Pokémon Laços: 50 Tons de Vermelho - 01: Rosa Velho


1996


O cheiro de Pallet Town era de grama molhada e terra fresca. Eu adorava isso. Aqui, o mundo parecia seguro, pequenino, como meu quarto. O Professor Carvalho sempre dizia que Pokémon eram amigos, mas eu nunca tive um de verdade até aquele dia. Quando ele mostrou Bulbasaur, Charmander e Squirtle, meu coração bateu forte. Bulbasaur me olhou com olhos redondos, meio assustado, e eu soube que ele era meu. Nem sabia direito o que era uma jornada, mas queria ficar com aquele bichinho verde. Blue escolheu Charmander, como sempre querendo ser o primeiro em tudo. E a Green... Ela apareceu do nada, roubou o Squirtle e sumiu. Achei que ela era doida. E isso resume o início de tudo.


No começo, era tudo diversão. A gente corria pelos campos, Bulbasaur pulando atrás de Butterfree's, Blue gritando pro Charmander soltar fumaça. Eu ria até cair no chão. Mas a Green voltou uma semana depois, com o Squirtle machucado e um olhar sério, que não combinava com a gente. Ela não ria. Só falava que "precisava vencer". Não entendi. Como alguém da nossa idade falava assim?  



A primeira vez que senti medo foi em Pewter City. O Líder de Ginásio, Flint, era grandão e bravo, com um Aerodactyl que fazia o chão tremer. Embora seu nível fosse baixo, ainda era um Pokémon muito forte e terrivelmente assustador.

Bulbasaur tremeu também, mas eu falei: "Você consegue!". Ele usou Chicote de Vinha, prendeu o fóssil vivo pelas asas e o impediu de voar. Com Aerodactyl imobilizado, bastou uma série de Folhas Navalha para que o Rei dos céus pré-históricos fosse nocauteado.


Flint sorriu e me deu a Insígnia do Cascalho. Fiquei com o peito quentinho, orgulhoso, como se tivesse crescido um metro. Blue me cutucou: "Foi sorte, Red! Eu vou ganhar mais insígnias!". Ri, mas naquela noite acordei suando. Sonhei que o Onix engolia Bulbasaur, e eu não conseguia gritar.  

A Green apareceu no ginásio de Cerulean quando a gente já ia embora. Ela lutou contra as irmãs da água como se tivesse ódio do mar.


O Squirtle dela soltou bolhas tão fortes que o Goldeen voou pra fora da piscina. Ela pegou a insígnia e saiu sem falar com a gente. Perguntei pro Blue: "Por que ela é assim?". Ele encolheu os ombros: "Talvez não tenha mãe. O Professor falou que o avô dela era esquisito". Fiquei quieto. Nunca tinha pensado que alguém podia não ter mãe.  
Estava sendo um começo de jornada feliz. De verdade. Por mais que Blue e eu tivéssemos nossas desavenças e que Green fosse um tanto quanto... Esquisita... Nós ainda formávamos uma bela equipe! Quando menor, eu sempre ficava assistindo os campeonatos da Liga Índigo na tevê até tarde e minha mãe brigava comigo por eu ainda não ter ido dormir. Secretamente, eu esperava ela pegar no sono e ligava a tevê baixinho novamente e virava a madrugada assistindo e reassistindo as coleção de fitas cassete do meu pai, que mostravam todas as Ligas Pokémon desde muito, muito tempo atrás! No outro dia, eu ia para a aula morrendo de sono. Quando minha mãe descobriu o que eu estava fazendo, me deixou de castigo: "Sem tevê por uma semana", ela disse, mas aquilo pareceu durar uma eternidade. Acho que a minha professora me dedurou por ter dormido várias manhãs seguidas sobre a carteira.

Mas tudo mudou quando a Sird apareceu, dizendo ser a Líder do Ginásio da Cidade Viridian. Ela tinha um sorriso falso e um jaleco com um "R" vermelho, R de Equipe Rocket.


"Querem uma batalha diferente?", ela perguntou. Blue topou na hora. Eu só queria impressionar ele, então fui junto. Ela nos levou pra um lugar escuro, cheio de máquinas barulhentas. Tinha dois caras lá: um baixinho que ria demais e um grandão que parecia um Snorlax acordado. Sird mostrou três pedras preciosas muito, mas muito brilhantes, como se tivessem sido esculpidas por um Poké God ou algo assim!  

