Pokémon Laços: LEGENDS — Hisui XXIII: Sabi-chona

Hisui XXIII: Sabi-chona


A neve fustigava Alabaster Icelands, cobrindo o chão em um manto branco.
Akari e Rei se encolhiam de frio, com Quilava entre eles, suas chamas tremeluzindo contra o vento cortante.

 Ah, que ótimo. Hisui decidiu nos presentear com um inverno... ou devo dizer INFERNO? Obrigada, Arceus, muito generoso da sua parte.
Nesse momento, ouve-se um trovão nos céus. Rei arregala os olhos.
 Vira essa boca pra lá, Akari!
 O que foi? Vai me dizer agora que eu tenho que ser grata mesmo sofrendo as maiores desgraças que poderiam me acontecer! "Gratiluz" é o ca*a*ho! Arceus, vá se ferrar!
Mais um trovão. Akari deu de ombros. Ela queria mais era que tudo se explodisse.
 Bom... Pelo menos temos Quilava. Sem ele, já estaríamos virando icebergs.
 Você ouviu, meu pequeno foguinho da discórdia? Seu trabalho hoje é garantir que eu não vire um picolé humano. Não me decepcione.
 Laaavaaa!!!
Quilava rosna, mas aproxima-se mais dela, as chamas crepitando suavemente enquanto emitiam um calorzinho reconformante. De repente, os olhos de Akari se fixam em algo ao longe.
 Ei, maninho, olha lá. Parece que alguém teve a brilhante ideia de construir um templo no meio do nada!
 É o Templo de Snowpoint... Dizem que é mais antigo que a própria colonização de Hisui!
 Perfeito! Um lugar abandonado, cheio de mistérios e, o mais importante, sem neve caindo na minha cabeça. Vamos! Talvez possamos passar a noite por lá.
Os dois avançam em direção ao templo, a tempestade piorando atrás deles. Kuro, escondido atrás de uma rocha coberta de neve, observa com um binóculo.
 Finalmente eu te encontrei, Akari... Minha futura esposa não vai me escapar agora que eu treinei pra valer!
Ele guarda o binóculo na bolsa, mas assim que vai dar o primeiro passo, tropeça em seu próprio pé e cai de cara na neve. Dartrix, empoleirado em seu ombro, suspira profundamente enquanto rola os olhos...
 GRUUUUH... *Tradução: Patético.*




Dentro do templo, o ar era pesado, ecoando com o som do vento lá fora. Akari e Rei se abrigam, sacudindo a neve das roupas. As chamas do Quilava, ali dentro, tinham mais efeito, pois o calor batia nas paredes e era refletido de volta, deixando tudo mais quentinho.
 (Olhando ao redor) Hmmmm… Lugares antigos assim geralmente têm duas coisas: tesouros ou fantasmas. Espero que seja o segundo.
 Só você pra torcer por fantasmas...
 Que foi? Os Pokémon de Tipo Fantasma são incompreendidos, assim como eu. Por isso eu me identifico TANTO com eles.

De repente, uma voz gutural ecoa no templo. Parecia um deus primordial se revirando em sua tumba. Desse Akari tinha medo, ao contrário de Arceus. Eles se assustam.
 O QUE FOI ISSO?!
 (Surgindo das sombras) Um Pokémon Morto. Eis aí a sua Assombração.
Akari e Rei pulam, surpresos. Uma menina pequenina está parada em um pedestal, com uma gigantesca Rhyperior ao seu lado, olhando-os com um sorriso enigmático.


