Faltava pouco para meio-dia quando ouvi passos atrás de mim. Eu havia ficado tanto tempo ali, que me esquecera completamente dos problemas. Por um momento, esqueci de minhas responsabilidades, mas quando vi White se aproximando, fechei o laptop rapidamente, a investigação voltando de supetão em minha mente.
— Vamos almoçar? — Ela perguntou, friamente.
— Estou sem fome. — Disse eu, só agora percebendo que meu estômago estava embrulhado.
— Eu também. — Disse White, como se me entendesse completamente. De fato, isso estava sendo tão cansativo pra mim quanto pra ela.
— Mais tarde, então? — Perguntei.
— Mais tarde. — E ela se afastou, meio cabisbaixa.
Ela já estava longe quando tornei a abrir o notebook. Senti que ela havia voltado seu olhar para cá, mas não dei bola. Continuei o que estava fazendo.
Depois de algum tempo, com a mente completamente espairecida, ergui-me. Coloquei o computador na bolsa e a prendi em minhas costas. Tirei os tênis e segurei-os um em cada mão, suspensos por um dedo cada. Estava completamente descalço. Ah. Como era boa aquela sensação.
Caminhei pela costa, atolando meus pés na areia aquecida pelo sol. Dei alguns chutes na água, que respingava gelada em minha pele. Eu observava o sol, cada vez mais distante, ouvia o som da natureza. O mar. O vento. A floresta. Tudo parecia emitir belos tons, quase como uma sinfonia arranjada pela própria mãe natureza.
Olhei ao meu redor. Estava tudo tão calmo. A cidade — conhecida pela enorme torre oriental — ficava a alguns metros de uma usina. Mais ao fundo, uma cadeia de altíssimas montanhas. As maiores de toda Alola, cujos picos eram tão distantes da terra, que viviam congelados, dia após dia, estação após estação. Em virtude disso, o clima aqui era mais gélido que no resto das ilhas, mas isso não era necessariamente ruim. O sol ainda era forte e eu continuava usando uma camiseta de mangas curtas. Continuava perfeito para mim.
Olhei no Relógio. Vinte e Cinco para Uma. Ainda dava tempo de dar uma explorada por aí antes de voltar para os relatórios.
Adentrei na mata que conectava a cidade à usina nas montanhas rochosas.
Lá dentro era calmo e aconchegante. Ao pisar no chão, uma série de folhas, dos mais variados tipos estralavam, produzindo um ruído encantador aos ouvidos. O ar ali era puro. Mais puro que em qualquer outra parte de Alola. E olha que a região é super harmoniosa com o meio ambiente. Talvez essa sensação fosse fruto de minha cabeça, que registrara o fato de estarmos perto de uma usina, ou talvez ali realmente fosse uma área mais oxigenada, graças à grande quantidade de árvores que cercavam aquele espaço, abrigando todo o tipo de vida selvagem, jamais antes vista ou compreendida por meus olhos.
Uma criatura alada pousou bem à minha frente, minúscula, mas com cores bem vibrantes. Penas vermelhas no topete, brancas no peito e parte interna das asas e negras no restante do corpo. Um tipo Normal e Voador, com certeza.
— Ei, amiguinho! Venha cá!
— Pi pi!
Ele pulou para longe, se afastando de mim com uns passinhos desengonçados.
— Eu não vou te machucar. — Bem, talvez só um pouquinho, na batalha que eu já estava esquematizando em minha cabeça.
— Pi pi! — O pássaro tornou a dizer.
— Ei! Calma! Eu só quero conhecer você melhor!
Mas Pikipek não deu ouvidos. Se afastou e novamente fez "Pi pi".
— Rotom. — Chamei, mas nada aconteceu.
Abri meu bolso e tateei pelo aparelho eletrônico. Rotom ressonava.
— Mais... Maaaais... Não para que tá gostoso. — Resmungou Rotom, dormindo. — Me enfia! Me enfia na sua tomada.
