem certeza?
 Tenho sim. Agora volte para lá para que eu possa acabar com você!
 Hahah! Convencido...
Ritchie retoma sua posição no campo e a batalha continua.
 Happy, vaaaai!
A próxima Pokémon de Ritchie era Happy, uma Butterfree, e Ash nem precisava olhar na Pokédex, pois ele próprio tinha uma, então era uma espécie que ele conhecia como a própria palma. A Ritchie, no entanto, era fêmea, e o de Ash, era macho.
 Furiii-furiii!
 Happy, Esporos Atordoantes!
Butterfree então balança suas asas, deixando escamas microscópicas caírem na direção de Lapras...
 Lapras, depressa! Pule na água!
O Pokémon de Ash então se arrasta pela areia da praia e vai em direção ao mar. Ele entra e desaparece na água, e os esporos de Happy não podem alcançá-lo, sendo totalmente inutilizados.
 Agora: Raio Congelante!
 
Lapras emerge a cabeça para fora e sopra novamente suas rajadas criogênicas contra o oponente. Mas Ritchie foi rápido no contra-ataque.
 Proteção!
Butterfree ergue uma barreira protetora, um campo de força que anula toda e qualquer tentativa de Lapras de causar danos.
 Agora, Lapras! Revolver d'Água!
Com a falha do Raio Congelante, a barreira protetiva de Butterfree se desfaz, então Lapras pode acertá-la com um golpe direto. O Revólver d'água causa um esguicho potente que encharca as asas de Butterfree de tal modo, que elas ficam pesadas demais para voar.
 
 Yeees!
Ash permite se levar pela batalha e pela primeira vez desde que tudo isso começou, ele se deixa sentir-se empolgado. Agora com Butterfree no chão, a batalha estava ainda mais fácil. Isso se Ritchie não tivesse um plano na manga...
 Happy, bata suas asas bem depressa para secá-las! Aproveite e use essa "Lufada de Vento" contra o Lapras!
Butterfree ataca e ao mesmo tempo se liberta até mesmo das gotículas mais microscópicas d'água que a estavam aturdindo. Mas Lapras não fica parado, esperando sofrer danos...
 Nevasca!
Lapras combate a ventania de Butterfree com outro ataque que produz uma rajada de vento, a Nevasca.
 
Ambos os golpes colidem no ar e anulam um ao outro. Nenhum dos Pokémon sofre danos. Ash e Ritchie então preparam seus combatentes para a investida final!
 Confusão!
 Ira de Dragão!
 
Ao mesmo tempo, Lapras e Happy atacam. Enquanto Lapras sopra uma rajada de chamas dracônicas azuis que serpenteiam perigosamente em torno das asas de Butterfree, Happy envolve o Pokémon de Ash com uma pressão telecinética que o aperta e o estrangula.
 Furiii-- @-@!
 Oooh-- @-@!
Com ambos os Pokémon ficando fora de combate ao mesmo tempo, os treinadores sacam suas pokébolas e os fazem retornar. O desafio da batalha está ficando cada vez mais intenso, ao passo que Ash parece prestes a explodir.
Há tanta pressão em sua cabeça nesse momento, que se colocassem um ovo em uma panela sobre ela, sairia frito.
Nosso treinador de Pallet está suando, vertendo água. Sua testa pinga, escorrendo em direção aos seus olhos, mas ele mantém o olhar fixo em seu oponente e na batalha que se desenrolava à sua frente, muito embora com esforço e dificuldade, já que tudo o que ele queria naquele momento, era fugir para bem longe dali, enfiar-se em um buraco e de lá nunca mais sair.
Mas era um mal necessário.
Ash PRECISAVA falar com Ritchie. Entrar em contato com o seu irmão e contar toda a verdade. A questão era COMO fazer isso.
 Zippo, esta batalha está em suas mãos! Conto contigo!
 Tauros, eu escolho você!
 Grooooar!
 Muuuuuu!
A próxima disputa esta prestes a ocorrer entre Charizard e Tauros. Ambos os Pokémon eram movidos por uma força ardente, preenchendo completamente o campo de batalhas com sua presença.
 Zippo, Ira de Dragão!
 
Da boca de Charizard, uma bola de fogo se projeta e voa em direção a Tauros. O golpe, que era o mesmo utilizado por Lapras para nocautear Happy, a Butterfree, tinha uma aparência diferente da do Pokémon de Ash. Aqui, ele era amarelo e alaranjado, da cor de fogo mesmo, refletindo a afinidade de Charizard com o tipo Fogo, enquanto o de Lapras era azul. Os efeitos, entretanto, eram os mesmos!
A bola explode no rosto de Tauros, que fica irritado, conforme seu HP despenca em 40 pontos de uma só vez.
 Muuuuuu!
 Calminha aí, Tauros! Use Desmantelar!
 Zippo, use o mesmo ataque!
 
