Vs. Murdock
Hey, Murdock!
E aí, parceiro! Toca aqui!
Beleza?
Beleza!
Posso te gravar, por um momento?
Claro! E... Pra que seria?
Um trabalho de escola!
Continua cheio de lições, é?
É, a Academia Índigo não frouxa nem à distância! É tema atrás de tema... Mas me diz aí, Murdock... Como é ser você?
Como é ser eu?
É. É pro trabalho!
Bem... Como é ser eu? Poxa, essa é uma pergunta difícil... Como é ser eu? Como é ser eu?
Não precisa responder agora. Eu vou deixar a câmera aqui. Ela tá gravando. Quando se sentir à vontade, é só falar. E não se preocupe, a sua identidade será preservada.
Como é ser eu? É engraçado... Até deixar de ser. Eu sou tipo um bobo da corte, desesperado pela atenção de todo mundo. Um eterno carente, babão, que vive distribuindo doces e a comida que eu mesmo preparo só para ver um olhar de felicidade no outro. Um olhar que eu sou capaz de irradiar no próximo com as minhas habilidades culinárias, mas não consigo gerar eu mesmo...
Atualmente eu trabalho como cozinheiro de um grupo de pesquisa que viaja o mundo inteiro em busca de estudar Pokémon. Eu me sinto feliz fazendo isso. Ao menos é o que eu deixo transparecer. Eu já cheguei a ouvir que eu "estou sempre feliz". Mas isso não é bem verdade... Eu estou sempre sorrindo, mas um sorriso não necessariamente reflete o meu estado interior. De fato, talvez não reflita nem 10% das vezes. Eu sorrio porque quero ser simpático. Eu sorrio porque quero receber um sorriso de volta. E um abraço, se possível.
Eu sou o tipo de pessoa cuja linguagem do amor é o toque físico, mas não só a linguagem do amor. A linguagem da amizade, a linguagem do parentesco... Quem eu puder abraçar ou escorar minha cabeça no outro (respeitosamente, é claro), eu estou fazendo!
Eu também costumo malhar. É como um hobby pra mim, embora quando eu esteja de mau humor eu vá de arrasto para a academia, tudo pela disciplina. Se eu não for uma pessoa regrada, eu não funciono. Então, se eu encaro uma tarefa como obrigação, eu vou até o final para cumpri-la, mesmo que isso signifique ficar de saco cheio ou me esforçar para além do que o meu corpo e a minha mente suportam naquele instante.
Eu não paro. Não paro mesmo. Até doente eu treino.
E isso não se resume apenas à academia. Eu não posso ficar parado, preciso estar sempre fazendo alguma coisa. Então ou eu estou fazendo bagunça na cozinha, ou estou limpando a bagunça que eu mesmo causei. Eu simplesmente não posso ficar à toa. Meus pensamentos saem de controle quando eu enfrento o ócio. E talvez seja por isso que eu pego tão pesado na academia, para manter a cabeça em ordem. Me distrair dos meus problemas... Você sabe, às vezes não é nem pelo físico, mas pelo psicológico. Contar as séries e repetições de cada exercício me mantém focado na tarefa e longe das minhas carências emocionais que estão sempre gritando, exigindo serem supridas.
Mas não se engane! Às vezes eu posso ser um chato. Eu sou muito irreverente (demais!) e às vezes acabo passando dos limites, tentando fazer os outros rirem, falando muita abobrinha. E por falar em abobrinha, sabia que comer abobrinha contribui para a diminuição de açúcar no sangue? Mas enfim... Onde eu estava mesmo?
Ah, sim...
Tudo o que eu faço para arrancar um sorriso dos outros... Como se só a minha presença no ambiente não fosse suficiente... Eu preciso, eu sinto essa necessidade de provocar o riso no outro. Não sei explicar a origem disso ou quais os gatilhos mentais que me levaram a desenvolver essa característica, mas com o tempo, isso é basicamente quem eu me tornei. O espalhafatoso. O que "quer chamar atenção", só para se sentir incluso. Bom, talvez incluso não seja a palavra exata... Talvez validado. É... Porque quando eu tento ser sério, as pessoas não levam a sério a minha opinião. Então eu tento levar tudo na brincadeira, na esportiva, na maior parte do tempo. E quando eu digo maior parte do tempo, eu quero dizer... 100% do tempo.
Eu já quis muito ser famoso. Tipo, o melhor chefe de cozinha do mundo. Mas eu já aceitei minha realidade. Eu venho de uma cidade pobre, que há muito foi explorada e privada de suas próprias riquezas (para não dizer invadida e roubada)... Ninguém voltaria sua atenção para mim como uma figura pública. Eu não me sinto influente em nada. Mas talvez essa obsessão que eu tinha quando mais novo pela fama... Talvez, não. COM CERTEZA essa obsessão tem a ver com a minha vontade de ser amado. Ser reconhecido publicamente te dá esse privilégio de ser amado e reverenciado por pessoas que você nem mesmo conhece. E digo mais: Você pode falar a maior besteira do mundo em frente às câmeras que sempre vai ter alguém pra te defender com unhas e dentes! Acho que a fama significa isso para mim... Um amor incondicional que eu procuro avidamente desde que eu me conheço por gente. Eu estou sempre em busca desse amor externo. De algo que possa preencher esse vazio aqui dentro. Mas eu já fui pior. Eu já fiz muitas coisas pelo amor dos outros, mas eu só me ferrei por conta disso. Até que eu percebi que eu precisava amar mais a mim mesmo antes de querer o amor de outrem.
Amor próprio não é fácil. É um exercício diário... Você precisa praticar, exercitar o seu cérebro para parar de reconhecer "imperfeições" em si mesmo, e isso é uma tarefa extremamente complexa e muitas vezes exaustiva. Às vezes, você só precisa da opinião de outra pessoa para se sentir mais confiante... Com o amor próprio, não é tão simples. Você mesmo precisa construir essa confiança. Tipo... Do zero.
Eu entendo que estou ficando velho e que não posso passar o resto da minha vida me rastejando pela atenção dos outros. Mas... Como mudar isso? Aos poucos, eu vou tentando. Mas são passos pequenos, em um processo lento que pode durar muitos e muitos anos. Eu tento. Às vezes eu falho. Mas eu acordo no outro dia e tento de novo. E assim vai...
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