— EEEI! Acorde! — Sacudi a pokédex, acordando-a.
— Ahn-- Hã? Oi? Eu tô bem. Tô bem! — Disse Rotom olhando aos arredores, assustado.
— Rotom, que espécie é aquela?
— Hã? Deixa eu ver. Ah, é um Pikipek. Ele consegue atingir o adversário 16 vezes por segundo com o seu bico. Estes ataques são tão poderosos que conseguem furar madeira dura e até quebrar pedras. Os ruídos produzidos pelos seus ataques podem alertar terceiros. Alguns destes sinais foram identificados como sinais de aviso e de saudação entre aliados.
— Muito bom. — Falei.
E o Pikipek:
— Pi pi.
— O que ele diz, Rotom? Você consegue traduzir?
— Hum? — Perguntou Rotom, ainda meio sonolento.
— Pi pi.
— O que ele está dizendo?
Rotom virou a face em direção ao pokémon, que trocava as pernas no qual se apoiava no chão muito rápido, ficando momentaneamente com uma no ar, a outra no solo.
— Pi pi.
— Pi pi? — Indagou Rotom. — Seu ordinário, não acredito que me acordou pra isso! Até uma criança de 5 anos sabe que este pokémon está precisando ir ao banheiro.
#FAIL
— Pi pi.
— Quero capturá-lo. — Informei. — Tem como dizer isso pra ele?
— É claro. — Falou Rotom, de mau-humor, mas mesmo assim obedecendo: — Pi-pi-pi, pi, pi-pi, pi-pi, pi! Pi, pi, pi-pi-pi-pi, pi, piripipi! Pi? pi-pi!
Ele esperou por uma resposta. E ela veio:
— Pi pi.
— O que ele disse? — Perguntei, curioso.
— Ele disse que você parece ser um bom treinador, mas tem que ter cuidado com ele. Pikipek disse que pode perfurar qualquer inimigo com o bico, não importa seu tamanho, inteligência ou habilidades em batalha. Disse que mesmo sendo livre — termo não-pejorativo para selvagem —, ele tem força o suficiente para acabar com qualquer um que ouse pousar em seu território.
— TUDO ISSO EM APENAS DOIS "PI PI"? — Perguntei, admirado.
— Ah, e eu ainda esqueci de acrescentar. Ele disse que essas suas... "Partes" estão fedendo a alho.
— Como é?
— O que é? Foi o que ele disse, não foi?
— Ah, claro. "Pi pi". Volte, seu idiota. — Peguei Rotom à força, cliquei no botão de desligar e enfiei de volta no bolso das bermudas.
Ouvi um "Ele está certo. Fede mesmo" lá dentro, mas decidi ignorar. Peguei uma pokébola e lancei-a aos céus, libertando ninguém menos que Vikavolt para o combate.
— Vikaaa!
O besouro possuía um corpo extremamente rígido, pinças compridas e afiadas na parte frontal, asas fininhas, mas potentes acopladas em suas costas e ainda emitia um brilho no abdômen, que eu tinha certeza de que era a energia elétrica fluindo dentro dele. Caixa-bug, quer dizer, Charjabug evoluiu assim que pisei na Ilha, em uma batalha de aquecimento. Não era necessário muito coisa afinal, para evoluir um tipo inseto.
Pikipek trocou o pé que estava no chão, olhou para Vikavolt e disse:
— Pi pi.
— Se continuar assim, eu vou começar a acreditar que você realmente precisa ir ao banheiro. — disse eu, quase crendo nas palavras de Rotom. — Vikavolt, comece com Spark!
O corpo de Vikavolt de repente ficou envolto por uma carga elétrica bastante potente, e o inseto mergulhou em um turbilhão de eletricidade contra o bendito Pi pi, quer dizer, Pikipek.
A ave, no entanto, não se intimidou, e lançou um ataque antes que pudesse ser atingido. Air Slash.
Produzindo múltiplas lâminas de ar cortante, Pikipek meneou-as contra Vikavolt e seu Spark, provocando uma explosão que jogou o inseto bruscamente contra o chão.