 Nossa, que susto, mulher! Quer um troféu de Melhor Entrada Dramática?
 Desculpem-me por isso. O meu nome é Wasabi... Sabi, para encurtar. Sou uma das Guardas do Clã Diamante. E você é Akari Brilliant... Então presumo que este ao seu lado seja Rei,  seu irmão gêmeo.
 Nossa! Alguém que finalmente sabe o meu REAL sobrenome!
 O que fizeram com você é uma lástima. Eu sinto muito por isso.
 Como você me conhece?
 Garotas como nós precisamos ficar juntas. Você sabe... Garotas que enxergam mais do que os olhos podem ver.
 Tá me dizendo que você...?
 Sim. Eu também tenho o dom da visão. E o que eu vi por detrás das paredes desse templo... Foi o que emitiu aquele som. Desde então, eu tenho vindo diariamente aqui estudar os segredos e mistérios destas ruínas antigas.
 Eu não sei se eu chamo isso de "dom" ou "maldição". Em todo caso, você deveria tomar cuidado com o que fala. Mulheres que "estudam" não são bem vistas em nossa sociedade.
 Eu sei. Na verdade... Eu não conto nada para ninguém, nunca. Ninguém sabe quem eu sou de verdade... Mas está tudo bem falar isso perto de vocês, não está?
 C-c-claro!
 A la vontê!
 Vocês vieram por causa da tempestade... mas também por causa das Placas que estão levando os Pokémon Nobres a um Frenesi, não é?
 Como você sabe disso?
 Eu estou te dizendo... Eu vejo coisas... assim como a sua irmã!
 Veja só o que você foi arranjar para você, Rei... Mais uma vidente. Já não bastava você ter que lidar com minhas visões apocalípticas, agora mais outra! HAHAHAH!
 Boba! XD
 Você vai se surpreender no dia que a gente começar a invocar os espíritos dos mortos!
 Cruz credo!



Kurotsugu Glowing, que finalmente entrou no templo, então aparece ofegante atrás deles.
 AHÁ! Akari: Finalmente te encontrei!
 Hum? Quem é você?!
 (Virando-se lentamente) Ah, não! Você, de novo?!
 Você é MINHA. É meu direito persegui-la.
 Eu não sou de ninguém!
 Pera aí! Como assim você "é dele"? Esse homem está te importunando, Akari?!
 Importunando é pouco! Esse aí é o meu noivo indesejado.
 (Ignorando o comentário) Você não pode continuar fugindo! Seu lugar é ao meu lado!
 Ah, querido, meu lugar é onde minhas pernas quiserem me levar. E nesse momento, elas querem ficar BEM LONGE de você!
 (Apertando os punhos) Isso é inadmissível! Eu--
De repente, a tempestade de neve lá fora se intensifica, e o rugido gutural que vinha do fundo do templo novamente pode ser ouvido, retumbando nas paredes de pedra.
 Ai, que ótimo. Agora estamos aqui passando frio, presos com um maníaco e uma múmia que não para de arrotar. Era tudo o que eu queria para o meu final de tarde...



Minutos depois...

A Froslass de Akari já deu um jeito em Glowing, prendendo-o em uma ilusão.
Enquanto ela o alimenta com pedacinhos de neve, Kuro tem a sensação de que está tomando uma sopa quentinha, quando na verdade, está ficando cada vez mais próximo de morrer de hipotermia. Pelo menos, Froslass mantinha sua boca estava ocupada, para não ficar falando abobrinha...
 Ele... Vai ficar bem?
 Vai. Erva ruim, a geada não mata.
 A tempestade está ficando cada vez mais forte! Além disso, está ficando cada vez mais frio aqui dentro. Precisamos dar um jeito de nos aquecermos.
 Vamos mais para dentro do templo...
 Mas... E aquilo que a gente escutou mais cedo?! Será que não é perigoso?
 Existem Pokémon selvagens por aqui, Sabi?
 Existem, ainda mais com toda essa neve. Alguns Pokémon que não se dão tão bem no frio vêm para cá para se abrigar.
 Ai, eu não quero ir, não! Acho melhor ficarmos por aqui!
 Que medo é esse? Você não era homem?!
 E o que tem a ver ser homem com sentir emoções?!
 Boa resposta, maninho! Vamos ficar por aqui, então.
 Que tal uma batalha?!
 Hã?
 Se queremos nos aquecer, nada melhor que uma batalha!
 Gostei de você, baixinha!
 Não me faz te pegar nojo!
 Desculpe.