—Escolham— ela disse. — Isso vai deixar seus Pokémon superfortes.

O Cristal vermelho era quentinho. Coloquei-a no bulbo do Bulbasaur para ele segurar. Sird explicou: "Isso faz ele voltar de estágio e ficar mais rápido". Bulbasaur me olhou confuso. Eu também. Blue já estava rindo, mostrando o Charmander dele evoluído pra Charizard. "Olha, Red! Agora eu sou o melhor!". O Charizard dele rugiu, mas os olhos estavam... vazios. Parecia de mentira.  

A minha pedra fazia com que meu Pokémon pudesse devoluir, em troca de sua saúde. A do Blue fazia com que ele pulasse estágios evolutivos, mas mantivesse o nível (e perdesse a cabeça). E a da Green, fazia com que ele evoluísse a qualquer momento, mas sempre retornando à forma inicial no fim da batalha, sem nunca conseguir estabilizar.

Green deu um passo pra trás. "Isso não é certo", ela sussurrou, segurando a pedra verde como se fosse veneno. Eu não sabia o que pensar. Só queria que o Blue parasse de me zoar. 


Em Vermilion City, o Tenente Surge riu da gente. "Vocês são cobaias da Equipe Rocket!", ele disse, mostrando um cristal amarelo igualzinho aos nossos, exceto pela cor, no Electabuzz. O Charizard do Blue quase pegou fogo, e eu tive que puxar ele pra trás. Bulbasaur tentou ajudar, mas Surge me olhou como se eu fosse um inseto. "Cuidado, garoto. Eles vão sugar tudo de você". O jeito como ele disse isso rindo... Na época, eu não entendi. Achei que fosse brincadeira. Mas não, ele estava tirando sarro da gente, porque ele SABIA muito bem que nós éramos as cobaias em um experimento maluco! Claro, ele própria era um membro da Equipe Rocket, mas nós só fomos descobrir isso mais tarde, tarde demais.


Então... A Green sumiu de novo. Encontrei ela na floresta, sentada numa pedra, olhando pro Squirtle. "Eles vão nos usar, Red", ela falou, sem me olhar. "Essas pedras... É como se a gente tivesse vendido a alma". Eu não respondi. Tinha medo de admitir que ela estava certa. Não é como se o Bulbasaur, meu Primeiro Parceiro Pokémon, fosse o mesmo... Ele parecia confuso e cheio de medo. Além disso, sempre que o agora Venusaur passava pela regressão, ele ficava temporariamente mais frágil e desorientado. E eu também notei que Venusaur agora evitava pedras no chão, associando-as ao cristal, e perdia pouco a pouco a confiança em mim.

As coisas não estavam muito diferentes para Blue e Charizard, e Green e Squirtle. Charizard atacava constantemente Blue em crises de raiva, perdendo o vínculo com seu treinador. Além de que Blue precisava usar TMs e Rare Candies para compensar a falta de evolução orgânica, desgastando o Pokémon. Charizard se feria com as próprias chamas ao utilizar movimentos de Fogo e sofria de queimaduras que nunca saravam. Já Squirtle evoluía para Wartortle e depois Blastoise apenas durante batalhas, mas o processo rachava sua carapaça e liberava um líquido âmbar (provavelmente linfa contaminada). Após voltar ao estágio básico, Squirtle ficava com machucados roxos e cicatrizes e o Pokémonzinho diminuto tremia ao ver o cristal, associando-o à dor que nunca lhe abandonava...


Às vezes eu fico pensando... Será que a gente fez a coisa certa aceitando esses cristais? Eles ajudavam pra caramba nas batalhas — o Bulbasaur ficava mais ágil quando voltava a ser pequeno, o Charizard do Blue parecia de certa forma invencível, tirando sua loucura, e até o Squirtle da Green virava um Blastoise na hora do aperto, com dois CANHÕES nas costas!!! Mas aí eu olho pro Venusaur dormindo, com as folhas meio murchas, e lembro como ele não parece confortável ao degenerar para suas formas anteriores. O Professor Carvalho confiou a gente pra cuidar deles, não pra machucar. E agora? A gente virou aquilo que a Equipe Rocket queria: uns idiotas que trocaram a amizade dos Pokémon por um punhado de vitórias vazias. Será que vale a pena ganhar sempre se no final a gente perde o que mais importa? Tentei desencanar, mas estava ficando cada vez mais difícil ignorar.

