Pokémon Laços: 50 Tons de Vermelho - 02: Vermelho Pálido


1997

O Professor Carvalho me chamou no laboratório no começo do ano. "Red, preciso que você complete a Pokédex", ele disse, com aquele olhar sério por trás dos óculos. "São 150 Pokémon em Kanto. Você é o único que pode fazer isso agora que..." Ele deixou a frase no ar. Não queria me machucar, mas eu já estava dilacerado.

Eu balancei a cabeça concordando com a missão, mas não tava nem aí pra Pokédex. Tinha coisa mais importante.  

Blue sumiu. Green também. 

Desde a cerimônia ao final Liga Pokémon no ano passado, comemorando a vitória de Blue, ninguém viu eles. O Blue nem apareceu pra defender o título de Campeão. E a Green... Bem, ela não era de sumir assim. Algo tinha acontecido. E eu sabia quem era o culpado: a Equipe Rocket.  

Foi por isso que eu vim pra Lavender Town.  


O povo todo falava de uma médium que tinha salvo um monte de crianças da tal "Síndrome de Lavender Town". Diziam que elas ficavam com dor de cabeça, vomitavam sem parar, e no fim... bem, no fim elas s3 m4t4v4m, quando a dor ficava insuportável demais para aguentar. A médium tinha um "dom da visão", e tinha ajudado elas a se curarem.

Eu precisava desse dom.

Precisava achar o Blue e a Green. E também... O Saur tava estranho. Desde aquela batalha com o Giovanni, ele não era mais o mesmo. As folhas dele ficavam amarelas às vezes, e ele tremia no meio da noite. Eu até dei esse apelido a ele, "Saur", tentando me reaproximar do meu parceiro, mas ele havia ficado com sequelas para o resto da vida, e eu me perguntava se a dor era tanta que ele desejaria se su1c1d4r como aquelas crianças... Pensar nisso me deixava com remorso. O culpado de tudo isso era eu.

Dizem que a médium acendia uma vela no último andar todas as noites e atendia ao pedido de pessoas desesperadas, buscando alívio em seu dom. A chama da vela brilhava em azul quando a médium estava incorporada, então todos na cidade sabiam quando poderiam visitar a torre para procurá-la e fazer um pedido. A Torre Pokémon era assustadora, porém. Todo mundo sabia disso. Mas eu não tava preparado pro que ia encontrar lá. 

Subi os degraus devagar. O cheiro de incenso era forte, mas não dava pra disfarçar o fedor de coisa podre. Aquele era um cemitério vertical, um cemitério de Pokémon, e muitos treinadores que não respeitavam as regras da Liga Pokémon para batalhar, acabavam por vê-los morrer em batalhas forçadas além do ponto de exaustão. Nem mesmo Pokémon Venenosos fediam tanto quanto aquele lugar! Desejei nunca ter entrado ali. Eu me arrependi logo no início, mas eu precisava, por tudo o que era mais sagrado, encontrar essa médium. A cada andar, eu esperava encontrar a mulher. Mas não tinha ninguém. Só cotocos de velas sobre as lápides, flores de plástico pelo chão, uns tapetes velhos, e uns desenhos esquisitos nas paredes.

Continuei subindo.  

E subindo.  

E subindo.  

Depois de um tempo, percebi que alguma coisa tava errada. Já devia ter passado do último andar faz tempo! Minhas pernas doíam, e o Saur, na Pokébola, escaramuçava agitado...

Foi quando eu me virei e vi a coisa mais assustadora da vida.  

Não era vivo, mas também não era morto. Parecia um cadáver, meio enterrado no chão de madeira podre, tentando sair. A pele tava cinza e grudenta, partes do osso aparecendo onde a carne tinha caído. O cheiro era de podre, minha vontade era de colocar o jantar para fora. E isso só piorou quando eu vi "as mãos"...  


Duas Mãos brancas e ossudas, arranhando o chão. Mãos que flutuavam pingando sangue, os ossos das falanges à mostra, dependurados entre filamentos de pele fétida e derretida pelo processo de decomposição. Elas não eram Pokémon, mas tinham vida própria.


Eu congelei.  

"Você... veio." A voz dele era um sussurro rouco, como se tivesse engolido terra.  

"Onde tá a médium?", eu gritei, mas minha voz falhou. Será que AQUILO era a Médium? A médium era o "Enterrado Vivo"?


"Estou preso...", ele continuou, ignorando minha pergunta. "E estou sozinho... Tão sozinho..."  

Uma das mãos dele se moveu, e eu quase vomitei. Os dedos eram longos demais, e terminavam em garras.  

"Não vai ficar comigo?"  

