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*Inspirado pela série DARK, de Baran bo Odar, Jantje Friese*
Alguns dias atrás...
Kurotsugu Glowing está treinando por aproximadamente 4 horas seguidas em frente ao Galaxy Hall, em Jubilife Village, com o auxílio de Cyllene, a Capitã do Departamento de Pesquisa da Equipe Galaxy.
Todos os Pokémon do pretendente de Akari Shining estão lutando contra seu pequeno Rowlet, no que à primeira vista, parece ser uma tortura para a corujinha, muito embora se trate de um treinamento justamente para melhorar suas habilidades de combate.



Seguindo obedientemente seu treinador por horas a fio, o pequeno Pokémon de Tipos Planta e Voador bate suas asas com muito esforço e voa pelos céus de Jubilife, contornando chamas, circulando entre ondas eletromagnéticas e se lançando ao alto em um giro espiral para evitar ser engolido por um tsunami...
SUCESSO! Rowlet conseguiu escapar de todas as ofensivas... Mas seu esforço ainda não havia sido o bastante, pois Kuro continuou ordenando:




Mesmo muito cansado, Rowlet parece determinado a ajudar seu treinador a alcançar seu objetivo. E com isso, ele utiliza suas últimas energias para produzir uma bola de clorofila pulsante que é enviada diretamente contra Rhyhorn, causando um empurrão no Pokémon encouraçado, que é levado a nocaute no mesmo instante!

Então, como consequência de sua vitória sobre o Tipo Terrestre/Pedra, Rowlet fica envolto por um brilho iridescente...

A excitação atingiu o peito já repleto de ansiedade de Kuro, dando-lhe ainda mais energia!

Mais alguns segundos e Rowlet, estava se transformando... Parece que todo o treinamento finalmente havia valido a pena! As asas do pequeno Tipo Voador estravam se alongando e sobre sua cabeça outrora "careca", cresceram folhas que lembravam uma franja, caindo à frente de seu rosto.


Evoluído em Dartrix, o Pokémon Inicial de Kuro agora chirriou um pouco mais grosso, ostentando sua nova e remodelada aparência.


Kuro dá as mãos para Dartrix e os dois começam a rodopiar, pulando de felicidade!










Cyllene pegou algumas pokébolas cujo design Kurotsugu Glowing não conhecia e as lançou para o alto, soltando Pokémon gigantescos, que o garoto não tinha certeza se poderia derrotar...


Agora, no escritório da mesma...



Cyllene manteve-se em silêncio diante da pergunta de sua pupila. Como ela poderia responder aquilo?





Outra vez o silêncio.