Do lado esquerdo, Akari. Do lado direito, Wasabi. E o espaço vazio entre elas servia de arena numa época em que Batalhas Pokémon eram tão raras quanto encontrar um Shiny. Sabi agiu primeiro, lançando Electivire com um gesto preciso. Foi quando Rei e Akari se deram por conta que ela estava muito bem acostumada a batalhar. Contra quem, eles se perguntaram, mas um lampejo de consciência tomou conta do cérebro de Akari. Ela sabia a resposta: Volo.
O Pokémon trovejante avançou, seus punhos cintilando com eletricidade, que iluminava o templo de um jeito que só as chamas de Quilava não podiam. Akari, porém, não se intimidou.
 Zoroark, agora!
 RAAAAAAHHHHH!!!
Sua kitsune, já envolta em ilusões, distorceu o ar ao seu redor antes de atacar com garras espectrais amplificadas por energia das sombras. O golpe atingiu Electivire em cheio, arrancando um grunhido do gorila amarelo, mas o Pokémon elétrico revidou imediatamente com um Soco Trovoada em Estilo Ágil, sua velocidade aumentada permitindo que ele acertasse Zoroark antes que ele pudesse recuar. O impacto fez o Pokémon fantasma cambalear, mas Akari riu baixo.
 Huh... Finta e devolva com Rancor Reprimido!
Zoroark desapareceu no ar por um instante, deixando Electivire golpear o vazio com seu segundo Soco Trovoada, antes de reaparecer atrás dele e liberar uma onda de energia sombria que explodiu em suas costas. Electivire caiu de joelhos, mas ainda não estava fora.

Wasabi não cedeu.
 Use Giga Impacto no Estilo Forte!
Electivire canalizou toda sua força em um ataque devastador, mas Akari já esperava por isso.
 Desvie e finalize com a sua nova técnica: Psíquico!
Hisuian Zoroark esquivou-se no último instante, o ataque de Electivire esmagando o chão do templo (e por consequência, machucando o próprio Pokémon, que deu de cara na pedra), e então retaliou com um golpe telecinético, fazendo algumas pedras e colunas que há muito jaziam caídas naquele chão empoeirado levitarem, enviando-as para cima de Electivire, o que finalmente o derrubou.
Sabi então chamou Magmortar, o canhão flamejante.
O Lança-Chamas de Zoroark, obviamente, não foi tão bom quanto Akari gostaria, mas pelo menos deu uma esquentada no ar conforme a tempestade lá fora apertava.
O Tambor de Barriga do Magmortar, mesmo no Estilo Ágil, foi capaz de elevar muito o seu ataque físico a custo de sua própria energia.
E a Tumba de Rochas lançada logo na sequência foi como um sepultamento para Zoroark.
Akari substituiu Zoroark, então, por Quilava. O Primeiro Parceiro Pokémon de Akari bufou, suas chamas tremeluzindo em resposta ao calor opressivo de Magmortar. Esse foi o momento mais próximo de uma temperatura agradável desde que Rei e Akari puseram os pés em Alabaster Icelands.