Eu não pensei duas vezes. Peguei a Pokébola do Saur e gritei: "Vamos, Saur! Chicote de Vinha!"  

O Saur saiu da Pokébola, mas assim que viu o Enterrado Vivo, ele... travou. As folhas dele ficaram completamente brancas por um segundo, e ele começou a tremer. Nunca tinha visto ele assim.  

O Enterrado Vivo riu — um som molhado, como gargarejo de água suja. Um fedor de esgoto se espalhou. Desejei arrancar meu próprio nariz.

"Gengar", ele chamou.


O Pokémon de Tipo Fantasma apareceu do nada, mas não era um Gengar normal. Os olhos dele eram vermelhos, e a boca parecia rasgada até as orelhas. O Saur tentou atacar, mas os golpes passavam direto pelo Gengar, como se ele fosse feito de fumaça.  

Eu mandei o Pika. "Choque do Trovão!"  

O Pikachu soltou o ataque, mas o Gengar só riu. E então... as Mãos Brancas se mexeram mais uma vez, caminhando como aranhas sobre o chão que rangia. Eu imaginei que se o piso cedesse, eu cairia sobre os túmulos de Pokémon do andar debaixo, e isso me deu nojo.  

Segundos depois, eu mal tive tempo de acompanhar, as duas mãos mortas voaram pro Pikachu, agarrando ele pelo pescoço. Pika gritou, e eu vi os dedos ossudos afundando na pele dele.  

"Pikachu! Não!"  

Eu tentei puxar ele de volta, mas já era tarde. Pikachu caiu no chão, inconsciente.  

Foi assim com todos. 

O Snorlax dormiu no meio da batalha e não acordou mais. O Poliwrath começou a espumar pela boca. O Gyarados ficou louco, batendo a cabeça nas paredes, mas pelo menos conseguiu nocautear aquele Gengar cujo sorriso maligno parecia estar sugando minha energia vital. O Enterrado Vivo, gemendo em agonia, como que relembrando o momento de sua morte, soltou um Muk, todo viscoso e nojento, que fazia um som de gosma ao se rastejar. Muk torou Gyarados no meio com seu veneno podre, então enviei meu último Pokémon... O Aerodactyl... Mas ele simplesmente congelou no ar, como se tivesse virado pedra.


O Enterrado Vivo sorriu e, percebendo que eu não tinha mais Pokémon para lutar, disse: "Finalmente... carne fresca."  

Eu tentei correr, mas as Mãos Brancas me pegaram pelos tornozelos.  

Tudo ficou preto.  



Acordei com um susto. Tava deitado num puff no Centro Pokémon de Lavender Town. A Dama do balcão olhou pra mim.  

"Ah, você acordou!"

Eu olhei para ela e na hora percebi que havia algo de errado. Eu só não sabia o quê. Como eu havia ido parar ali? Eu sentia sede e fome. Dava para sentir os ossos da minha barriga saltados, espetando contra a pele. Foi então que eu olhei para a televisão e tava passando um telejornal. E aí que eu percebi o que havia errado.

"Sete dias?!", eu gritei.  

A data estava lá: 12 de abril de 1997.  

Eu tinha entrado na torre no dia 5.

Perguntei para a Dama como eu havia chegado ali, e ela disse que me viu chegar sozinho, caminhando meio estranho, olhando para o nada. Disse que eu me deitei naquele puff e dormi por várias e várias horas, até que acordei. Mas eu não tinha lembranças de nada disso. Era como se parte do meu cérebro tivesse sido comida por aquela... entidade! E não é disso mesmo que zumbis gostam de se alimentar?

Pensar me dava calafrios e muita, muita dor de cabeça. Eu estava fraco e debilitado. Sentia meu corpo estalar, dolorido, como se tivesse levado uma surra. Mas isso era o de menos. O que eu queria saber mesmo era onde eu estive esse tempo todo? E o que o Enterrado Vivo fez comigo?  

Olhei pras minhas Pokébolas. Todos os Pokémon estavam lá, mas...  

O Saur tava com as folhas pretas. O Pikachu não respondia quando eu chamava. O Snorlax acordou, mas tava olhando pro nada, como se tivesse sonhando acordado.  

A Dama do Centro Pokémon tentou examinar eles, mas não encontrou nada de errado.  

Eu não voltei pra Torre Pokémon.  

Mas uma coisa eu sei: o Enterrado Vivo ainda tá lá.  

E ele tá me esperando.  


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1 Comentários

  1. Cara ficou do krlh! Eu gostei que tu pega toda e qualquer referencia a hacks, creppypastas de pokemon. Isso que torna as suas fics tão foda na minha visão.

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