Crônica: Uma questão de honra

João e Marcos tinham 10 anos cada um e eram amigos de escola. Mas não amigos comuns. Eram tipo... Os melhores melhores-amigos. Do mundo. E isso queria dizer que eles compartilhavam tudo. As roupas, os cadernos, as respostas nas provas, até mesmo o gosto pelas gatinhas que desfilavam pelo pátio do colégio na hora do recreio. Eram muito iguais, em tudo. Até que um dia, Marcos chegou com uma novidade...
            — E aí, João... Assisti a um novo anime ontem!
            Animado com a notícia, João atreveu-se a perguntar:
            — É? Que anime?
            — Pokémon. — disse Marcos.
            — Pokémon?
            — É. É uma série em que... Bla bla bla, e assim assado. Legal, não? — Rapidamente, João absorveu a informação e, assim como Marcos, tornou-se um fã do anime. E quando eu digo fã, é fã mesmo. Do tipo de carteirinha.
O tempo passou e eles continuavam superinteressados em animes, mas à medida que iam crescendo, algo parecia estar mudando. Marcos estava indo na onda de Naruto e séries mais pesadas, enquanto João assistia a coisas mais leves. Finalmente, alguma coisa em que os dois se diferenciavam. E assim foi acontecendo lentamente. Um processo que se intensificou muito a partir daí: eles começaram a mudar e a se distanciar.
Quando estavam com 12 anos, nem pareciam os mesmos de antes. Marcos agora tinha uma visão, e João, outra. Aos 14, os dois já namoravam. Marcos, uma loira. João, uma morena. Com 15, João fez uma tatuagem, Marcos colocou alargador. Aos 16, um sonhava em ser engenheiro, o outro, em cursar letras. Um tinha cabelos compridos, pelo ombro, o outro, cabelos raspados à máquina nº 3. Um usava boné, o outro, gorro de lã. Um usava roupas justas, o outro, largas. Um curtia skates, o outro, carros. Já estavam tão diferentes, que nem sequer conversavam muito um com o outro.
Aos 17, por fim, a única coisa que tinham em comum era o gosto por animes, que permaneceu imutável por tantos anos. E este era o único assunto que ainda os mantinha conectados, depois de tanto distanciamento. Era a única coisa que ainda os mantinha unidos, como amigos e colegas... Até que, um dia, no último dia de aula do Ensino Médio, para sermos mais exatos, João se aproxima de Marcos...
— É, cara... Está acabando... Eu ainda me lembro de quando éramos crianças! Tu se lembras daquele dia em que me mostrara Pokémon pela primeira vez? Sou fã até hoje! Definitivamente, devo te agradecer. Você... Fez a diferença na minha vida ao me apresentar todos aqueles animes, especialmente Pokémon.
— Ah, cara... Você continua fã de Pokémon? É... Há quanto tempo não temos uma boa conversa... Eu nem sabia disso!
— É, desde que você me apresentou ao mundo dos monstrinhos, eu nunca mais consegui me afastar! É simplesmente... Incrível! Mas e você... O que tem assistido ultimamente?
— Rapaz, se eu te contar, você não vai acreditar... Eu tenho assistido Digimon! Muito melhor que Pokémon!
— Di-Digimon?!
E o assunto morreu ali. O sinal tocou. Estavam prestes a ir para casa, para sempre. Em breve cada um estaria seguindo o seu caminho, perseguindo sonhos, objetivos e metas diferentes, mas algo começou a incomodar João. “Muito melhor que Pokémon”.... “Digimon”... É, Marcos havia traçado seu próprio caminho, não havia dúvidas.
Estava na hora de se despedir, João sabia, mas seu peito estava ardendo em chamas. Quando Marcos se aproximou para dar-lhe um último tchau antes da formatura, tudo o que João conseguia se lembrar era daquela frase maldita... Digimon, muito melhor que Pokémon! Será que Marcos havia feito de propósito? Será que todos aqueles anos de amizade não haviam valido de nada? Será que ele ousava menosprezar a série que um dia os dois foram super chegados? Não, João não ia levar desaforo pra casa. Marcos sabia que o pior pesadelo para um fã de Pokémon é ouvir que Digimon é melhor, e com certeza, ele usara aquilo para irritar João.
Um fã de Pokémon nunca, jamais poderia se tornar amigo de um fã de Digimon. Em absoluto. As séries são rivais há anos, e os fãs disputam entre si. Qual é a melhor? Quem copia quem? Ah, João não conseguia parar de pensar em outra coisa. Aquilo era pior do que a morte, era uma traição. E justo daquele que um dia, fora seu melhor amigo. Tá certo que se afastaram com o tempo, mas mesmo assim... Depois de tudo o que passaram juntos, levar essa apunhalada nas costas? Ah, isso era demais.
— Aí. — disse Marcos, com lágrimas nos olhos no momento de despedida da turma. — Acho que é o nosso último momento como colegas!
E estendeu a mão para João o cumprimentasse. Surpreendentemente, o amigo não faz nada. Fica parado, encarando-o com um olhar estupefato.
— Você fez as suas escolhas, eu fiz as minhas. — disse João, com uma amargura carregada no timbre, negando a mão estendida. — Nunca mais vai ser como antes. Nunca.
E assim, a partir daquele momento, uma amizade de anos morreu completamente, por uma fútil questão de honra.


2 comentários:

  1. Gente, já vi muita amizade acabar por diversos motivos, mas essa foi a que mais me surpreendeu. Os caras levam a serio a briga viu. Não vou mentir que sou fã de Digimon, assisti os animes e pirava, tinha um jogo no Playstation 1 e era viciado e tudo isso foi antes de Pokémon, mas depois que conheci os monstrinhos de bolso eu me apaixonei e para mim Pokémon é melhor.
    Enfim, não preciso nem elogiar, você foi sensacional de novo Kevin, parabéns! ;)

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  2. eu amoo digimon e pokemon os dois são bons, eles são diferentes tenho preferencia por pokemon mais gosto de digimon eu to assistindo digimon adventure tri é muito bom ate agora lançou "oito episodios"

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