Ambos os Pokémon, furiosos, investem um contra o outro e o esperado acontece: uma colisão frontal de proporções sísmicas! Vence, no entanto, Tauros, cuja força nos chifres supera a de Charizard e empurra o falso dragão para longe, fazendo-o desabar.
 Boa, Tauros!
 Ugh! Isso não vai ficar assim! Zippo, Redemoinho de Fogo!
 
Com destreza, o ferido Charizard ergue a cabeça e sopra uma rajada de chamas violenta em espiral contra Tauros, prendendo o Pokémon de Ash em um ciclo vicioso. Agora, toda vez que Tauros se mover e atacar, ele será consumido pelas chamas do Redemoinho, que crescem ao seu redor e o consomem lentamente.
 Oh, oh!
 Que foi, Ash? Tá com medo?
 O meu medo não é de perder a batalha...
 E qual é, então? Do que você tem medo?
 De que aconteça a você, o mesmo que aconteceu comigo...
Ash deixa escapar. Quando percebeu, ele já havia falado. Bem, não havia sido tão difícil quanto ele pensava que seria, certo?
Errado.
 O que? O que você quer dizer com isso, Ash?
 N-n-não é nada... Deixa para lá.
Ash amarelou. Quando colocado contra a parede, ele não conseguiu dar o passo necessário... Ash precisava de um empurrãozinho ou talvez um pontapé... E essa era a palavra perfeita para o momento, considerando que Zippo, o Charizard, vinha aí com um golpe físico frontal contra Tauros, envolvendo seus pés em energia ardente!
 Mega Chute!
Charizard parte para cima de Tauros, ainda cercado pelas chamas espirais do Redemoinho de Fogo, acertando um chute diretamente na testa com três pontos do bovino endiabrado. Tauros não gostou nadinha da recepção calorosa de Charizard e devolveu com um chute traseiro, apenas para ser pego pelas chamas novamente e levar ainda mais dano...
 
 Ora, Tauros! Não se rebaixe! Aqui, não lutamos por impulso!
Tauros muge, contrariado, enquanto Charizard dá risada. Mas as coisas não estavam indo tão bem para o seu lado quanto ele pensa...
 Finalize com o Hiper Raio! Agora!
Os três pontos na testa de Tauros se iluminam com um brilho laranja vivo, e tão rápido quanto o bater de asas de Charizard para tentar se esquivar, lançou-se uma rajada de plasma quente e altamente energética.
 
O impacto, contra as costas do lagarto de fogo, resulta em uma explosão que levanta poeira pela praia, e com certeza depois dessa, ninguém mais estava dormindo no Centro Pokémon ao lado. Charizard é nocauteado.
 Aaagh! Você foi muito bem, Zippo! Agora descanse!
 Você é bom, Ritchie. Muito bom. Assim como eu.
 Puxa... Obrigado.
 Mas eu tenho todas as razões do mundo para acreditar que nós dois somos iguais! Nem melhor nem pior que o outro... Então... Por que a vida foi tão diferente para nós?
 Hã? Ash... Você está me assustando... Está tudo bem com você?
Não estava nada bem. Isso era óbvio. Nítido. Mas Ash não queria se abrir com Ritchie. Toda vez que o garoto perguntava, percebendo o que estava acontecendo com seu adversário, Ketchum desviava do assunto e voltava a focar na batalha.
Desta vez, Ash não respondeu diretamente ao questionamento de Ritchie, mas também não se absteve de dar uma resposta.
 Vai ficar.
Ritchie, sem conseguir desvendar os mistérios por trás das falas de Ash, crê que se ele vencer aquela partida, poderá arrancar do garoto de Pallet tudo o que ele estava escondendo. Nessas alturas, já não dava mais para disfarçar, Ash claramente estava passando por alguma situação, mas não queria falar para Ritchie. Estava explícito na cara de Ash, não havia como negar.
Então, preparando-se para a última rodada deste confronto, Ritchie convoca seu último Pokémon...
 Sparky... Chegou a sua vez!
 Bika, bika!
Sparky, o Pikachu de Ritchie, que tinha um penteado maneiro, desce de seu ombro e se coloca em campo, em posição de batalha.
 Você também tem um Pikachu...
 É, foi o meu pai quem me deu!
Não, não podia ser!
 O que?
 Sparky, o Pikachu... Ele me foi dado como pet antes mesmo de eu pegar o Zippo como meu Pokémon Inicial, com o Professor Carvalho!
 Mentira!
 Sério! Tô falando a verdade!
 É que... O meu pai também "me deu" um Pikachu de estimação...
 Ah, é? Nossa, que coincidência! Nossos pais têm gostos muito parecidos, então!
 É, deve ser isso, mesmo... (sarcasmo)
Ash não podia acreditar no que havia acabado de ouvir. Seu pai havia mesmo dado um Pikachu para ambos os filhos... E por ideia DA MÃE DELE!!!