Quilava avançou, mas não pôde nocautear Magmortar de primeira. Ainda tinha muita energia naquele corpo rechonchudo.
O ataque veio rápido – um Golpe Caratê em Estilo Ágil, as chamas em suas costas se espalhando em um leque amplo, funcionando como um foguete propulsor. Quilava saltou, mas ainda foi atingido de raspão.
Akari não perdeu tempo:
 Use Cavar. Depois, Roda de Fogo em Estilo Forte.
Quilava mergulhou no chão, evitando a próxima Rajada de Fogo de Magmortar, e emergiu sob ele, envolvendo-se em chamas antes de colidir com força total contra seu adversário.
Magmortar recuou, mas sua resistência era alta – e ele revidou com uma Tumba de Rochas surpresa, eletrocutando Quilava antes que ele pudesse escapar.
Akari franziu a testa.
 Você é mais veloz que ele, Quilava! Rápido, antes que ele se recupere: Use Ataque Veloz para o alto e depois Ataque Rápido!
Quilava mirou no teto, fincando suas lâminas estelares lá em cima, por alguma razão. Elas ficaram presas e o golpe não fez efeito algum.
Logo na sequência, Quilava acelerou, atingindo Magmortar em uma série de golpes rápidos que o empurraram para trás.
 Tumba de Rochas! Estilo Forte!
 Ah, não vai não!
Quilava seguiu correndo com o Ataque Rápido e jogou seu corpo múltiplas vezes contra as paredes de pedra do templo, chacoalhando a estrutura. As múltiplas estrelas que estavam dependuradas no teto começaram a se soltar, formando uma precipitação cortante que choveu sobre os dois Pokémon combatentes, levando os dois a nocaute.
O último Pokémon de Wasabi entrou no campo com um impacto que fez o chão tremer. Rhyperior, a fortaleza viva, encarou Basculegion, que flutuava serenamente, como se nadasse no ar congelante do norte de Hisui.
Akari sabia que precisava de estratégia. Outro plano arriscado como aquele não seria uma opção.
 Bola Sombria no Estilo Ágil!
Basculegion lançou um projétil sombrio em alta velocidade, mas Rhyperior simplesmente o absorveu com seu corpo rochoso. Wasabi não esperou. Ela comandou um Gume de Pedra no Estilo Forte.
Subitamente, lâminas de pedras azuis cintilantes irromperam do chão como pilares afiados, mas Basculegion deslizou sobre elas com agilidade, sua forma fluida permitindo que ele navegasse entre os ataques.
 Ahá! Agora, Hidro Bomba!
Um jato d'água potente atingiu Rhyperior em cheio, mas o Pokémon rochoso resistiu, sacudindo a água como se fosse apenas chuva. Wasabi sorriu.
Rhyperior, que segurava uma Passho Berry, havia engolido a baga inteira e adquirido uma resistência temporária a golpes superefetivos desse tipo.
 Tacada Montanhosa!
Rhyperior avançou junto a uma nuvem de pedras que se formaram ao seu redor, um "Movimento Kitakamiano", a terra milenar de onde Wasabi veio. O golpe era tão poderoso que também causava danos de ricochete (recoil) no próprio usuário, equivalente a 1/3 do dano infligido ao oponente... Mas Akari já tinha um plano.
 Envolva o próprio corpo com a Colisão de Ondas!
E Basculegion cria um turbilhão que o protegia do golpe de Rhyperior. Então Basculegion acelerou, parecendo estar prestes a colidir de frente, mas no último instante, ele mergulhou, deixando Rhyperior passar direto. O desequilíbrio fez o Pokémon rochoso tropeçar, e antes que ele pudesse se recuperar, Basculegion já estava sobre ele, atacando no Estilo Ágil com a Colisão de Ondas para poder liberar um último Bola Sombria potente diretamente em seu ponto cego.
Rhyperior caiu com um baque surdo.
Vitória de Akari.

Wasabi recuou, seus Pokémon derrotados, mas seu olhar não era de frustração – era de aprovação. A tempestade ainda rugia lá fora, mas dentro do templo, havia apenas o silêncio respeitoso de uma batalha bem lutada entre duas treinadoras que agora apertavam as mãos selando a partida com honra.
 Somox irmãx, somox amigax, somox mulherex!
E, claro, o sorriso irônico de Akari, que já estava pensando em como usar essa vitória para provocar Kuro depois.
 Venham comigo, vocês dois.
Sabi fez um gesto com a mão, chamando Rei e Akari para perto dela.
 E ele?
 Ah, ele pode continuar ali! Froslass, continue o iludindo!
 T-t-tem certeza de que tá tudo bem deixá-lo "nesse estado"?
 Esse é o melhor estado que eu já vi Kurotsugu Glowing desde que eu o conheci: de boca cheia.




Sabi então conduziu os gêmeos por corredores estreitos e gélidos, onde o eco da tempestade se transformava em sussurros. No coração do templo, sob um teto de gelo translúcido que retinha a luz fraca do exterior, repousava uma ave colossal, com as asas recolhidas, em seu ninho.

O Nobre Hisuian Braviary.


Suas penas cinzas e brancas brilhavam como fogo congelado, mas seus olhos, afiados como lâminas, fixaram-se em Akari assim que ela adentrou o recinto. O Pokémon ergueu-se, as asas se abrindo em um movimento majestoso que varreu o ar gelado. Ele então piou como uma águia e o som ecoou pelo templo, retumbando. Seria esse o som assustador que Rei e Akari estavam ouvindo lá da entrada?

Então a ave olhou para Wasabi, furiosa, e bateu suas asas, voando para cima de Akari, de maneira hostil.
 Está te provocando para uma batalha!
 Eeeeu? Por quê?! Mas o que foi que eu fiz?
 Acho que ele quer lhe testar, Akari. A menina que derrotou a Humana Guardiã dele.
 Mulher sofre mesmo...

