Vs. Ludlow
Vovô, vovô! Você tem um tempinho?
Ah, eu tenho todo o tempo do mundo, filhinho!
Eu estou fazendo um trabalho para a escola e queria saber se posso te entrevistar.
Me entrevistar? Oh, seria uma honra!
Eu só tenho uma pergunta a fazer. Mas é uma pergunta difícil, hein?
Manda a ver.
Vovô, me diga... Como é ser o senhor?
Dolorido, sem sombra de dúvidas. Minhas costas estão me matando, nesse exato momento!
Não, não, não! Não é disso que eu tô falando. Eu digo... Sobre quem o senhor é, de verdade. Como é ser você.
Oooh, entendi! É claro. Que bobo, eu fui!
Bom... Acho que a palavra "tranquilo" é o que define ser um vovô como eu, apesar das dores da idade e do corpo não funcionar mais como deveria... (E eu não estou falando só do bilau!)
Hoje eu não me preocupo com mais nada... Estou tacando o f****se para tudo! Oops! Perdão, falei caca! Mas a verdade é essa... Para mim, maturidade se define como o quanto a gente consegue não se abalar com as coisas que acontecem ao nosso redor, e seguir firme, resiliente, não importa o que venha a acontecer. Infelizmente, levou muito tempo para que eu atingisse esse ponto...
Sabe, eu queria ter a sua idade outra vez, mas com a cabeça que eu tenho agora. Quiçá eu tivesse feito tudo diferente? Mas não se pode ter tudo na vida, não é? A maturidade só chega quando não podemos mais aproveitar tudo como antes. Talvez se eu tivesse sido um pouco mais esperto e me alertado para isso mais cedo, eu não tivesse desperdiçado toda a minha juventude...
Quando eu era jovem, eu gastei a maior parte de meu tempo seguindo meus próprios ideais, sendo egoísta com aqueles ao meu redor. Eu passei muito tempo na farra, fazendo festa, bebendo, fumando, atentando contra a minha própria saúde e fazendo as maiores doideiras que você jamais imaginaria um vovô fazendo. Mas eu fiz. E hoje eu percebo que tudo isso foi a maior perda de tempo de todas... Quando meu filho faleceu, eu percebi tarde demais que não passei tempo o suficiente com ele. Eu percebi que não dei a devida atenção para aquilo que mais importava: as pessoas que me amavam.
Então, eu entrei em uma profunda depressão. Eu me medico até hoje, por conta disso. Quer dizer... Depois de uma certa idade, ir à farmácia torna-se tão recorrente quanto ir ao supermercado, mas você entende o que eu quero dizer. Faço consultas com psiquiatra e psicólogo desde então, e tenho tentado ser uma pessoa melhor... Porque depois que Goushou faleceu, você sabe... Ficou aquela sensação de vazio. De que algo não estava certo. De que a vida estava passando diante dos meus olhos e que eu estava perdendo alguma coisa... Algo que eu não compreendia até então, mas que logo se tornou nítido em minha mente.
Foi essa sensação de perda que fez com que eu me reaproximasse do meu neto. Se eu tivesse sido um pai presente para Goushou, talvez ele também tivesse sido um pai presente para Friede. Só sei que o ciclo se repetiu e mesmo que eu estivesse voltando agora, depois de muitos anos sumido, absorto em minhas próprias "jornadas" mundo afora, nada disso poderia ser consertado. Mas poderia ser perdoado. E foi a gentileza de Friede em aceitar meu mais sincero pedido de desculpas que permitiu que eu me curasse.
Hoje, eu me sinto bem comigo mesmo. Aposentado, eu tenho tempo de sobra para atividades que antes eu não dava valor, mas que agora fazem um bem danado para minha saúde mental, como meditar, ler um bom livro e pescar. Coisas que exigem paciência, algo que eu nunca tive antes.
E talvez este tenha sido o meu maior pecado de todos: ser impaciente. Na verdade, uma pessoa furiosa. Eu nunca soube controlar minha raiva. Eu tinha surtos de fúria quando mais novo, eu ficava violento. E... Isso era culpa minha sabe? De certo modo, mesmo que eu não controlasse o que eu sentia, eu ainda podia controlar o que eu FAZIA. Mas eu acabava optando por ceder à loucura e esmagava com meus próprios punhos qualquer um que ousasse atravessar a minha frente durante uma crise de mau humor. Ironicamente, Drampa, meu parceiro, parece sofrer do mesmo efeito quando está com a vida baixa.
Mas a vida é assim... Você não sabe o que está fazendo, até escorregar e bater de cara no chão. E às vezes aquele escorregão se faz tão necessário quanto respirar. Necessário para te fazer aprender a lidar com a vida e com os outros, necessário para te fazer respeitar o próximo, independentemente de suas escolhas, e necessário para te fazer se situar. Se colocar no seu próprio lugar e entender quem você é e o poder que tem em suas mãos.
Quando eu tinha a sua idade, eu costumava zoar meninos assim como você... E olhe para mim agora!
Assim como eu, como?
Ingênuos, alegres... Que ainda não foram corrompidos pelo mundo.
... ..... ....
É, eu te disse... Eu nunca fui flor que se cheire. Mas hoje, depois de muito apanhar, eu progredi ao ponto de entender que o que eu fiz foi errado, embora isso não me dê o poder de consertar as coisas, apenas de me lamentar por ter sido ignorante durante tanto tempo... Mas se a velhice tem uma vantagem, é que agora eu consigo farejar uma mentira de longe!
Ah, é?
É. Inclusive... Por que você está fazendo essas gravações, Roy? Não me diga que é para um trabalho de escola. Nessa, eu não caio!
C-c-como você...?!
Eu já te disse. Eu sou velho. Eu sei das coisas... Você está se sentindo só, não está?
É... Estou.
Deve ser horrível estar confinado nesse dirigível em pleno voo, sem ninguém da sua idade para conversar e a única pessoa que mais se aproxima da sua faixa etária te ignora completamente....
Hã?
Escuta, Roy. Aquela menina... Liko... Ela te ignora não porque quer, mas porque ela tem problemas. Muitos problemas. Ela quer te poupar disso. Então... Dê um tempo a ela. Escute meu conselho. Eu sou velho. Querendo ou não, eu agora sei das coisas...
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