— Grrr! Vikavolt, avante!
O besouro altamente blindado ergueu-se, restabelecendo o voo novamente.
— Vikaaa!
— Pi pi.
— Vai, use Crunch!
Vikavolt foi com mais velocidade dessa vez, pegando impulso e se atirando pra cima de Pikipek, cravando-lhe as pinças violentamente e retirando-lhe uma boa fatia de HP.
Mas Pikipek era forte. Eu poderia jurar até que era do mesmo nível que Vikavolt, senão mais forte. Ele abriu bem o bico comprido e começou a emitir um som estridente difícil de digerir. Era Growl, um movimento de redução de Ataque, que automaticamente deixou Vikavolt menos agressivo.
Mas tendo ele usado um movimento de status, isso nos dava certa vantagem competitiva, uma vez que ele havia gastado seu tempo com um movimento que não causava danos. E nós não.
— Zap Cannon! — Ordenei.
E então, o besouro criou uma bola de energia elétrica muitíssimo bem feita, espalhando faíscas por todo o chão. Após devidamente carregada, o que não demorou muito mais que um segundo, Vikavolt a soltou, disparando à todo vapor contra o pássaro. Mas para meu azar...
— Pi pi.
Pikipek bateu as asinhas, provocando uma brusca rajada de vento, que freou o Zap Cannon no meio do trajeto, bloqueando-o até explodir em pleno ar, sem causar dano algum em nenhum dos competidores.
— Gust. — Observei.
E lá vinha Pikipek de novo, dest vez chegando perto o suficiente para um golpe físico à queima-roupa: Peck.
Seu bico se acendeu, energizado por uma luz meio metálica, e Pikipek voou como um jato, bicando Vikavolt tão rápido, que ele parecia que ia ser perfurado.
— Não... Vamos fazer diferente. Volte, grandão.
Coloquei Vikavolt de volta na pokébola.
— Vá, Bagon.
A pokébola retiniu, libertando Bagon e chamando-o para a luta.
— Bei!
— O Pikipek é extremamente veloz. Ele utiliza disso como uma vantagem para escapar de ataques, invocando outros ataques para formar uma barreira, antes mesmo que possa ser atingido. Por isso ouça, Bagon: está na hora de retardarmos este processo de agilidade! Está na hora de o paralisarmos!
Bagon olhou para mim e entendeu o recado. Rapidamente, um vento mágico começou a circundar o corpo de Bagon, enquanto este estufava o peito, a energia tipo dragão florescendo em seu interior. Ao abrir a boca, então, uma rajada energética muito poderosa percorreu a floresta, rasgando os ares e fritando Pikipek de uma só vez, lançando o pokémon-pássaro longe.
— Pi pi...
A ave caiu. Eu tinha só 30% de chances de fazer isso acontecer, mas o meu santo era forte. Sempre foi. Não seria agora que ele iria me abandonar.
Avistei de longe algumas luzinhas, no que identifiquei logo de cara serem fagulhas. Paralisado. Objetivo cumprido.
— Pi pi!
Pikipek começou a bater as asas novamente, ainda bom o suficiente para atacar com Air Slash.
Quando a fumaça se desfez, Pikipek estava com os olhinhos rodando, embriagado...
— Beleza! — Catei uma pokébola na mochila, mirei e lancei.
Não foi preciso ficar esperando ver o brilhosinho saltando pelas bordas da esfera. Foi só ouvir Rotom dizer "Registrado" em meu bolso que eu sabia que a captura havia sido concluída.
Lembrei-me de súbito que Uma e Meia eu deveria estar de volta à delegacia, e eu nem sequer havia almoçado ainda. Liguei a tela do celular e dei um pulo: Uma e Cinco. Corri mata à fora tentando me lembrar do caminho que eu havia feito para chegar até ali. Mas espera... O que era aquilo logo ali à frente? Era um pokémon...?