Quando chegamos na Ilha Cinnabar, o velho Blaine nos contou tudo. Suas mãos tremiam. "Esses cristais são produzidos a partir de Glitches, coisas que não deviam existir. A Equipe Rocket está usando vocês!". A gente sabia o que eram Glitches? Não, mas pelo comportamento errático que Venusaur, Charizard e Squirtle assumiram, a gente assumiu que boa coisa não era. Blue não ligou: "Charizard é forte agora, isso que importa!". Mas Venusaur encostou a cabeça na minha perna, como se pedisse pra tirar aquela pedra. Por que foi que eu não tirei?


A viagem pras Ilhas Laranja começou com um conselho do Professor Carvalho. "Precisa treinar fora daqui se quiser se destacar, Red", ele disse, sério. "Seus Pokémon estão agindo estranho, especialmente Venusaur. Nas Ilhas, o clima é diferente e os Líderes de Ginásio lutam de outra forma, talvez você pudesse dar um passeio por lá e aprender um bocado sobre novas maneiras de como cuidar do seu Pokémon". Eu não queria ir. Tinha medo de deixar o Blue e a Green pra trás, de parecer fraco. Mas Venusaur não obedecia mais — ficava encolho, como se a pedra vermelha fosse uma Ekans enroscada no pescoço dele. Peguei minha mochila, o mapa velho do Professor, e subi no barco com as pernas tremendo. Seria uma semana fora para aprimorar minhas habilidades e depois eu voltaria com tudo para Kanto, para terminar o desafio dos ginásios e ingressar na Liga Pokémon.


As Ilhas Laranja eram... coloridas! Não como a Floresta de Viridian, onde tudo era verde escuro. Lá, a água era azul-clarinho, as árvores tinham folhas laranjas, e até o ar era doce, como as frutas que deixavam os Pokémon cor-de-rosa na Ilha Rosada. Em Valencia, um velho pescador me deu uma vara e disse: "Pega um Lapras, garoto! Eles podem ser usados para transporte entre as ilhas!". Tentei avistar algum e durante horas fiquei jogando o anzol no mar, mas eu só encontrei um Tentacool magricela que fugiu na primeira batalha. Meu Pikachu deu uma risadinha — um som baixinho — e eu ri também. Fazia semanas que não ria assim. E então eu me dei por conta de que aquilo não era para mim.

Foi em Tangelo Island que a conheci. Eu tava perdido, procurando o ginásio, quando ouvi um barulho nas folhas. "Chuuu!" Uma Pikachu amarela como o sol pulou de um arbusto, seguido por um menino de chapéu grande e roupa suja. Ele tinha os joelhos ralados e um sorriso que fazia o Pikachu mexer as orelhas. "Desculpa!", ele disse, abraçando o Pokémon. "A Chuchu fugiu quando viu o seu Pikachu!".


Eu travei. Os dois Pikachu estavam interagindo, pareciam gostar um do outro. O menino era menor que eu, com olhos castanhos que pareciam entender tudo. "Eu... sou o Red", falei, escondendo a pedra vermelha. Ele estendeu a mão: "Eu sou a Yellow. Moro aqui, mas tô perdida também!". Espera aí... "A" Yellow? Então era uma menina? Eu não sabia explicar, mas algo nela atraía a minha atenção. Era uma pessoa no mínimo curiosa e eu como um bom aventureiro, gostava de explorar não apenas o Mundo Pokémon como também todos os seres que habitam nele, incluindo os humanos. A mão de Yellow era quentinha, com terra debaixo das unhas, foi a primeira coisa que eu reparei. Então ela era "rústica", assim como eu? Parece que tínhamos muitas coisas em comum, e isso foi o que bastou para que uma amizade ali se formasse. O meu Pika cheirou a Chuchu dela, e os dois saíram correndo atrás de Vileplumes de pétalas diferentes.