Mismagius surgiu em um redemoinho de luz púrpura, lançando imediatamente um Raio Confusão. O ataque espiralou em direção a Braviary, envolvendo sua cabeça em uma névoa de ilusões, desestabilizando o Nobre Pokémon Voador.
 Miss-mé-gui-as!
Braviary então contrapôs o golpe com a Mente Calma, sua aura se expandindo em ondas psíquicas que fortaleciam seu espírito e o ajudavam a se concentrar, impedindo que caísse em confusão.
O Nobre, irritado, então bateu as asas com força, liberando um Furacão que levantou estilhaços de gelo do chão. Mismagius dançou entre os ventos cortantes, esquivando-se com graça etérea, e contra-atacou com a Folha Mágica. Lâminas de energia verde giraram como um turbilhão, golpeando Braviary em múltiplos pontos, enquanto suas penas se desprendiam como flocos de neve.
Braviary rugiu, recuperando-se com um Asa Ésper — um golpe rápido e preciso que cortou o ar em uma linha rosada. Mismagius, atingido parcialmente, recuou, mas Akari manteve o controle.
Onda de Choque foi seu próximo comando, e o Pokémon fantasma liberou uma descarga elétrica que atingiu Braviary antes que ele pudesse levantar voo. O Nobre tremeu, suas penas eriçadas de energia estática.
Determinado a encerrar o confronto, Braviary reuniu suas últimas forças e lançou-se em um Pássaro Bravo, mergulhando em direção a Mismagius como um meteoro emplumado, mas isso também o feria. Akari sorriu.
 Agora!
Mismagius desviou no último instante, deixando Braviary colidir com o chão gelado. Antes que o Nobre se levantasse, um segundo Raio Confusão o atingiu, envolvendo-o em uma névoa ludibriante.
Sem conseguir coordenar-se, lançou outra Asa Ésper, só que contra a parede. O golpe ricocheteou nas pedras e voltou contra ele mesmo, causando danos a si próprio.
Braviary então caiu de lado, sem mais energia para dar.

O templo ficou em silêncio, apenas o respiro ofegante de Braviary ecoando. Lentamente, o Pokémon ergueu a cabeça, seus olhos agora carregados de respeito. Com um movimento suave, uma Placa de Arceus desprendeu-se de suas asas, caindo aos pés de Akari.
Ela brilhava com inscrições em suas costas, pulsando como se guardasse segredos milenares. Akari recolheu a placa, grata a Hisuian Braviary por tê-la compartilhado, e leu o verso:
 "O Original respirava sozinho antes do universo surgir".
 O que será que isso quer dizer?
 Não faço ideia.
Nesse exato momento, o estrondo gutural ouvido anteriormente foi emitido, só que dessa fez foi muito mais alto e intenso: o grito que mais parecia um gemido de uma alma pútrida se arrastando para fora do inferno sacudiu o templo, rachando o chão de gelo como se fosse vidro. Akari, Rei, Sabi e Hisuian Braviary recuaram às pressas enquanto as fundações do santuário começavam a se despedaçar.
Do abismo abaixo, uma figura colossal emergiu — Regigigas, seu corpo de pedra primordial coberto por musgos congelados, seus múltiplos olhos brilhando com uma luz âmbar que parecia atravessar eras. Ninguém ali reconhecia aquele titã, mas sua aura de poder legendário era inegável. Todos imediatamente sabiam que estavam diante de um poder inimaginável. Todos gritaram em uníssono:
 AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH!!!
 ...Zut zutt!
 Esta deve ser...
 ...A criatura que você esteve estudando!!
 Mas por que ele resolveu despertar justo agora?!
 Deve ter se sentido incomodado com a batalha de Akari e Braviary no seu local de descanso!
Nisso, Kuro irrompeu na cena, perseguido pela Froslass de Akari, que o mantivera em cheque até então.
AKARI!
— Ele gritou, tropeçando, mas seus olhos logo se arregalaram ao ver Regigigas.
 O que... O que é isso?!?!?!?!?!
Akari ignorou o desespero dele, seus olhos faiscando com ambição pura.
 Eu quero.
 Hã?
 Quero ele. Para mim.
 Você enlouqueceu de vez?! Temos que sair daqui! Não sabemos o que é... ISSO!
 Parece até que você não convive comigo tempo o suficiente para saber que fugir de um desafio não é uma opção!
Akari firmou o pé não chão e dali não saiu. Ela acabou sacando a Pokébola de Quilava.
 Vamos domá-lo.
Quando Wasabi percebeu que Akari não estava brincando, ela então se aproximou junto de Hisuian Braviary e disse:
 Se você vai lutar...
 Não vamos deixá-la fazer isso sozinha.
 Vamos te dar apoio!
E uma Batalha de Reide estava formada...