Ash sentia-se enojado, mais do que quando vomitou. Que homem desprezível! Como ele podia ter feito aquilo com Ash? Como ele podia tê-lo abandonado e depois tentado "reiniciar do zero" com a família de Ritchie? Como Ash podia ter sido colocado de escanteio? Como ele podia ter sido completamente negligenciado dessa maneira, e o outro filho não?

O que dava mais nojo ainda era saber que seu pai o estava "acompanhando" à distância enquanto Ash se aventurava em suas jornadas Pokémon, mas sequer apareceu para lhe parabenizar por uma vitória que fosse, ou para, ao menos, lhe dar algumas explicações... Pelo contrário, o homem ficava agindo pelas sombras, com medo de encarar as consequências dos próprios atos e só tornando isso ainda pior.

Agora, uma única palavra ecoava na mente de Ketchum: "Covarde". E não era porque Ash não encontrava coragem para dizer o que sentia a Ritchie, mas porque ele finalmente se deu conta de quem seu pai verdadeiramente era...

Um imbecil CAGÃO.
 Quer saber? Foda-se! Foda-se o meu pai, foda-se tudo isso!
De repente, Ash dá a volta por cima. Ele limpa o suor da testa com a luva e volta sua concentração para a batalha, com um novo ânimo e a energia renovada. Ele chegou à conclusão por si só, depois de muito sofrer, que o responsável por essa cagada toda não era ele. Então, não era responsabilidade DELE contar ao Ritchie... A responsabilidade era do covarde do pai deles, que não tinha coragem de assumi-lo como filho legítimo. Ele que tinha que passar por essa humilhação, e não Ash.
 Tauros, como você está se sentindo?
 Muuuuuu!
 Ótimo! Eu também, amigão! Eu também! Agora vamos lá e mostre para o que viemos! Time Duplo!
Como Tauros havia derrotado Charizard com o Hiper Raio, ele não precisava ficar parado para recarregar (1ª geração, guys), então o bovino rapidamente emendou um segundo movimento e começou a replicar sua própria imagem diversas vezes, preenchendo a quadra em instantes. Mas aquela era uma disputa entre dois treinadores, e não um confronto entre dois Pokémon selvagens... Vencia quem tinha as melhores ideias e a melhor imaginação.
 Sparky, use a Agilidade e destrua cada uma das cópias, conforme elas forem surgindo!
 
Sparky começa a correr e sua velocidade se amplia drasticamente conforme ele vai investindo contra cada uma das cópias de Tauros e, ao colidir com elas, desfazendo-as em um borrão que logo se apaga, como se nunca tivesse existido. Leva pouco menos de 5 segundos para Pikachu ter anulado toda a tática esquiva de Tauros e o campo de batalhas retornar à sua ocupação normal.
 Não é possível!
 Ah, é sim! Sparky, Trovoada de Choques! Agora!
Pikachu desprende uma descarga elétrica a partir de seus pelos, enviando um raio através do ar que rasga o campo de batalhas e a certa Tauros, levando-o ao último mugido...
 