Yellow me mostrou lugares que ainda não estavam nos mapas: uma caverna em Moro Island onde Zubats dormiam dependurados de cabeça pra baixo, mesmo sem terem pés para se agarrarem ao teto; um lago em Sunburst Island onde Psyducks dançavam de noite. Ela não usava Pokébolas — chamava os Pokémon pelos nomes, como amigos. "Aquele Slowpoke gosta de maçãs!", ela apontava. "E aquele Poliwag tem medo de trovão!". Eu ficava olhando, tentando decorar tudo. Ela fazia parecer fácil, como se o mundo fosse um jogo que só ela sabia jogar.  


Um dia, em Navel Rock, ela me puxou pra ver o nascer do sol. "Olha!", sussurrou, apontando pro céu. Moltres apareceu nas nuvens, com asas de fogo, mas ele parecia meio jururu. Concluí que uma galinha eternamente em chamas, sem nunca terminar de assar deveria ser mesmo triste...
Pika se encolheu, mas Yellow riu. "Ele só tá brincando de esconde-esconde com o mar!", disse, como se fosse normal. Quando Moltres sumiu, ela me deu uma pedrinha rosa da areia. "Guarda. É pra lembrar que nem tudo que brilha é ruim."  

Na véspera de eu ir embora, sentamos na praia de Golden Island. Yellow desenhou na areia: um Venusaur com uma flechinha que indicava um Ivysaur e mais outra que indicava um Bulbasaur, um Pikachu e dois bonequinhos sorrindo. "Você volta?", ela perguntou, sem me olhar, triste porque meus dias nas Ilhas Laranja estavam contados. O mar cheirava a sal e algo mais — talvez medo. "Não sei", respondi. Na verdade, não queria ir. Ela encostou a cabeça no meu ombro, e a Pikachu dela deitou na árvore nas costas do Venusaur. Não era como nos filmes, onde todo mundo se beija. Era melhor: ela me entendia sem falar nada.  

Quando o barco partiu, ela acenou até sumir. A pedrinha rosa pesava no meu bolso. Jurei que nunca trocaria ela por uma pedra da Equipe Rocket. Venusaur olhou pra mim, com as folhas mais verdes, e eu soube que ele concordava.

Eu estava de volta à minha Terra Natal, e não demorou para eu me reencontrar com Green e Blue. Com meu treinamento nas Ilhas concluído, eu estava confiante de que eu me tornaria o melhor treinador dentre os três. Mas então... Precisamos enfrentar o pior de todos os Líderes de Ginásio: Giovanni. O último obstáculo antes de encararmos o nosso sonho de frente, a Liga Pokémon. Ele era alto, frio, com uma voz que parecia uma faca.


— Viemos desafiá-lo para nosso último passo até a Liga Pokémon! A Insígnia da Terra! — Eu estava feliz, cada vez mais próximo do sonho de todo garoto da minha idade, mas ele não era o tipo de Líder de Ginásio que se importava com o seu trabalho. Ele não parecia gostar. Era indiferente. Ele só queria tratar de negócios. Um cara que se dizia sem tempo, mas que mesmo assim ainda estava ali, dizendo nossos nomes mesmo antes da gente se apresentar, sabendo de tudo o que havia acontecido em nossas jornadas até agora. Como ele sabia de tudo isso? Bom, para nossa surpresa, ele era o Líder da Equipe Rocket, e o cara que estava por trás dos experimentos com os Pokémon e a criação daqueles cristais que, apesar de nos darem alguma vantagem em batalha, ainda causavam MAL aos nossos Pokémon.

Green até tentou devolver o tal cristal, mas ele basicamente nos disse "Vocês trabalham pra mim agora" e disse que se não respondêssemos ao chamado da Equipe Rocket, ele faria de nossa vida um INFERNO. Bom, já estava sendo.

— Vocês três! — gritou Giovanni, de forma rígida. — Parabéns pela astúcia de me desafiarem! Vocês quase me fizeram retornar aos tempos de infância! Quando eu achava batalhas Pokémon um negócio divertido... Mas saibam que eu vou continuar com meus planos de conquistar o segredo das Glitches e de seus efeitos sobre os Pokémon! A Equipe Rocket vai continuar produzindo cristais e quando chegar a hora... Vocês serão convocados. Eis aqui sua oitava insígnia. Vocês, que perderam... Não precisam batalhar comigo de novo. Eu não tenho tempo para isso. Tomem. Levem esta medalha simplória e vivam suas vidinhas de treinador. Sejam felizes com suas batalhas Pokémon! Vão para a Liga. Deem tudo de si. E retornem quando a Equipe Rocket precisar de vocês... Ou sofram as consequências.