A batalha começou em caos. Quilava lançou-se numa Roda de Fogo contra o colosso, enquanto Dewott de Rei desferia sua dupla Concha Navalha, as lâminas d’água riscando a pedra sem causar dano. O Dartrix de Kuro atirava saraivadas e mais saraivadas de Folhas Navalha, mas os ataques pareciam insignificantes. Regigigas não se abalava. Hisuian Braviary, comandado por Sabi, mergulhou com um Pássaro Bravo, mas Regigigas simplesmente ergueu um braço, bloqueando o golpe com um rugido que fez o ar vibrar.
 ...Zuuutt!
Foi então que o céu — ou o que restava do teto do templo — se rasgou.
Do mais absoluto nada, uma fenda espaço-temporal abriu-se sobre Regigigas, e dela caiu um objeto pulsante: uma Wishing Star, fragmento de Eternatus, que rolou aos pés do titã. Não que eles soubessem o que era. Nem mesmo Akari e Wasabi, que tinham o dom de prever o futuro, puderam prever aquilo.
Antes que qualquer um reagisse, a célula irradiou energia carmesim, envolvendo Regigigas em uma aura escarlate. Seu corpo expandiu-se DEZ VEZES de tamanho, rompendo o teto do templo e fazendo as paredes desmoronarem.
 ZUT ZUTT!
Regigigas Dinamax agora era uma montanha viva, seus olhos vermelhos brilhando com fúria incontrolável!!!
 "Zut-Zut" é o cacete! Nós vamos MORRER!!!
O primeiro Golpe Max atingiu como um terremoto dirigido, destruindo ainda mais o chão do templo para deixar um gêiser de energia dourada extravasar, varrendo seus oponentes em um tsunami energético sem precedentes! Quilava foi arremessado contra uma coluna, Rei e Dewott se protegiam atrás de escombros, e até Braviary recuou, suas asas tremendo. Froslass, que ainda estava por ali, por instinto, lançou Vento Congelante para conter os destroços que caíam, mas era como lutar contra uma avalanche.
Akari, porém, não se curvou.
 Quilava, isso ainda não terminou!
Quilava dançou entre os escombros, usando Roda de Fogo para desviar-se de pedras gigantescas que caíam do teto desabando, enquanto Akari tentava se aproximar do titã.
Regigigas retaliou com Temporal de Granizo Max, um golpe de gelo amplificado pela Dinamax — um bloco de gelo massivo que soterrou Quilava e apagou suas chamas de uma vez por todas, mesmo sendo um golpe que normalmente não teria tanta expressividade contra um tipo fogo.
Kuro, em pânico, puxou Akari para trás antes que ela também fosse esmagada.
Você vai morrer, sua insana!
Ele berrou, mas Akari o empurrou longe com um olhar cortante.
 Se eu morrer aqui e agora, pelo menos eu não vou ter que passar o resto da vida aturando VOCÊ!
Aquilo doeu. Akari saiu correndo, ela queria por que queria pegar Regigigas.

Enquanto o grupo se reorganizava, o templo desabava ao redor. Vigas de gelo caíam como lanças, e a Wishing Star no chão pulsava, como se rindo do caos. Akari sabia que precisavam daquela estrela — ou de um milagre — para reverter a situação. Mas, por enquanto, só restava lutar... e sobreviver. Nessas alturas, o Templo de Snowpoint entrava em colapso, e Regigigas, agora um deus da destruição, dava sinais muito claros de que não daria trégua.

