Vs. Orla
Orla, Orla! Poderia me dar uma ajudinha aqui?
Claro, meu amor! Como eu posso te ajudar?
É que eu estou gravando para uma tarefa da escola.
Tipo um documentário?
Mais ou menos. É sobre as pessoas que eu admiro e como elas se enxergam no mundo.
Oooh, uau!
E como eu te admiro muito, eu queria saber... Como é ser você, Orla? Me conta (olhando para a câmera)...
Err... Assim eu fico sem jeito. Mas vamos lá... Como é ser a Orla?
Ser a Orla é ser uma idiota. Perdão pela palavra! Ser a Orla é ser constantemente feita de trouxa pelos outros. E quando eu digo os outros, eu quero dizer... Homens. Mas por que eu deveria estar falando isso, não é? Corta! Vamos começar de novo!
Não. Continue. Apenas... Seja você mesma.
Bom... Acho que esse é o problema!
Quando eu sou eu mesma, eu me deixo apaixonar por quem não presta. Eu sou muito emocionada! Sempre me arrumo para os encontros e acabo deixando transparecer uma beleza externa que não combina com a beleza interna dos caras com quem eu me envolvo.
Por mais que não pareça, meu sonho é me casar. Isso soa bobo para a maioria das pessoas. E talvez até seja uma ideia induzida pelo patriarcado, se você parar para pensar... Uma maneira que as igrejas inventaram de controlar as pessoas, de mantê-las se reproduzindo, e claro, de recolher o dízima. Mas... Sei lá. Pode me chamar de careta, de cafona, do que for... Eu curto muito essa questão da monogamia.
Desde a minha adolescência, e talvez até da infância, eu tenho sonhado em formar uma família. Ter algo que eu possa chamar de porto seguro, um berço para o qual eu sempre possa retornar. Então eu acabo me sujeitando aos mais terríveis (des)encontros na tentativa de suprir esse meu desejo irrefreável de ser alguém para outro alguém.
Mas eu não deixo que a minha carência afete o meu lado profissional! Jamais! Um dos pré-requisitos essenciais para que eu me atraia por alguém é que essa pessoa jamais me coloque entre ela e o meu trabalho, porque eu sempre vou escolher o meu trabalho! Quer dizer... Eu sou uma Engenheira Mecânica! Eu fui a primeira pessoa na minha família a concluir um ensino superior, então ter um diploma é meu motivo de maior orgulho! Eu jamais deixaria que alguém me afastasse do meu serviço por ciúmes ou qualquer outra questão emocional.
E nesse sentido... Eu sempre vou entender mais as máquinas do que os seres humanos. As máquinas são complexas. Elas precisam de muitas peças e componentes para funcionarem. Assim como a gente. Mas a diferença é que se uma máquina estraga, dá para reparar. De uma maneira ou de outra, você pode intervir e fazer aquele dispositivo se tornar útil novamente. Já se uma pessoa se estraga... Eu não tenho tanta certeza assim. E é isso o que me leva a crer que talvez eu nunca encontre alguém certo para mim! Eu posso manipular uma engrenagem para que ela opere da maneira que eu quiser, mas eu nunca poderei fazer isso com uma pessoa.
Nossa, como eu soei manipuladora agora! Mas eu não sou nada disso, tá bom!? Foi só um devaneio... Um pensamento dito em voz alta!
A verdade é que eu vivo a maior parte do meu tempo com a cara enfiada em motores de veículos automotivos. Eu também gosto muito de barcos e computadores, especialmente os quânticos. Este dirigível aqui só está voando hoje por minha causa! Sempre que eu posso, eu estou fazendo um reparo e outro e aprimorando a tecnologia que permite que esta carcaça se mantenha no ar.
Dito isto, eu não tenho muito tempo para nada além do meu trabalho. Então quando eu me aproximo de uma pessoa, é difícil que eu não me apaixone. Quer dizer... Se alguém consegue atrair minha atenção por tempo o suficiente para longe das máquinas, então eu simplesmente começo a tratá-la como alguém importante, mesmo que esta pessoa não me veja da mesma forma.
E a propósito... Você deve estar se perguntando se eu já fui chamada de puta por ter vários encontros e nunca parar com um único cara? Bem, eu sou uma mulher, é assim que essa droga de sociedade me vê! Mas eu não ligo. Eu tenho uma formação, eu tenho um emprego e sou feliz naquilo que faço, então que se dane o que os outros pensam! Se é disso que querem me chamar, então eu ergo um cartaz e faço desse xingamento meu sobrenome! Sou puta SIM! Se os homens podem andar com uma e com outra, engravidar as moças e jamais assumirem seus filhos e não são julgados dessa maneira, então por que eu deveria me importar? Só porque eu sou mulher eu não deveria viver minha sexualidade?
Droga, Roy! Você vai ter que cortar essa parte! Isso não é apropriado para a escola!
Mas, enfim... Por mais que eu tenha tantos defeitos, eu tento cuidar de mim mesma. Me alimentar bem, fazer exercício... Sei lá, eu só me amo o suficiente para saber o que eu quero para mim e o que eu NÃO quero. E eu faço dessa escolha algo particular. Não quero que ninguém interfira no poder que eu tenho sobre o meu próprio corpo, sobre a minha própria vida. E eu acho que isso só tem dado certo porque eu me sustento, sabe? Eu imagino o quão difícil deve ser para mulheres que não tiveram as mesmas oportunidades e os mesmos privilégios que eu, que estão por aí, presas em relacionamentos abusivos porque não conseguem encontrar maneiras de sobreviver sem o apoio financeiro do marido. É triste, mas... Muito real.
Então quando você me pergunta como é ser a Orla, eu te digo que é complexo. Desde que eu me entendi por adulta, eu tenho tentado tomar as melhores decisões por mim mesma. Às vezes eu não sei se eu estou certa. Na verdade, quase nunca eu sei. Mas... Só de saber que eu posso fazer minhas próprias escolhas, eu me sinto bem. Porque se eu errar (e eu SEI que eventualmente eu irei), eu lidarei com as consequências e aprenderei com isso. Então nunca há caminho errado a se trilhar... E saber disso meio que me conforta.
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