Quando avistei aquele fofíssimo Komala tirando um cochilo por detrás de um arbusto próximo, não resisti. Aquilo não ia demorar mais do que uns cinco minutinhos...
White cortava o bife com tremenda força que eu me peguei imaginando qual seria o rosto que ela estava imaginando na carne. Meus colegas de trabalho, detetive Kale e o juiz Kana, conversavam absortos, muito além do que se passava ao seu lado.
Viemos nós três para cá no mesmo barco que Black e White. À medida que as investigações avançavam, os garotos precisariam da gente. Então nós viemos para trabalhar em conjunto com os policiais locais. Mas os resultados eram decepcionantes e eu tenho certeza de que isso estava chateando tanto a ele quanto a ela.
— Licença. — Disse White, se levantando, após rapidamente devorar a comida.
— Vai aonde? — Perguntou o Detetive Kale, indelicadamente.
— Por aí. — Ela respondeu. — Não se preocupem se eu me atrasar um bocado.
E se afastou, deixando o restaurante do Centro Pokémon. Quando estava longe o suficiente, chamei meus colegas:
— Ei! Kale! Kana!
Os homens me observaram com atenção, devido ao baixo tom de voz que eu empregara para dizer-lhes aquilo. Dizem que as melhores fofocas se dão aos cochichos.
— Eles são muito novos! — disse eu. — Vão desmoronar se continuarmos nesse ritmo. Estão exaustos, não podem mais continuar essa investigação.
— Não há nada a fazer, Pawssum. — disse-me o juiz Kana. — O Campeão de Alola está desaparecido. Foi dado como morto. Os desastres continuam acontecendo por toda parte. As pessoas estão com medo de voltar para suas casas, com receio de que mais um terremoto aconteça e desabe tudo sobre suas cabeças enquanto dormem.
— Eu só queria confortá-los.
— Temos que conformar o povo, colega. — disse então o detetive Kale — Eles é que são as vítimas nessa história.
E foi o que fiz: os investiguei, centímetro a centímetro, segundo a segundo. Mas, decepcionantemente, a vida daqueles dois era um tédio. Passavam o dia todo trancados em uma sala com homens de terno escuro e roupa formal que eu tinha certeza serem da lei.
Meu dia se animou um pouco, no entanto, quando vi White deixando o Centro Pokémon naquela tarde. Usava a combinação de roupas de sempre, mas parecia atordoada. Saiu em direção à mata e eu atrás, me escondendo pelos cantos para evitar ser visto. O que ela estaria aprontando? Aonde estaria indo? Mantive-me sempre a alguns metros de distância, evitando que ela me visse.
Ela reclamava baixinho alguma coisa sobre falta de compromisso e eu não queria perder nenhum momento daquela revolta. Cada detalhe poderia ser importante. Cada informação que eu obtivesse poderia ser usada contra eles. E foi o que fiz: Passei a espionar White em seu caminho rumo a sabe-se-lá-onde.
Ela entrou em um matinho fechado e eu logo encontrei dificuldade em segui-la. Pisar naquelas folhas e galhos secos sem um devido cuidado poderia chamar a atenção e revelar minha posição. Mas isso foi até eu ter uma ideia de gênio.
— Saia, Slowbro!
Deixei que a pokébola de Slowbro caísse levemente no chão, com força o suficiente somente para que ele brotasse de dentro da esfera e me ajudasse com seus poderes telecinéticos.
Mas que capítulo. '' Seu ordinário '', mano esse Rotom só me faz rir, meu deus KKK, gostei das capturas feitas por Black e o Ecplise perseguindo a Moon realmente deu um ar de tensão enquanto eu estava lendo.
ResponderExcluirE essas mãos em Sun? Seu safadenho.
Ao ler a ultima parte lembrei-me de Life Is Strange episódio 4 e bateu cá uma bad ;-;
Curti muito a parte 01 e estou esperando a 02.
Bye <3
Muito obrigado pelo comentário, C&F! Tive que rir com a parte da mão kkkk
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