Minha vida não foi fácil... Eu sempre fui uma garota pobre. Minha casa era de madeira, o piso rangia e sempre tinha roedores de primeira rota, aquelas pragas, em meio aos encanamentos... De de dia era como andar descalço na beira de um vulcão em erupção, de noite era como mergulhar sem roupas no polo norte. Não tínhamos nenhum conforto. Nenhum luxo. Eu fui criada à míngua. Sempre fui magrinha, mas não porque eu era indisciplinada e não me sentava à mesa na hora certa, mas porque... Bem, você já deve imaginar... Às vezes eu subia na pia da cozinha para ver se meu avô estava escondendo comida de mim no armário aéreo, onde eu não alcançava. Mas ele nunca estava...
Um determinado dia, quando eu estava em minha oitava geração, quer dizer... Em minha oitava primavera, eu me acordei com o barulho de alguma coisa balançando do lado de fora de minha janela. Eu pensei que fosse a maldita veneziana de ferro que não fechava direito e seguido me acordava batendo com a força do vento. Mas desta vez não era.
Estava uma neblina desgraçada lá fora, e a garoa era insistente, não parava de salpicar a terra havia dias, criando poças não só do lado de fora, como também do lado de dentro, inundando meu quarto e todo santo cômodo daquela velha casa nos confins dos confins da Região de Hoenn. Entretanto, a figura do meu avô dependurado do lado de fora da minha janela, com os olhos abertos, mas já sem vida, completamente inexpressivos, fixos em mim, ficou para sempre gravada em minha mente.
Meus pais, eu nunca conheci. Meu avô se mudou para Hoenn quando eu era apenas um bebê, então eu cresci com ele sendo minha única companhia. E vê-lo partindo antes da hora, sem sequer me deixar um bilhete ou me explicar por quê, me fez sentir sozinha como eu jamais havia sentido antes... Eu experimentei a solidão pela primeira vez naquele dia e parece que me viciei... Ela se senta todos os dias à mesa comigo, como uma fantasma que está ali para me lembrar de que a vida é uma merda e as emoções, tal como meu avô me dizia, só tornavam a jornada penosa e excruciante.
Meu avô era o tipo de pessoa que sonhava grande... Ele não se contentava com o que a vida lhe oferecia, ele sempre queria mais. Queria mais do governo, queria mais das pessoas. Queria sempre o melhor. Mas ele jamais conseguiu. Ele me ensinou que a vida não é sobre chorar, mas também não é sobre sorrir. É sobre encontrar o equilíbrio, a ausência de emoção, só assim é possível atingir a racionalidade.
É engraçado... Quando eu era criança, eu morria de medo de insetos! Um dia, um Wurmple entrou na oficina onde meu avô e eu trabalhávamos de metalúrgicos e eu gritei desesperada. Ele me pegou pela mão e me obrigou a ir até aquele ser desalmado que rastejava em sofrimento pelo chão, sem jamais caminhar.
Você deve estar pensando... O que ele me obrigou a fazer? A passar a mão naquele bicho, que era capaz de me queimar a pele só de tocar? Não. Ele me disse:
"Mas eu não quero, vovô".
E eu pisei.
Foi então que eu compreendi o que ele queria dizer. Todo o meu medo por aquela COISA invertebrada havia sido enterrado pela sola de meus sapatos. O bicho gosmento, que nem sequer sangue possuía, mas um gogo esbranquiçado, jazia inerte no chão. Eu me senti empoderada. Senti como se eu pudesse fazer tudo o que o meu medo me dizia para não fazer. E essa foi a lição mais importante que ele deixou para mim...
Se eu tive remorso? Bem, tive. Por pouco tempo... Por um segundo, quando estava limpando o chão, reparei que aquele Wurmple destripado era especial. Ele tinha um chifre diferente, na cor amarela na parte detrás da cabeça, o que não é comum para a sua espécie. Eu me peguei pensando como seria legal tê-lo para mim...
Quem sabe ele poderia evoluir para algum tipo irado de Dustox que a gente sequer conhece...
E então me questionei... Como criaturas tão pífias como Wurmples poderiam ser especiais? Como poderiam ter características únicas que os diferenciavam uns dos outros? E por que essa diferença fazia deles indivíduos singulares nessa vastidão que é o cosmos?
Pensamentos assim foram o que me fizeram compreender o que meu avô jamais conseguiu compreender... Ele passou a vida inteira buscando construir um mundo novo, do zero! Reuniu uma equipe de cientistas... Físicos e astrofísicos... Na tentativa de compreender as nuances do Tempo e do Espaço, e na possibilidade de invocar os deuses para fazer-lhes um único pedido.
Meu avô foi um homem glorioso, de enorme prestígio entre os arqueólogos e estudiosos. Sabia de cor muitas lendas e mitos, e foi esse conhecimento que o levou até o topo, mas também a sua queda... Ele chegou a viajar pelo mundo em peregrinações que resultaram na coleta de itens e Pokémon que haviam sido engolidos pelo rigor do tempo, chegou a controlar seres que a humanidade esqueceu-se por completo de sua existência, e chegou a abrir portas e janelas para o futuro da ciência moderna, através de treinamento, disciplina e muita, mais muita seriedade e amor pelo seu trabalho.
Mas quem diria, não é mesmo? Derrotado por três crianças de dez anos que recém haviam começado sua jornada... Os planos de meu avô foram por água abaixo da noite para o dia... Tudo o que ele havia construído foi soprado para longe por forças invencíveis, tirado de suas mãos como água que escorre por entre os dedos...
E ele foi condenado a vagar sozinho num abismo sem fim, um lugar onde as leis da física pareciam não se aplicar, um umbral de desfiladeiros que não levavam a lugar algum...
Até que, apareceu alguém para tirá-lo de lá. Eu mesma. Adulta.