Kuro observou o Pokémon Lendário com uma mistura de medo e ambição.
 *Pensando* Se eu capturar esse monstro e der de presente a ela... Akari finalmente me verá como alguém digno de viver ao seu lado.
Suas mãos tremeram, mas Kuro foi corajoso ao sacar uma Hiper Bola de sua sacola.
Mas assim que a bola tocou o ar gelado, começou a crescer descontroladamente, inchando até ficar do tamanho de um Rowlet.
 O que diabos?!
Assustado, Kuro gritou e perdeu o equilíbrio, deixando a bola gigante rolar ladeira abaixo entre os escombros.
Akari, mesmo no caos, não perdeu a piada.
 Parabéns, Kuro! Agora você tem uma bola pra jogar boliche com um gigante! Vai lá, vai!
Regigigas rugiu, seus olhos vermelhos fixando Kuro. O Golpe Max começou a se formar em seus punhos, mas antes que a ofensiva fosse desferida, todos os Pokémon saltaram em frente: Quilava, Dewott, Dartrix, Braviary e até a Froslass de Akari formaram uma barreira viva, com seus melhores movimentos:

Mas mesmo assim, não foi o suficiente para contê-lo...
A explosão os arremessou para trás com violência e brutalidade (Akari sentiu o coração doer ao ver aquilo), mas Kuro, ileso, correu em direção à Hiper Bola caída.
 Arremessa logo, seu idiota! 
Akari berrou, segurando Quilava para protegê-lo dos destroços.
Kuro, suando frio, empurrou a bola gigante com uma força que ele nem sabia de onde vinha. Regigigas, porém, não estava disposto a ser capturado. Com uma Escuridão Max, o titã esmagou a Hiper Bola no ar, gerando uma explosão de energia púrpura que engoliu o templo inteiro.
A última coisa que Akari viu foi a luz cegante... e depois, escuridão.





Quando os olhos de Akari se abriram, ela estava deitada na entrada do Templo Snowpoint, a neve substituída por um céu límpido, o sol da manhã quentinho e aconchegante. Suas roupas estavam rasgadas e sujas de fuligem, e ao redor, Rei, Sabi e Kuro se levantavam, confusos. Seus Pokémon estavam feridos, mas vivos — até Braviary, agora repousando com dignidade sobre uma rocha.
 Foi... um sonho?
— Rei murmurou, ajudando Dewott a se reerguer.
 Está mais para um pesadelo mal escrito...
Ela resmungou, esfregando a poeira do rosto.
 Vamos aproveitar a segunda chance que a vida nos deu e vazar antes que esse lugar decida nos engolir de novo!
 Tem razão. Braviary e eu vamos voar para longe daqui. Quando quiser encontrá-lo, basta tocar a flauta. Você sabe como funciona. Braviary reconheceu a sua força e se afeiçoou a você. Ele vai ajudá-la a voar pelos céus da Região de Hisui.
 Obrigada, Sabi. Obrigada mesmo.
 Não precisa agradecer. Eu vou voltar para Diamond Settlement, ao norte de  Crimson Mirelands, e relatar o que eu vi aqui para meu superior, Adaman.
 Até mais ver, garota.
Akari cumprimentou a menina e a observou partir para longe, perguntando-se se elas realmente teriam a oportunidade de se encontrar de novo, se até lá, Akari já não teria se metido em encrenca e morrido por causa de suas burradas. 

Kuro, por sua vez, ficou para trás, olhando para as ruínas do templo, admirado.

 Aquele Pokémon... Ele ainda está lá dentro. Eu sei disso! Se eu pudesse encontrá-lo de novo.
 Kuro!
Akari interrompeu, com um sorriso que era metade ameaça, metade diversão.
 Se você voltar lá embaixo, eu mesma enterro você na neve. Vamos. Não tem mais nada pra gente aqui.

Enquanto o grupo partia, Kuro lançou um último olhar ao templo. A semente da obsessão estava plantada.
 *Pensando* Um dia, eu vou descobrir como controlar esse poder. E então...
Mas por ora, Kuri virou-se, dando as costas ao Templo e seguiu Akari, caindo no ritmo irônico dela, enquanto o sol de Hisui riscava o horizonte, iluminando uma nova etapa — e deixando os deuses adormecidos, adormecidos. Por enquanto...

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