 TAUROS!
 Vamos lá, Ash! Let's Go! Let's Go! Você só tem mais um Pokémon e eu também! Estamos próximos do fim!
Ash retorna Tauros à sua cápsula e começa a refletir... Ele queria usar o seu Pikachu agora, mas ele estava dormindo com Snap e Tracey lá no Centro Pokémon... Seria uma batalha de proporções épicas. Pikachu contra Pikachu... Ambos os "pets" que foram dados aos seus filhos, em um confronto único. Mas Ash se perguntou se usar um Pokémon Elétrico contra outro de mesmo tipo, seria uma boa ideia... Pela primeira vez, ele decidiu refletir sobre as tipagens e, por alguma razão, achou melhor lutar com o que tinha em mãos, afinal, quanto mais DIFERENTE ele fosse de Ritchie, melhor. Ele só queria se distanciar de toda essa confusão, e se os times dos dois eram parecidos, que essa coincidência ficasse no passado!
 Snorlax, acabe com ele!
 Shnore, shnore!
 Puxa vida! Ele é enorme!
 Olha como você fala com o meu Pokémon!
 Não foi de maneira pejorativa, eu juro!
 Eu estava brincando.
Pela primeira vez desde que aquele INFERNO de partida começou, Ash se permitiu soltar um leve um sorriso. Ele finalmente estava SOLTO.
 Tudo bem, mas quando eu digo que eu quero vencer, não é brincadeira! Vá, Sparky! Onda do Trovão!
As bochechinhas elétricas de Sparky começam a fagulhar, soltando faíscas que correm pelo campo de batalhas em velocidades impressionantes, na tentativa de paralisar o adversário. Snorlax, no entanto, absorve as ondas muito bem com sua camada espessa de gordura e as evita completamente.
 Ahá! A "Onda do Trovão" tem altas chances de falhar! A sorte está a meu favor! Snorlax, Soco de Gelo!
Com um rugido gutural parecendo um ronco, o Pokémon ursídeo salta e energiza o punho com temperaturas criogênicas, voando para cima de Pikachu e espancando-o com um golpe gelado.
 
Ao ser atingido pelo murro, com o menor contato com a pele resfriada de Snorlax, Pikachu começa a congelar e, de repente, se vê preso em um bloco de gelo, seu próprio corpo transformado em um picolé amarelo.
 SPARKY!!!
 Parece que o jogo virou, não é mesmo?! Agora, Snorlax! Finalize com Pancada Corporal!
 Shnore!
Snorlax salta e, com a ajuda da própria gravidade, utiliza seu peso corporal para prensar o agora imóvel Pikachu contra o chão, aniquilando toda e qualquer esperança de Ritchie em vencer aquela partida.
 
 Ah, não! Nós perdemos!
 *Pensando* Não, Ritchie... Vocês venceram! Só não sabem ainda... Quem perdeu FUI EU!
Ritchie recolhe seu Sparky de volta à pokébola e se aproxima de Ash, para congratulá-lo pela vitória.
 Você batalhou muito bem! Foi uma batalha empolgante! Obrigado por isso!
 Eu é que agradeço, Ritchie.
Ash cria coragem e, diante do sorriso desarmante do irmão, estende a mão para Ritchie, algo que ele jamais pensou que faria, ainda mais odiando-o tanto por dentro.

Quando Ritchie aperta a mão de Ash e o treinador de Pallet sente o calor do irmão entrando em contato com o corpo dele pela primeira vez, ele finalmente percebe que não é Ritchie a quem ele deve odiar... Ritchie também não tem culpa de nada, assim como ele... Ash estava direcionando seu ódio para a pessoa errada, um inocente.

E por falar em inocente, Ash agora tinha convicção de que ele deveria permanecer assim... Contente, sorridente, sem saber das atrocidades que envolvem a sua família. Talvez fosse melhor assim... Melhor ficar no escuro, sem saber da verdade, e viver feliz, do que saber de tudo, mas andar se arrastando por aí, mergulhado em infelicidade, derrotado, como Ash vinha fazendo...

Mas por alguma razão, algo dizia a Ash que o silêncio absoluto também não era a resposta. Ele precisava dar um sinal. Precisava mostrar que estava ciente dos fatos e que agora seria tarde demais para tentar reverter qualquer injustiça causada contra ele...
 Escuta, Ritchie. Me desculpe por antes, eu estava me sentindo um pouco enjoado... Por acaso você ainda vai querer aquele autógrafo para o seu pai?
 Oh, é claro! Se você não tivesse falado... Eu havia me esquecido completamente!
Como quem não quer nada, Ash fala do autógrafo, uma maneira que sua mente sábia encontrou de mandar uma mensagem para o vagabundo do seu pai.
 Pronto! Aqui está.
Ash entrega o papel e a caneta para Ritchie, que lê o bilhete, com atenção, sem entender nada...

Eu já sei de tudo,

Com carinho e consideração,
Ash Ketchum!

 "Eu já sei de tudo"? O que isso quer dizer?
 Que eu sei que ele acompanha a minha jornada e é meu fã, como você havia mencionado!
 Aaaah, sim! Entendi!
Deu certo.
 Obrigado por tudo, Ash. Agora eu vou lá cuidar dos meus Pokémon!
 Ei, Ritchie. Espera aí! Tem mais uma coisa que eu gostaria de dizer...
 Hã?
 Cuida bem da sua mãe. Ela foi a primeira e será a última a sofrer com tudo isso...