Com o fim da batalha, meu devoluído Bulbasaur estava sangrando, e eu tive que carregar ele no colo até o Centro Pokémon. Naquela hora, senti uma raiva que nunca tinha sentido. Raiva de mim mesmo. Por que eu aceitei aquele cristal? Por quê?!


A Liga devia ser o melhor dia da nossa vida. O lugar onde Pikachu, Venusaur e eu nos tornaríamos famosos. Mas quando entramos no estádio do Planalto/Platô Índigo, o ar ficou pesado, como se uma tempestade chegasse. Blue tava com os punhos fechados, o cristal azul acoplado no Charizard brilhando feito farol. Eu queria acreditar que ele tava confiante, mas seus olhos tremiam. Charizard não rugia mais — fazia um barulho rouco, como fogo preso.  

Quando a batalha começou, Blue gritou "Rajada de Fogo" com uma voz estranha. O ataque acertou o Alakazam de Bill, mas as chamas queimaram as asas do Charizard. Blue correu pra ele, mas o Pokémon avançou, quase mordendo o rosto dele. Nunca esqueci o grito do Blue — metade medo, metade culpa.  


Encontrei ele atrás das árvores, encolhido igual um Rattata fugindo de um Meowth. Ele não me obedece mais!*", ele chorou, com as mãos cheias de cinza. Queria falar algo, mas as palavras não saíram. O que eu podia dizer? Meu Venusaur ainda se encolhia toda vez que olhava para o chão. Blue agarrou minha camisa com força, apertando o meu pescoço: "Eu só queria ganhar, Red! Queria que o vovô me visse!" Sua voz falhou, e eu vi que éramos iguais: dois bobos que trocaram a amizade dos Pokémon por pedras brilhantes.

A Green apareceu do nada, com o Squirtle tremendo. "Preciso de ajuda", sussurrou, nos puxando pra um canto escuro. Ela apertou a pedra verde no Squirtle, que gritou — um som alto e assustador — enquanto virou Blastoise. As costas dele racharam, saindo um líquido amarelo escuro que cheirava queimado. "É só por um tempo, eu prometo!", ela disse, segurando o Squirtle que voltou a ser pequeno, todo machucado. "Mas dói muito." Ela não chorou. Só olhou pras mãos, como se não fossem dela.

Naquela noite, no Centro Pokémon, sentei no chão com Venusaur. Suas folhas estavam moles e amareladas, e ele não me olhava. Passei o dedo na pedra vermelha, querendo arrancar. "Você me perdoa?" perguntei, mas ele só encostou a cabeça no meu joelho. A Green apareceu na porta, parecendo um vulto. "Eles sabiam", ela falou baixo. "A Equipe Rocket sabia que a gente ia cair nessa. Sabia que três crianças com o sonho de vencer na Liga Pokémon fariam de tudo para ganhar! Agora... Agora a gente é igual aos Dittos deles — só servimos pra copiar." Ela sumiu antes que eu respondesse.


As horas seguintes eu passei me analisando no espelho, chocado. Eu não via mais o Red de Pallet Town. Meus olhos estavam fundos, com sombras escuras. Blue evitava todo mundo, parecendo fantasma. A Green sumiu de novo, mas o Squirtle dela deixou marcas de bolhas no chão — um rastro pra lugar nenhum. Venusaur tentou beber água no potinho que eu havia deixado do lado da Ração Pokémon, mas ele estava enfraquecido e escorregou. Peguei ele no ar e ajudei-o a se reequilibrar, o que não era uma tarefa fácil, pois ele pesava muito. Mas daquela vez, ele parecia mais leve. Estava magro, não se alimentava direito. Esta definhando. E era tudo culpa MINHA. "Não vou deixar te machucarem de novo", prometi, mas minha voz falhou. A pedra vermelha pesava no meu pescoço, lembrando que promessas não consertam erros. Naquela noite, fui tingido de vermelho, uma marca que carregarei comigo para o resto da vida. A Liga acabou, mas a verdadeira batalha estava só começando — Nenhum de nós tava pronto. 

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