Eu não sabia de quem era aquela voz. Era masculina, com certeza, mas também poderia ser feminina. Era, no mínimo, estranha. Parecia a voz de alguém conhecido e a voz de alguém que eu nunca ouvi. Parecia uma criança, um adulto e um velho falando, ao mesmo tempo. Parecia uma única voz, mas também um coro de centenas de pessoas, como se todas as pessoas que já tivessem, algum dia utilizado suas cordas vocais para transmitir alguma mensagem, estivessem reunidas na garganta de um único ser, emitindo em uníssono, uma mensagem que parecia doce e ao mesmo tempo grave, aguda e ao mesmo tempo, rouca, rochosa. Era algo que eu nunca havia escutado antes. E mesmo encantada com tamanha estranheza, mantive-me calma e quieta, pressionando as pálpebras com força para evitar que a luz entrasse e eu visse a imagem de meu avô na janela. Eu achei que ainda estava sonhando. Achei que aquilo não passava de um pesadelo. Mas ao mesmo tempo... Como poderia algo tão belo existir apenas na minha cabeça? Como poderia uma subjetividade tamanha, uma obra de arte em forma de timbre ser apenas um mero fruto da minha imaginação? Eu fiquei intrigada...
Não resisti. Abri os olhos e vi uma criatura brilhante... Não, brilhante era muito pouco. Lustrosa. Reluzente. Cintilante. Radiante. Resplandecente. No lugar em que meu avô estaria, ela pousava graciosamente flutuando no ar com seus mil braços, a me olhar, enquanto sua luz me transmitia uma sensação de ternura e afeto que eu jamais senti em toda a minha vida. E quando eu pus meus olhos em sua forma divina, elevada à quinta potência, ela me disse:
Arceus.
Esse era seu nome.
Um Pokémon, mas também, um Deus. Dizem os mitos que ele criou o Universo e eu não tenho razões para desacreditar nisso. Depois do que ele me disse e mostrou, tudo fez sentido...
Sabe, desde que meu avô morreu, eu me vi sozinha nesse mundo. Cada dia era mais cinza que o outro, eu só queria não acordar. Mas lá estava eu, toda manhã me arrastando para fora da cama e tendo que lutar contra uma ratazana maior que eu para roubar um pouco de comida do padeiro enquanto ele estava distraído.
Ele me disse que eu tinha uma viagem a fazer. Eu perguntei:

Foi nessa de caminhar e conversar que eu entendi que eu havia sido abençoada com uma Revelação. Arceus disse que eu estava morrendo e que precisava lutar pela minha vida. Como Deus, ele me daria uma chance de provar que eu merecia viver e me perguntou se eu confiava nele. Eu disse que sim. Então, ele me levou para um espaço diferente...
Um lugar que parecia saído dos contos de fada, onde o em cima ficava embaixo, e o ao lado ficava em frente.
Quando olhei para o lado, para perguntar a Arceus onde é que eu estava, ele simplesmente havia desaparecido. Eu estava SOZINHA naquele tártaro abisso, mas eu ainda podia ouvir sua voz falando em minha mente.
"Siga em frente. Sua vida depende de tirá-lo daqui."
Eu pensei "tirar quem?" e "daqui de ONDE?", mas antes que a voz pudesse me dar uma resposta, eu o vi. Um homem de feições magras, morrendo à míngua, contemplando o horizonte interminável de rochas flutuando no espaço, com um olhar vazio e inerte, ausente de qualquer expressão.

O homem se virou em minha direção. Estava magro, esquelético e muito, mas muito mais novo, embora sua aparência estivesse acabada. Mas sim, era ele.
Perguntou.

O homem parecia estar confuso. Dava para sentir os neurônios estalando dentro de sua caixa craniana, tentando estabelecer alguma conexão que fizesse sentido, mas totalmente em vão.

Eu olhei nos olhos dele e pude perceber a indiferença. Ele não me conhecia. Claro, com aquela aparência jovial, como poderia? Meu avô sempre foi velho, desde que eu me lembro. E aquele ali não era...

O homem me olhou sem entender nada. Ele parecia ter deletado todas as memórias de seu cérebro, vivendo em um mundo tão sombrio e caótico como aquele em que estava confinado, mas eu me dei por conta de que talvez ele não tivesse perdido nada, talvez ele não tivesse vivido todas aquelas coisas AINDA.