Dez minutos depois, quando Ritchie já havia ido embora, Ash foi encontrado por Pikachu, Tracey e Snap, contemplando a imensidão do mar, sentado com as pernas cruzadas na areia da praia. Ele estava tranquilo e sossegado, pela primeira vez em muito tempo.
 ASH!
 O que está fazendo?! Nós te procuramos por todo lugar!
 Pika, pika!
 Eu... Estava resolvendo umas coisinhas... Nada que vocês precisem se preocupar.
Ao dizer aquilo, o rosto de Ash se iluminou e seus amigos perceberam que algo havia mudado. Seu amigo estava de volta!










O Estádio Pummelo estava lotado. Os insulanos haviam vindo de todos os cantos das Ilhas Laranja prestigiarem a grande batalha contra Drake, o Líder de Ginásio Supremo e Campeão da Liga.
 Obrigado por ter vindo, Ash! Será um prazer coordenar esta Batalha de Reide contra você!
 Imagina, Drake! Eu é que agradeço pela oportunidade!
 Antes de começarmos, eu preciso esclarecer como funciona! Mesmo que você talvez já saiba, é importante que o pessoal que está assistindo em casa (e sim, esta é uma partida televisionada) aprenda este novo estilo de batalha! Durante a partida, você lutará contra o Pokémon Legendário, um espécime raro de proporções gigantescas. Você pode usar todos os Pokémon que possui (temos um PC aqui caso precise buscar mais), mas somente 4 de cada vez, num tempo máximo de 10 minutos. Além disso, você precisa saber que o chefe da Reide pode invocar alguns Pokémon selvagens como seus aliados na partida, no que eu chamo de uma "Batalha SOS", então você precisa dar conta deles também. Ficou claro?
 Como a luz do dia!
 Ótimo! Então vamos começar!

Drake assopra um apito em formato de pokébola no colar que ele tinha ao redor do pescoço. Então, invocada pelo som que se amplificou com os microfones, a criatura descrita como "legendária" começou a surgir do oceano, que misteriosamente ficou encoberto por uma névoa sinistra. De dentro da água, o ser colossal emergiu, cada passo ecoando e formando ondas em direção à praia. Conforme se aproximava do Estádio, dava para perceber que seus olhos brilhavam, enchendo o coração de Ash de excitação.


Tão grande que sua cabeça alcança a altura do farol da Ilha, um Gigante Dragonite se pôs de frente a todos, em meio à multidão de expectadores e rugiu ao chegar, marcando o início daquela batalha.

 Ooooooh!
E como se o desafio de enfrentar um Pokémon gigantesco não bastasse, logo no início, Dragonite convoca dois Rhyhorn que viviam por ali para lutarem ao seu lado.


Ash olhou para os TRÊS Pokémon que tinha que enfrentar de uma só vez e se perguntou se seu pai o estava assistindo, onde quer que estivesse. Ele só queria ter visto a CARA que o homem certamente fez quando recebeu o bilhetinho junto ao autógrafo entregue por Ritchie.
Então, antes que voltasse a se preocupar com o que não deveria, Ash balançou a cabeça e disse para si mesmo para deixar para lá. Não era mais problema dele! Nunca foi, na verdade. O único problema estava à frente de Ketchum neste exato momento e ele sabia que precisaria manter a mente limpa e tranquila, longe de qualquer turbulência, se quisesse vencer. E assim, nosso herói ergueu a cabeça e foi à luta!

[Fim]


Disclaimer: Oi, o meu nome é Kevin e eu sou um homem adulto que gasta horas e horas de seu precioso tempo escrevendo e editando fanfictions de Pokémon por pura diversão! Eu não recebo um centavo por isso! Nunca recebi uma doação sequer para apoiar minha produção! Todo o meu trabalho é movido puramente por amor à franquia e eu o faço para me sentir feliz, o que geralmente acontece toda vez que eu termino um capítulo, e mais ainda, quando eu termino uma história. Então, se você chegou até aqui, não esqueça de deixar um comentário abaixo, caso contrário, não tem como eu saber se estão gostando ou não, nem receber sugestões de melhoria. Vamos lá, comente! Assim como eu escrevo sem receber nada por isso, comentar também é de graça e ajuda o autor a entender melhor os seus erros e aprimorar a escrita.

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2 Comentários

  1. Amigo, esse capitulo ficou sensacional, eu achei maneiro vc por a ideia do Richter ser irmão do ash ja que são parecidos kkkkk, entendi algumas referencias e outras eu devo ter perdido, mas a batalha pra mim ficou bem interessante. Ficou foda mano, parabéns :D

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    Respostas
    1. Obrigado pelo apoio! Fico muito feliz que tenha gostado!!! Só tenho a agradecer!!!!

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