E foi quando eu mencionei o nome do Nosso Senhor, que os olhos sem vida de meu avô jovem brilharam, enchendo-se de emoção:


Para uma pessoa que buscava ser 100% racional e 0% emocional, ele me parecia muito feliz naquele momento. Mas eu não discuti. Ao invés disso, tentei me fazer de entendida, como se eu soubesse o que estava acontecendo, e disse para ele:

Durante meus tempos de solidão, minha infância, adolescência e o começo da vida adulta sofrida, eu aprendi a pensar diferente da maneira como o meu avô enxergava o mundo. Eu aprendi que são as emoções, o subjetivo de cada um, que nos torna únicos, tão singulares quanto aquele Wurmple de chifre amarelo que eu esmaguei quando criança. E que sem essa subjetividade, seríamos vazios como grãos de poeira... Vazios como planetas sejam vida, apenas rochas maciças girando no espaço, sem nenhum propósito aparente.
O Universo pode ser gigantesco, IMENSO, de uma escala que jamais será possível que nós, meros mortais, compreendamos. No entanto, se nós, seres pensantes e sencientes, não existíssemos, ele seria só isso: um amontoado de matéria vagando sem rumo por toda eternidade. É por causa do que sentimos, daquilo que vem de dentro do peito, que nossa vida pode valer a pena. Se a emoção não existisse, não haveria razão. Uma coisa está atrelada à outra. Um mundo sem emoção é um mundo em que não compensa estar vivo.
Então eu virei minhas costas e fingi que estava me afastando dele, enquanto pulava para longe, devido à baixa gravidade daquele mundo, que fazia com que parecesse que eu estava na lua.
O homem se levantou de abrupto e começou a implorar, gritando por misericórdia. Ele se atirou ao chão e agarrou meu tornozelo, enquanto baixava a cabeça e se colocava em posição de total submissão diante de mim. Ele gritava a plenos pulmões para que eu o tirasse daquele limbo.

Aquilo foi demais para o pobre coitado. Ele começou a chorar de forma copiosa, de uma maneira que eu jamais imaginaria meu avô fazendo. Mas lá estava ele, suplicando pela misericórdia divina, achando que eu fosse um anjo enviado por Deus ou algo assim, capaz de purificá-lo de todos os seus pecados. Mas eu não era ninguém assim...

Eu disse.

E dei a mão para ele, para que se apoiasse e se erguesse do chão, para longe daquela cena humilhante na qual ele havia se colocado. Foi então que senti uma luz quente atingindo meu corpo, vibrando cada molécula, ou melhor, cada átomo que compunha meu ser, desintegrando-nos por completo.
Quando eu acordei, ouvi uma coisa batendo na minha janela. Relutei em abrir os olhos, com medo de vê-lo dependurado do lado de fora, balançando sem vida. Mas então, senti aquela luz quentinha e aconchegando me preenchendo de novo, e percebi que estava na companhia d'Ele novamente.


Olhei para meu corpo, para meus braços, tentando verificar se havia alguma coisa errada comigo, mas não havia. De fato, eu estava viva, e muito bem, por sinal.



Eu não entendi. Aquelas datas... Tanto 2011 quanto 2021 eram daqui a mais de um século, quase DOIS!!!








Aquela pergunta que Cyllene fez foi a mesma que Zinnia havia feito.
E a resposta de Arceus foi a mesma que Cyllene deu para Zinnia...





Agora...





Zinnia ficou sem saber o que dizer.









Tenho certeza que você jamais conseguirá deletar aquela cena da memória... A outra Zinnia agonizando e perdendo o ar até seus olhos deixarem de brilhar, a vida se esvaindo de suas células tão rápido quanto um piscar de olhos... Mas isso precisava acontecer, de alguma forma, para te tornar quem você é HOJE.


Meu único consolo é saber que, estando em 1846, ele ainda nem nasceu... Então, o pequeno Cyrus ainda tem uma vida muito, mas muito grandiosa pela frente. Ele tem um império a construir, um legado a deixar, e consequentemente, uma coroa a perder.
E no fim das contas, todos nós um dia cairemos. Nosso mundo e o mundo em que meu avô foi levado estão condenados. Isto é certo. Mas o que acontecerá depende de nós... Se a passagem será sofrida ou tranquila, depende da gente. Somente DA GENTE. Entendeu?
Continua...
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